Um Sonho de Venturo escrita por Um Sonho de Venturo


Capítulo 4
[Capítulo 4] Uma pulga no sapato




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Acordei exausto e completamente desanimado no dia seguinte. Não queria ter me levantado da cama, mas a vida continua.

Assim que abri o whatsapp, fui olhar a foto do perfil da Laís e nossa última conversa, com ela me pedindo para me encontrar no terminal. E novamente chorei demais.

— É como se a proteína fosse o muro e os aminoácidos os tijolos... - dizia o professor de uma das matérias do curso e nutrição. Eu não estava conseguindo prestar atenção na aula, só pensando na tragédia que aconteceu com Laís. E eu achava que alguns de seus parentes pudessem a assassinar. Estava errado.

Rodrigo: Cadê você? Estive no local ontem e você não apareceu.

Estava sem saco para responder a um baba também, mas pensei que quanto antes resolvesse aquele problema melhor.

Eu: Não pude ir por motivo de força maior mas prometo estar lá hoje na mesma hora.

Rodrigo: Okay!

Acabou a aula e eu segui minha rotina ainda desanimado. Até que uma cigana me parou na rua.

— Oi, você pode me dar um pouco do seu tempo? - perguntou a mulher robusta e com aquele vestido amarelo rodado, com quele cabelo encaracolado e mal cuidado. Percebi de quem se tratava assim que a vi.

— Senhora, eu estou sem dinheiro. Me desculpe. - falei, apressado

— Mas será só alguns minutos, eu prometo. - insistiu, segurando a minha mão.

— Mas eu sou cético, senhora. - respondi, já agoniado.

— Não tem problema. - concluiu

E então eu permiti.

— Vejo que está aflito. - disse ela olhando nos meus olhos - E o motivo é justificável. - voltou a olhar minha mão e continuou - Você é uma boa pessoa, correta e zela pela reputação. Gosta de agradar a todos, mas nem sempre é agradado. Muito em breve algo pode mudar sua vida e relacionamentos podem trocar de papéis. Você tem 5 reais aí? - terminou

— A senhora poderia ser um pouco mais clara? - perguntei

— Tem 5 reais aí? - Então eu tirei 5 reais do bolso e entreguei em suas mãos.

— O que é amigo pode se tornar namorado e o que é namorado pode tornar-se um desconhecido. Um velho amor do passado poderá se reacender e um grande novo problema surgir. Tem mais 5 reais aí? - concluiu, erguendo a cabeça e olhando nos meus olhos

Eu pus minha mão no bolso zangado e a entreguei mais 5 reais. Agradeci pelo trabalho, mas nada fazia muito sentido para mim naquela hora no que ela falou. Cheia de incertezas e coisas sem noção. Não muito.

Fui para casa zangado, confuso e sem dinheiro.

— Velha caloteira! - bufei

Ao chegar em casa percebi as malas no chão de casa.

— Estou indo amanhã de manhã. - disse minha irmã enquanto terminava de fechar uma das malas.

— Ai que tristeza! - falei. Minha irmã sorriu.

— Veja pelo lado bom: Você vai casar. Você não sempre quis? 

— Verdade. - sorrimos - Mas ainda quero a cerimônia. - tornamos a sorrir 

Manu se aproximou de mim e continuou:

— Já falei com nosso pai. Sabe como ele é, né? Não deu muito valor mas aposto que por dentro está morrendo de saudade e orgulho ao mesmo tempo. - ela sorriu

Eu só achava estranho o fato dela ir fazer faculdade numa época do ano em que não há início de aulas. Mas resolvi deixar quieto.

— Você vai ser muito feliz, tá? Acredite. - comentei sorrindo e muito emocionado.

As horas passaram voando e eu me vi naquela solidão, logo após minha irmã ter ido se despedir de alguns amigos da cidade. Pensei em todos os problemas e mentalizei resolver cada um por vez, como sempre faço. Então me arrumei para ir me encontrar com o Rodrigo e ver se consigo me ver livre de preocupações.

— Vou no shopping, você está por onde? - atendi a ligação do meu outro melhor amigo, o Wander.

— Será que a gente pode ir tomar açaí? Estou com saudades. — Então eu suspirei e respondi:

— Okay.

Assim que cheguei no lugar marcado ele já estava lá.

— Até que enfim! - falou ele logo que me viu. Sua camisa com uma imagem de tortura me causava aflição: Era uma mulher, completamente aflita, com um pano amarrado em sua boca, soando muito e um rapaz ao seu lado com uma faca apontada para ela.

Ele puxou a cadeira para mim sentar.

