Blood Queen escrita por Karol Plantikow


Capítulo 8
Capítulo 8




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/710958/chapter/8

Depois do almoço eu fui caminhar perto do bosque atrás do castelo. A neve ainda era alta e ventava forte, mas não me importei. Eu precisava sair pra pensar em como encontraria os livros dos conjuradores em menos de uma semana.

Não havia ninguém por perto, todos estavam dentro dos galpões e casas que ficavam próximos do castelo. O bosque estava silencioso e ao mesmo tempo parecia me chamar. Eu estava sentindo falta de minha liberdade, de correr na floresta, de caçar animais e de meus serviços. Eu suspirei e olhei para minhas mãos que agora estavam tão pálidas quanto à neve sob meus pés. Aquelas mãos que tantas vezes foram manchadas de sangue agora estavam inúteis, pois estava me sentindo cada vez mais fraca e impotente a cada dia que passava. Eu estava dependendo de livros que pareciam se esconder e de pessoas boas e que se importavam comigo. Isso era ruim, muito ruim. Eu nunca tinha me deixado envolver tanto por esses tipos de pessoas. Geralmente eu as matava antes delas me olharem, mas os moradores daquele castelo estavam me afundando sentimentalmente e eu não poderia ficar por muito tempo ali, pois eu não era como elas.

—Charlotte. - Chamou Sam vindo do castelo em minha direção.

Eu me virei para olha-lo.

—O que foi? - Perguntei quando ele já estava próximo.

—Você precisa sair daqui o quanto antes. - Respondeu ele.

—Obrigada por me lembrar, afinal já havia me esquecido. - Eu disse sorrindo ironicamente.

—Pois realmente parece ter esquecido. - Sam estava sério.

—Não me esqueci um único segundo. Acha mesmo que gosto de ficar sorrindo feito uma boba? - Eu estava sendo sincera. - Não, eu não gosto. Eu passo todas as noites naquela detestável biblioteca e não encontro nada e não vou sair daqui enquanto não encontrar o que procuro.

—Talvez porque não estava lá. - Não aqueles livros estavam lá. Tinham que estar. - Por que não me diz o que procura?

Eu o encarei por alguns instantes. Talvez Sam merecesse esse voto de confiança.

—Tudo bem. Encontre-me na biblioteca em dez minutos. - Eu disse e fui em direção ao castelo.

Fui para meu quarto e peguei a espada Grunn e fui à biblioteca. Quando cheguei, Sam já estava olhando alguns livros em uma prateleira central e que eu já havia olhado. Eu parei perto da mesa onde o bibliotecário deveria estar e peguei a espada que havia escondido em minha capa.

Sam me olhou assustado.

—Não vou mata-lo. - Disse ao analisar a espada.

—Então por que está com uma espada?

—Meu pai foi preso e eu consegui um acordo para liberta-lo.

—Que família. - Comentou Sam enquanto se aproximava de onde eu estava. - Mas o que está biblioteca e essa espada tem haver com a liberdade de seu pai?

—O acordo foi o seguinte: encantar esses quatro gemas - apontei-as no cabo da espada - com os poderes dos conjuradores.

Sam franziu a testa e disse - Mas está no lugar errado. Se você procura por conjuradores deveria ir ao Labirinto.

—O que sabe sobre o Labirinto? - Perguntei encarando-o.

—O que todos sabem. É onde vivem os conjuradores depois da caçada. - Respondeu ele com arrogância.

—E você acha que qualquer um entra no Labirinto?

—Como assim? - A sua arrogância sumira e agora sua expressão era de dúvida.

—Só se consegue entrar no Labirinto quem ele quiser deixar entrar. - Expliquei.

—Ele quem?

—O Labirinto. É um lugar mágico e sagrado. Seus caminhos se mostram diferentes, por exemplo, se eu e você tentarmos entrar no Labirinto, você poderá ver um tipo de caminho e eu outro e esses caminhos levam a lugares diferentes. Talvez você pegue um caminho tortuoso e que não dê em nenhum lugar ou também seja apenas um caminho direto para dentro do Labirinto. - Eu já havia tentado voltar ao Labirinto alguns anos depois que sai, eu tinha alguns amigos por lá, mas não consegui entrar. Certamente os sacerdotes ainda estavam ressentidos com o que eu havia feito.

