Sideways escrita por Human Being


Capítulo 13
XIII - Toda Donzela tem um Pai que é uma Fera


Notas iniciais do capítulo

Sideways serão fics ambientadas no universo de Sui Generis, auto-conclusivas ou não. Mas não se preocupem, eu tentarei deixar claro para vocês quando for cada caso. E nenhum dos meus outros projetos de StS serão afetados, eu prometo.

Assim como Sui Generis, elas não serão fics yaoi. A princípio, quero dizer.

E o título da fic não tem nada ver com o filme homônimo (Sideways - entre umas e outras), que é bem interessante. Quem já viu sabe, quem não viu está convidado a ver!

E este capítulo é um presente para nosso dublê de Yoda e atual tigrão, Dohko de Libra! Tá aí, divirtam-se!



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XIII

Toda donzela tem um pai que é uma fera

Shion estava confortavelmente instalado na cadeira de couro do seu despacho no Salão Privativo do Grande Mestre, assinando alguns papeis pendentes. Embora qualquer um em sua posição achasse aquilo maçante, ele gostava muito de escrever e assinar papeis, dada sua paixão por caligrafia e por canetas. Bem que ele tentara incutir em Mu a apreciação da boa caligrafia como uma forma de arte, mas não teve tanto sucesso quanto gostaria.

Falando em seu ex-pupilo, ele estava ali consigo separando papeis em outro ambiente de seu despacho, com uma aura levemente contrariada. Pediu que o pupilo o ajudasse a organizar aquela papelada, no que ele cedeu com visível relutância, mas era importante para ele não ser apenas forjador de armaduras. Mu teria, também, que se familiarizar com alguns trâmites burocráticos, pois se por um lado Kiki poderia em breve assumir algumas das suas funções de forjador, por outro era vital que ele, como lemuriano e longevo, também tivesse conhecimentos do funcionamento de um lugar como o Santuário.

Apesar de agora, tecnicamente, seu corpo ser mais jovem do que o de seu ex-pupilo, a vida ensinara a Shion que nunca se sabe o dia de amanhã.

Fora que, claro, toda ajuda que pudesse ter em seu despacho lhe era bem vinda.

Olhou para a caneta-tinteiro que tinha nas mãos; uma raridade centenária comprada de um mercador americano que lhe apresentara aquela invenção engenhosa cujo reservatório de tinta embutido tornavam a escrita mais dinâmica, por eliminar a necessidade de parar os trabalhos para molhar a pena da caneta. Usou a invenção e a aprovou instantaneamente. Depois dessa primeira caneta houve muitas outras mais, mas jamais perdera o amor que tinha a esta caneta em especial.

Que, inclusive, foi preservada mesmo com a ocasião de sua morte em Star Hill, uma vez que Saga não ousou mexer em seus pertences.

Ou então, mais provavelmente, não achou as canetas guardadas por lá. Ou, talvez... Não se interessou por elas.

Nem teve a chance de continuar divagando sobre canetas, uma vez que Dohko interrompeu seus pensamentos ao entrar esbaforido em sua sala, sem nem pedir licença. Qualquer cavaleiro não ousaria esses repentes, mas Dohko não era um subalterno seu: era seu melhor amigo. E braço direito na administração informal da Ordem.

— Shion, preciso lhe falar.

— Diga. - Ele afastou os papeis de sua mesa, puxando uma cadeira para que o amigo sentasse junto a si, e tentasse acalmar sua evidente agitação. - O que houve?

— Shion... - O chinês respirou fundo, nem sequer tomando ciência da presença de Mu ali, que também não parecia muito interessado no que fosse que Dohko tivesse a dizer, uma vez que não era de sua conta. - Eu estou com uma desconfiança terrível.

— Pois diga.

— Eu... Eu acho que alguém está seduzindo minha Shunrei.

Estando o ex-Mestre Ancião de costas para Mu, e Shion totalmente absorto pela apreensão do colega, ambos não viram como o rapaz quase perdeu o fio da meada do que fazia.

— Como assim? - Os olhos de Shion estavam arregalados como pratos. - Mas a troco de quê você acha uma coisa dessas?

— Não, eu não acho. Eu tenho certeza! - Dohko se exaltou um tanto. - Ela fica o tempo todo de cochichos no telefone, ou então sai sem dizer aonde vai, muito menos com quem. E quando fica em casa, é o tempo todo suspirando pelos cantos!

Mu, por sua vez, não achava que Shunrei estava sendo seduzida por alguém. Ele sabia que a garota tinha um namoro firme com Shiryu há um bom tempo, e sinceramente não entendia como diabos o chinês ainda não se dera conta disso.

Ele mesmo já tinha aproveitado sua proximidade com o rapaz para ralhar com ele sobre isso, dizendo que seria muito melhor Dohko descobrir tudo pela boca deles dois do que ficar sabendo por meio de conversinhas e rumores. Mas Shiryu se pelava de medo de dizer ao mestre que lhe acolheu como um pai que estava de namoro com a menina que ele praticamente criou como filha; mesmo agora depois que todos foram trazidos de volta e Dohko parecia, estranhamente, apenas um pouco mais velho do que eles dois. Ainda assim, Shiryu parecia temer que o ex-Mestre Ancião lhe arrancasse os seus restaurados olhos por essa.

