1989 — O Ano de Ouro escrita por Honora


Capítulo 1
Anos de Ouro


Notas iniciais do capítulo

Olá, tudo bem com vocês? Espero que sim!

Boa leitura a todos.



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1989. O ano de Ouro.

Janeiro

 

Nevava. O céu lhe trazia uma confortável chuva branca, pingos gostosos de se sentir. Nunca compreenderia o quanto Sirius Black gostava de pôr a língua para fora e sentir os pequenos flocos acariciarem sua língua. Mas, mesmo nada compreendendo, era uma visão agradável, Remus e James tinham de concordar.

 

Havia tempos que Sirius parecia infeliz, quase que sempre irritado. Preocupante situação, aliás.

 

— Ele parece uma criança, não? — murmurou Remus para James, observando Sirius correr e rodopiar logo a frente.

 

Nossa criança — sorriu. Era inevitável ser tão amoroso, já que James Potter sentira falta de ver o amigo naquele estado.

 

— Espero que o irmão de Sirius não faça nada alarmante este ano… Gostaria que Sirius tivesse um pouco de paz — comentou, vendo o outro assentir.

 

James correu atrás de Sirius e Remus, magricelo e sedentário, apenas sorriu e balançou a cabeça negativamente, caminhando em direção ao dormitório.

 

O internato para garotos não era de todo ruim como muitas pessoas insistiam em falar. Peter o detestara de início, mas depois de encontrar abrigo nos braços amigos, tornou-se então seu lugar favorito. Já James sempre amara o local, pois era excelente (e perigoso) para aprontar algumas travessuras, e Sirius concordava. Remus não enxergava coisas positivas, exceto pela biblioteca.

 

— Ei, Remus, vamos, corra! Se anima, o ano tá começando! — gritou Sirius, chutando a neve.

 

Remus recusou, não só porque detestava correr, mas suas botinas eram de dois números maiores, afundavam na neve e quase que lá ficavam.

 

Os garotos fizeram a gentileza de esperá-lo, Sirius o recebeu com uma mão coberta de neve, que foi parar em sua cabeça, deixando o cabelo cor de trigo, agora cor de farinha.

 

— Você é um idiota — murmurou, gargalhando. Jamais irritava-se com Sirius.

 

— Eu estou animado e quanto a vocês? — passou os braços nos ombros dos dois amigos, James e Remus se entreolharem, assentiram e sorriram.

 

Tudo prometia ser um ano de ouro.

1989. O ano de Ouro.

Maio

 

Alguém pegara um martelo e lhe rachara a cabeça ao meio, Peter podia afirmar isso, ou, pelo menos, era isso que pensava naquele momento. Sentiu-se sendo carregado pelos dois amigos mais altos, enquanto a voz de Remus lhes apressava.

 

A neve estava tão acumulada que Peter e os amigos caíram algumas dezenas de vezes. Remus já não tinha suas botinas, ficaram para trás, contava apenas com suas meias.

 

— Porra, Remus, corre! — gritou Sirius, olhando para trás.

 

Seis garotos perseguiam-nos. Um deles era tão alto que assustou imediatamente Peter, já os outros eram menores que Remus, mas mais rechonchudos e fortes. E mais; estavam irritados.

 

— Estou tentando! — gritou Remus, tremendo.

 

James tinha um sorriso no rosto, fosse de nervoso ou fosse de animação ninguém pode dizer, mas ele segurava firmemente a bolsa negra, contendo uma taça e inúmeros doces.

 

— De quem foi a ideia idiota mesmo de roubar o clube da Sonserina sem ao menos um plano?! — questionou Sirius, levemente irritado.

 

— Foi sua! — respondeu James, gargalhando.

 

Oh, como James amava aquele tipo de travessura. De uma simples marotagem a um roubo, para ele era doce de criança.

 

— Eu nunca mais vou fazer isso! Nunca mais vou falar com vocês, seus jovenzinhos delinquentes! — gritou Remus, perdendo o fôlego.

 

— Reclame depois, vovó, agora apenas corra!

 

Peter recordou-se então da ideia que parecia tão incrível no começo, mas tornara-se um desastre. Roubar uma taça de basquete do clube do internato. Todos odiavam o clube da Sonserina, os mais riquenhos (porém alguns delinquentes) estavam lá e tornavam o lugar quase que insuportável. Sirius os detestava.

 

Todavia, roubaram a taça (e assaltaram a cozinha, como de praxe), sem nenhuma cautela. Até que um dos Sonserinos avistou Peter e fez questão de chamar seus amigos, perseguindo-os.

