Já estava pensando nela fazia um tempo. Não sei quando isso começou realmente, mas fazia um tempo que havia percebido. Meu inconsciente sabia, mas eu em si não sabia que era ela as razões de tantas coisas que aconteciam comigo.

“Calma... vai passar. Sempre passa.” Pensava quando estávamos sozinhas num mesmo aposento. Minha mãe nunca gostou da tamanha aproximação que tive com ela. Não entendia direito o ciúme possessivo dela... até outro dia.

Ela era minha amiga fazia... sei lá. Um ou dois anos? Fui dormir na casa dela. Coisa bem normal no cotidiano de uma garota. E minha prima, amiga dela também, não pode ir. Não entendi direito o motivo dela não ir, mas deixei quieto.

“Beleza. É só mais uma noite como todas as outras.” Ficava pensando. Ela deitada do meu lado no colchão no andar de cima da casa dela. Sua mãe era meio homofóbica, então isso me deixava mais quietinha pra não fazer nada.

Estávamos assistindo um filme, até que uma hora percebi que ela se deitara de lado para, provavelmente dormir. Deixei ela na cantinho dela e continuei assistindo o filme. Quando acabou eu desliguei a TV.

Ela ainda deitada do meu lado, eu ouvia sua respiração. “Calma... se controla menina!” Ficava pensando, até que uma hora não consegui vê-la do meu lado e saber que eu não a teria, fui pra sacada. Fiquei no canto alemão encolhida. “Por que eu tinha que querer minha amiga hétero?”. As lágrimas começaram a cair, nem tinha percebido.

Uma hora ouvi alguma coisa se mexendo do lado de dentro, e de repente sai ela. “WHAT?! O que ela faz aqui fora?!”. Continuei parada no meu canto.

- Que foi? – Legal... o que iria responder?

- Nada. – Essa foi a única coisa que consegui pensar pra responder. Claro que eu não ia responder: “Estou chorando porque sei que jamais poderei te ter...”. Nossa amizade poderia acabar.

- Sério... fala. – Não consegui pronunciar mais nada e somente balancei a cabeça negativamente. Ela me abraçou.

“Não fala. Não fala.”. Eu estava com frio. Ela parecia com mais frio do que eu. “O que? A menina que sempre está com calor está com frio?!”. Ela entrou e voltou com duas cobertas.

Não olhava diretamente para ela, mas consegui vê-la digitando uma coisa no celular. Não olhei até que terminasse e entregasse, com as mãos tremulas, pra mim. Peguei o celular e finalmente consegui ler o que estava escrito.

“Posso te contar uma coisa? É sério. A nossa amizade tá em jogo.”

Eu fiz um sim com a cabeça. Então ela pegou novamente o celular e começou a digitar. Tinha milhares de coisas se passando na minha cabeça, pensando o que era isso que ela estava digitando. Até que ela me entregou. Lembro quase toda a mensagem:

“Te quero. Se quiser pode esquecer que leu isso”

Fiquei olhando pras duas palavras: “Te quero”. Isso foi um choque. “O motivo de eu estar chorando acabou de escrever que me quer?”. Entreguei o celular e ela finalizou com um “Desculpa. Balancei a cabeça com um riso nervoso querendo dizer que “Não precisa”.

Começamos a conversar. Conversas sem pé nem cabeça, sobre qualquer coisa pra poder disfarçar o nervosismo de ambas. Entramos. Assistimos a uns dois filmes. E eu lembro quais eram: “Deu A Louca Na Chapeuzinho” e “Imagens do Além”. Esse “Imagens do Além” foi uma merda.

Lá estava a gente, deitadas no mesmo colchão, eu encostada nela e nossas mãos entrelaçadas. 5:00 da manha e o filme acaba. Desligamos a TV.

Nós duas deitadas uma de frente pra outra conversando novamente sobra inutilidades, até que uma hora, silêncio. Ela ficava olhando para um ponto, parecia pensativa.

- Posso? – Ela passou o polegar no lábio inferior dela. “Caralho! A voz não sai!” Estava muito nervosa, ansiosa, e sei lá o que, que nem minha foz conseguiu sair direito. E ela deu uma risada e se virou. Também me virei e fiquei sentindo o meu coração.

- Meu coração tá acelerado. – Nem sabia que meu coração conseguia bater em tamanha velocidade. Mas pelo menos consegui pronunciar alguma coisa.

- Você podia responder... – Sua voz estava quase falha.

- Mas eu respondi.

- Sério? Não ouvi. – Não estava surpresa dela não conseguir ter ouvido minha resposta.

- Aham.

- Respondeu o que?

- Sim... – Consegui ver a cara dela de choque momentâneo na minha mente. Meu coração estava saindo pela boca a essa altura. Eu me virei. Ela se virou. Ela apoiada em seu braço. Eu de barriga pra cima.

- Mesmo?

- Sim. – Estava certa da minha resposta.

Depois de pensar que a jamais a teria pra mim, ela estava ali. A boca dela com a minha, o corpo dela em cima do meu e o resto da noite somente pra nós.