Mas a situação, que já era delicada, agora ficara um tanto mais urgente. Tinha que avisar Shiryu, ou Shunrei, ou os dois... Mas não poderia fazer isso agora. Daria muito na vista.

Em vez disso, empenhou-se em continuar bisbilhotando a conversa alheia.

— É o que lhe digo, Shion! - Dohko agora andava em círculos. - Eu tenho certeza que algum rapaz à toa anda atrás da minha florzinha! Pelos deuses, eu nem sei o que eu sou capaz de fazer se... se...

— Mas você tem alguma evidência mais concreta disso? - Shion, pese sua experiência e longevidade, conseguia ser tão despistado quando o colega chinês no tocante desses assuntos. Prova disso era sua recente tentativa de 'arrumar' uma companheira para Mu; e muito apesar de veementes protestos o lemuriano mais velho não parecia dar mostras de que deixaria o assunto morrer.

— Você quer evidência mais concreta do que ela estar de conversinha no telefone o dia inteiro? Ou então os períodos que ela some e ninguém sabe dar notícias dela?

— Ora, ela pode estar com alguma amiga...

— Shion, por favor... - Dohko suspirou, irritado. - Minha intuição está me dizendo que ela está sendo seduzida por alguém! E eu aposto que é algum desses cavaleiros daqui!

Nesse momento, Mu viu Kiki entrando pela porta dos fundos, talvez para lhe dizer alguma coisa. Apressou-se em fazer um sinal para que o menino ficasse calado.

— Mestre Mu...

— Shhh! Eu estou prestando atenção na conversa!

— Mas não é o senhor mesmo que diz que é feio prestar atenção em conversa de adulto?

— Eu sou adulto, Kiki, você é que não é! - Mu respondeu, sussurrando. - Mas fique quietinho, que a conversa é importante!

— Ah... - Kiki começou a escutar o que diziam Shion e Dohko, assim como seu mestre. - Mas eles estão falando da Shunrei?

— Shhh!

— Mas... O Senhor Dohko não sabe que...

— SHHHHH! Não, ele não sabe, e não vai ser você quem vai falar, ouviu? - Mu se esforçava para fazer seu pequeno aprendiz permanecer calado. Ficou mais sossegado quando viu o menino acenar com a cabeça em concordância, pois isso o fez pensar que o menino ficaria quieto.

Não por muito tempo.

— Mestre Mu...

— Fica quieto, Kiki, eu já te falei!

— Mas...

— Shhhhh!

— Mas...

Mu revirou os olhos e rilhou os dentes, enervado. Inspirou profundamente, expirou; e então se virou para o menino.

— Então fala, moleque.

— Mas é que o Shiryu tá lá no templo, querendo falar com o senhor, Mestre Mu. - Kiki disse, sussurrando. - E, pelo tanto que ele tá nervoso, parece que é coisa séria...

OOO

Não foi difícil para Mu escapulir junto com seu aprendiz em direção ao Templo de Áries, uma vez que a atenção de Shion estava, agora, totalmente voltada para a grave questão do amigo chinês.

Porém, o que o atual Grande Mestre não desconfiaria é de que Mu, apesar de sua retirada estratégica, estava também empenhado na solução daquele problema.

Entrou em Áries puxando Kiki pelo pulso para dar de cara com seu amigo de fé e irmão camarada, Aldebaran de Touro, e Shiryu de Dragão em pessoa; mostrando nos olhos, curados desde a "Grande Ressurreição" perpetrada por Zeus, uma quantidade inédita de desespero até mesmo para Mu, que o recebeu em Jamiel também desesperado em busca de conserto para as armaduras de Pégaso e Dragão.

Mas ele bem sabia que, fosse qual fosse o atual problema de Shiryu, não era menor do que ter Dohko de Libra desconfiado de que alguém se aproveitava de sua pequena Shunrei.

— Nem vem dizendo nada não, que agora você tá em uma encrenca das brabas! - Mu interrompeu o cavaleiro de Bronze, que já abria a boca para falar. - Mas eu tenho que te dizer que eu bem que te avisei, não avisei?

— Não olhem pra mim, eu acabei de chegar... - Aldebaran averteu os olhos assim que Shiryu lançou para ele um olhar suplicante. - E tô até agora sem saber o que tá acontecendo.

— Pois sim, Touro. O que está acontecendo é que o Shiryu aqui está em péssimos lençóis. Tanto que eu falei pra esse rapaz falar com Dohko de Libra sobre a Shunrei e a... situação deles. Tanto que eu falei... Porque agora, Dragão, ele está com um circo de pulgas atrás da orelha!

— Como assim? - Aldebaran interrompeu o jovem cavaleiro de bronze, que abria novamente a boca em uma expressão próxima do desespero. - O Dohko tá desconfiando de alguma coisa?

— Desconfiando? - Mu deu uma risada seca. - Enquanto nós estamos aqui conversando, ele está falando para Shion que tem certeza que tem alguém seduzindo sua Shunrei!

— Ah, minha Nossa Senhora do Perpétuo Socor- Opa... Por Atena! - Aldebaran respondeu. - E agora?