 

Peter lembrava claramente de pular a cerca, enroscar a calça no arame e cair de cabeça no chão (justamente numa pedra nua), a neve diminuiu o possível dano.

 

— Acha que despistamos eles? — James trancou a porta atrás deles com um estrondo, todos escoraram-se e sentiram o ar chegar aos pulmões finalmente.

 

— Bem, eles não podem entrar aqui, segundo as normas — murmurou Remus.

 

— Claro, Remus, exceto que ninguém se importa com as malditas normas — Sirius sorriu, recebendo uma cotovelada em seguida, não deixou barato e estapeou o amigo.

 

— Vocês querem parar com essa infantilidade? — James falou, sentindo-se estranho, já que normalmente era Remus quem dizia aquilo.

 

— Foi ele quem começou! — retrucou Sirius.

 

— Calado, Sirius — ordenou Remus, recebendo um sorriso desafiador em resposta.

 

— Puxa, que noite!

 

— Você tá legal Peter?

 

— Tô cansado… e com fome! — respondeu, sorrindo minimamente.

 

Caminharam em direção a lareira, a única do prédio, compartilhada por muitos. Exceto que, naquela noite de véspera de natal, estava vazia de corpos aquecendo-se.

 

— Seu casaco está cheio de neve — Remus passou as mãos nos cabelos compridos de Sirius, retirando o excesso de neve, nas costas e ombros também, amenizando o “estrago”.

 

— Fala sério, Remus! Você está descalço e tremendo feito o Peter quando está escuro, e você está preocupado com meu casaco? — Sirius balançou a cabeça e abraçou o amigo, caminhando cambaleante.

 

— Eu me preocupo com você… Você sabe, dá pra pegar um resfriado — sussurrou Remus, entrecortes e tremulações.

 

— Eu sinto te dizer, mas é algo que você já pegou e nós vamos cuidar disso imediatamente. Nada que um chocolate quente, uma lareira e meias secas não ajudem, certo? — beijou-lhe o topo da cabeça, enquanto James e Peter apostavam corrida nos corredores vazios.

 

— Meu pai vai me matar se descobrir que perdi minhas botinas e meu cachecol. Ele guardou dinheiro por semanas pra poder comprar pra mim… — comentou, sentindo-se culpado.

 

— Não esquenta! A gente dá um jeito, certo?

 

Sirius tinha certeza de que havia um jeitinho para tudo, mesmo que não soubesse como, descobriria.

 

1989. O ano de Ouro.

Julho

 

Era seu aniversário, havia balões amarelos na cabeceira da cama de solteiro, enquanto Remus desembrulhava as quatro caixas que ganhara naquela manhã.

 

James observou deslumbrado. Adorava aniversários. Eram sempre momentos de maior companheirismo e sentimentalismo, onde haviam todos aqueles falatórios sobre melhores amigos e sobre nunca perder um ao outro. No fim, Remus e Peter sempre acabavam com lágrimas nos olhos.

 

— Botinas! — exclamou Remus, com um sorriso gigante no rosto — E, ei, são do meu número! — provou-as e aprovou-as.

 

Remus abraçou James com carinho, extremamente agradecido pelo presente. Já não aguentava usar os tênis furados que nada esquentavam seus pés.

 

Abriu o outro embrulho, da cor carmesim. Sirius já estava com um grande sorriso, entregando quem seria o dono do embrulho

 

— Um cachecol! — era preto com vermelho, grande, aconchegante e esquentava que era uma beleza.

 

— Sabia que iria gostar, você não vive sem um cachecol… talvez agora pare de roubar os meus — comentou Sirius, não gostando tanto da ideia.

 

— Pode apostar que eu vou continuar pegando emprestado, os seus são sempre melhores — sorriu e o abraçou em agradecimento.

 

Sirius sentiu o calor dos braços amigos, o sorriso doía-lhe o rosto, os olhos focavam na mancha roxa na nuca do garoto. Quando desfez o abraço, pode ver outra igual àquela em sua testa, mas a toca negra cobria os cabelos dourados e também a mancha aparente.

 

— O que são essas manchas? — indagou Sirius, curiosamente.

 

— Nada… Acho que me machuquei enquanto jogava basquete — respondeu Remus, dando de ombros.

 

Sirius assentiu, mas continuava curioso. Remus não jogava basquete.

 

1989-1990. O ano de Ouro.

