Please, don't leave escrita por Izzy Aguecheek
Notas iniciais do capítulo
Como eu já expliquei o babado todo envolvendo a criação da história nas notas iniciais, queria só dizer que eu escrevi essa fic em cerca de uma hora, pelo celular, num pátio de escola e com os dedos meio congelados, e agora tô revisando e postando no meio da noite, e que é isso que TRC faz comigo. Obrigada.
(O título do capítulo foi retirado da música Surrender The Night, do My Chemical Romance, e significa "você rende seu coração, eu rendo cada sonho".)
Noah sabia que Ronan estava sonhando por causa da forma como a respiração dele falhava, ficando mais pesada. No início, ele imaginara que o barulho poderia ser outra coisa, talvez algo mais privado. Não demorara muito para Noah descobrir que eram pesadelos, e que não havia nada mais privado que Ronan Lynch sonhando.
Mesmo assim, ele foi para o quarto de Ronan quando ouviu os arquejos. Não bateu nem nada; apenas apareceu lá, como uma assombração. Havia noites em que Noah se sentia mesmo como uma assombração, especialmente quando o mundo inteiro já estava dormindo e ele continuava consciente.
Os lençóis de Ronan haviam sido jogados no chão em algum momento durante a noite, e ele estava descoberto apesar do frio, usando apenas uma regata e shorts. Uma de suas mãos estava em volta da própria garganta; a outra estava caída ao lado do corpo, fechada em um punho com tanta força que suas juntas estavam brancas.
Noah se sentou ao lado dele na cama e retirou os dedos que apertavam seu pescoço delicadamente, mas não o acordou. Esperou que ele despertasse por conta própria, os olhos se abrindo de supetão, o punho se abrindo lentamente, revelando um pequeno objeto cinzento e gotículas de um líquido escuro.
Ronan não pareceu alarmado ao ver o amigo. Noah esperou que ele soltasse algum comentário sarcástico, mas esse Ronan era diferente; havia uma vulnerabilidade rasgada nele, como se o que quer que tivesse perfurado sua mão também tivesse aberto seu peito e exposto o buraco negro que havia dentro. Esse Ronan era só em parte real; o resto não passava de um sonho.
Noah entendia a sensação de estar dividido entre duas existências. Ele esperou que o amigo se acalmasse, que a tempestade noturna desse lugar ao furacão de costume e que Ronan olhasse para ele e dissesse:
— Mas que diabos, Czerny?
Com cuidado, Noah se inclinou para tirar o objeto da mão dele. Era um pedaço de galho, mas seus espinhos eram pequenas lâminas prateadas.
Ronan xingou baixinho, como se só agora percebesse que estava sangrando.
— Me passa aquele pano - Ele apontou para um pedaço de tecido jogado no chão. Ao pegá-lo, Noah percebeu que era uma regata preta, mas não fez comentários.
Ronan enrolou a mão machucada na camisa, então ergueu as sobrancelhas para Noah. Ele estava fazendo o possível para agir normalmente, mas suas mãos tremiam e ele continuava olhando em volta nervosamente, como se esperasse um ataque. Noah quase se sentiu mal por ter invadido um momento tão íntimo.
— Então, você só vai ficar aí me encarando?
— Desculpe - murmurou Noah. Agora, ele achava que ir ao quarto de Ronan fora uma má ideia. - Eu posso ir embora, se você quiser.
Ele não tinha certeza se "ir embora" significava sair do quarto ou desse plano, mas não fazia diferença. À noite, tudo era igualmente instável.
A resposta de Ronan o surpreendeu quase tanto quanto a voz baixa e quebrada em que ela foi dita:
— Não - Ronan estava respirando fundo, e era uma respiração trêmula. - Por favor, não vá.
Então, Noah se deitou ao lado dele ao invés disso. Ele sentiu a pele do outro, coberta por uma camada de suor, se arrepiando pelo contato frio, mas Ronan não reclamou. Noah se encolheu junto a ele, virando-se de lado para poder encará-lo e pousando uma mão gelada em sua bochecha, procurando conforto tanto quanto ele.
Ronan fechou os olhos. Sua respiração começou a ficar mais estável. Noah pensou que ele havia adormecido, até ele dizer:
— Você tem sonhos, Noah?
— Eu não durmo há muito tempo - Noah sussurrou a resposta no ouvido dele, tristemente, como se fosse um segredo. - Não me lembro como é sonhar.
Um sorriso mínimo curvou os lábios de Ronan.
— Com certeza você lembra - disse. - Mas é uma pena. Eu gostaria de saber com o que você sonharia.
Flashes passaram pela mente de Noah: um Mustang vermelho, um jovem amargo a quem ele um dia fora completamente devotado, quatro garotos corvos e uma garota feita de estrelas em uma vida que ele não deveria ter.
— Não se preocupe - murmurou ele. - Eu sei.
Ele ainda estava ali quando Ronan adormeceu, assim que o sol começou a nascer. Havia noites em que Noah se sentia como uma assombração, mas havia noites como aquela, encolhido junto àquele garoto feito de terrores noturnos e bordas afiadas, em que ele conseguia sonhar.
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