—Então como os conjuradores conseguem entrar? - Sam estava confuso.

—Pois são conjuradores e eles possuem permissão para entrar, a menos que você seja banido ou algo do tipo para que sua entrada seja bloqueada.

Sam caminhou até perto as janelas que tinham vista para o mar.

—Mas o que a biblioteca desse castelo tem haver com isso? - Perguntou ele ainda confuso.

—Antes da caçada aos conjuradores começar, Andrya era o reino humano que possuía um grande acervo de livros sobre conjuradores e como esse reino os protegeu penso que ainda estavam aqui. - Respondi olhando para as prateleiras gigantes e imaginando onde estariam aqueles livros.

—Parece que sei pouquíssimas coisas sobre esse reino. - Comentou Sam se virando para me encarar.

—Agora que sabe o motivo de eu estar aqui, pode me ajudar a procura-los. - Eu disse guardando minha espada na capa.

Sam suspirou e assentiu. Ele estava com um olhar distante e eu não procurei saber o motivo.

Procuramos até perto do fim do dia e nada. Mais um dia em vão. Eu parei perto da escrivaninha do bibliotecário.

—Minha cabeça está doente de tanto ficar lendo esses títulos. - Reclamou Sam se aproximando de onde eu estava.

—Se o bibliotecário estivesse aqui isso seria mais rápido. - Comentei insatisfeita.

—Talvez não precisamos dele. - Comentou Sam. Eu olhei para ele e percebi que ele encarava a escrivaninha. - Eu me lembro que ele tinham muitos cadernos sobre essa mesa e sempre que pedíamos um livro específico ele consultava-os. - Terminou Sam.

Eu dei a volta da escrivaninha até chegar em suas gavetas e as abri. Elas estava cheias de papel, mas nada importante. Quando cheguei nas três últimas gavetas percebi que estavam trancadas. Droga. Eu ia pegar a espada para forçar a gaveta a abrir, mas Sam me impediu.

— Não faça isso. - Disse ele. -Eu posso conseguir as chaves para abri-las.

—Certo. Nós voltaremos aqui à meia-noite. - Eu disse quase não conseguindo me conter de alegria. Faltava pouco para conseguir aqueles livros.

—Tudo bem. - Sam ainda pareci distante.

Eu fui em direção à saída e antes de abrir a porta eu olhei para Sam. - Obrigada. - Eu disse.

Ele me olhou assustado e depois deu um meio sorriso. Eu sai e o deixei sozinho em seus pensamentos, sejam lá qual fossem.

 

Eu estava tão ansiosa em pensar que aqueles livros logo estariam em minhas mãos que nem desci para o jantar. Callum, irmão mais novo de Gustav foi até meu quarto me perguntar se eu estava me sentindo bem e eu disse que estava com uma leve dor de cabeça. Ele acreditou e saiu.

Eu caminhava se um lado ao outro do quarto para ver se o tempo passava mais depressa, mas o tempo não estava colaborando. Depois de quase afundar o chão de tanto andar eu resolvi me deitar e esperar a hora chegar. Não estava com sono para tirar um cochilo e o tempo passar, mas fiquei ali deitada e rolando na cama. Lembrei-me de meu pai que estava preso naquelas masmorras. Será que estava passando frio? Fome? Ou até mesmo se aquele rei havia feito algo com ele. Os olhos azuis do rei élfico me vieram à mente e eu trinquei os dentes de ódio. Ele poderia ser impecavelmente lindo, mas não era bom como tinha tentado me demonstrar. Elfos não presenteava humanos sem algo em troca, muito menos faziam boas ações com seus prisioneiros. Eu passei minha existência inteira ouvindo histórias absurdas sobre o belo povo élfico, até mesmo os nobres não eram como seus inferiores achavam. Todos eram ruins, rei, nobres e os inferiores. Eu acreditava nisso e depois de conhecer Andrya vi que os elfos não eram um povo de boa índole.

Um relógio soou leves batidas que vinham do outro lado do Kash.

Meia-noite.

Eu pulei na cama e pus minha capa, pois fora daquele quarto o castelo deveria estar congelando. Fui até a porta e antes de abrir prestei atenção se não havia ninguém por perto.

