A bad romance escrita por Lylia Roter, Lyra Roth


Capítulo 1
Entre geopolítica e fantasias


Notas iniciais do capítulo

Bom, aqui está um pouco de BrUsa pra adoçar a vida.

"Milla, por que fez o Alfred tão... sacana?", vocês perguntam. Antes de tudo, nada contra os EUA nem nada assim, só quis mostrar um... segundo lado do nosso querido Alfred, hehehehehe

"Milla, Bad romance?" Sim, eu sei que essa é relativamente... velha, mas quando a ideia surgiu, não deu pra NÃO associar à Alfred X Luciano. Pelo menos na minha história. Então é, Bad Romance pra eles. XD

Espero que gostem. ;)



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          Bad Romance

 

Want your bad romance

Caught in a bad romance

Want your bad romance!

...  

 

Desviar dos monstros, correr, pegar as moedas... Desviar dos monstros, correr, pegar as moedas... O norte-americano sabia exatamente o que devia fazer. Deu play em seu game e reiniciou a fase. Seu personagem apareceu na tela da TV à sua frente com um blimp! animado. Começou a correr e, assim que o primeiro bichinho incômodo apareceu na sua frente, ele apertou o botão de pular e desviou dele com sucesso. Pressionou o botão com um X para fazer seu personagem loirinho correr e saltar, pegando as moedas.

  Yes!, pensou animadamente. ‘Ta dando certo!

  Tornou a apertar os botões mecanicamente, desviando dos trequinhos, correndo e pegando suas moedas preciosas. Fez isso com um esforço tremendo, músculos tensos, dedos frenéticos no controle, olhos vidrados na tela brilhante de sua televisão. Lambeu os lábios com gosto do sorvete de baunilha e flocos que tomara há pouco, sentindo a adrenalina percorrer suas veias e a língua gelar. Estava quase conseguindo!

Falta pouco, pensou cheio de esperança, porém, antes que conseguisse pegar as últimas moedas que faltavam, um bichinho engraçado verde, azul e amarelo apareceu à sua frente, pronto para detê-lo. Alfred semicerrou os olhos azuis, determinado a passar por aquele obstáculo. Apertou com força o botão; nada o pararia agora. Seu coração acelerou. Viu seu personagem loiro correr em direção ao ser verde-azul-amarelo, saltando heroicamente. Porém, diferentemente dos outros monstrinhos, esse fora mais habilidoso que seus homólogos, e passou a perseguir o herói digital até alcança-lo e mata-lo. Um barulho que lembrava uma buzina triste reverberou da televisão.

 -Ahhhhhhh!  -Esbravejou Alfred Jones, jogando suas costas contra o sofá ao notar que havia perdido a partida. O monstrinho verde dançava alegremente na tela, como que o provocando, acabando por deixar o loiro ainda mais bravo.

O norte-americano não podia acreditar, já tinha feito toda uma estratégia, como podia um serzinho tão bobo pará-lo agora? Soltou um suspiro repleto de indignação, atirando o controle do console para o lado de forma irritada. 

Droga de bicho! Tinha que aparecer agora, esse danado verde. Suspirou novamente, deitando a cabeça loira cansada em seu travesseiro alvo. Fechou os olhos da cor do céu, permitindo que sua cabeça descansasse e seus óculos permanecessem ligeiramente tortos no rosto. E agora? Como driblo esse maldito?

Pensou um pouco com a cabeça para o alto, corpo inerte e fadigado em cima de seus lençóis. Alfred acabou por virar lentamente a cabeça em direção à janela ao seu lado, apontando seus olhos da cor do céu da manhã para a janela. Olhou para a noite, imaginando o que estariam fazendo os outros países àquela hora. Como é linda, essa noite, pensou.

—Estonteantemente bela –Completou baixinho, encarando a lua brilhante lá fora –Como aquele brasileiro.

