Sideways escrita por Human Being


Capítulo 5
V - As Rosas e o Príncipe


Notas iniciais do capítulo

Sideways serão fics ambientadas no universo de Sui Generis, auto-conclusivas ou não. Mas não se preocupem, eu tentarei deixar claro para vocês quando for cada caso. E nenhum dos meus outros projetos de StS serão afetados, eu prometo.

Assim como Sui Generis, elas não serão fics yaoi. A princípio, quero dizer.

E o título da fic não tem nada ver com o filme homônimo (Sideways - entre umas e outras), que é bem interessante. Quem já viu sabe, quem não viu está convidado a ver!

E este capítulo é um presente de aniversário para o Afrodite de Peixes, a figura mais bela e controversa do Santuário de Atena! Parabéns, Dite! É uma fic simples mas é de coração!

OBS.: A música incidental do capítulo é Eleanor Rigby, dos Beatles. E há referências à história do Pequeno Príncipe, de Antoine de Saint-Exupéry.



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V

As Rosas e o Príncipe

Santuário de Atena, jardim da Casa de Peixes.

Numa manhã de sol do Santuário, lá estava Afrodite de Peixes ajoelhado nos seus roseirais, fazendo o que mais gostava de fazer nessa vida.

Cuidar de suas rosas. A mais constante de suas companhias desde que se iniciou no treinamento de Atena.

Estava com os cabelos presos num coque alto, cobertos por um lenço que também protegia o rosto do sol. As mãos estavam cobertas por luvas de couro, para evitar que suas mãos se ferissem com os espinhos dos espécimes mortais que cultivava.

Qualquer um que passasse por aquele ponto dos roseirais colocaria sua vida em sério risco, dado ao veneno que aquelas rosas em particular exalavam.

Acariciou com cuidado as pétalas da flor em botão, com um sorriso no rosto. Não um dos sorrisos que costumava distribuir por aí, carregados da ironia que fazia com que, mesmo sorrindo, acabasse por ofender aqueles que o interpelavam; mas um sorriso suave, puro na medida em que ele se permitia ser puro.

Sua mente viajou para um ponto já distante no passado, justo depois da morte de seus pais e do abandono de seus parentes para lhe tomar o dinheiro da família, dando início a uma sequência de eventos que o levaram até o Santuário, e do Santuário à fria e isolada Groenlândia que serviu de palco de seu treinamento. Não reclamou nada, quase nada; posto que o isolamento que sua posição lhe impunha era muito bem vindo, já que perdera a fé nas pessoas desde que foi traído pela própria família em troca do dinheiro de seus pais. A solidão era boa companheira, não podia negar; e melhor companhia ainda eram as rosas que aprendeu a cultivar.

Rosas são flores caprichosas, isso ele aprendeu antes ainda de seu treinamento. Estava dito no livro preferido de sua infância, e também adolescência; e que lia mesmo apesar das admoestações do mestre e dos demais aspirantes que treinavam por seu posto. Livro de menininhas, eles diziam; mas que fazia jus a si, já que ele próprio lembrava tanto uma.

Os tolos. Morreram todos, ou vítimas do treinamento duro, ou vítimas da crueldade que nasceu dentro do menino de traços andróginos e belos que se tornou Afrodite de Peixes.

Bonito como uma rosa, mas que tinha armas muito, muito mais perigosas do que os espinhos.

Sorriu de novo enquanto afofava a terra em seus dedos, e usava as folhas dos roseirais para proteger o quanto pudesse suas rosas de correntes de ar.

"Não tenho receio de tigres, mas tenho horror a correntes de ar. Não terias acaso um para-vento?" Lembrou-se do livro que lia e relia, durante o treinamento árduo e solitário na Groenlândia. Como não se identificaria com a história do menino solitário, príncipe de seu pequeno planeta de onde saiu para explorar outros mundos e lá deixou sua rosa, e tudo que conhecia?

— Como é bonita, minha rosa... - Ele sussurrou suavemente, enquanto tomava uma delas nos dedos já despidos da luva rústica. - Nasceu ao mesmo tempo que o Sol. E eu sei, você faz isso de propósito.

Rosas não são flores modestas, isso ele sabia. Tinham consciência de sua beleza, já que em sua toalete misteriosa das flores em botão escolhiam cuidadosamente as pétalas que vestiriam, as cores que usariam, e nasciam em seu radioso esplendor quando abriam seus botões para mesmerizar o mundo com sua beleza. Mas eram caprichosas, e cultivavam seus espinhos para se defender de tigres imaginários. E não gostavam de correntes de ar.

Mas suas rosas não dependiam de pequenos espinhos apenas para se defender. Não eram flores de ornamento, não eram apenas para perfumar o ambiente e agradar a vista. Eram letais, banhadas de seu sangue venenoso para que adquirissem o status de umas das armas mais perigosas do Santuário. Eram instrumentos de morte, tortura, guerra e vitória. Em nome de Atena, e em nome dele.

— Não fique amuada, querida... - Ele tocou de leve os espinhos da flor, rindo de si para si ao imaginar a figura da rosa do Príncipe, com seus espinhos que a defenderia dos tigres de sua terra natal. - Eu não vou embora, não vou a lugar algum.

Não iria, lógico. Afrodite não gostava muito de gente. Gostava das rosas, e de algumas poucas pessoas que conseguiam lhe ganhar a simpatia a despeito da sua pouca afinidade com elas. Mesmo as mulheres de quem gostava lhe lembravam as rosas que cultivava. Belas e radiosas, sempre. Deu um riso seco ao lembrar do amigo italiano, cavaleiro de Câncer e promíscuo declarado que se deitava com qualquer mulher que lhe aparecesse em momento propício (e outros momentos não tão propícios assim, tinha de admitir), mas que apesar das propaladas tendências psicopatas, da falta de educação e de senso estético era o que tivera de mais próximo de um amigo em toda a sua vida.

— Se Câncer for o que se chama por aí de meu melhor amigo, eu sou uma pessoa tão doente quanto ele. - Falou o sueco com suas rosas, enquanto seguia afofando a terra de seus roseirais. - E nem adianta defendê-lo, porque vocês não são obrigadas a conviver com ele do jeito como eu convivo. E com os outros também, os inúteis. Um bando de brutos, todos eles; não são companhia para vocês.

Ele juraria que ouviu, sim, sua rosa sorrir a ele, enquanto suas pétalas acariciavam seus dedos. Ou ele acariciava suas pétalas com seus dedos, mas a ordem dos fatores não alteravam o produto. Máscara da Morte diria que ele estava ficando doido de tanto conversar com as plantas, mas ele nem se importava.

Eram suas rosas, doces e belas, o carinho de sua vida.

OOO


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Notas finais do capítulo

A fic está recheada de referências às passagens sobre a A Rosa do Pequeno Príncipe, um livro que, sei lá eu porquê, me lembra em algumas coisas o Afrodite de Peixes que eu imagino para Sui Generis. Uma versão mais twisted e dark, claro, mas enfim. Espero que gostem!

Eu escrevi todo o capítulo ouvindo loucamente Eleanor Rigby, a poesia em forma de música escrita por John Lennon e Paul McCartney escreveram sobre solidão e que eu acho, na minha humilde opinião, uma das mais contundentes obras escritas sobre os solitários. Lennon e Macca eram gênios, gente.



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