— Eu bem que avisei esse paspalho que seria melhor contar tudo antes que o Dohko descobrisse sozinho!

— Sim, você avisou; mas agora já foi, Mu. Agora o Shiryu aqui tem que juntar coragem e... Shiryu? Cara, cê tá bem?

Aldebaran não estava exagerando em perguntar ao Dragão se estava sentindo alguma coisa. Porque o rapaz, que antes já parecia suficientemente nervoso, agora parecia mais pálido do que quando, num ato de "caridade e desprendimento", doou seu sangue para o reparo das armaduras em Jamiel.

— Isso é consciência pesada, isso sim... - Mu resmungou enquanto Aldebaran tentava prestar auxílio para o rapaz e Kiki ia para a cozinha a mando do brasileiro em busca de um copo de água com açúcar.

— Não é isso... - Choramingou Shiryu. - Não é só isso...

— Ué, tem alguma coisa mais grave do que isso? - Aldebaran coçou o cocoruto.

O que Shiryu parecia ter para dizer era importante, mas ele parou em seco no momento em que viu Shaka de Virgem plantado atrás do anfitrião da casa.

— Shaka, que susto! - Mu resmungou, passado o susto de ver Shaka praticamente fungando em seu cangote. - Olha, as pessoas se anunciam quando entram na casa dos outros, sabia?

— Aiolia nunca se incomodou. - Respondeu o cavaleiro de Virgem.

— Há controvérsias sobre ele nunca ter se incomodado, você sabe.

O indiano ignorou o comentário de Mu e ajeitou a túnica para sentar-se ao lado de Aldebaran, enquanto um assombradíssimo Shiryu o seguia olhando fixamente.

— Mas, sim, então me digam: O que está acontecendo? - Perguntou Shaka, com a voz anasalada e pausada de sempre.

Mu olhou para o cavaleiro de Dragão, que tinha então se posto mudo como uma porta. E o lemuriano intuiu que, provavelmente, não queria falar daquilo na frente do cavaleiro de , para seu azar, ele também sabia que seria praticamente impossível demovê-lo da ideia de descobrir o que se passava em Áries.

— Olha, Shaka... - Aldebaran tentava ser diplomático, apesar da mente do colega lemuriano lhe avisar discretamente que não havia muita solução. - Eu acho que o Shiryu tem um problema de ordem particular a tratar com o Mu, sabe... Então, por que você não vem comigo e...

— Touro, não existe algo como um "problema particular" dentro da Ordem. - Virgem disse, com um meneio das mãos. - O que afeta a um de nós, afeta a todos. Assim sendo...

Apesar da frase de Shaka ter ficado em suspenso, era óbvio que ele esperava que Shiryu continuasse com a explanação de seus problemas em sua presença.

Mas Dragão seguia calado; e isso, para Shaka, era interpretado como um claro sinal de que ele não queria dividir o seu problema com o resto da Ordem.

Uma atitude claramente suspeita.

— Ei... Ei! - Mu imediatamente percebeu o aumento do cosmo do indiano; que estava disposto a descobrir o que acontecia por bem ou por mal. - Shaka! Pare com isso!

— Isso o quê? - Shaka interrompeu sua elaboração cósmica com a cara mais santa do mundo.

— Você está elevando seu cosmo para entrar da mente de Shiryu, que eu sei. - Mu cruzou os braços, tamborilando os dedos, enquanto Dragão arregalava ainda mais os olhos cinzentos.

— Sim, estou. - O indiano retomou sua investida psíquica diante de um nervoso cavaleiro de Dragão. - Afinal, é como eu disse: Não há problema privado dentro de uma Ordem cujo objetivo primordial é a defesa de Atena e da Terra.

— Shaka! - Mu elevou seu cosmo também, mas estava disposto a defender o cavaleiro de Dragão dos poderes psíquicos de Virgem. - Você não vai arrancar as informações de Shiryu desse jeito!

— Dragão... - Aldebaran suspirou. - Olha, faz o seguinte: Abstrai a presença do Shaka e conta pra gente o que tá acontecendo...

— Mas... - Shiryu seguia olhando desconfiadíssimo para Virgem.

— Ele não vai falar nada do que ouvir aqui para ninguém, afinal Shaka sabe que o que ele ouvir aqui estará protegido pelo nosso voto de confidencialidade...

— Voto de confidencialidade? - Shaka repetiu, agora confuso.

— Sim, Shaka. Voto de confidencialidade. - Aldebaran continuou. - Nós, irmãos da Ordem Sagrada de Atena, podemos nos confessar uns aos outros protegidos pelo voto que determina que o que é revelado em segredo para um irmão de armas não pode ser revelado a outrem, não podemos?

— Podemos, mas...

— Então. Dentro dessa premissa, apenas o que for considerado como iminente perigo à vida na Terra e à segurança da Deusa é considerado exceção. Como eu tenho certeza que não é o caso...

— Ah... Ah, tudo bem. - Shiryu soltou um bufido, derrotado. - Mas, olhe, isso não pode sair daqui, de jeito nenhum!