Tudo bem, ele era uma nação latino-americana, país em desenvolvimento, cheio tretas e confusões internas –além de ter hábitos incomuns, como cestos de lixo para jogar papel sujo do banheiro ao lado da privada–mas o loiro não negava a impressionante beleza que Luciano da Silva possuía. Pele morena –não negra, nem branca –marrom da cor de café, olhos verdinhos como duas esmeraldas polidas, sorriso branco, perfeito e radiante como o de poucos países. Não era exatamente musculoso, mas tinha um abdômen e peitoral de fazer inveja. Era alto, andava de maneira despojada, mas elegante...  Ah, Alfred se pegou suspirando, ele é realmente bonito. E não era somente seu físico, Luciano tinha aquele jeitinho brasileiro de ser, ao mesmo tempo, alegre, divertido e misterioso. Falava e ria sem muita formalidade, mas sabia ser gracioso e atraente sem ser vulgar –na maioria das vezes.  

Jones sorriu de forma perversa ao lembrar-se do rapaz de olhos esmeraldinos. Não era à toa a fama que o latino possuía de ser sedutor, Luciano era realmente uma pessoa cativante, quente, divertida, envolvente. Sua companhia era adorável, e o fato de ele ser uma potência diplomática e sempre aberta a conversas facilitava para Alfred se aproximar de seu “primo” menos desenvolvido. Por mais que, na Europa principalmente, a impressão que os países tinham dos latinos não fosse lá das melhores, nenhum deles negava a beleza e a diversidade da América do Sul.

Era fácil perder-se em pensamentos pouco puros sobre Luciano, tanto que subitamente Alfred percebeu, com algumas piscadas de olhos, que o que se passava naquele momento eram fantasias um tanto... inusitadas acerca do moreno. Riu-se e balançou veementemente a cabeça na tentativa de afastar aqueles pensamentos. Verdade que ele realmente achava o Brasil lindo, no entanto, o fato de ele ser belo não era o único atrativo ao estadunidense. O país tropical possuía coisas que muitos países brigariam feio para ter: território vasto, clima agradável, gente festiva e disposta, riquezas e recursos naturais, biodiversidade incrível, além da população inteligente e sagaz. Eram riquezas maravilhosas que Luciano não parecia dar o devido valor, e Alfred adoraria tê-las em seu país; se possuísse tudo que Luciano tinha, o norte-americano se viu pensando, era capaz de ter acabado de vez com a União soviética na época da guerra fria.

 No entanto, Brasil não aproveitava de forma devida todos aqueles recursos, e muitos países europeus já estavam tentando se aproveitar do latino (em vários sentidos, diga-se de passagem...), tentando obter lucros às custas dele, ou só dando em cima do latino mesmo. Claro que Luciano notara, mas não era de seu feitio bater de frente com os países ou recuar perante flertes descarados –não, ele procurava sempre outros meios mais... diplomáticos e espertos –o rapaz se cercava da melhor maneira possível, desviando das investidas sem-vergonha dos europeus com bastante humor, coisa que só aumentava o desejo dos outros por ele.

Mas não seria só com o pessoal da Europa que Luciano deveria se preocupar, sabia Alfred. Ele mesmo sabia que, se fizesse tudo direitinho, podia colocar o mulato exatamente onde queria, e então só precisaria estalar os dedos e teria o latino na palma das suas mãos.

Estados Unidos da América sorriu. Um sorriso lascivo e salaz passou por seus lábios, agora marcados. Só então Alfred Jones notou que mordia persistentemente a boca enquanto pensava em Luciano. Isso, no entanto, não lhe causou vergonha alguma, pelo contrário, o fez sorrir ainda mais ao refletir sobre o que poderia fazer caso detivesse bastante poder sobre o quinto maior país do mundo. Isso seria, do ponto de vista político, estratégico –e de diversos outros pontos também –muito bom para os EUA. Mas, para tal coisa, precisaria de mais informações a respeito de seu amigo.

O jovem de olhos cristalinos soltou um risinho, virando a cabeça e olhando para o controle de seu jogo. Pensou naquele bichinho verde-azul-amarelo de seu jogo, e lembrou-se de Luciano.

