Sentou-se na varanda de seu apartamento as quatro da manhã esperando talvez algo acontecer. Seu cigarro estava em suas mãos e a fumaça saia de sua boca após um passei desastroso em seus pulmões.

Naquele movimento de soprar toda a fumaça, ele entrava em um transe profundo, seus olhos sem brilho pararam olhando para o céu escuro e aparentemente gélido. Ao olhar para cima percebeu que a vida é tão insignificante, somos tão pequenos, fazemos caso por pequenas coisas.

As reflexões existências e políticas que ele teve naquela varanda não ficou apenas centrada nisso, e sua mente agora agitada vagou para longe, adentrou as nuvens que os olhos sem brilho observava e foi revisitar lembranças passadas.

“ – Eu não consigo viver sem você! Não termine comigo – Dizia Lucie, uma menina aparentemente de 16 anos com cabelos loiros. Falava aos soluços, os olhos vermelhos e inchados de tanto chorar e as bochechas molhadas com as lagrimas que escoriam de seus olhos verdes.

— Lu, por favor entenda.... Você não fez nada de errado. Eu apenas não sei o que está acontecendo comigo e não quero te envolver nessa minha confusão – Falava o menino de cabelos negros e magricela. Olhava para a menina com tanta paixão em seus olhos, que era dolorido observa-lo por mais de dez segundos. Uma situação tão triste, abrir mão daquela que poderia ser o amor da sua vida”.

Ao piscar os olhos, assim como uma fumaça, a lembrança se desfez. Típico adolescente sofrendo com uma típica crise de existência. O que antes era algo que o atormentava por ter deixado aquela doce menina para trás, hoje é apenas uma lembrança que recorrentemente é lembrada de uma forma positiva e construtiva.

“ – O que estamos fazendo? Isso parece tão errado – Disse o menino de óculos aparentemente com medo. 

         - Carlos, estamos na faculdade! Se divirta! Aproveita! – Retrucou o menino que antes magricela, estava mais encorpado, com músculos um pouco mais definidos. Os cabelos curtos e negros, agora estavam maiores e revoltados.

         Os meninos naquele momento sem pensar em mais nada, cheiraram o pó que estava na mesa e o mundo rodou e se tornou mais leve. O peso, a preocupação e todos os problemas pareceram desaparecer. Saíram agitados para a festa que estava acontecendo no cômodo ao lado e se divertiram como se fosse a última coisa de suas vidas”.

         Um sorriso se formava em seu rosto e a lembrança desaparecia lentamente. Adolescentes fazem de tudo, acham que podem fazer tudo porque o dia de amanhã pode não existir e para Carlos, o amanhã não chegou.  O rosto que já estava suavizado com o sorriso, sumiu e deu-se lugar para o rosto sem expressão. A vida é realmente frágil, é tão simples quebra-la.

         - Amor? O que está fazendo aí fora? Venha para dentro –  Uma voz feminina que vinha de dentro do apartamento o chamou.

         - Nada. Já estou entrando... – Respondeu ainda pensativo e com os olhos vidrados, com uma ultima tragada no cigarro, ele observou que o céu escuro, dava lugar para os raios do sol. Estava amanhecendo, uma nova chance de fazer algo totalmente diferente do que você costuma fazer, uma nova chance para ser o impossível, uma nova chance para ser você.