— Você acabou de me dizer que não ia naquele show idiota! - Bravejou Hikari que estava sentada no sofá. Sua perna engessada encontrava-se esticada em cima da mesa de centro da casa deles. – Você disse que ia ficar comigo.

— Não é um show idiota, é o show do Yamato. – Respondeu Taichi parado em frente ao espelho dando as últimas batidas em no seu cabelo. – E eu disse que ia ficar com você quando achei que você tinha se machuca de verdade. Mas olha para você, tá ótima.

— Da na mesma. – Não era a primeira vez que Taichi dava um bolo na irmã dessa maneira, mas dessa vez ela estava mais irritada que o normal. – Seu tosco. - O que era completamente compreensível na situação dela, porém no seu instinto de irmão mais velho Taichi sabia que deveria estar outra coisa rolando. Só que ele não era estúpido suficiente de perguntar e acabar levando um tiro de graça. – Todo mundo tá me trocando por esse show mesmo... – A menina murmurou.

— A mamãe só foi visitar nossa Tia. Ela já deve estar voltando. Acha que consegue ficar sozinha em casa por uns 20 minutos?

— Eu não sei. Quem sabe eu posso ficar com cede, tentar levantar, cair de cabeça na mesa e morrer. E vai ser tudo culpa do meu irmão mais velho desnaturado.

— Tudo bem, mana. - Ele chegou perto dela e deu um beijo na sua bochecha. - Aceito os termos e condições, pode criar minha conta.

— Você sabe que se eu virasse um espírito eu vou te perseguir pela eternidade, tá?

— Okay, okay. Qualquer coisa é só me ligar que eu venho correndo! – Respondeu Taichi indo em direção a porta.

— Tá... - Hikari respondeu sem tirar os olhos do computador. Ela não estava fazendo nada no momento, mas não queria parecer desocupada por ações do acaso ela acabou abrindo uma pasta de fotos antigas.

Aquele não havia sido um bom dia e só ia piorando a cada momento. Principalmente agora que a menção daquele show maldito vez com que ela lembrasse de como Takeru deveria estar divertindo-se horrores uma hora dessas com aquela tal Megumi. Sem fazer a menor ideia da situação de como a perna dela estava, sem se importar que ele foi o verdadeiro responsável por aquilo.

A raiva que ela sentira o dia inteiro deu espaço para um buraco de tristeza que apoderou-se do coração dela. Hikari sentia-se abandonada. Não só pelo seu irmão boboca que estava indo para um show ao invés de tomar conta dela, mas também pelo o seu melhor amigo que não deveria estar por aí saindo com meninas aleatórias.

Claro, na teoria não haveria nenhum problema se seu melhor amigo estivesse saindo com meninas aleatórias. Na verdade, em teoria, deveria ser exatamente que um melhor amigo deveria estar fazendo. Mas... Não o Takeru. Era errado só de pensar. Ela sempre ouviu falar que ele flertava com meninas e ela implicava com ele bastante sobre isso, mas nunca havia acontecido daquela forma. Lá, bem na cara dela.

Taichi encarou a irmã uma última vez antes de sair e podia jurar que viu uma fumacinha escapando pelas orelhas dela. Ele sentiu-se tentado a rir, mas segurou o impulso. Tai sabia que a irmã ficaria bem e não podia simplesmente deixar Sora sozinha, completamente a mercê do Yamato que ia fazer tudo em seu poder para parece 100% mais descolado do que já era.

Taichi abriu a porta rapidamente e cambaleou para trás ao ver que uma mão estava erguida, próxima a campanhia deles.

Os olhos de Taichi escorregaram daquela mão até o olhar igualmente surpreso da pessoa que estava parada do outro lado da porta. Taichi suspirou aliviado a ver Takeru, de olhos arregalados, parado segurando uma sacola de plástico.

Os lábios de Takeru começaram a se mover, mas sem emitir nenhum som. Ele tentava, desesperadamente, formular algum tipo de explicação pela qual ele esta ali. Taichi deu uma risadinha. Ambos sabiam muito bem o verdadeiro motivo dele estar lá, mas tanto sentimento parecia não caber em palavras ainda.

Talvez houvesse um dia no qual aquelas palavras precisassem ser ditas entre os dois. Mas, como Taichi estava de bom humor e com pressa, ele simplesmente pousou uma de suas mãos no ombro de Takeru e falou:

— Toma conta dela, ok?

Takeru concordou com a cabeça. Taichi passou por Takeru, apressando o passo conforme descia o corredor. Takeru entrou no apartamento e fechou a porta atrás de si. Por um relapso de tempo, esqueceu completamente da discussão que havia tido com Hikari mais cedo e pensou como seria engraçado simplesmente dar um susto nela.

Ele aproximou-se silenciosamente até o sofá onde ela estava. Por cima do ombro dela, viu que ela observava fotos antigas em seu laptop. Alguns aniversários de umas amigas da escola, alguns ambientes que ela gostava até que finalmente ela chegou em uma foto antiga da viagem deles para Nova York.

Era uma memória muito doce que ambos guardavam com muito carinho. Eles estavam felizes. Ambos pensaram, ao mesmo tempo, que deveria ser assim que a relação dos dois sempre deveria ser.

— Essa viagem foi realmente inesquecível. - Takeru disse rompendo o silêncio.