Dezembro — Janeiro

 

James pulava como se fosse o homem mais feliz no mundo; e realmente era. A felicidade não era devido ao ano novo ou os fogos de artifício, mas sim que, finalmente, estava namorando e com a garota que sempre fora apaixonado.

 

O internato continuava sendo de garotos, mas é claro que os marotos sempre escapavam vez ou outra para o centro da cidade, com alguns trocados que nem lhes contarei como conseguiam.

 

— Eu ainda não estou acreditando, parece um sonho! — murmurou James, de braços estendidos na cama.

 

Sirius passou a garrafa contendo álcool ao amigo, era dia de celebração.

 

— Eu sabia que Lily aceitaria, um dia ou outro ela teria que aceitar, ela sempre foi apaixonada por você — comentou Sirius.

 

— Eu confesso que não imaginava — retrucou Peter.

 

Remus pôs a boca no gargalo e bebeu um pequeno gole, em seguida tossiu fortemente. O corpo lhe doía e as manchas no rosto aumentaram.

 

— Jesus, Remus! Você parece que está bebendo pela primeira vez! — exclamou James, arqueando as sobrancelhas.

 

— Eu me engasguei, não é nada demais. Voltando ao assunto… Onde foi que vocês se encontraram? — James deu de ombros e com olhos brilhantes falou sobre o momento, já Sirius ficara alerta, não era bom sinal quando Remus fugia do assunto, enquanto Peter nem mesmo percebera.

 

— Ei, os fogos! — gritou Peter, correndo até a grande janela.

 

Foi empurrado para o lado e a vista foi dividida com todos os amigos. Remus emocionou-se com a explosão de cores no céu e com os pensamentos melancólicos que o cercavam.

 

— Nosso ano de ouro acabou — sussurrou Remus.

 

— Claro que não! Nossos anos sempre serão de ouro, Remus, desde que estejamos juntos! — exclamou James.

 

— Eu concordo — disse Peter.

 

Sirius sorriu e, como de praxe, abraçou os amigos pelos ombros. Era incrível o quão unidos eram e o quão amados se sentiam.

 

Depois de inúmeras horas de conversa jogada fora e uma garrafa vazia, Peter encontrava-se adormecido e James ainda balbuciava alguma coisa, mas os olhos já estavam fechados.

 

Remus também estava quase adormecendo, quando sentiu o colchão afundar e a respiração quente bateu em seu rosto vagarosamente.

 

— O que há com você, Remus? — questionou direto ao ponto.

 

— O que quer dizer? — confuso, mas levemente adormecido, sentiu as pálpebras pesarem.

 

— Você está doente. Acha que não percebo?

 

— É só algum tipo de virose, Sirius. Relaxa. — murmurou baixinho.

 

— Eu me preocupo com você — sussurrou, beijando-lhe a ponta do nariz. — Espero que você melhore logo. Nosso ano de ouro acabou mas eu tenho certeza que os próximos serão melhores. Boa noite, Remi.

 

1990. O ano de Ouro.

Março

 

 

Escondeu tempo suficiente, o quanto pode. Os cabelos começaram a cair, as olheiras ficaram mais profundas e o rosto mais pálido, havia mais manchas, por todas as partes do corpo e às vezes passava horas vomitando, perdera bastante peso também. Estava doente, não pode mais fingir que continuava saudável aos amigos.

 

No início, dissera que era apenas uma virose ou algum resfriado pouco mais forte. James e Peter acreditaram, mas Sirius soube que nenhum resfriado causava tanto mal estar, perda de peso e manchas. Foi quando começou a perder o cabelo que ficou evidente que era algo pior, mais sério.

 

Os olhares tortos eram incontáveis, as pessoas perguntavam-se o que Remus tinha, mas nenhuma delas era corajosa e íntima o suficiente para indagar. Alguns diziam que Remus tinha câncer, outros diziam que ele era um viciado, os boatos corriam rapidamente e eram inúmeros.

 

Não houve um dia que Remus John Lupin não odiou aquela doença.

 

AIDS. “A doença dos homossexuais”. “A praga que estava ali justamente para matar pecadores”, era como os ignorantes a chamavam.

 

— Vocês devem me odiar — sussurrou Remus aos amigos, sentindo-se incomodado com todos aqueles olhares.

 

— Por que odiaríamos? — James deu de ombros e Sirius assentiu, Peter não estava ali naquele momento.