Levantou-se da cama, pegou seu computador e digitou algumas palavras sobre o jogo que jogava antes de perder-se em uma mistura de política e desejos; navegando na rede, encontrou comentários de como vencer a fase que há tempos estava preso, e, mais importante, em como triunfar sobre o Verdinho que lhe matara.

Soltando um “Humm” pensativo, Alfred mandou então uma mensagem à Inglaterra.

O que acha de colher alguns dados? ” Perguntou, direto.

A resposta não tardou mais de alguns minutos.

De quem? ”

Estava pensando... que tal alguém lá de baixo? ”

Vera Cruz? ”,Indagou o representante humano da terra da rainha, Arthur Kirkland.

Alfred riu “Não é má ideia, não acha? ”

A resposta de Kirkland demorou só o suficiente para que o sobrancelhudo pudesse digitar “Está de olho nele faz tempo, não é, Alfred? ” A frase tinha mais de um significado, e a ex-colônia inglesa sabia que seus interesses não eram somente políticos. Mas não admitiria aquilo à Arthur, claro. Afinal, o que mais importava era a hegemonia... não é mesmo?

E você, não? Até parece. ”

Como o outro loiro não conseguiu responder rapidamente, Alfred soltou uma risadinha e digitou: “E então, está dentro? ”

Estou. Quem mais? ”

Que tal o Matt? Na verdade, podíamos usar a Five Eyes*.  ”

A resposta do ex-pirata foi um joinha. Alfred sabia que o interesse de Arthur, apesar de não tão evidente, era verdadeiro se tratando de Brasil.

E o que falamos caso ele descubra? ” Indagou o loiro europeu. Alfred rolou os olhos encarando a tela, sarcástico.

Não vai descobrir. É espionagem secreta, seu idiota. Não é pra ele ficar sabendo. ”

Quando se tratava de discutir, Arthur não se demorava: “Eu sei que não, sua besta americana, estou perguntando numa hipótese indesejada de isso acontecer! ”

Alfred bufou. Qual é, ele era os EUA, e o serviço de inteligência e espionagem dos EUA era o serviço de inteligência de um herói. Ninguém ficaria sabendo!

Aí... nós dizemos que foi para nos informar sobre o terrorismo. Os lances no Irã, Iraque e Síria tão esquentando, não soaria tão inverídico assim. Podemos, inclusive, aproveitar e tentar arrancar algumas informações sobre a posição do país a respeito desses conflitos. Podemos ver também comunicação desses países, aliás. Têm diversos cabos submarinos passando por lá, dá pra aproveitar. ”

“Ta com medo de ele tomar o seu lugar, Fred? ” A pergunta, totalmente desconexa com o resto da conversa, pegou o americano de surpresa. Jones recuou, prendendo a respiração por décimos de segundo ao pensar na possibilidade. Sentiu as mãos gelarem. E então bufou, que besteira! Claro que não! Não deixaria Luciano tomar-lhe a posição que lutara para conseguir!

Medo? Claro que não. Tudo bem, ele ‘ta crescendo, é uma potência regional, até global, mas não vai pegar meu lugar.”

A alfinetada não lerdeou: “Ele cresce em ritmo assustador e tem potencial. Tem certeza de que não se preocupa? Eu me preocuparia, se fosse você. Eu, por exemplo, nunca achei que você fosse se tornar tão... poderoso quando era uma colônia pequenina e não tão inocente. E olha só no que deu, você já enfrentou até o Ivan”

Alfred semicerrou os olhos azuis, com certa raiva pela cutucada inesperada. “Mas você sempre foi burro demais pra notar meu potencial, Arthur. Vou manter os olhos no Luciano, só isso”

Com isso, o norte-americano se permitiu deitar confortavelmente no travesseiro atrás de si, o qual afundou gentilmente com seu peso. O loiro suspirou aliviado, fechando os olhos cristalinos e se afastando do PC com um sorriso vitorioso. Já estava acreditando que sua ex-metrópole se embananaria com a resposta, tentando ganhar a discussão, mas tudo que recebeu foi mais uma cutucada, dessa vez curta:

Já está com os olhos vidrados nele, Alfred” E Arthur provavelmente voltou ao que fazia antes de ser interrompido pela potência mundial.

