O fuso horário estava acabando com ela, sem falar que sua dificuldade de lembrar de falar em japonês era constante. E para completar que porcaria de uniforme era aquele? Uma saia curta de pregas verde que com qualquer vento subia e uma blusa branca com um infeliz laço vermelho. Ela era uma atriz pornô por acaso?

Saori, que era Athena no atual santuário, providenciou a ida dela para a escola Toudou Gakuen, uma escola para alunos amantes de lutas. Segundo ela, assim ela não se sentiria tão deslocada no ambiente e poderia fazer amizades baseadas em suas experiências de batalhas. Ao menos nisso ela tinha razão, já que não tinha saco para estar no meio de garotinhas mimadas que só se preocupavam com moda e maquiagem.

Kanon a havia deixado a porta da escola, e bem, ela se sentia mais segura assim. Kayko jogou a bolsa no ombro e passou a andar para o local onde seria a cerimônia de abertura, estava sendo enfadonho fingir ser o que não era, sem falar que ela chamava a atenção demais por onde passava devido ao corpo repleto de curvas pelos anos de treinamento.

Ouviu alguns gracejos durante o caminho até o quadro com o nomes dos alunos,l onde verificaria a sala em que ficaria. Ela era mais velha que muitos dos alunos daquela sala, mas a fundação de Saori só conseguiu colocá - la para iniciar desde o primeiro ano, mesmo que ela já tivesse conhecimento para ser uma astróloga. Localizou seu nome no quadro com os nomes dos alunos e caminhou até a sala, se recordando do mapa da escola que fora memorizado horas antes.Ao entrar na sala, pode ver no quadro negro da sala um aviso para comparecerem ao auditório, local para onde ela foi em seguida.

Ao entrar no local cheio de alunos, ela sentiu um estranho olhar sobre si, seus sentidos se aguçaram para descobrir quem seria, até que ela encontrou um par de olhos castanhos avermelhados sobre si. Ele tinha longos cabelos brancos, usava um uniforme preto e estava cercado de pessoas, parecia ser bem popular ali. Seus olhares se cruzaram por alguns segundos e ela sentiu uma eletricidade  percorrer por seu corpo. Pelo jeito ele também teve a mesma reação, pois desviou o olhar em seguida fingindo dar atenção a um rapaz ao lado dele.

O rapaz que a olhava subiu ao palco assim que o diretor da escola falou sobre as regras da escolas e toda a burocracia que Kayko havia lido antes, ele se apresentou como Shin Natsume, o outro que estava com ele era Takayanagi Mitsuomi, um calouro como ela. Fizeram um belo discurso e depois das orientações todos os alunos começaram a se dispersar. Kayko estava atrás do enorme grupo de alunos quando sentiu uma mão em seu ombro. Por instinto ela pegou a mão da pessoa rapidamente, já imaginando que fosse mais um tarado e aplicou um golpe para imobilizar:

—Ô, calma aí garota estrangeira.

Ao olhar o dono da voz, ela encontra o par de olhos castanhos avermelhados de Shin Natsume, presidente do grêmio estudantil e do clube de execução:

—O que deseja, senhor presidente? - Kayko pergunta desfazendo o golpe.

—Achei que era só mais uma garotinha que veio pra essa escola por acaso. - Shin fala com um simpático sorriso.

—Acho que vim para o lugar certo. - Kayko sorri.

—Já pensou em algum clube?

—Não sou muito sociável senhor presidente, para falar a verdade, quanto mais as pessoas estiverem longe de mim, será mais seguro para elas.

—Gostaria de ouvir mais sobre isso se puder.

—Quando quiser.

Kayko o olha mais uma vez e se afasta, seguindo o grupo de alunos que ainda saiam do auditório. Shin  ainda a observava, ela era um tanto interessante, e como dizia o dito popular “um louco reconhece o outro”. Aquele pensamento o fez sorrir, mas seu sorriso desapareceu quando ouviu a voz de sua namorada de fachada:

—Gostou dela?

—E se for? - Ele perguntou mal-humorado.

—Não se esqueça, nós estamos juntos agora, seria bom que me respeitasse.

—Me deixe em paz Mana. - Falou  Shin e logo  tratou de se afastar da moça de cabelos negros.

—*-

Kayko havia feito amizade com Maya, a irmã do meio de Shin. As duas se entendiam bem, se tornando boas amigas e como Shin nunca desgrudava da irmã, ela acabou se tornando amiga do presidente e dos membros de seu clube também, além de acabar participando do mesmo. Naquele fim de semana eles haviam combinado de ir ao um karaokê e Shin havia combinado de vir buscá - la. Shin também havia se tornado amigo de Kanon e Saga, deixando Kayko em maus lençóis, pois tudo que fazia era reportado por Shin que compreendeu a preocupação dos gêmeos para com Kayko em uma cidade completamente diferente da que vivia.

Ela estava em frente ao portão da casa, usava um maldito vestido preto com babados brancos, meias ¾ pretas e os malditos sapatos de boneca, parecia uma lolita. Ela havia perdido uma aposta com Saga e Kanon, que a fizeram se vestir como uma menininha, e ela teria de se vestir assim pelos próximos dez dias, para o seu pesadelo.