 

Na verdade, Peter quase nunca estava perto desde que Remus contara aos amigos de sua doença. Quando Remus descobriu que a continha, fora um choque para ele. Não ousou contar aos amigos e nem a ninguém, apenas seus pais sabiam (e fingiam que nada aconteceria, era fácil agarrar-se na ignorância).

 

Mas com o passar do tempo e o agravamento do inevitável, Remus preferiu lhes contar a verdade. Sirius o abraçou imediatamente. E James em seguida. Remus lembrava-se de ficar tão assustado que ficara mudo por alguns inúmeros minutos.

 

Não era uma doença de abraços, apertos de mãos e beijos. Era uma doença de distância, limpeza ao entrar em contato com um doente, nojo e apatia.

 

Mas Sirius não conhecia a doença, evitava os jornais. James tinha uma tia com AIDS, segundo ele, ela tivera a doença após uma transfusão de sangue, mas muitos não acreditavam nessa versão da história.

 

A AIDS era incerta, surgiam novas informações ano após ano. Sua única certeza era de que não havia cura, pelo menos não ainda. E quem a continha, morria.

 

Naquele dia, viu pena nos olhos dos amigos, mas acima de tudo viu tristeza. Porque ambos sabiam o que aconteceria no final, mas ninguém tocara no assunto. Ninguém queria conversar sobre “planejamento do funeral, escolha de buquês e caixão”, era ridículo, necessário, mas ridículo.

 

Já Peter correra imediatamente. Ficou surpreso de início, mas fora embora quando teve a primeira oportunidade. Tinha medo. Ouvia de tudo um pouco sobre a doença, mas não sabia se os boatos eram de toda a verdade.

 

De qualquer forma, Sirius e James o prensaram numa das esquinas do corredor, ameaçando-o para que não contasse a ninguém sobre isso.

 

Mas boatos e fofocas eram inevitáveis e não demorou para que a escola soubesse de seu problema e o expulsasse dali.

 

1990. O ano de Ouro.

Maio

 

— Isso é crime, você bem sabe disso! O caso de Filadélfia! O advogado venceu o processo contra a empresa que o demitiu por conter a doença, nós podemos fazer o mesmo com o internato! — irritado, Sirius chutou o ar. Detestou aquele lugar com todas suas forças.

 

— Deixa pra lá, Sirius — murmurou Remus, caminhando fracamente até a cama.

 

— Deixar pra lá?! Eles te expulsaram insinuando que era em prol da sua saúde e a dos alunos, se isso não foi preconceituoso eu não sei o que essa palavra significa! — gritou ele, jogando a pilha de livros no chão.

 

James não comentou. Apenas ficou ali, parado, olhando fixamente para o chão. Entendia a indignação de Sirius, a sentia ferver seu sangue, mas o olhar cansado de Remus o impedia, ele não tinha mais energias para lutar contra toda essa indignação e contra a doença.

 

Remus estava em seu limite, e James também. Havia negação por parte de Sirius, ele ainda achava que no último minuto alguém correria até sua casa com uma cura na mão, Sirius sempre achou que para tudo havia um jeitinho, mas a AIDS mostrava que não.

 

— Você lembra de como o ano passado foi um dos melhores? O ano de ouro, o chamávamos. Ganhamos oito suspensões dentro de dois meses, quase fomos expulsos. Lembram quando roubamos aquela loja de doces no subúrbio da cidade? Peter ficou com dor de barriga no fim do dia — James sorriu, sentindo-se entorpecido pelas lembranças.

 

Remus o olhou, Sirius fez o mesmo. Por um momento, a raiva parecia ter voado pela janela, junto com o vento refrescante.

 

Inalou a saudades; revirou os olhos de prazer; sentiu o cheiro dos chocolates, havia cócegas nos dedos dos pés quando se lembrava do dia que perdera a botina; a boca doía de tanto que repuxava quando sentia o tecido do cachecol em contato de sua pele.

 

Antes que pudesse dizer qualquer coisa, sentiu-se mal. Realmente mal. Havia a doença dado fim no seu ano de ouro?

 

1990. O ano de Ouro.

Maio

 

As luzes do hospital pareciam piscar como enfeites de natal. Até mesmo cogitou sentir o cheiro de peru assado, mas não havia nada muito gostoso por perto para se cheirar. Havia dificuldade em respirar, na verdade.

 

Ao seu lado, havia inúmeros balões e pessoas sentadas, todas lhe olhando. Nenhuma levantou-se.