Caminho livre.

Sai e fui o mais rápido e silencioso que conseguia em direção à biblioteca. Quando cheguei avistei Sam já próximo à escrivaninha.

—Parabéns pela pontualidade. - Eu disse caminhado em sua direção.

—Quero que saia o mais rápido possível deste castelo e para isso serei pontual - Disse ele sério.

Sam estava mais centrado do que naquela tarde. Ele retirou um molho de chaves do bolso de sua calça e começou a testa-las para tentar abrir a primeira gaveta da escrivaninha. Quatro tentativas erradas e na quinta ouvi a fechadura ceder. Sorri e me segurei para não pular de alegria.

Sam abriu a gaveta e retirou cinco cadernos já desgastados pelo tempo e os colocou sobre a escrivaninha. Peguei o primeiro caderno e abri. Na primeira folha havia o desenho do primeiro andar da biblioteca e as locações das prateiras, cada prateleira havia um número. Nas páginas seguintes havia o número da prateleira e uma lista com os nomes dos livros que estavam nele. Voltei meu olhar para Sam que olhava outro caderno.

—Não será mais fácil, porém menos trabalhoso. - Eu disse ainda encarando Sam que estava concentrado no caderno.

—Sim. Se na primeira gaveta estão os livros do primeiro andar, provavelmente as outras duas estão do segundo e terceiro andar. - Comentou ele encontrando meu olhar.

—Tem razão. Procure no segundo andar que eu vou procurar no primeiro, pois como já olhei grande parte será mais rápido do que procurar por tudo novamente.

Sam assentiu e abriu a segunda gaveta. Ele pegou os cadernos e os levou até uma mesa próxima a escrivaninha e se sentou. Eu puxei uma cadeira e comecei a descartar as prateleiras que eu já havia procurado assim meu esforço durante uma semana não teria sido em vão.

Depois de algumas horas eu consegui terminar o primeiro andar, após passar todas as noites lendo eu já estava me tornando ágil na leitura. Mas eu não havia encontrado nada. Olhei para Sam que estava com os pés sobre a mesa.

—Acho algo? - Perguntei.

—Ainda não. - Respondeu ele concentrado no livro.

Eu guardei os cadernos na primeira gaveta e a tranquei novamente. Abri a última gaveta e peguei os caderno do último andar. Tinham que ser aqueles.

Peguei o primeiro caderno e era como os outro, um mapa do andar com a numeração das prateleiras. Nas folhas seguintes estavam os nomes dos livros. Comecei a ler cada um deles.

—Estou no último caderno e não encontrei nada. Se esses livros estão realmente aqui, eles estão no terceiro andar. - Comentou Sam depois de um tempo.

Eu havia terminado o primeiro caderno e peguei o segundo.

—Eles têm que estar aqui, senão a esperança de que meu pai tenha sua liberdade de volta está acabada. - Eu disse olhando para o caderno que repousava em minhas mãos. Eu o abri e folhei, ao fazer isso senti que havia folhas diferentes. Meu coração deu um salto e me endireitei na cadeira. Abri o caderno até as folhas com texturas diferentes. Eram três. Elas pareciam mais novas que as demais e também eram mais grossas e estavam coladas no lugar das antigas folhas. Olhei a numeração da prateleira que aqueles livros deveriam estar e corri em direção a escadaria que ligava o primeiro andar ao segundo e o segundo ao terceiro.

—Encontrou? - Sam perguntou surpreso ao me ver subir as escadas desesperada.

Eu ignorei sua pergunta e continuei subindo.

Ouvi que Sam estava logo atrás de mim.

Ao chegar ao último andar eu caminhei até a prateleira indicada, parei e a observei. Meu coração estava aos galopes e minha respiração irregular.

—Conseguiu encontrar? - Perguntou Sam ao parar do meu lado.

—Essas três folhas são diferentes das demais. - Respondi mostrando a ele as folhas do caderno. - Provavelmente para despistar ou algo do tipo.

Sam observou a prateleira.

—Posso? - Perguntou ele referindo-se ao caderno que estava em minhas mãos.

