Eu acordo na cama. Mas achei que acordaria na praia. Sinto meu corpo com aquela dorzinha familiar e isso faz com que eu sorria. Mas há algo errado. Eu me sinto mal; enjoada e desidratada.
Na cama estou sozinha. Tenho quase certeza de que Kyle está na água. Me levanto da cama rapidamente e parto para o banheiro. Quando chego lá, debruço-me sobre o vaso sanitário e vomito. Tudo o que comera na janta da noite anterior está ali. É nojento e horrível. Sinto-me horrível e torço para que Kyle não entre no banheiro.
Claro que, como de se esperar que a vida ria de mim, ele entra só para contrariar meus pensamentos.
–Ei, está tudo bem? - ele pergunta se colocando ao meu lado.
Fecho a tampa do vaso sanitário imediatamente e gemo.
–Você não precisa ver isso.
–Não seja boba. O que você está sentindo?
–Só... enjoo. Deve ser o frango.
–Ou você está grávida.
Olho para seu rosto imediatamente. Ele parece passivo ao dizer isso. Franzo o cenho.
–O quê?
Ele dá de ombros.
–Sabe que  usamos camisinha quase nunca.
Balanço a cabeça.
–É o frango.
Eu e Kyle nos encaramos. Sua barba por fazer toma conta de todo seu maxilar. Seus olhos verdes analisam meu rosto por um instante e ele suspira.
–Tudo bem, vamos se levantar. Vou te ajudar e você escova os dentes.
Concordo com a cabeça, mas estou bem perturbada com o que ele disse. Não pode ser. Ele tem razão, quase não usamos camisinha. Mas voltamos há apenas uma semana. Não posso estar grávida. Posso?
Ele me ajuda a levantar, segurando-me pela cintura. Vou até a pia do banheiro e pego com a mão trêmula, minha escova de dente. Seu olhar sobre mim está me enlouquecendo. Nem me fito no espelho, devo estar horrível. Fito apenas a pia branca enquanto faço movimentos circulares com a escova. De soslaio, posso ver ele me analisando. Analisando todo o meu corpo e meu rosto. Se ele não parar com isso vou enlouquecer. Ele não diz nada até que eu acabe de escovar meus dentes.
–Você está com fome? - ele pergunta me levando de volta para a cama.
Gemo ao me deitar.
–Não, só quero voltar a dormir.
–Tem um kit de primeiros socorros aqui. Vou pegar um remédio para você.
Concordo com a cabeça um tanto aliviada por não ter os olhos verdes e lindos de Kyle me analisando minuciosamente. Ele volta pouco tempo depois com um copo de água gelada e um comprimido branco que eu engulo rapidamente junto com a água.
Lhe entrego o copo vazio e agradeço. Deito-me e fecho meus olhos. Sinto-me exausta.
***

K.Y.L.E

Ela voltou a dormir quase que instantaneamente. Eu fiquei parado com o copo vazio na mão olhando-a. Seus seios com certeza estavam mais inchados. Não era algo que eu havia notado agora. Havia notado isso no dia em que a fui buscar no Dangerous Woman. Mas para mim aquilo não era nada. Talvez TPM. Não sei, o corpo das mulheres era algo complicado de entender ás vezes. Mas vendo-a agora, adormecida e enjoada, eu podia sentir algo dentro de mim dizendo que ela estava grávida.
Vou para a cozinha e coloco o copo dentro da pia. Pego meu celular em cima da mesa e sento-me em uma das cadeiras. Abro a página do Google e pesquiso por mudanças no corpo e sintomas de gravidez. Era tudo muito complexo. Em um site, cada semana tinha sintomas. A menstruação atrasada era, obviamente um deles. Mas era difícil ir por esse lado pois Alice tomava remédio para não menstruar. Mas as mudanças no corpo... Elas eram reais. Talvez ela já estava grávida há algum tempo. Ela me dissera que fizera um teste de gravidez em Ohio e ele dera negativo. Mas sabemos que testes de farmácia não são tão eficazes assim.
Levanto-me da cadeira e volto para o quarto. Olho para minha menina adormecida e um pouco pálida na cama. Me sinto estranho sobre aquilo. Me sinto calmo e com uma certeza que me assusta. Talvez eu devesse levá-la no médico quando chegássemos em Nova York.
***

A.L.I.C.E

Ao acordar novamente, sento-me na cama devagar. Kyle entra no quarto imediatamente com uma bandeja cheia de coisas para eu comer.
–Como está se sentindo? - ele pergunta.
–Mais sonolenta que o normal. - bocejo e encosto minhas costas no travesseiro macio.
Kyle coloca a bandeja sobre minhas pernas. Não faço ideia de que horas são, mas o que ele me trás para comer são coisas leves, de café da manhã.
–Eu liguei para Tom. Ele falou que é melhor você comer coisas leves até melhorar.
Concordo com a cabeça e levo o copo de suco de laranja até a boca. Ele está gelado e é refrescante.
–Não deve ser nada demais. A comida me fez mal.
–Alice. - Kyle suspira.
Olho para seu rosto e arqueio as sobrancelhas ao ver sua expressão de... impaciência, talvez.
– O que foi? - pergunto.
–E se você estiver...
–Kyle, eu fiz o teste e deu negativo.
–Você fez um teste.
–Isso foi há um mês atrás!
–Bom, os sintomas meio que começam nesse período.
Reviro os olhos.
–É, mas eu fiz o teste há um mês atrás por achar que estava grávida e eu não estava. E estava enjoada do mesmo modo. - acrescento.
–Só estou dizendo para não descartar a hipótese. Seu corpo está... diferente.
–Você está paranoico...
–Não estou! Não notei isso hoje. - ele me interrompe. - Acha mesmo que não notaria alguma diferença no seu corpo?
Aquilo está começando a me apavorar. Kyle está começando a me assustar. Parece que ele pesquisou milhares de coisas na internet.
–Tudo bem, vamos nos acalmar, certo? Não é nada.
Nos encaramos enquanto levo uma torrada com geleia de blueberry até a boca e dou uma mordida.
E se ele estivesse certo?