O norte-americano se retesou, franzindo as sobrancelhas amarelas. Humph, Inglês ousado. Mas Alfred sabia que ele tinha razão, afinal. Cruzou as pernas, suspirando e fechando os olhos e se permitiu viajar novamente entre pensamentos geopolíticos e fantasias desejosas sobre Luciano. Pensou no sorriso do moreno, sempre caloroso, sempre atencioso, as matas e as festas de seu território, e se imaginou deslizando as mãos por aquela pele da cor de mogno, braços, peitoral, abdômen. Se viu pressionar o latino contra as paredes usando o corpo, cheirá-lo, morder seu pescoço com força só para ouvi-lo soltar uma lamúria manhosa.

Um barulho chamou a atenção do loiro, tirando-o de seus devaneios cada vez mais embaraçosos. Era a tela da televisão convidando-o a jogar novamente. O bichinho verde ainda dançava ao som da musiquinha de game over, como que desafiando o estadunidense a derrota-lo. De repente, Alfred não queria mais os cinco olhos em cima de Silva. Queria somente os seus.

—Game over? –Falou o jovem, agora com um sorriso ao encarar o jogo –Não por muito tempo.

O rapaz de olhos cristalinos esticou-se para pegar o controle, retornando à sua posição inicial. Pernas abertas dando espaço para o controle, corpo envergado para frente, dedos frenéticos nos botões. Sobrancelhas franzidas e sorriso divertido no rosto, Alfred deu play.

Jogou seguindo as recomendações que achara na internet, rindo sempre que pensava em sua vitória cada vez mais próxima. Quando a hora chegou, ele nem pestanejou. Informações recolhidas com sucesso, encontrou o ponto fraco do pequeno monstrinho verde-azul-amarelo, e derrotou-o após algumas investidas. Coletou as últimas moedas com um “Uhuh!!” animado, passando para a próxima fase.

Enquanto o jogo carregava, Alfred começou a ponderar como seria a espionagem. Por um momento se preocupou caso Luciano descobrisse, mas ah! Ele contornaria a situação, caso acontecesse. Brasil não guardava muitas mágoas, além do mais, eram parceiros comerciais e o estadunidense sabia que o latino tivera uma paixonite por ele até algum tempo atrás, desde a proclamação da república. Quem sabe parte dessa paixão, engavetada e guardada com cuidado depois da ditadura militar brasileira, ainda impulsionasse Luciano à Alfred?

O loiro sorriu ao pensar na possibilidade. Sabia que era bonito, cabelos amarelos, olhos claros, forte e confiante. Não era surpresa para ele o fato de o sul americano ter gostado dele a ponto de aceitar participar da segunda guerra ao seu lado –e alguns investimentos financeiros ajudaram-no a tomar essa posição. Ele realmente estava na mira do norte-americano a tempos. Ter Brasil como aliado era ótimo.

Mas, por algum motivo, Alfred sentia que não era só isso. Não era só a política. Não obstante, o que mais poderia ser? Não poderia ele, Alfred Jones, estar apaixonado por um latino-americano. País tropical, bonito e tudo mais, mas não era amor. Qual é, matutou. Cçaro que não é amor. É...atração física. E estratégia pura. Caso Brasil saísse da linha e fosse preciso instalar uma ditatura novamente naquele país, ele conseguiria. Poderia até controlar aquele lugar, se quisesse, não é mesmo? Não era amor, claro, que bobagem. Até parece, ele, Estados Unidos da América, apaixonado. Claro que não... certo?