— Tudo bem. - Shaka bufou e sentou-se em frente ao outro, com a coluna espigada e as mãos nos joelhos magros.

— Bom, se é assim... - Mu se voltou novamente a Shiryu. - Mas, então, se o que te preocupa agora não é o fato de que Dohko finalmente está desconfiando de que Shunrei tenha um namorado, o que é que está acontecendo?

— Mas o Dohko ainda não sabe que ela é namorada dele? - Shaka se voltou para Aldebaran, incrédulo, enquanto o brasileiro lhe confirmava em voz baixa que não, Libra ainda não sabia. - E depois sou eu quem fecha os olhos para o mundo...

— É que a Shunrei... Está... Atrasada...

Mu e Shaka menearam a cabeça de lado, confusos, enquanto Aldebaran ficou razoavelmente mais pálido do que o normal.

— Ora, mas vocês marcaram algum compromisso para o qual ela estivesse atrasada? - Shaka fez um muxoxo. - Até onde sei, atrasos não são uma ofensa social tão grave assim, Shiryu.

— Cara... - Aldebaran, visivelmente abalado, se adiantou em direção ao rapaz. - Não me fala que...

— Não, espera, eu não estou entendendo. - Mu interrompeu o colega a seco, alarmado pela inquietação do cavaleiro de Touro. - Como assim, atrasada pra quê?

— Mu... - Aldebaran se dirigiu ao colega, ainda confuso, num tom grave. - Manda o Kiki dar uma volta.

— Mas...

— Mu - Touro não estava para brincadeiras. - É sério, cara.

O lemuriano obedeceu, mesmo que a contragosto.

— Atrasada, cara... - O jovem cavaleiro de Dragão disse quase num sussurro, assim que viu o pequeno aprendiz de Áries sair. - Esse mês, ainda não... veio.

Os olhos de Mu se arregalaram até quase saltarem de suas órbitas.

OOO

Dohko saiu do salão privativo do Grande Mestre, ainda preocupado e furioso.

Shion o ouviu, foi um bom amigo, mas passou todo o tempo tentando por panos quentes nas suas suspeitas. Sabia que o lemuriano era um homem ponderado, mas agora ele simplesmente se recusava a ver o que ele via: Sua Shunrei estava sendo seduzida por alguém. E ele seria capaz de apostar sua vida que esse "alguém" era um cavaleiro.

Ora, pois, e como não?

Ela mal ficava em Rozan. Agora, só queria estar por perto dos cavaleiros sob o pretexto de conversar com Shiryu, que como os outros cavaleiros de Bronze estava prestando serviços à filial da Fundação Graad na Grécia que acobertava os serviços do Santuário de Atena na Europa.

Bem que ele sabia que ela considerava Dragão quase que como o irmão que ela não teve, mas mesmo assim duvidava que eles tivessem tanto assunto para que ela ficasse sempre por perto do Santuário.

E ele não tinha se esquecido que o Shunrei agora já não era mais uma menina. Era uma moça, que inclusive chamava a atenção dos rapazes pela sua beleza e bons modos.

Não que ele achasse isso ruim. Ele, como o "pai adotivo" da garota, queria sim que ela se interessasse por um bom rapaz e constituísse família, mas quando ela fosse mais velha, mais equipada para a vida, terminasse os estudos...

E de jeito nenhum a queria envolvida com cavaleiros. Isso não. Isso nunca.

Porque mesmo agora que cavaleiros podiam manter relacionamentos e constituir famílias oficiais, ele sabia melhor do que ninguém a vida sofrida que a esperaria ao se ligar a um homem comprometido com o serviço de Atena. Não queria isso para ela, de maneira alguma. Ainda mais quando sabia que inclusive os cavaleiros já tinham prestado atenção nos atributos de sua filha adotiva.

Parou em seco ao se lembrar qual cavaleiro já tinha manifestado essa atenção publicamente. E, caso fosse ele a se interessar por Shunrei, isso não era apenas preocupante.

Seria uma desgraça.

OOO

Enquanto um pálido Aldebaran seguia tentando consolar um ainda mais pálido Shiryu, Mu andava de um lado para o outro; dividido entre a estupefação pela notícia que acabava de receber e a incredulidade de ver como o outro conseguira ser tão irresponsável.

— Eu não entendo o porquê dessa vibração pesada de vocês. - Shaka mantinha os olhos fechados, aparentemente sem entender ainda do que se tratava o "atraso" de Shunrei. - Afinal de contas, basta que Shiryu fale com seu mestre sobre seu relacionamento com a menina, e tudo ficará bem; não vejo porque não ficaria já que...

— AS REGRAS da Shunrei estão atrasadas, Shaka! - Mu parou em seco, exasperado pela aparente ingenuidade do colega. - Pelos deuses, até EU sei o que significa quando elas não vêm!

— Regras...?

— Isso, Shaka. - Aldebaran tentou elucidar mais o caso para Virgem. - Regras, período, chico, "aquela época do mês"... Sacou?

— A menstruação dela está atrasada? - Shaka franziu as sobrancelhas. - E qual o possível interesse que Shiryu teria nisso?

— O fato de que esse energúmeno fez o que não devia com a moça, e ainda por cima sem se proteger adequadamente? - Respondeu Mu, visivelmente alterado.

