Oi, “migo”, oi, amor, oi, baby... Não sei exatamente como te chamar. Sou eu... acho que você notou, né? Por favor não diga nada... Claro que você não irá dizer, isso não é uma ligação, idiota. Mas, de qualquer forma, não responda esse voicemail.

Sim, voltei para o Brasil, nesse momento você já deve saber, deve ter perguntado para alguém do bar, se é que você foi atrás... Você foi? Depois que eu sumi da sua porta desejando morrer. Você me procurou? Se preocupou?

Eu estou um pouco bêbada, você deve ter notado pelo tom da minha voz e pelo fato de meu cérebro não estar funcionando de forma normal, você me conhece muito bem nesses momentos. Agora, apenas para registro, estou bebendo um whiskey, estou quase na metade da garrafa e eu sequer peguei gelo, e fumando, é só um cigarro... “It’s just a cigarette and it cannot be that bad”, lembra disso? Perdoa minha voz, nós não parávamos de cantar e agora eu não paro de ouvir nossa gravação.

Eu já comecei a chorar, que merda! Eu tô com saudade de você, baby... eu tô o dia todo ouvindo seus áudios, nossas gravações,só para ouvir você me chamar de baby, com a sua voz manhosa, ouvir você dizer que me ama, da forma mais viciante possível... Só para ouvir sua voz. Nós interpretávamos tão bem.

Desculpa ter transformado tudo em um caos, não era para ter saído do controle, não era para eu me apaixonar. Éramos apenas amigos, melhores, mas mesmo assim gostava de imaginar nós dois como o casal que nós interpretávamos nas suas gravações... Gostava de imaginar que você era meu, que não existia Ela, que as palavras que dizíamos em momentos de bebedeiras fossem ditas verdadeiramente, quando não estivéssemos bêbados, que o sexo não fosse algo proibido, algo que alguém não poderia saber, algo que não pudesse ser feito.

Poderíamos ter sido Mr. e Mrs, como fomos chamados naquele dia dos namorados no restaurante, éramos apenas amigos jantando, mas fomos visto como um casal... melhor, O casal, o mais lindo daquele lugar, os mais elegantes, porque fingimos isso. Éramos pessoas importantes naquele dia. Você lembra?

Droga, meu copo caiu e você não tá aqui para pegar os cacos e impedir que eu me mate. Droga, você não tá aqui.

Sua namorada ainda acredita que eu sou só a sua amiga que gosta de mulheres? Sua namorada sabe que eu me apaixonei por você? Sua namorada sabe que você disse que me amava, pouco antes de ela chegar, de baixo do seu chuveiro?... Dois dias depois você estava lá com ela. Não tinha nem como negar, eu vi. Bati na sua porta e ela atendeu, enrolada numa toalha, depois você apareceu, molhado, pedindo suas desculpas, me olhando como se tivesse feito a maior merda do mundo... E fez, comigo, enquanto sua namorada acreditava em você e eu era a outra. Diga à ela que peço perdão.

E por isso eu fui embora, por isso eu sumi, por isso eu não quero mais te ver, baby. Voltei para o começo de tudo, o mesmo lugar do qual eu fugi um ano atrás. Mais uma vez amei alguém, mais uma vez eu fui a outra, então eu fugi. É o que eu faço, fujo do que não é meu.