Balançou a cabeça novamente, suspirando. Era melhor ir dormir, afinal, só o sono poderia fazê-lo ter suposições tão bobas. Alfred levantou-se, salvou o jogo –finalmente ganhara, não perderia as fases todas que vencera por falta de atenção – e desligou a TV. Pousou o controle do lado do aparelho com um suspiro. Ajeitou os óculos e foi dar mais uma olhada na noite.

Envergou-se sobre o parapeito da janela, sentindo a brisa noturna atingir seus cabelos loiros, amarelinhos como o sol que fora embora há tempos. E olhou para a imensidão do céu, o brilho lindo das estrelas, a luz da lua e as sombras da noite, pensando, pensando. Encarou os prédios luminosos e o brilho dos carros abaixo de si. A brisa acariciou novamente seus cabelos, e Alfred se perguntou como seria ter Luciano passando as mãos na sua cabeça, acarinhando suas madeixas claras, segurando sua nuca, colando seus lábios carnudos nos dele. Sua expressão adquiriu um tom de calma e serenidade ao imaginar a cena, e seus devaneios foram tão profundos que, quando percebeu, estava de olhos fechados, fingindo que o vento era Luciano.

Meu Deus, que loucura, pensou, abismado com sua própria imaginação. Melhor mesmo ir dormir. O herói precisa descansar de verdade.

Fechou a janela e as cortinas, deixando somente um fiozinho vertical de noite adentrar pelo quarto escuro. Deitou-se em sua cama, cobriu o corpo com as cobertas e fechou os olhos cristalinos soltando um suspiro sereno.

Ficou imaginando, cogitando realmente ver Luciano em breve. De repente não queria mais só espioná-lo, só isso não bastava. Queria vê-lo, abraça-lo sem motivo. Suspirou mais uma vez. O que havia de errado com ele? Desejou poder estar do lado do latino naquela hora, para apertá-lo contra si. Mas só havia ele e somente ele mesmo naquele quarto.

O loiro abriu os olhos. Não, não podia ser amor. Ele só estava nessa pela estratégia, não é mesmo? Não era amor. Era geopolítica. Se não se considerasse um herói, Alfred até diria que estava se aproveitando do moreno. Mas heróis não se aproveitam das pessoas. Ele só... estava tirando certa... vantagem... sem prejudicar... Luciano. Não é mesmo?

Encarou o teto, pensativo, os cabelos jogados no travesseiro branco, o olhar confuso. Pensou na ditadura militar que ajudou a instalar no Brasil há décadas, na forma como o arrastou para a segunda guerra, em como fez propaganda de si mesmo depois disso tudo, e ainda o fazia até hoje. Mas todos faziam isso, não havia nada de errado em tais coisas, afinal, os países estão sempre brigando e se enganado, era culpa do meio em que viviam, das pessoas as quais faziam parte daquelas nações, daquele mundo. Não era crime nenhum fazer isso, se todo mundo fazia. Fez isso nas guerras mundiais, crises, na guerra fria com a União Soviética... não, ele ainda era o herói. E não estava apaixonado pela República Federativa do Brasil. Ele era seu amigo, e Alfred gostava dele. E o achava bonito. Muito bonito. E só... É. Só.

Olhou para a escuridão de seu quarto, e então para a claridade que vinha daquele fiozinho da janela. Bem, logo teria uma outra reunião com os latinos. Seria a oportunidade perfeita de encarar Luciano e mostrar a si mesmo que tudo que sentia era uma leve atração, e nada mais.

Isso, sorriu. Não estou apaixonado. Só atraído. E ninguém pode me culpar, porque aquele brasileiro é realmente sedutor.

 Suspirou mais uma vez, finalmente chegando a um consenso com si mesmo. Fechou os olhos e relaxou, pensando vagamente em Luciano da Silva, aquele brasileiro de olhos verdes brilhantes que sempre o olhara com certa admiração. Mas, se fosse um romance entre eles, ninguém poderia culpa-lo, não é mesmo? O moreno era irresistível, não dava para estranhar tanto assim. A Europa estava de olho nele. E, se a Europa estava, ele estar também não era nenhum pecado.