Entreguei o caderno a ele. Eu estava tão eufórica que não conseguia pensar ou ler algo.

—Charlotte, os títulos dos livros que estão nas prateleiras são os mesmos que está no caderno. - Disse Sam voltando seu olhar para mim.

Eu senti o chão se abrir.

—Não pode ser. - Eu disse incrédula.

Não. Não. Não.

—Infelizmente esses livros não estão aqui. - Comentou Sam com uma pontada de tristeza em sua voz.

—Mas por que essas folhas são diferentes e estão coladas no lugar de outras? - Eu quase gritei.

—Acalme-se Charlotte! Quer que o castelo inteiro venha para cá.

—Talvez eu queira mesmo. - Disse entre dentes. - Pois assim posso perguntar se alguém sabe onde estão esses livros.

—Já passou por sua cabeça que a caçada aos conjuradores foi há cem anos e que talvez os monarcas não saibam de nada.

—Impossível. - Eu não poderia ter perdido antes mesmo de começar.

—Agora que sabe que os livros não estão aqui, você pode ir embora. - Sam fechou o caderno com força que ecoou pela biblioteca.

—Não. Eu disse que não sairia sem esses livros e sei que eles não estão aqui, mas preciso saber onde estão. - Eu encarei Sam.

—Como fará isso? Vai perguntar aos monarcas?

—Talvez pergunte. - Eu não fazia ideia de como iria fazer isso, mas perguntar aos monarcas com certeza estava fora de cogitação. Perguntar sobre conjuradores não era uma boa ideia, pois poderia soar como se eu fosse uma espiã de outro reino, já que Andrya ficou do lado dos conjuradores durante a caçada. Eu iria pensar em algo e iria fazer isso rápido, pois tinha uma semana para sair dali antes que o rei de Singart chegasse.

—Se tiver alguma ideia me avise. Quero te ver longe daqui. - Comentou Sam enquanto descia a escadaria.

—Sam, sua cara me enoja. Só de saber que tenho que ficar mais um dia aqui e com você meu estômago embrulha. - Alfinetei enquanto passava por ele na escada.

—Pelo menos sentimos algo um pelo outro: nojo. - Disse ele em tom de brincadeira.

Eu cheguei ao primeiro andar da biblioteca e fui em direção à porta e sai. Deixei que Sam guardasse aqueles cadernos sozinhos e fui pra meu quarto. Minhas esperanças estavam dilaceradas, eu estava. Tive vontade de chorar, mas segurei as lágrimas. Não choraria por aquilo, pois não iria desistir tão fácil.

 

Na manhã seguinte eu fui até a cozinha como de costume e enquanto caminhava para lá decidi que não iria mais me deixar envolver por aquelas pessoas, pois fora assim que eu fui ensinada, sem sentimentos. Em todos meus serviços eu jamais deixei transparecer qualquer tipo de sentimento. Se meu pai estivesse ali estaria muito decepcionado comigo, afinal aquele era um tipo de serviço, era diferente, porém eu teria que usar máscaras. Eu as usaria a partir desse dia, não deixaria ninguém perceber o quanto estava arrasada por não encontrar os livros.

—Bom dia Sra. Mellyn. - Eu disse sorridente ao entrar na cozinha.

—Bom dia Charlotte. Percebo que está melhor. - Disse ela enquanto terminava de abrir uma massa que eu supus ser de macarrão.

—Sim, estou. - E me sentei à mesa de madeira para tomar o café da manhã.

Uma chaleira apitou e a Sra. Mellyn pediu para que outra criada terminasse de abrir a massa. Ela colocou algumas ervas numa xicara e jogou a água fervente.

—Alguém está doente? - Perguntei e tomei um gole de café.

—Sim. Jansen amanhecer com um resfriado daqueles e está ardendo em febre. Vou levar esse chá e essa compressa para ver se ameniza um pouco. - A mulher colocou a água quente em uma pequena bacia e a pôs sobre uma bandeja junto com a xicara de chá e saiu da cozinha.

O cheiro do chá me atingiu e me veio uma ideia.

O chá da verdade. Isso.

Vikhy entrou na cozinha.

—Olá Vikhy. - Eu disse ao vê-la.

