Nos dois dias que se arrastaram naquela pequena ilha paradisíaca no México, o ciclo de comer, ir para a água e ir para a cama com Kyle tinha se tornado rotina. Não necessariamente nessa ordem, mas era tudo o que fazíamos. Eu não sentia falta de nada que pudesse nos conectar com Nova York ou com o mundo fora daquela ilha.
Eu estava sentada em cima de um lençol fino que eu tinha colocado na areia e olhava para o céu preto e estrelado. O silêncio ali era reconfortante. Não que eu não gostasse do barulho incessante de Nova York, mas eu estava simplesmente amando ficar ali.
Kyle estava dentro da casa tomando um banho. Eu estava vestindo uma  de suas camisetas brancas apenas. A brisa leve que atingia meus cabelos ali fora era calmante. Estava ponderando seriamente dormir ali do que lá no quarto que era bem abafado. Kyle fizera uma piadinha sobre o clima no quarto na noite passada. Eu acabara de sair do banho e estava com uma camisola preta de renda. Deitei-me na cama de barriga para baixo e Kyle disse:
–Gosto que aqui seja abafado, assim você fica com calor  e daqui a pouco tira a camisola.
Suspirei e revirei os olhos.
–Seu pervertido.
Ele rira e acabou que no meio da noite acabei tirando-a mesmo.
Ouço passos se aproximando na areia e olho para trás. Kyle está vestindo apenas uma bermuda vermelha que combina muito com seu cabelo vermelho que está molhado. Sorrio para ele e ele se senta ao meu lado.
–É lindo aqui, não é? - comento em voz baixa. - Não dá nem vontade de ir embora.
Ouço Kyle sorrir e olho para ele novamente. Não posso deixar de sorrir.
–Que bom que pensa assim boneca. Pena que logo teremos que ir embora.
Concordo com a cabeça.
–Mas, na nossa última noite, a gente podia fazer algo diferente, você não acha?
–Tipo o quê?
Ele dá de ombros.
–Podíamos dormir aqui. Sei que está morrendo dentro daquele quarto.
Reviro os olhos.
–Como se você não estivesse.
–Pra mim está ótimo.
Empurro ele com o cotovelo e ele dá risada. Me puxa para perto dele e me deita em cima de seu corpo. Meus cabelos caem do lado do meu rosto e no peito de Kyle. Fico olhando para seus olhos que, por causa do céu escuro, não parecem claros naquele momento.
–No que está pensando? - pergunto.
Kyle balança a cabeça negativamente e coloca uma mecha do meu cabelo atrás da minha orelha.
–Só pensando em como tudo vai ser quando voltarmos para Nova York.
–Kyle!
Ele suspira.
–Não faça isso. - repreendo-o. - Tudo vai ser o mesmo. Eu e você.
–Com Matt para perturbar.
Saio de cima dele e tento não me estressar com o rumo da conversa. Sento-me e encaro a água sem correnteza.
–Passamos por dias incríveis. Quer mesmo estragar tudo agora falando sobre ele?
Kyle se senta.
–O que propõe que façamos então? O que devemos fazer? - pergunto.
–Nos mudar.
Não consigo acreditar no que estou ouvindo. Sorrio mas balanço a cabeça negativamente.
–As coisas não são fáceis assim Kyle. Faltam poucos meses para você enfim terminar sua faculdade. Não podemos ns mudar. Para onde mudaríamos? Isso é uma coisa grande.
–Podíamos ir para Chicago e você ficaria perto do seu irmão.
Olho para seu rosto. Ele parece mesmo estar falando sério.
–Kyle... - balanço a cabeça.
–Você quer continuar no balett?
Suspiro e torno a olhar para a água calma.
–Não sei.
Ficamos em silêncio. Eu fitando a água e Kyle me fitando. Aquilo era sério. Ele estava mesmo propondo que mudássemos de Nova York por causa de Matt.
–Isso não é uma solução aceitável. - balanço a cabeça. - Não tem o porquê mudarmos de Nova York por causa de Matthew.
–Bem, se você está dizendo. - Kyle dá de ombros.
Não falo nada por um tempo e o silêncio se instala entre nós.
–Acho que vou preparar algo para comer. - digo e me levanto.
–Tudo bem. - Kyle responde fitando a água. Sua voz é desanimada.
Acho que ele esperava que eu concordasse. Mas era absurdo. Não mudaria de Nova York por causa de Matt. Isso era inaceitável de todas as maneiras; muito embora eu quisesse um novo rumo em minha vida, aquilo não era uma opção. Não por tal motivo.
Na cozinha comecei a fritar algumas coxas de frango que estavam empanadas. Tinha arroz que havia sobrado do almoço mais cedo e uma salada mista. Eu bebia uma taça de vinho branco enquanto fritava o frango e pendsva no que Kyle propusera. Aquilo era perturbador. Não sabia bem o motivo daquilo ter me pego de surpresa, mas eu estava e preferia que aquilo não fosse um motivo de brigas por vir. Era tudo o que eu não queria: brigar com Kyle. Ainda mais se o motivo fosse Matt direta ou indiretamente.
Eu me sentia um pouco mais quente que o normal. Minha pele parecia emanar calor e eu estava começando a me sentir tonta. Talvez fosse o calor excessivo ali na cozinha. Minhas mãos em contrapartida estavam geladas e meus pés também. Terminei de tomar o vinho que estava na taça e coloquei alguns frangos já fritos num prato com papel toalha.
Vou até a geladeira para pegar um pouco de água gelada e me apoio nela quando sinto minha visão escurecer por alguns segundos.
Respiro fundo e fecho os olhos. Fico sentindo o ar gelado vindo da geladeira e começo a me sentir um pouquinho melhor. Abro meus olhos e pego a garrafa de água. Encho o copo e tomo rapidamente. Minha boca havia ficado seca de repente.
Termino de fritar os frangos e quando estou sentando para comer, Kyle entra na cozinha e olha para mim. Desvio o olhar para o meu prato. Ele parecia mais bronzeado agora que tinha tomado mais sol.
Levo o frango até a boca enquanto ele serve arroz em seu prato.
–O cheiro está bom. - ele comenta.
–É, a comida daqui é boa.
Ele se senta ao meu lado e suspira. Sua mão pega a minha e eu olho para seu rosto.
–Desculpe, não quis te pressionar a nada.
–Está tudo bem. - balanço a cabeça negativamente.
–Não quero que pense que estou te pressionando. Foi só uma ideia.
–Está tudo bem, Kyle. - digo. - É sério.
Nos encaramos por um tempo e começamos a comer enquanto tomávamos o que sobrava do vinho branco.