— Fizeram o que... - Shaka franziu ainda mais a sobrancelha, para então abrir os olhos com cuidado. - Ah, está querendo dizer que eles fizeram sexo?

— Isso! - Mu assentiu, querendo passar para o colega indiano parte de sua indignação.

— Oh... - Shaka finalmente estava chegando no cerne da questão. - Mas... Mu, espere, você há de entender que isso é o que as pessoas fazem para demonstrar carinho e desejo umas com as outras...

— Hã?

— ... Portanto não me admira que Shiryu e Shurei tenham compartilhado momentos de intimidade física.

— Certo, Shaka, só que nesses "momentos de intimidade física" os casais costumam se proteger para não serem pegos de calça curta! - Aldebaran retrucou. - Porque a questão aqui não é a gente recriminar os dois por terem estado juntos, até porque ninguém vai querer que eles fiquem namorando só no "pegar na mão", só que agora... Olha aí, ó. Agora como que ele vai explicar isso pro pai da moça?

— Explicando, oras. - O indiano retrucou, impassível.

— Shaka, você não tá entendendo. - Mu entrou na conversa. - Você sabe o que significa quando uma mulher atrasa as regras, não sabe?

— Menstruação, o nome correto é menstruação. - Shaka o corrigiu. - E sim, eu sei: Significa que ela pode estar grávida.

— E vocâ fala isso com essa naturalidade? - Mu contesta, atônito; enquanto Shiryu quase tem uma síncope ao ouvir a palavra "grávida".

— E por que a vinda de um bebê não seria natural? É uma vida nova, motivo de celebração e felicidade.

— Mas é claro! Porque o pai da moça vai ficar felicíssimo de ver sua mocinha grávida do marmanjo aí aos dezesseis anos(1) de idade! Ah, vai sim! - Mu estava quase ficando louco com a aparente calma do indiano, enquanto Shiryu escondia o rosto entre as mãos.

— Foi só uma vez, cara... - Shiryu falava com o rosto ainda entre as mãos. - Uma vez só, eu juro que a gente achava que não ia ter problema nenhum, uma vezinha só...

— Não precisa mais do que isso! - Mu se voltou para o rapaz, ainda furibundo. - Pelos deuses, vocês não sabem o que é uma camisinha?

— Também não é como se você soubesse, não é, Mu? - Shiryu devolveu, aparentemente esquecendo por um instante sua própria situação.

— Sim, e se eu não sei, isso é problema muito meu! - Retrucou o lemuriano, furioso. - E até onde eu sei, não serei eu a enfrentar a fúria do Roshi! Aliás, merecidíssima!

— Pessoal, por favor... - Aldebaran tentava contemporizar. - Discutir quem teve culpa do quê não vai adiantar nada. Foi vacilo do Shiryu? Foi, mas ver ele ser massacrado pelas armas de Libra não vai ajudar a Ordem em nadica de nada...

— Nisso Touro tem toda a razão. - Shaka se levantou, alisando a túnica e espigando as costas.

— Ei, Shaka, onde você vai? - Shiryu perguntou, alarmado, enquanto via o indiano saindo pela porta dos fundos do templo de Áries.

— Ora, eu vou fazer a única coisa sensata que se tem a fazer...

— E que seria...?

— Conversar com Dohko e lhe expôr a situação. - Respondeu o indiano a Mu, placidamente. - Embora a situação esteja longe de ser a ideal, eu creio que Dohko deva estar aberto a uma explanação com os argumentos certos...

— Você ficou MALUCO? - Shiryu bloqueou a porta com o seu corpo, disposto a dar a vida para que Shaka não passasse.

— Claro que não, Dragão. - Shaka franziu as sobrancelhas. - Na verdade não nego que eu ache que eu seja a pessoa mais sã desse Santuário, mas não é produtivo entrar nesse mérito agora. Fato é que Dohko precisará saber do que acontece, e é melhor que ele saiba logo e de uma maneira não muito traumática...

— Mas, pessoal, não era melhor a gente esperar uma confirmação mais definitiva? - Aldebaran inquiriu. - Porque até onde eu sei, a Shunrei não fez nenhum teste ainda, fez?

— Não, ela não fez, mas...

— Eu concordo com o Aldebaran. - Mu se adiantou. - Shaka, é melhor a gente adiar essa conversa para quando a coisa estiver confirmada, não?

— Talvez... Mas de qualquer maneira, Dohko deve saber que Shiryu e Shunrei estão mais íntimos do que ele imagina. Não vejo porque não aproveitar o ensejo e...

O burburinho audível de longe prenunciou a entrada esbaforida de Kiki no templo de Áries.

— Corre todo mundo, corre todo mundo! Tá tendo briga!

— Era só o que faltava... - Bufou Mu. - Quem são os arruaceiros da vez?

— Máscara da Morte e o Roshi!

A menção do epônimo de Dohko de Libra fez com que os presentes avançassem para fora do espaço das Doze Casas.

OOO

— Máscara da Morte! - A voz estrondosa de um aparentemente irritado Dohko de Libra chamou a a atenção do guardião da Quarta Casa, que entendeu menos ainda ao ver o usualmente calmo ex-Mestre Ancião soltando faíscas pelos olhos.