Hikari sentiu um frio subir a espinha e gritou. Em um reflexo rápido ela fechou a tela do laptop em um golpe só, constrangida por ter sido flagrada em um momento tão íntimo.

— Takeru, como você entrou aqui? - Perguntou ela em um tom acusatório.

— O Taichi abriu para mim quando estava de saída. - Bem que Hikari havia estranhado que Taichi não havia batido a porta como era de costume dele. Então, Takeru havia vindo ver ele mesmo com o show do irmão acontecendo no mesmo dia, ela sentiu o rosto mais quente. - O que você está fazendo aqui?

Takeru ergueu a sacola que carregava.

— Arroz com curry.

— Você veio aqui só para me trazer arroz com curry?

— Sim. - Takeru desviou o olhar para ambos os lados, hesitante.

Hikari encarou ele com uma expressão incrédula. Com medo de que poderia acabar preso em algum tipo de interrogatório, ele foi em direção da cozinha.

— Você não deveria estar no show do seu irmão? - Insistiu a menina ao sentir a tentativa de fuga dele.

— Sim - Ele respondeu com tranquilidade, pegando dois potes dentro do armário.

— E você não vai?

— Não. - Ele apoiou o pote na bancada. E no intervalo disso para abrir uma gaveta para pegar dois hashis, ele percebeu que talvez sua frase tenha sido um tanto quanto ambígua. Talvez fosse melhor esclarecer as coisas, já haviam tido mau entendidos suficientes por um dia. - Vou ficar aqui.

Hikari e ele ficarm em silêncio enquanto Takeru coloca um pouco de comida na vasilha para cada um deles.

— Você não tinha um encontro marcado?

Takeru solta um suspiro.

— Sim, mas eu desmarquei.

— Vou ficar aqui... - Takeru sentou do lado dela no sofá. - Com você.

—Você não precisava fazer isso. - Hikari coloca o laptop de lado.

— Eu sei - Takeru soltou um suspiro. - Mas eu quero.

Eles comem em silêncio e constrangidos.

— Eu.. ouvi sobre o seu pé e sei lá. Não pude deixar de pensar que de alguma forma foi minha culpa.

— Mas não é. Eu cai de bicicleta.

— Eu sei. Eu só... Quando eu ouvi que você tinha se machucado... Sentia como se fosse eu que tivesse tomado o baque também. Não sei se da para entender. Eu só sabia que eu tinha que estar aqui. Não necessariamente aqui na sala da sua casa, mas eu tinha que estar com você. Eu não queria ter que ouvir de outras pessoas alguma coisa que acontece com você. Eu quero saber. Porque eu estava lá. Eu precisava vir.

Os cantos dos lábios de cara contorceram-se em um pequeno sorriso. Ela sentiu um pequeno fio elétrico que guiou o seu olhar para o de Takeru. Seus olhos encararam-se profundamente. Eles ficaram alguns segundos em silencio, só olhando um para o outro.

Takeru sentia a mesma sensação elétrica que Hikari. Ele queria perguntar tantas coisas para ela. Por que ela tinham ficado tão chateada por causa de Sara, por que ela não tinha avisado que tinha se machucado, será que ela sentia da mesa maneira que ela? Porém ficou em silencio. Os olhos dela eram mais respostas do que ele poderia querer.

— Você sabe que pode comigo para tudo, não sabe? - Indagou Takeru.

— Sei. - Respondeu ela.

O silêncio entre eles reinava, mas as palavras dentro da cabeça de Hikari berravam si mesma na tentativa de se sobrepor a outra. Ela não sabia o que dizer. Takeru sabia o que ele queria que ela dissesse, mas não tinha certeza isso era a mesma coisa que ela estava prestes a dizer.

— Podemos ver um filme. - Sugeriu ela quebrando o delicioso silêncio entre eles.

— Eu gostaria disso. - Respondeu ele com um sorriso terno. Talvez um dia ele ouvisse dos lábios dela as palavras que queria ouvir naquele momento, mas naquela noite aquela pergunta sai da boca dela como um sopro de verão que punha um fim aquela frente fria que estava rolando eles dois entre os dois.

            Suas mãos se esbarraram quando foram ao alcance do controle remoto. Ambos coraram, viraram para frente na esperança de que o outro não perceberiam nada.

            - Takeru-Kun...

            - O quê?

            - Obrigada por vir.

Taichi fechou a porta silenciosamente atrás de si, com medo que ele poderia acordar os pais ou Hikari. Mas uma vez ele tinha ficado fora de casa até muito mais tarde do que combinará com os pais e ele queria se poupar de mais um esporro.

Ele vai andando e percebe que a televisão da sala ainda estava ligada. Seu sangue gelou, era agora que a mãe dele arrancava seu couro. Ele se aproximou em passos silenciosos. Ele viu Takeru estava adormecido e sua cabeça repousava na cabeça de Hikari que estava apoiada no ombro dele.

Ele estava tão aliviado por não ser a mãe que ele resolveu relevar o fato de que precisaria ter uma sobre limites que o loiro. Agora era chegar até o quarto e cumprir seu plano. Mas enquanto fechava a porta lentamente Taichi pode dar mais uma olhada para o casal que descansava no sofá e ele não pode evitar em sorrir.