Camouflage escrita por roux


Capítulo 2
– Entre a Águia e a Cruz




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— Não fazia ideia de que você estava residindo na cidade, e muito menos que está hospedado em meu prédio. Você mudou-se recentemente pra cá? Nunca o vi pela cidade antes de ontem à noite. — Ethan perguntou olhando o homem sentado em sua frente levou a xícara de chá à boca para evitar morder os lábios.

— Eu moro em Nova Vestróia desde que nasci. Mas fui estudar fora nos últimos anos da escola, ganhei uma bolsa em Nova Lindesburf e não pude perder a chance. — O homem também levou a xícara os lábios e soprou com uma cara de safado antes de tomar um gole. — Mas e você?

— Eu o que? — Ethan perguntou rápido, não tinha costume de responder perguntas, ele é quem as fazia. Mas estava lidando com um policial, provavelmente os dois tinham mania de se sentir no comando e fazer as perguntas.

Josh riu em voz alta e encarou o outro com seus olhos sombrios.

— Eu estudei sempre aqui, pra falar a verdade vivi minha vida inteira nessa bolha de cidade. Meus pais foram para sua segunda lua de mel na Grécia e acabaram ficando por lá. Eu passei a viver com meu irmão, mas quando completei dezoito anos ele também me deu um pé na bunda e fugiu daqui com a banda dele. Eles tocam rock sabe? Aqui nessa cidade pequena o máximo que iriam conseguir eram trocados cantando música local e caipira em qualquer boteco de esquina. — Ethan tomou um longe gole de seu chá de laranja com baunilha, tinha um gosto muito bom. — E é isso, então entrei para o jornal e estou aqui vivendo essa vida de mer... Estou aqui.

— E você mantém contato com seus pais? Está aqui totalmente sozinho? — Josh perguntou mais interessado.

— Meus pais e eu nos falamos todos os dias, e não. Eu moro com minha melhor amiga. Ela é uma irmã pra mim, além dos meus tios que vem o tempo todo em casa para saber como estou. — Ele sorri. — Como se eu não tivesse 21 anos e fosse dono de mim mesmo.

Ethan achou ter visto Josh ficar irritado, mas ignorou isso quando viu o grande sorriso bonito que o policial colocou em sua boca. Ele também sorriu.

— Mas então, o que mais descobriram naquele caso? — Ele perguntou olhando o policial.

— Eu não gosto de tratar de assuntos do meu trabalho no meu tempo livre, que tal a gente marcar uma entrevista para quinta feira pela tarde? Eu terei um tempo livre e poderei responder todas as suas perguntas. Agora poderíamos fazer algo melhor, tomar algo, quem sabe um banho! — Josh sorriu com uma cara de safado e piscou.

— Eu não consigo transar com desconhecidos, que tal marcarmos um encontro para o sábado? Eu estou livre depois do expediente. A gente se vê, obrigado pelo chá! — Disse ele colocando a xícara sobre a mesa no centro e levantando do sofá.

Josh também se levantou e coçou a cabeça de forma constrangida.

— Eu não quis soar rude, me desculpe! — O homem disse totalmente sem graça.

— Não se preocupe, eu também não quis ser rude, Josh. Mas preciso mesmo ir. Estou exausto, quem sabe podemos sair outra vez. E sim, eu aceito a entrevista. Na quinta feira as três? Fique bem, e mais uma vez obrigado pelo chá.

Ethan estava começando a caminhar quando ouviu um grunhido, e o barulho de algo caindo e quebrando. Ele olhou para trás e não viu nada, o som parecia ter vindo de perto.

— Você tem gato? — Ethan perguntou para Josh que parecia apreensivo.

— Eu? Eu tenho sim! É claro, ele deve estar aprontando. Acho melhor eu dar uma olhadinha dele. A gente se vê na quinta, pode bater a porta quando sair? — Josh perguntou e caminhou em direção à porta de entrada do porão. — Eu vou dar uma olhada nele.

Ethan ficou encarando. Algo parecia errado, mas apenas sorriu e acenou com a cabeça. Sabia que algo estava errado e preferiu sair sem dizer nada, não parecia mais tão bem vindo para o outro homem quando o mesmo lhe virou as costas, então só foi embora. Havia coisas que precisava fazer em casa antes de dormir.

Eram quatro da manhã quando Ethan assustado acendeu o abajur na mesa de cabeceira. Olhou pelo quarto. O baque vazio parecia ter acontecido dentro do seu apartamento, mas não podia ser. O jovem saltou da cama e caminhou pelo quarto na ponta dos pés. Pegou um taco de basebol atrás da porta e acendeu a luz, lentamente saiu do quarto.

Peny? É você? — Ele perguntou baixinho. Não ouve resposta.