Sim, ele estava de olho nele. Alfred sabia disso, mas nunca verbalizaria tal coisa. Preferia deixar como uma leve atração dentro de sua mente. Ele não estava apaixonado! Não mesmo! A imagem de um Brasil sem camisa, sorridente, envolto em sua bandeira verde, amarela e azul passou pela cabeça de Alfred, que logo a afastou. O norte americano era atraente também, cativante e influente. E era melhor Luciano tomar cuidado. Porque, caso se apaixonasse por ele novamente, Alfred saberia e se aproveitaria da situação da melhor maneira possível. Logo mais o loiro obteria informações sobre o governo do latino, e isso ampliaria sua influência ali. De uma forma ou de outra, Luci estaria em maus lençóis nas mãos do estadunidense.

Sorriu de forma perversa, mas o sorriso não durou muito. Estava mesmo com sono no final das contas. E por mais que pensar naquilo tudo não lhe desse sono, já estava acordado há muito tempo. Mirou o olhar na janela e viu a visão turvar, os olhos fecharam-se em instantes. Não, não estava apaixonado, repetia a si mesmo de novo e de novo. Queria ter certeza de que não estaria, nem ficaria. Paixão só fazia as pessoas cometerem besteira... e Alfred Jones não podia cometer nenhum erro assim, de graça, por causa de um latino. Não era paixão, pensou ele. Mas talvez, Alfred pensava, aquilo fosse o que Lady Gaga chamava de um mau romance.


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Notas finais do capítulo

Aqui vão algumas explicações históricas:

[The five eyes]: É um tratado de segurança entre os EUA, RU, Canadá, Nova Zelândia e Austrália, para compartilhamento de informações secretas e tals. Na espionagem do Brasil, feita pelos EUA em 2013, houve a colaboração da Five Eyes.

[Segunda guerra mundial] Sim, o Brasil participou da Segunda Guerra, mas no início, durante o Estado novo, o país estava numa posição "em cima do muro", a qual só pendeu para o lado dos Aliados depois dos EUA flertarem um pouco com nosso país, e oferecer um dinheiro para Vargas construir a Vale do Rio doce e industrializar o país.

[Queda do Luciano pelo Alfred]: desde a época da proclamação da república, é possível dizer que o Brasil está sob influência dos EUA. Pra começar, a nossa primeira constituição foi feita com base na dos EUA (tava quase igual à deles, pra ser sincera). Depois da seguunda guerra mundial, quando a Europa estava arrasada, os EUA passaram a ter muita influência na América Latina (com propagandas do American way of life e seus filmes e produtos), com a chamada Política da boa vizinhança, a qual propunha uma aproximação entre Brasil e EUA. O Zé Carioca, da Disney, é parte integrante dessa política. Pode-se dizer, então, que o Luciano tinha uma "quedinha" por ele.

[A ditadura militar de 1964-1985] Durante a guerra fria, para garantir sua influência na américa latina, os norte-americanos promoveram uma serie de ditaduras na américa. Uma delas foi a ditadura militar, a qual teve apoio dos EUA. Isso evidentemente teve consequências feias pro nosso país, e pôs nossos colegas do norte em contradição, afinal, não eram eles que afirmavam ser os "defensores da liberdade"?


"Não é amor, é só atração física"

Comentários? Eu sei, casal inusitado, mas fazer o que, quando a inspiração chama...

Bem, eu ainda planejo fazer pelo menos mais uma fic de BrUsa. Será postada... em breve. Também quero fazer algumas sobre a ditadura militar e outros períodos históricos, então se gostaram do meu estilo de escrever e das ideias, aceito crítica, elogios e sugestões. Pensei em escrever uma shor-fic (ou long fic, quem sabe) sobre BrUsa com umas treta loka lá e pá, se alguém estiver a fim de escrever cmg, eu aceitaria de bom grado U.U



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