— Não precisa ser cavalheiro, eu tenho namorado. - falei

— Só quis ser gentil. - respondeu enquanto sentava-se

Estávamos em uma sorveteria do shopping, num lugar perfeito com a pessoa errada.

Ele me encarou por uns segundos e eu já estava começando a me estressar.

— Fala logo o que você quer. - disse

Ele sorriu. Chamou a garçonete e pediu dois milkshakes.

— Então, - disse ele se para frente com os braços cruzados apoiados na mesa - é algo bem simples, que você pode fazer  'vup', se livrar de mim. - concluiu, sendo sarcástico

— Para de palhaçada, eu tenho o que fazer. Eu realmente não me importo que você diga ao Mateus que eu perdi minha virgindade com o cara que eu conheci há 4 dias e que ele era bem mais velho que eu. Eu era um adolescente: imaturo, cheio de desejos e curiosidades, hormônios a flor da pele. Já ouviu falar nisso? - desabafei, sem a menor paciência.

Ele olhou para mim e sorriu.

— Se não se importa, então por que está aqui? Vai lá. Vai embora. Amanhã eu dou a notícia ao seu namoradinho.

— Eu estou curioso - respondi

— Achei que você fosse mais inteligente. - Ele ficou em silêncio por alguns segundos e continuou - Uma noite de amor entre eu e você. Amor, sexo, transa, foda, como você quiser chamar.

Eu sorri ironicamente, sem acreditar no tinha acabado de ouvir. Neste momento os milkshakes chegaram e foram servidos.

— Você só pode ser louco. - falei enquanto sorria, ainda sem acreditar.

— Eu nunca falei tão serenamente.

Me levantei da cadeira zangado e falei:

— Nem nos seus mais loucos sonhos. - antes de me retirar completamente, voltei e terminei - Ah, e pode enfiar o milkshake no... - e segui caminho, muito revoltado.

Enquanto eu me estressava com uma proposta tosca que poria minha fidelidade em jogo, meus amigos conversavam sobre logo mais à noite.

— Iai bicha, como vai a vida? - perguntou Wander. Wander é o tipo de gay bem afeminado, sabe? A bicha que incomoda os homofóbicos e derruba padrões. O nome Wander é abreviação de Wanderlley, mas ele não gosta do seu nome de batismo.

— Bom, eu tô pegando uma menina de um bairro vizinho ao meu. Nada muito afetivo, só pegação mesmo. - respondeu Marcos.

— Tem falado com o Henrique? Nunca mais o vi, trabalho, estudos... ando na correria, chega dá um desânimo de vida. - O jovem faz estética e trabalha como atendente de telemarketing.

— Pouco, ele também anda ocupado. Parece que ele vai morar com o Mateus em um apartamento, né? A irmã dele se mudou.

— Oi? Para tudo. O Henrique vai morar com o Mateus? Isso é motivo de festa. - disse fazendo um pouco de escândalo.

— É uma ideia maravilhosa. Avisa ele.

— Uma social, já quero. Sem falar que hoje a gente vai tomar açaí, certo?

Nesta hora eu liguei para eles, ainda estava estressado.

— Wander amigo, acho que não vai dar para mim ir encontrar vocês, podem ir. — falei

— Ah não amigo, não acredito nisso. O que aconteceu? Venha por favor! - respondeu Wander, olhando para Marcos.

— Não dá, eu estou sem cabeça, é sério. 

Marcos se inclinou para ouvir a conversa e gritou:

— VENHA QUE EU TE PEGO!!

Nós sorrimos.

— É sério. — sorri - Diga a esse palhaço que não dá, hoje não. Marcamos outro dia.

— Okay então. - respondeu Wander, triste. - Poxa. - concluiu desligando a ligação.

— Também queria que ele viesse. - comentou Marcos

Wander sempre foi apaixonado por Marcos. Na adolescência eu fui loucamente apaixonado por ele também. Mas hoje eu já não sei o que sinto. O Mateus me conquistou demais.

 Enquanto eu saia do shopping enfurecido, depois de falar com as manas, antes mesmo de descer os degraus da entrada, senti alguém tocar no meu ombro. Era ele.

— DÁ PARA ME DEIXAR EM PAZ? - gritei revoltado enquanto andava para ir pegar um táxi.

— Pensa bem, o seu namoro pode acabar se seu namorad...

— VAI SE FERRAR! - gritei por fim e o empurrei. Então ele parou de me acompanhar e me olhou ir.

Cheguei em casa exausto e resolvi ligar para o Mateus.

— Amor, precisamos resolver as coisas da mudança.

— Há outras coisas também que precisamos conversar.

Apenas uma coisa me vinha à cabeça...


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