—Oi. - Respondeu ela abrindo um sorriso. Ela carregava uma cesta cheia de frutinhas amarelas que eu não conhecia.

—O que são? - Perguntei olhando para as frutas.

—São physalis, usamos para se fazer geleias. - Respondeu ela indo em direção a pia para lavar as frutinhas.

Eu me levantei e fui em direção a Vikhy e comecei a ajuda-la com a lavagem das frutas.

—Sam e Gustav já foram para a cidade? - Perguntei para puxar assunto.

—Sim, já devem estar voltando a essa hora. Charlote, você notou que há uma movimentação diferente no palácio?

Eu olhei para ela e lembrei-me da conversa que tinha ouvido entre a rainha e a Sra. Mellyn.

—Não. - Respondi. Não me interessava se Vikhy era uma espiã ou não, pois aquilo não era de meu interesse. Sem sentimentos. Sem envolvimento.

—Deve ser apenas impressão minha. - Disse ela.

Assenti.

—Sam comentou algo sobre mim? - Perguntou ela e a olhei surpresa fingindo que não sabia de nada.

—Não, ele não disse. Vocês estão juntos? - Perguntei ainda a encarando com um olhar de supressa.

—Não estamos juntos. - Ela voltou a olhar a fruta que estava lavando. - Mas já estivemos.

Senti que ela ainda nutria algum sentimento por Sam.

—Isso faz pouco tempo? - Perguntei fingindo interesse na história, pois eu queria que ela contasse a sua versão.

—Foi logo que cheguei aqui. Sam foi tão gentil e aquele sorriso... - Ela suspirou com a lembrança. - Eramos felizes até a chegada de uma princesa. - Vikhy estourou uma frutinha. Ela com certeza tinha algum sentimento por Sam e eu percebi que ela não tinha uma saúde mental das melhores.

—Princesa? Sam se envolveu com uma princesa? - Perguntei realmente supressa, pois os garotos não tinham contado essa parte.

—Não. A princesa veio junto com sua corte e também para ser cortejada pelo príncipe. Mas Sam se envolveu com sua mucama. - Respondeu Vikhy olhando para a fruta esmagada em suas mãos.

—Nossa nunca imaginaria algo desse tipo vindo de Sam. - Comentei e voltei à atenção para as frutas.

—Charlotte, - disse Vikhy em tom alegre, bem diferente que há segundos atrás. - Você como prima de Sam, poderia falar com ele sobre... bom, se podemos reatar.

Eu franzi a testa. Vikhy era maluca. A pouco disse que foi traída e esmagou uma fruta com as mãos e agora diz em tom doce que quer voltar com Sam. Eu não sabia o que dizer, mas não me envolveria.

—Vikhy, acho melhor você esquece-lo. - Disse por fim.

—Nunca. - Rebateu ela com um tom de voz áspero.

—Desculpe, mas não poderia lhe ajudar. Isso é entre você e Sam. - Eu disse e me afastei da pia. Não ficaria ali para ouvir sua resposta. A garota era inconstante e pude perceber o motivo da rainha desconfiar dela.

Sai da cozinha e vi Gustav e Sam vindo em direção ao castelo. Esperei por eles.

 

—Bom dia Charlotte. - Anunciou Gustav entrando no corredor de quadros.

—Bom dia. - Respondi não tão alegre quanto Gustav.

—Aconteceu algo para você estar nos esperando? - Perguntou Sam.

—Sim. Sua ex é uma maluca. - Respondi baixinho. - E que história é essa de traição?

—Traição!? - Rebateu Sam confuso.

—Sim, ela disse que você a traiu com a mucama de uma princesa. - Disse quase sussurrando, pois não queria que Vikhy nos ouvisse.

Gustav começou a gargalhar.

—De fato fiquei com a mucama da princesa, mas eu já havia terminado com ela. - Sam estava sorrindo.

—Só que ela ainda achava que Sam voltaria para ela. - Comentou Gustav tentando se recuperar de seu ataque de risos.

—Ela me pediu para falar com você para reatarem. - Confessei.

Sam e Gustav se entre olhares.

—Nunca. - Disse Sam.

—Vocês sabem que Jansen está resfriado? - Perguntei mudando de assunto.

—Não. -Respondeu Sam.

