K Y L E

Eu me odeio. Odeio o que fiz. Odeio ouvi-la chorar. Estou com a cabeça e as costas encostada contra a porta amarela de seu apartamento e posso ouvi-la chorando. Posso imaginá-la tentando abafar os ruídos do seu choro com a mão na boca. Conheço- a bem para saber que ela faz isso. Ela está devastada. Não sei se isso me deixa com esperança ou mais infeliz. É claro que não quero vê-la assim, mas aquilo me dá um pouco de esperança de ela voltar para mim.
Não suporto mais ficar ali, por isso, me afasto da porta e vou até o elevador. Espero a porta se fechar e a caixa de aço me levar até o hall de entrada do prédio.
Saio do elevador e deixo o prédio  o mais rápido que posso. Entro no carro e fecho a porta rapidamente. Está um frio cortante na rua. Não duvido que na próxima semana já comece a nevar.
Ligo o carro e começo a dirigir devagar, entrando no trânsito enlouquecedor. A verdade é que não quero ir para casa. Queria estar com ela, abraçando-a, beijando-a. Não precisava estar na cama com ela apesar de sentir falta do seu corpo. Mas, naquele momento, ficaria feliz de apenas estar segurando-a contra o meu peito.
Eu ando mais um pouco com o carro por alguns quarteirões e o trânsito obriga-me a parar novamente. Pensar em Matt me dava uma tremedeira da cabeça aos pés. Eu gostaria de tê-lo espancado muito mais. Após Alice ter saído correndo, não tive forças para fazer mais estrago no rosto daquele desgraçado. Eu passara a odiar ele.
–Sai daqui e não aprece mais na minha frente, senão eu te mato. - fora o que eu disse.
–Você pisou na bola com ela. - ele respondera se levantando cambaleante do chão. A boca minando sangue, o olho inchado. Ele me olha. - Pode me bater o quanto quiser, sabe que é verdade. Você viu que ela viu você com aquela vagabunda da Lara, você não fez nada.
Fiquei em silêncio absorvendo as palavras daquele idiota.
–Você pisou na bola com ela e sabe disso. Acha que é melhor do que eu? Sabe que na realidade somos dois bostas para ela. Ela merece um daqueles riquinhos de merda que vai dar do bom e do melhor e tratá-la bem, levá-la a restaurantes bons...
–Ela não liga para isso. - retruquei.
–Pode não ligar, mas é o que ela merece. Não você ou eu. Estamos destruindo a cabeça dela e você sabe disso. Você tem que deixar ela escolher.
Avanço para Matt e seguro ele pela blusa.
–Ela já escolheu. - sibilo.
–É mesmo? - Matt sorri de lado. - Não foi o que pareceu na noite passada.
O empurro e ele cai no chão novamente.
–Fica longe dela, Matthew. Eu estou avisando pra você. Fica longe dela.
Dou as costas para ele, me afastando o mais rápido possível. As pessoas me olhando enquanto passo por elas de cara fechada.
–Vou ficar. Se ela quiser. - ouço-o gritar.
Fecho os olhos por um segundo e continuo a andar.
Meus devaneios são interrompidos quando ouço várias buzinas atrás de mim. O semáforo já se abriu. Começo a andar com o carro novamente. Sim, eu pisara na bola. Mas não pisara sozinho. Claro, tudo tinha começado por um erro meu. Ela tinha razão em ter ficado puta por eu ter apagado as mensagens do irmão. Eu sabia como era a relação dos dois.
Pensar naquilo, em tudo aquilo, me deixava exausto. Ela sabia que eu tinha transado com a Lara. Mas ela não sabia que fora só na noite anterior. Eu estava bêbado e sim, a vira do outro lado da avenida. Mas estava bêbado. E se não fosse ela? Estive bêbado por quase um mês inteiro, imaginando-a por todos os lados... Quem diria se aquela noite não era mais uma das minhas alucinações?
Paro novamente no semáforo e olho para o lado. Observo a vitrine de jóias. Uma pulseira em particular me chama atenção. É dourada com pedrinhas azul escura. Ficaria lindo nela... Os CD's autografados de The Neighbourhood haviam sumido, alguém que trabalhava no local do show deve ter pegado. Preferi não dizer nada para evitar o estresse. Afinal eu também estava chateado com ela. Mas seria um presente que ela ia adorar...
Mais uma vez buzinas me tiram do meu devaneio e eu viro o carro na próxima esquina. Saio do carro e o tranco. O vento está tão forte e gelado que não sinto nada em meu rosto. Olho para o céu cinzento. Talvez a neve chegue hoje. A temperatura está muito baixa.
Entro na loja pequena e sofisticada. O ambiente cheira a lavanda e baunilha e é quente. Uma vendedora loira vestindo um terninho se aproxima de mim sorridente.
–Olá, posso ajudar?
–Sim, quero comprar aquela pulseira para minha namorada. - aponto para a pulseira no manequim da vitrine.
Ela sorri e murmura uma coisa. Algo parecido como "siga-me". Eu a sigo até um balcão na outra extremidade da loja pequena. O ambiente é iluminado por luzes amarelas fortes e redondas. No teto há sanca e o piso é branco e imaculado.
A mulher loira tira um manequim branco, apenas metade do braço, e eu vejo a pulseira mais de perto. É linda. Ficaria linda no braço dela. É delicada como ela.
–Quanto custa? - olho para o rosto da mulher.
– Quinhentos dólares.
–Vou levar.

TRILHA SONORA
I'M ON FIRE - AWOLNATION
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WELCOME HOME - WELCOME HOME
MERCY - SHAWN MENDES