Ouviu o som do motor da moto de Shin e logo ele freia ao lado dela:

—Vamos? - Ele lhe entrega um capacete mas para ao perceber o que ela vestia.

—Um vestido? - Ele sorri de canto.

—Sim, um maldito vestido. - Diz Kayko colocando o capacete e subindo na moto com a ajuda de Shin.

—Perdeu a aposta, foi? - Shin sabia da aposta dos gêmeos, e sim, ele havia ajudado os gêmeos para que Kayko perdesse.

—Infelizmente. - Kayko tinha um ar derrotado.

—Você está linda assim. - Ele falou enquanto ajustava o capacete, disfarçando um pouco o embaraço que sentia ao falar aquilo para a morena.

—Me deixe em paz Shin, você sabe que eu detesto essas coisas de menininhas.

—Deveria usar mais coisas assim, você não imagina como você é linda.

Sorte de Kayko ele não poder vê - la, pois ela estava vermelha como um pimentão no momento. Não demoraram muito e logo estavam no local combinado, onde Maya, Mitsuomi e Buchishi os aguardavam cantando e comendo, enquanto riam e conversavam. Aquele encontro estava sendo muito agradável, mas estava claro que tinha algo entre Shin e Kayko acontecendo e Maya, Mitsuomi e Bushinshi haviam combinado aquela saída apenas para que o casal ali se acertasse de alguma forma:

—Agora está na hora da Kayko cantar! - Fala Maya jogando o microfone pra Kayko.

—Até que enfim. Você canta mal demais Maya, sai daí. - Fala Buchinshi estendendo a mão para Kayko. - Vai lá diva, tenho certeza que você canta melhor que essa feia.

—Ah não, eu não sei cantar. - Kayko fala tentando se livrar do pedido.

—Se vira, só você e o Shin não cantaram, se vira agora porque nós sabemos que o Shin canta muito mal. - Fala Mitsuomi.

—Vai lá Kayko, e se tirar nota ruim vai ter que beijar o Buchinshi! - desafia Maya.

—Vá pro inferno Maya, nunca que vou tirar uma nota ruim. Sou profissional. - Kayko dá língua para Maya que ri, em seguida ela começa a cantar Alone da banda Heart.

A voz de Kayko era linda, ela tinha o tom perfeito para música e um admirado Shin se perdia observando a morena cantar sob os olhares cheios de significados do trio ali presente. Ao fim da música todos aplaudiram:

—Eu sabia que ela cantava bem! - Comemora Buchinshi.

—Cale a boca Buchinshi e Kayko cante mais para nós. - Pede Shin com um bobo sorriso no rosto.

—Só mais uma. - Fala Kayko escolhendo uma música.

No fim ela cantou várias músicas e assim como havia vindo ela voltou para casa com Shin. Eles estavam no portão da casa de Kayko, ela lhe estendia o capacete:

—Então, até segunda?- Ela fala.

—Eu quero vê - la amanhã. - Ele a olha nos olhos, se perdendo nos grandes olhos vermelhos dela.

—Por quê? - Ela pergunta curiosa.

—Kayko… - Shin pega as mãos dela.

—Diga Shin, aconteceu alguma coisa? - A amazona estava preocupada com o amigo, já que tinha alguns dias que notava que o comportamento dele havia mudado.

—Eu quero muito ficar ao seu lado… - Shin aproxima o rosto a olhando nos olhos. - Você me aceitaria como eu sou?

—Do que está falando? - Kayko não tirava os olhos dos dele.

—Disso.

Ele encostou os lábios aos dela e passou a beijá - la suavemente. Kayko passou a corresponder e logo sentiu sua cintura ser enlaçada pelos braços dele. Sentia o corpo de musculatura rígida dele colado ao seu; não havia como comparar, ele realmente era único. Eles não sabiam quanto tempo haviam ficado ali, mas só se afastaram quando o celular de Kayko tocou:

—Deve ser o Saga pedindo para eu entrar. - Kayko fala.

—Já está tarde, você deve entrar. - Shin fala carinhoso enquanto acariciava os cabelos dela.

—Sim. Então me diga onde quer que eu o encontre amanhã. - Kayko fala carinhosa deixando se levar pela carícia dele e fechando os olhos.

—Eu passo uma mensagem para você mais tarde. Durma bem, minha pequena.

—Você também.

Os dois trocam um demorado beijo e logo Kayko entra em casa sob o olhar terno de Shin, que só sai do local depois que a viu entrar em casa. Ele sorriu ao se lembrar do beijo que havia trocado com ela, e a forma doce com que ela correspondeu. Kayko estava fazendo ele se sentir um homem normal pela primeira vez desde que nasceu. Ele só esperava que ela aceitasse seu lado obscuro.

Ele ligou a moto e partiu a direção do caminho de casa, mas no caminho Mitsuomi e Buchinshi se juntaram a ele na estrada com suas motos:

—E aí? Resolveu? - Pergunta Mitsuomi com a voz elevada para Shin ouvir.

—Amanhã! - Shin gritou de volta e gargalhou.

A quanto tempo ele não se sentia tão vivo?