— O que é que você aprontou dessa vez, seu demente? - Shura cochichou de lado para o colega, enquanto também olhava para o alterado cavaleiro de Libra.

— Eu? Nada, ué. - O italiano deu de ombros. - Eu sei lá o que se passou na cabeça desse ex-velho gagá...

— Não se faça de desentendido, seu corruptor de mulheres indefesas! - Dohko colocou o dedo em riste na cara do surpreso italiano. - Esse Santuário já tolerou suas depravações por tempo demais!

— Ih, Lucchese(2), isso definitivamente se parece com alguma coisa feita por você... - Afrodite disse num muxoxo.

Ma che, que raio de conversa doida é essa, Libra? - Máscara da Morte deu um passo para trás, tentando ganhar espaço enquanto o outro se aproximava, bufando. - E eu lá tenho cara de quem fica caçando encrenca atrás de donzela inocente? Eu gosto é das culpadas!

Os risos de Afrodite ao comentário do colega foram interrompidos pela aproximação ainda mais hostil do ex-Mestre Ancião.

— Não me venha com gracinhas, seu moleque insolente! Porque quando você começava a satisfazer sua luxúria com catálogos de lingerie baratos, EU já era um cavaleiro de ouro há muito tempo! E não pense nem por um segundo que eu não sou capaz de te dar uma lição inesquecível se te pegar fazendo o que não deve!

— Espera aí, velhote - Máscara da Morte agora deu um passo adiante, enfrentando o mais velho. - Se você acha, por um acaso, que eu "forço" pobres donzelas a ficarem comigo, com certeza deve estar me confundindo com alguma das SUAS fantasias absurdas!

— Você é que está pensando que eu tenho uma mente poluída como a sua! E mesmo que você não as force, você as ENGANA com falsas promessas! Pensa que eu não sei, não conheço gente assim da sua laia?

— Pessoal, alguém me explica aí o que tá acontecendo porque eu não tô pegando o fio da meada... - Atraído pela confusão, Aiolia cochichou para Shura, que também deu de ombros enquanto a confusão se armava e os presentes na Casa de Áries chegavam no local. - Que o Dohko se ocupa demais regulando nossa vida sexual eu já sabia, mas desde quando ele virou o defensor das pobres mocinhas indefesas?

— E quem diabos foi que eu enganei, ex-projeto de uva passa? - Máscara da Morte estava ainda mais indignado. - Que eu saiba, nenhuma moça que anda comigo sai por aí "enganada"! Ou cê tá me confundindo com as tuas raparigas! Justo você, que nem dá conta do que acontece debaixo do seu próprio nar...

— Peraí, peraí, peraí! - Shura se meteu no meio da confusão armada. - Opa, gente, vamos parar com isso?

— Ma... foi ele que começou!

— É, e você quem vai acabar! - Os olhos do espanhol faiscavam, numa ordem muda para que o italiano ficasse quieto.

— Não se meta, Shura de Capricórnio! Eu tenho contas a acertar com esse... predador sexual!

— Então, Dohko de Libra, em vez de ficar caçando sarna pra se coçar, desembucha logo que contas são essas que você tem pra acertar! - Afrodite rebateu ao outro.

— Esse... Esse degenerado é um sedutor de menores!

— Opa, peraí. - Shura voltou a interceder. Não que Máscara da Morte fosse sua pessoa preferida no mundo e nem que ele acreditasse que ele era um santo, mas de uma coisa ele tinha certeza: O italiano não era chegado em menores de idade; muito pelo contrário. - Mas se tem uma coisa que o carcamano não gosta, Dohko, é de menina "de menor"...

— Mentira! Eu mesmo sei que ele presta bem mais atenção do que deveria em menores de idade! Ou ele pensa que eu não sei que ele anda se engraçando pra Shunrei?

Shaka arregalou os olhos abertos. Mu trocou um olhar de absoluta incredulidade com Aldebaran, enquanto Aiolia coçava a cabeça, Shura perdia a fala e Máscara da Morte parecia aturdido demais para articular alguma resposta racional.

E Shiryu... parecia à beira de uma síncope.

Porém, foram as gargalhadas de Afrodite que quebraram o momento de desconfortável apreensão.

— Afrodite... Do que é que você está rindo? - Dohko não entendia porque o sueco estava agora quase às lágrimas. - Por um acaso você acha engraçado que esse safado saliente com a minha menina? - Mais gargalhadas. - Ora, seu... Você acha engraçado porque não é com uma irmã sua, seu outro safado dos infernos!

Afrodite dobrou os joelhos e quase rolou no chão de tanto rir.

— Pessoal, pessoal... - Aldebaran se adiantou, temendo que a inércia levasse a algo pior. - Vamos discutir esse assunto em privado? Não tem a menor graça fazer esse furdunço aqui, no meio de todo mundo... Mu, pode ser lá no seu templo?

— Sim, claro! - Mu acenou com a cabeça, imediatamente captando a ideia do amigo. - Dohko e Máscara da Morte, vamos até lá que eu tenho certeza que nós vamos resolver todo esse mal entendido...