Então o baque aconteceu novamente e o jovem se deu conta que era no corredor. Correu sem fazer barulho e olhou pelo olho mágico da porta, um homem puxava um saco preto pelo corredor. Quem estaria retirando o lixo àquela hora da madrugada? Ele sentou-se no sofá e ficou pensativo. O seu instinto profissional o mandava sair e olhar o que estava acontecendo, porém seu instinto de segurança dizia que ele deveria ficar ali dentro seguro.

A porta abriu de uma vez, Ethan gritou e pulou do sofá ficando em posição de ataque.

— Que? O que foi? — Penélope perguntou séria e olhando com cara de brava para o homem em sua frente. — Por que está com esse bastão na mão?

— Ouvi barulhos estranhos no corredor, você não viu nada? — Ethan perguntou tentando manter a respiração estável.

— É só o novo vizinho, encontrei com ele na porta do elevador. Estava levando alguns lixos pra fora, algo assim. Não precisa se preocupar, bobo. É um condômino seguro. — Peny disse enquanto fechava a porta e caminhava para o amigo, beijou o mesmo no rosto.  — Estou exausta, o hospital estava um caos hoje por conta do corpo encontrado, é do seu caso, né?

A menina se jogou no sofá e prendeu o cabelo num coque.

Sim, esse caso! — Ele respondeu fazendo uma careta, não era o caso dele.

— Você já escreveu o jornal de amanhã? Eu tenho novidades para você. O corpo que examinamos hoje tinha marcas de algemas, quem quer que tenha feito isso é um sádico do caralho, além de estuprar, e matar o garoto. Ele espancou e até queimou com vela. — Disse Peny tremendo o corpo como se estivesse sentindo nojo.

Ethan olhou para chão. Sentia-se perplexo.

— O que você está fazendo papai? — Perguntava o garoto com o rosto inchado, parecia ter levado um soco no olho esquerdo. — Por favor, papai, não me queime, não papai. Por favor... — O garotinho implorava com a voz fininha.

— Isso é pra você aprender a nunca insinuar contar para alguém o que nós dois fazemos aqui seu moleque de merda. — Dizia a voz grave e forte do pai.

— Não, eu não contei nada, por favor, papai, por favor. — O garotinho começava a pedir mais alto enquanto sentia a ponta do cigarro tocando suas costas. Ele gritava.

— Ethan? Você ouviu o que eu disse?

— O que? — Ethan olhou para amiga voltando a sua realidade.

— O garoto, era Logan Levelgeed. Havia acabado de completar dezessete anos. Era um prodígio, os pais estavam orgulhosos iria para fora do país para fazer intercambio. Não entendo como alguém pode ser tão cruel a esse ponto. — Peny disse olhando para o amigo. — Se quiser acrescentar essas informações, acho que ele merecia isso.

— Eu já fechei a matéria, mas na sexta feira vou lançar outra e colocarei essas informações. Eu vou... Eu... — Ethan apenas levantou e caminhou para o quarto deixando a amiga sozinha.

Ethan sentou na cama e puxou o notebook, abriu seu facebook e digitou na barra de pesquisa: Logan Levelgeed.

“Não acredito que ele se foi de forma tão agressiva e cruel, ele era um garoto incrível.”

“Ele não merecia isso, espero que esse maldito tenha o que merece. Ninguém merece passar por isso, que deus console o coração dos que choram.”

“Bicha maldita, teve só o que procurou!”

“É isso que acontece com quem não segue a palavra do senhor, a bíblia diz que é pecado um homem se deitar com outro como se fosse mulher, só teve o que mereceu, a consequência do pecado é a morte.”

“Meu melhor amigo, sentirei saudade.”

“A última vez que o vi ele estava no Música e Cerveja esperando um amigo, conversamos e eu nos despedi, ele parecia tão feliz.”

Ethan parou o cursor em cima da palavra música e cerveja e selecionou, copiou e jogou no google. Olhou atentas as informações. Funcionamento das 20h às 6h. De quintas a domingo. Anotou todas as informações em sua caderneta e voltou para o perfil do garoto morto, salvou a foto do perfil. O garoto da foto parecia feliz, sorria. Enviou o arquivo para impressora e imprimiu. Ele tinha por onde começar sua investigação. Não sabia por que estava fazendo isso, era o trabalho da policia, mas estava cansado de sentir medo, poderia ser ele em uma vala qualquer morto e estuprado. Isso tinha que parar, ele iria fazer alguma coisa para isso parar. Se a policia não estava disposta a fazer seu trabalho rapidamente, ele mesmo iria. Não tinha motivos para esperar pacientemente até quinta quando qualquer outro jovem poderia morrer. Ethan adormeceu ali mesmo com o notebook em seu colo.

