CAPÍTULO 1

Era quinta de manhã, Jessica Thompson estava esperando na janela, seus olhos azuis arregalados procurando algo no céu anil e límpido, um menino estava sentado ao lado dela fazendo a mesma coisa, esse era o Wiliam Thompson, o irmão de Jessica de oito anos. Eles moravam em um sobrado, numa vizinhança de classe média. As casas vizinhas não eram grandes, mas eram bem cuidadas e bastante charmosas, com jardins imaculados de grama verde e flores coloridas. De vez em quando um carro passava devagar, diminuindo a velocidade na lombada localizada na frente da casa dos Thompson.

― Hora do almoço ― alguém chamou do andar de baixo.

Jessica e Wiliam permaneceram no mesmo lugar por mais alguns minutos então, Lydia Thompson entrou no quarto, ela tinha cabelo castanho longo com ondas graciosas e olhos azuis. Lydia tinha um pequeno sorriso no rosto.

― Você sabe que sua carta não vai chegar mais rápido só porque você está plantada na frente da janela ― disse Lydia enquanto acariciava o cabelo da filha, que era preto e liso. Ela virou para o menino e acrescentou. ― Você também, hora de parar com isso. Afinal a carta nem é para você e sim para sua irmã. Vamos todos descer para almoçar antes que esfrie.   

― Mãe, eu quero ler a carta com a Jess ― o menino protestou. ― Eu quero saber se ela vai ter algum professor novo, ou se alguma coisa vai ser diferente. Além do mais, você sabe que amo ler a lista para Poções dela, lembra? O ano passado ela precisou comprar pernas de aranha, foi tão legal. ― O garoto tinha a voz carregada de entusiasmo.

Wiliam não era muito parecido com a irmã, ele tinha cabelo castanho bem curtinho e a cor da pele um pouco mais clara, era bastante parecido com o pai. Jessica já era mais parecida com a mãe, com exceção do cabelo negro que herdou da vó.

No mesmo momento que ele parou de falar, a irmã já estava levantando a caminho da cozinha. Ela parou na porta do quarto e disse: ― Vamos descer Will, a mamãe está certa, é pior esperar na janela, parece que só demora mais. ― Ele pulou do banco almofadado que ficava encostado na janela e correu escada abaixo, foi seguido pela irmã e da mãe. 

Jessica era uma bruxa, a primeira e única da família. Ela frequentava a Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts. Tinha onze anos quando recebeu a primeira carta e a princípio foi um grande susto, os pegando de surpresa, mas logo acostumaram com a ideia, afinal explicava muita coisa que não entendiam. Um professor trouxe o envelope pessoalmente e explicou para ela e para os pais que as habilidades que Jessica possuía eram muito especiais e que tinha uma vaga garantida na escola de magia, se assim desejasse. Desde então, frequentava Hogwarts, agora ela estava com dezessete anos e logo iniciaria o último ano de escola, ainda não sabia qual carreira seguiria quando se formasse. Ela havia tirado boas notas nos testes de NOMs, por isso tinha um grande de leque de opções para escolher.

Quando terminaram de comer, a Sra. Thompson começou a tirar as coisas da mesa e Jessica rapidamente levantou para ajudar, juntando todos os pratos e os colocando na pia. Um movimento no céu a fez desviar o olhar para aquela direção e no mesmo momento escutou o grito do irmão vindo da mesa, ele estava pulando de alegria.

― EEEEEEBAAAAA, aí vem, aí vem. Já estou vendo a coruja, ela está vindo! ― Ele correu e escancarou a janela.

Depois de alguns segundos, a coruja flutuou pela janela, era preta e muito graciosa com olhos amarelos enormes. Assim que Jessica pegou a carta, a coruja partiu. Ela abriu o envelope e colocou o papel sobre a mesa para a mãe e o irmão lerem também. Para sua surpresa nada havia mudado, teria todos os mesmos professores, ela suspeitava que o Professor Slughorn iria se aposentar, afinal ele tinha passado os dois últimos anos reclamando, dizia que já estava cansado de ensinar e precisava de descanso. Os pensamentos de Jessica foram interrompidos pelo irmão caçula.