E foi assim que todos os presentes se dirigiram para a casa de Áries. No portão, porém, Mu se atrasou para puxar Afrodite e Shura pelo braço.

— Mas o que...

— Afrodite, você não. Nem você, Shura; nem você, Aiolia. Pra fora, circulando!

— Mas o Shaka...

— O Shaka eu não consigo tirar daqui, mas vocês é outra história. - Mu deu um sorrisinho, enquanto apontava com o queixo para fora de sua casa. - Rua!

OOO

Dentro da área privativa da Casa de Áries, a situação não era muito melhor.

— Gente, vamos todos nos acalmar? - Aldebaran tentava contemporizar, enquanto Dohko e Máscara da Morte se encaravam num duelo mudo.

— Deixa eu ver se eu entendi... - Máscara da Morte cuspiu as palavras. - Você acha que alguém está 'seduzindo' sua Shunrei, e que portanto essa pessoa deve ser eu?

— E quem mais seria?

— Eu sei lá, china, mas eu é que não sou. - Máscara da Morte olhava de soslaio para um Shiryu quase oculto atrás de uma das colunas do templo. Como o rapaz não era nem de longe uma de suas pessoas favoritas, resolveu provocá-lo. - Não vou negar que ela é bonitinha sim, mas muito verdinha pro meu gosto!

— Aham... - Shaka tentou chamar a atenção dos presentes. - Embora eu seja obrigado a reconhecer que, no caso de Máscara da Morte, o passado realmente condene... - Nesse momento o indiano acenou com uma das mãos para que o italiano, que ameaçava interrompê-lo, continuasse calado. - ...Veja bem, desta vez ele é inocente da acusação de seduzir sua filha.

Dohko franziu a testa, confuso; e Shiryu se encolheu atrás da coluna.

— ...O que não significa que ela não esteja se encontrando com um rapaz, você sabe...

— Como? - O ex-Mestre Ancião franziu novamente a testa. - Então você sabe quem é?

— Mas Dohko, essa não seria uma conversa para você ter com Shunrei? - Aldebaran tentou interromper Shaka.

— Não, de modo algum! - O chinês balançou a cabeça. - Eu preciso saber o que está acontecendo para poder defendê-la! Shaka, por favor, se você sabe quem é...

— Shiryu! - A voz de Shunrei interrompeu os presentes enquanto a garota entrava esbaforida pela casa de Áries, sem perceber a presença de Dohko.

— Ahh, Shunrei... - O cavaleiro de Dragão, "descoberto" em seu esconderijo, estava agora no centro da atenção de todos os presentes.

Ma che, agora vamos ver se ele continua sem enxergar... - Murmurou Máscara da Morte, recebendo uma cotovelada de Mu em seguida.

— Shiryu, vem comigo, eu preciso te contar uma coisa! - A menina, radiante, tomava nas duas mãos as mãos do rapaz. - Uma coisa muito boa! Nós não precisamos mais nos preocupar!

— Shunrei... - Shiryu, sem graça como nunca, tentava fazer com que a menina percebesse que não podiam falar ali do que ela queria falar; porém não podia dizer com todas as palavras que Roshi estava ali. - A gente conversa depois...

— Se preocupar? - A voz de Dohko surgiu no meio da sala, enquanto Shunrei se virava para encarar o cavaleiro de Libra em um pulo. - Se preocupar com o quê?

— E "bum!", fez a casa enquanto caía... - Máscara da Morte disfarçou muito mal um risinho, enquanto Dohko seguia encarando seu ex-pupilo e a menina que criou. - Agoram se me dão licença, essa é a minha deixa. Porque se o "não precisa se preocupar" for o que eu tô pensando...

— Roshi... - Shunrei gaguejava, enquanto pensava numa saída para aquela situação. - Não é nada demais, é apenas algo com que o Shiryu estava preocupado e que ele veio falar comigo...

— Não, Shunrei. Aí também não. - Shaka interrompeu a menina, franzindo a testa enquanto mantinha os olhos fechados. - Também não dá para falar disso como "não sendo nada demais". Afinal, nem eu, que sou uma pessoa tolerante e livre de preconceitos sociais sexistas, posso deixar de salientar que você e Shiryu foram um pouco irresponsáveis em fazer sexo sem proteção se não queriam ter um filho nesse momento. Afinal, eu disse antes que uma vida sempre é motivo de celebração, mas também é motivo de muita responsabilidade! Hoje em dia temos tantas maneiras de evitar uma gravidez indesejada...

Aldebaran levou as mãos à testa, enquanto Mu olhava perplexo para Shunrei, vermelhíssima, e o cavaleiro de Dragão à beira de um passamento.

E Dohko, antes tão eloquente, estava mudo como uma porta.

— Errr... - Mu tentava quebrar o silêncio sepulcral, - Pessoal, não é melhor vocês terminarem essa... conversa... no templo de vocês?

— Sim, claro, porque certamente vocês tem muito o que conversar. - Shaka assentiu. - Afinal, Dohko agora terá que conversar longa e demoradamente com esses jovens a respeito de educação sexual e responsabilidade...