O jovem Ethan estava em frente ao espelho. Sua melhor roupa, os cabelos arrumados e bonitos como sempre. Precisava se lembrar de que estava indo a trabalho e não para se divertir. Colocou o gravador no bolso, a foto do garoto morto em outra e saiu do quarto. A viagem de carro não foi tão longa, foi demorada, pois sua picape estava bem velha para correr. Estacionou em frente ao bar e olhou vários jovens que riam e gritavam em frente ao local. Achou que iria se deparar com um bar típico da cidade, mas esse era diferente, tinha uma pega alternativa. Ele nunca imaginou que Nova Vestróia poderia ter um lugar como esse.

— Ei, gato está sozinho? — Perguntou um homem mais velho com a boca colada em seu ouvido por conta da música alta.

— Não! Meu namorado foi ao banheiro. E olha ele ali! — Ethan apontou uma um jovem qualquer que vinha vindo à direção dele. Sorriu para o homem mais velho como se precisasse se desculpar e partiu pra longe.

Caminhou até o balcão de bebidas.

— É oi, você poderia me indicar onde fica o lugar mais reservado daqui? — Ethan conhecia bem um bar gay, todos em que ele costumava ir lá em Nova Lindesburf tinham o mesmo estilo. Esse não era diferente com certeza.

— Nos fundos, depois daquela porta de metal. Lá fica nossa parte reservada para nossos casais mais apaixonados. — Disse o homem do bar com um sorriso maligno nos lábios.

Ethan sorriu e tratou de afastar logo dali. O homem era assustador.

Assim que entrou na parte reservada Ethan notou a diferença. O clima era mais leve e a música que tinha na outra parte ali só parecia um sussurro. As mesas para dois estavam organizadas por todo o salão, alguns casais conversavam e bebiam sem pressa. Ethan caminhou para o balcão, o homem negro encostado no balcão sem fazer nada sorriu.

— Oi, boa noite! — Ethan disse sorrindo.

— Olá, o que vai querer hoje? — O homem perguntou. Era bonito. Alto, negro com os cabelos raspados, um dos sorrisos mais bonitos que Ethan já tinha visto na vida, os dentes tão brancos brilhavam na luz ambiente.

— Não estou aqui para beber, apenas quero te fazer umas perguntas. Poderia? — Ethan perguntou sorrindo de forma angelical, enfiou a mão no bolso passando despercebido e ligou o gravador.

— Você é tira? — O homem perguntou.

— Não, mas não vou mentir para você. Eu sou jornalista do Eleven Diario. Gostaria só de fazer algumas perguntas, se não for incomodo.

— Meu chefe não gosta que passemos informações sobre a casa. — O negro disse meio desconfortável, porém sem perder o tom simpático.

— Eu prometo que não vou divulgar seu nome e muito menos o nome do estabelecimento. Eu apenas gostaria de saber se... — Ele puxou a foto do bolso. — Se você viu esse garoto por aqui!

O homem se assustou e olhou da foto para Ethan. Ethan sabia o que isso queria dizer, ele tinha visto. Ele sabia com quem o garoto esteve e isso o chocava muito.

— Eu... — O homem começou a dizer.

— Eu só preciso saber se você viu o homem com quem ele estava acompanhado, viu o rosto? Algo que possa fazer com que a policia identifique o suspeito.

— Você disse que não era tira cara! — O homem falou tirando totalmente o sorriso do rosto e ficando bravo.

— E eu não sou me chamo Ethan Snow e sou jornalista do Eleven Diario, estou trabalhando com a policia para desvendar esse caso, precisamos acabar com essas mortes. Então, você viu algo? — Ethan perguntou agora menos confiante, não tinha certeza se o homem iria contar algo.

— Eu vi! — Disse o homem para surpresa de Ethan. — Ele estava aqui com um cara bem alto, era loiro e bronzeado, usava uns óculos quadrados sabe? Tinha uma barba por fazer, muito escura. Eu digo isso porque o homem era muito loiro e bronzeado, parecia um australiano, mas a barba denunciava que a cor do cabelo era falsa.

Ethan anotou essas informações atrás da própria foto que tinha nas mãos.

— Você viu algo a mais? Algo que pudesse identificar o suspeito? Alguma tatuagem? Algo assim? — Ethan perguntou sério.

— Não sei! Eu... Isso eu não vi, talvez ele tivesse escritos nos braços, mas não vi muito, não presto atenção nos clientes, ainda mais nesse cliente que parecia totalmente ativo. Mas tem algo que me chamou a atenção. Ele usava um colar de prata com uma grande águia e uma cruz.

Ethan fez cara de confuso e olhou para o homem em sua frente.

— Entre a águia e a cruz tinha um símbolo estranho que não sei descrever. — O homem completou.

— Símbolo estranho, é? — Ethan sabia que tinha conseguido alguma coisa.


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