 

James lembrava de sua tia; a que tivera AIDS através de transfusão de sangue. No dia que ela estava prestes a morrer, estavam todos tomando vinho, conversando, mostrando suas fotos de criança, sorrindo, sentindo-se em paz. Todos da sua família haviam aceitado, depois de muita dor. Estavam todos contentes e eram religiosos fiéis, acreditavam que ela estava em um lugar muito melhor.

 

Mas o pai de Remus tinha os olhos inchados e sua mãe estava no quarto ao lado, desmaiara algumas horas e recusava-se a ver o filho, tamanha dor. Sirius não expressara uma palavra em todas as horas que esperavam Remus acordar. James não conseguia parar de caminhar, até que sentiu dor nos dedos e calos no pé, então sentou-se e não teve forças de se levantar.

 

O pai de Remus fora o primeiro a se levantar, não queria que o filho os visse tão deprimidos e nem que achasse que já estava morto, pois ainda respirava, mesmo que com ajuda dos aparelhos.

 

— Você é o garoto mais forte que conheço, sabe disso, não? — murmurou o homem de meia-idade, beijando o topo da cabeça do filho — E o mais inteligente também, devo acrescentar.

 

— Obrigado pai — respondeu o garoto, com dificuldade. Retirou o aparelho e deu difíceis lufadas.

 

— Nunca achei que você fosse um garoto travesso, até que a diretora do internato me ligou, dizendo que você e esses daí aprontaram uma das grandes — o homem olhou os outros dois garotos com uma cara de reprovação, mas continha um sorriso na face — Eu confesso que me orgulhei. Eu também era maroto quando tinha sua idade.

 

Remus apenas sorriu, voltando a respirar com ajuda dos aparelhos.

 

Em seguida, James abraçou o amigo e bagunçou seus cabelos.

 

— Quando puder se levantar, suas botinas estarão ali — disse James, sorrindo, com filetes de lágrimas nos cantos dos olhos.

 

Saiu do quarto, acompanhado do pai. Havia apenas Sirius e Remus.

 

— Você é tão bonito — murmurou Sirius, sentando-se ao lado do amigo.

 

— Eu realmente devo estar maravilhoso agora — retrucou o outro, o olhar era triste.

 

Sirius suspirou pesadamente, sentindo o coração pesar. Ver um dos melhores amigos tão mal daquela forma lhe doía fortemente. Queria poder proteger a Remus sempre que possível, ser sua barreira para todo o mal, afinal, Remus não merecia mal algum, era um ser humano puro e de boa alma, já tinha muito que carregar nas suas costas e agora parecia que finalmente ele nada carregaria.

 

Sentou-se no chão, ao lado de Remus. Beijou-lhe a bochecha, a pálpebra, a testa, a ponta do nariz e, por fim, os lábios secos. Não encontrou motivos para acabar, então beijou o roxo em sua bochecha, ouviu um murmúrio de dor, beijou-lhe os dedos esbranquiçados, o pescoço alvo, o peito coberto de manchas.

 

A mão viajou pelos cabelos desgrenhados, pelo rosto dolorido, os lábios acanhados, os olhos escondidos e o nariz avermelhado. Em seguida, os dedos caminharam pelo peito e pararam por ali. Os olhos cinzentos observavam-no com carinho, as mãos brincavam com cuidado e os lábios lhe tascavam pequenos beijos amáveis.

 

Por fim, a cabeça repousou no estômago de Remus, sem nenhuma palavra ou reclamação, as lágrimas encharcaram aos poucos as vestimentas do hospital e os barulhos continuavam frequentes… bip… bip… Sirius gostava, Remus nem os escutava. A respiração entrecortada de um não era nada comparada com a dificuldade de respirar do outro.

 

Mas, apesar de todos os pesares, havia paz naquele pequeno ambiente. A dor e angustia ficaram do lado de fora e ali dentro havia o calor do cachecol, a companhia das botinas, as lembranças inesquecíveis.

 

E, em seguida, os anos de ouro haviam tido seu fim.

 


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Notas finais do capítulo

Eu me inspirei em vários filmes pra escrever a história, mas principalmente em Filadélfia (até comentei o filme no capítulo) e The Normal Heart (ótimo pra quem gosta desses assuntos sérios + romance homoafetivo).

Eu escolhi a AIDS porque é a doença que representa Licantropia no mundo real, segundo a JK. Remus a tinha, sentia muito o preconceito forte e muita dor também :(


Eu gostei muito de escrever, foi a maior história que escrevi até agora. Espero que tenham gostado.



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