— Ele sabe, Shaka! - Aldebaran interrompeu o outro. - Então, realmente, era muito melhor vocês conversarem com calma, no cantinho de vocês, lá na Casa de Libra... Né não? Vejam bem, o Shaka até pode acompanhar vocês!

— Eu? - O aludido abriu os olhos com cuidado, tomado pela surpresa.

— É, Shaka! - Aldebaran assentiu, mas o tom suave de sua voz não coincidia com a incisividade de seus olhos. - Você os acompanha até a casa de Libra, já que é caminho pra sua casa!

— Mas...

— É uma ótima ideia! - Mu concordou com o colega, enquanto Shaka continuava os olhando com a testa franzida e a boca torcida num muxoxo. - Não te custa nada acompanhar Dohko, Shiryu e Shunrei até a casa de Libra...

Shaka suspirou, olhou para os três e, num meneio de cabeça, indicou a porta de saída. Mas antes que ele os seguisse porta afora, foi gentilmente detido pela mão de Mu em seu braço.

— ...Calado. Você vai subir sem soltar um piu, Shaka.

O outro bufou, mas seguiu em silêncio pelas escadarias acima.

— Gente, que confusão... - Aldebaran coçou a cabeça.

— Bom, mas agora parece que as coisas vão acalmar... - Mu assentiu, aturdido.

— Mas Mestre Mu... - Kiki, sabem lá os deuses como, tinha conseguido entrar no Templo de Áries e ouviu uma boa parte da conversa. - O que é uma gravidez indesejada?

O lemuriano olhou para o pequeno aprendiz, exasperado. Sentiu um tapinha nas costas e se voltou para o colega da segunda casa.

— Valeu, Mu... Tá na minha hora.

Os olhos azuis de Kiki seguiam cravados no seu mestre.

OOO

Dias depois, numa noite na Taverna...

— Não, gente. - Máscara da Morte segurava as gargalhadas enquanto o grupo na mesa relembrava os eventos passados. - Então que eu, o "deflorador de mocinhas indefesas", não tirei a virtude dessa mocinha.

— Sério que eles tiveram um 'alarme falso'? - Shura, apesar do teor alcoólico perigosamente alto, continuava abismado com a possibilidade do amigo Dragão fazer sexo com a "filha" do cavaleiro de Libra, e ainda por cima sem proteção. - Mas é o cúmulo da falta de amor à vida, pelo sangue sagrado de Atena...

— Pelo menos o Dohko calou a boca e parou de encher o saco atrás de regular quem a gente come ou deixa de comer. - Afrodite completou, rindo também. - Até porque agora a crise tá dentro da casa dele...

— Mas gente, pelo amor dos deuses do Olimpo tudo, vai... - Máscara da Morte recomeçava a rir. - A crise nunca deixou de estar dentro da casa de Libra! Prestem atenção: Pegação de cavaleiro de bronze com cavaleiro de bronze, - A mesa explodiu em gargalhadas - aprendiz que pega a filha do mestre... E o Dohko escapou por um fio de cabelo de virar vovô!

— Não, sério, imagina aí: Dohko de Libra vovô! - Aldebaran se dobrava de dar risada. - E ele explicando pro pessoal de fora que ele, agora um rapaz aparentando uns dezoito aninhos(3), é vovô de um bebê? Imaginem aí a cara das enfermeiras do hospital, na hora que o nenê nascesse...

— Mas, Touro, fala aí que eu fiquei curioso... - Shura interrompeu o colega. - E o que aconteceu então que o Shiryu, que tanto se pelava de medo que ele descobrisse, saiu dessa razoavelmente ileso junto com sua pombinha?

— Razoavelmente ileso uma pinoia... Que agora quem foi encarregado pelo Dohko para dar lições de educação sexual para eles é o Shaka... - Enquanto Aldebaran bebericava sua cerveja, os demais na mesa explodiam em gargalhadas.

Ma che, imagina aí a cena absolutamente broxante do Shaka falando sobre sexo pros dois, cara... - Máscara da Morte se retorcia de rir, e quase caiu da cadeira ao apoiar-se em Shura quando Aldebaran anasalou a voz e incorporou os trejeitos do colega indiano, enquanto falava de sexo selvagem em termos técnicos.

— Ô, Debarão(4)... - Afrodite limpava as lágrimas do rosto. - Agora imita ele aí contando a história da flor, da abelha e da sementinha... Ele ia começar a história falando que no começo, era o Verbo, e do verbo fez-se a luz...

E enquanto Aldebaran seguia em sua performance, as gargalhadas da mesa ecoaram noite afora.

OOO


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Notas finais do capítulo

(1) - Nesse universo, eu cometi a licença poética de dar aos cavaleiros (exceto Saga, Kanon e Aiolos) uns aninhos a mais. Portanto, é essa a idade de Shunrei aqui - Shiryu teria dezessete.

(2) - Nas minhas fics, o nome real do Máscara da Morte é Domenico Pierino Lucchese.

(3) - Nessa realidade alternativa onde todos voltaram à vida relativamente felizes e contentes, Shion e Dohko foram trazidos de volta no vigor de seus dezoito anos de idade...

(4) - Inspirado no Azedume, foi dele quem eu ouvi esse apelido pela primeira vez. E adorei!



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