― Olhem, é por isso que amo essas cartas! ― Ele começou a ler acompanhando com os dedos. - A lista para Poções é tão nojenta. Cabelo de lobisomem, olhos de morcego, sangue de vaca, uuuuuu, olha diz aqui que você precisa de unha de humano, você quer usar as minhas?  

― Não, Will. Vamos comprar tudo isso. Não queremos que sua irmã tenha acidentes por causa de material errado ― disse sra. Thompson, ela manteve os olhos na lista. ― Diz aqui que você vai precisar visitar a loja da Madame Malkin para comprar uma beca especial para sua formatura.

 ― Você acha que podemos ir ao Beco Diagonal esse sábado? ― perguntou Jessica começando a reler a lista.

― Claro, seu pai e eu já estávamos planejando fazer isso. Por que você não liga para os Evans? Podemos nos encontrar lá ― disse sra. Thompson, que já tinha se afastado e estava começando a lavar a louça.

Jessica levantou e foi até a sala ligar para Lilian Evans, elas eram melhores amigas desde o primeiro ano. Fizeram a primeira viagem de trem juntas no Expresso Hogwarts. Tinham muitas coisas em comum: eram nascidas-trouxas, eram as primeiras da família, tinham paixão por mágica e odiavam a gangue do Potter. Eles estavam no mesmo ano que elas e na mesma casa também: Grifinória. Antes de fazer a ligação, ela parou para ler a lista mais uma vez, conseguia escutar o Will ao fundo gritando “sapos de chocolate, sapos de chocolate”, mesmo sem vê-lo ela conseguia imaginá-lo pulando animado. Era o doce favorito dele, antes de começar as férias ela comprou uma quantidade considerável de sapos de chocolate para durar todo o verão, mesmo assim ele tinha conseguido terminar com todo o estoque.

Ela pegou o telefone, pronta para discar quando o aparelho tocou. Ela pulou e se perguntou o porquê disso sempre acontecer com ela.

― Alô ― atendeu Jessica.

 ― Oi, Jess? ― ela reconheceu a voz de imediato, era Lily Evans, não ficou surpresa, elas frequentemente pensavam na mesma coisa na mesma hora. Lily era a única pessoa que a chamava de Jess além da família. ― Você já recebeu sua carta?

 ― Sim, recebi. Nada mudou, tinha quase certeza que receberíamos um novo professor de Poções, mas pelo jeito parece o Professor Dumbledore conseguiu convencer o Slughorn a ficar mais um ano.

― Eu também fiquei surpresa, me pergunto como o diretor consegue fazer isso ― disse Lily. ― Eu tenho uma novidade para contar...

Houve uma pausa.

― O quê? ― perguntou Jessica depois de esperar um pouco para que Lily continuasse.

 ― Serei monitora esse ano ― disse Lily timidamente.       ― Que notícia boa! Agora posso quebrar todas as regras e sair ilesa ― riu Jessica.

 ― Ah tá, até parece. Como se você tivesse coragem de quebrar regras ― disse Lily ironizando. ― Mas vou ficar na cola da gangue do Potter, não vão conseguir sair na linha esse ano, muito menos provocar o Severus.

  ― Concordo plenamente com seu plano, vou te ajudar claro ― continuou Jessica. ― Falando nisso, falou com Severus durante o verão?

― Não ― Lily praticamente sussurrou. ― E você?

― Também não ― confessou Jessica. ― Somos péssimas amigas. Acho que vou escrever para ele hoje, quem sabe ele pode nos encontrar no sábado. Aliás, você acha que podemos nos encontrar no Beco Diagonal? 

 ― Ah, sim, eu já ia esquecendo, foi por isso que liguei. Vamos esse final de semana. Nos encontramos lá?

 ― Sim ― Jessica confirmou. ― Mesmo horário e lugar?

 ― Pode ser ― disse Lily. Nos últimos cinco anos, se encontraram sempre na frente do Caldeirão Furado às dez da manhã.