—Coitado, não aguenta um banho gelado. - Comentou Gustav.

—Como assim? - Perguntou Sam.

—Ontem à tarde, enquanto vocês estavam desaparecidos... - Respondi Gustav, mas Sam o interrompeu. - Não tínhamos desaparecido. Charlote me arrastou para a biblioteca para procurar por alguns livros que ela gostaria de ler.

—Tanto faz. - Continuou Gustav. - Como eu ia dizendo, ontem à tarde resolvemos ir ao lago da floresta e tomar um banho em suas águas.

—Vocês são doidos. Nem Callum teria essa mentalidade. - Disse imaginando como as águas do lago estariam congelantes.

—Ai é que você se engana. Ele foi o primeiro a entrar. - Disse Gustav.

—Obrigado Charlotte por me fazer perder uma tarde de diversão. - Ironizou Sam.

—Diversão? Tomar banho em um lago congelado é diversão?

—Charlotte, você parece minha mãe falando. - Comentou Gustav. - Agora se nos dá licença, vamos ver nosso amigo resfriado.

Eu tinha que falar com Sam sobre a ideia que tive, mas não ali.

Esperei até que Gustav já estivesse em uma certa distância e chamei Sam.

Ele apenas me olhou.

—Preciso falar com você. - Apenas disse sem emitir nenhum som.

Ele assentiu. Espero que tenha entendido certo.

 

Depois de um dia cheio de tarefas eu não tinha conseguido me encontrar com Sam. Já estava em meu quarto e me preparava para dormir quanto alguém bate na porta.

Abri e era Sam. Ele entrou no quarto.

—O que quer falar comigo? - Questionou ele ao entrar em meu quarto.

—Tive uma ideia para saber onde os livros estão. - Respondi ao fechar a porta e me sentar na cama. - Sente-se. - Apontei a peseira da cama para Sam se sentar.

—Então diga. - Disse ele se sentando.

—Você por algum acaso já ouviu falar no chá da verdade? - Perguntei.

—Não. - Respondeu ele franzindo o cenho.

—Pois bem, como o próprio nome já diz trata-se de um chá feito com ervas raras que ao ser ingerido tem efeito de fazer com que a pessoa diga somente a verdade. - Expliquei.

—E quanto tempo dura o efeito?

—Algumas horas. Mas para isso não se pode oferecer uma dose muito grande, pois se não a pessoa que o ingeriu corre um grande risco de ficar com algumas sequelas ou até lhe causar a morte.

—Que tipos de sequelas?

—Enquanto a pessoas está sobre o efeito das ervas, ela diz a verdade e após o efeito ela não se lembra de nada que disse. E se a dose for grande a pessoas pode perder a memoria pra sempre.

Sam ficou pensativo por alguns instantes.

—E você pensa em usar com quem esse chá? - Perguntou ele por fim.

—Em Jansen. - Respondi. - Afinal se eu for oferecer um chá a ele ninguém irá desconfiar, pois está doente.

—E onde se encontra essas ervas?

—Bom Aleil é uma cidade portuária e certamente há um comércio negro perto do porto.

—Já ouvi falar de um, mas nunca fui até lá. É uma parte bem perigosa da cidade. - Disse ele pensativo. - Mas quanto à dose, se conseguirmos as ervas eu a ajudarei com o preparo para ter certeza que não irá tentar mal algum contra Jansen.

—Está bem. Amanhã de manhã irei com você a cidade e iremos até o mercado negro conseguir essas ervas. - Eu disse encarando Sam.

—Mas se Jansen não souber de nada? - Questionou Sam pessimista.

—Não quero pensar nisso. Mas se ele não souber vou dar o chá ao rei. - Tinha que dar certo. Ainda havia esperanças.

Sam se levantou.

—Esteja pronta ao amanhecer. Passarei aqui para irmos. - Disse ele indo em direção a porta.

—Boa noite e obrigada. - Agradeci.

Sam assentiu e saiu.

Esperança. Era isso que eu sentia, pois sempre havia um jeito para se conseguir algo, basta apenas corrermos atrás e não desistirmos mesmo se parecer impossível.

Naquela noite sonhei com meu pai, com livros e com ervas.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Blood Queen" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.