Vinho Tinto na Noite Escura escrita por Chaos Devacelli


Capítulo 4
Reação


Notas iniciais do capítulo

Como prometido, aqui está o capitulo 04! Feliz 2017!! :)



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Vi seus olhos. Eram negros, tão escuros que pareciam brilhar de certa forma. Sua pele era alva, extremamente pálida, quase translucida. O rapaz que via a minha frente era alto e magro, seus cabelos repicados caiam sobre seus olhos em duas franjas, e eram tão escuros quanto estes, pretos com um brilho azulado sobre a luz. Lábios finos, nariz arrebitado e expressão séria.

Eu simplesmente não conseguia parar de encara-lo.

— Uchiha Sasuke – a voz do professor me tirou do transe – a partir de hoje ele será o novo colega de vocês, espero que todos o tratem bem.

— É um prazer conhece-los – o novo aluno falou. Sua voz era grave, rouca e firme, mas ainda sim suave. Assim que falou, o vi se curvar fazendo uma reverencia para a turma. Alguns lhe desejaram boas vindas, algumas meninas já suspiravam e alguns meninos lhe lançavam olhares com certa inimizade. Eu apenas o observava sem reação.

Ao se erguer seus olhos vagaram pela sala, como se procurasse por algo, então seu olhar parou, encarando em minha direção. Seus olhos pareciam me atravessar, como se visse minha alma. Um arrepio passou por minha coluna. Um instante depois ele se virou para nosso professor e perguntou algo que não consegui ouvir, e este apenas fez uma confirmação com a cabeça.

Com passos firmes Sasuke veio em minha direção. Meu corpo ficou tenso. Fiquei paralisado tentando não olhar em seus olhos. Quando dei por mim, o vi puxar a cadeira do lugar vazio a minha frente. Antes de se sentar, o vi lançar-me um olhar pelo canto do olho. Virei rapidamente o rosto para a janela, tentando evitar a todo custo encara-lo.

Passei toda a manhã estático, uma estátua viva. Sasuke não olhou ou falou comigo durante todo esse período. Gaara permaneceu ao meu lado todo o tempo, mas nada disse, mesmo no intervalo quando Sakura nos chamou permanecemos ali, Gaara, Sasuke e eu, mas ninguém se manifestava.

Quando o sinal anunciando o intervalo do almoço soou, todos começaram a sair enquanto permanecia sentado, assim como os rapazes um a minha frente e outro ao meu lado.

Gaara levantou-se e sentou em minha mesa. Senti uma de suas mãos em meu ombro e olhei em seus olhos.

— Você está bem Naruto? – meu amigo ruivo perguntou. Sua voz estava tensa e preocupada.

Antes que pudesse responder, a cadeira a minha frente foi empurrada, o moreno que nela sentava se dirigiu a porta. Segundos depois, ele sumiu.

Senti uma leve pressão em meu ombro e me virei para Gaara que ainda esperava uma resposta. Soltei um suspiro e senti meu corpo relaxar. Olhei para meu amigo e lhe lancei um sorriso.

— Estou bem sim – coloquei um braço atrás da cabeça e forcei um pouco mais o sorriso na tentativa de parecer convincente.

Percebi que Gaara não se convenceu, mas também nada disse, apenas pegou nossas coisas e me puxou pelo braço em direção a saída.

Me deixei ser guiado até onde estavam nossos amigos. Gaara e eu nos sentamos em nossos lugares de sempre logo após comprarmos nossa comida. Agradeci aos céus por Sakura e Ino estarem animadas e manterem as atenções de todos a mesa nelas.

Comi em silêncio sem realmente escutar sobre o que minhas amigas tagarelas tanto falavam, até que escutei um nome: Sasuke.

— Ouvi dizer que ele é um gênio – Sakura falou.

— Além de lindo, é inteligente! – Ino tinha uma expressão sonhadora no rosto.

Me senti desconfortável. Não queria admitir o que se passava em minha mente desde que o vira. Tudo parecia irreal demais...

Sem falar nada me retirei da mesa, sabia a onde ir. Queria ficar um pouco sozinho, e o jardim era o melhor lugar pra isso. Me sentei encostado na grande cerejeira afastada e deixei minha mente se acalmar. Simplesmente tentei não pensar em nada.

A tarde o clima pareceu menos tenso, consegui pensar com mais clareza. Estava disposto a deixar minha mente afastada de alguns assuntos por hora, manteria o máximo de atenção que conseguisse nas aulas.

Agi naturalmente durante todo o segundo periodo. Sasuke permaneceu em seu lugar, sem me olhar novamente, alguns amigos vinham falar comigo e cumprimentavam o novato a minha frente, que sempre respondia formalmente, mas eu mesmo ainda não havia falado com ele. É difícil admitir, mas estava extremamente envergonhado com o modo como me comportei durante a manhã. Não estava preparado pra falar com ele. Não ainda.

Aquela tarde, não teríamos aula de economia doméstica, já que a professora Naoko havia trocado o horário com o professor Kakashi, que leciona Língua Japonesa, então a última aula não seria tão boa quanto eu esperava, mas também não seria de todo ruim.

Durante o intervalo conversei um pouco com Sakura que estava acompanhada de Ino. Ambas deram suas boas vindas ao novo colega, e enquanto falavam comigo lançavam rápidos olhares em direção ao moreno.

Assisti a segunda aula do dia com o professor Kakashi tentando ao máximo não focar em nada além da matéria.

E enquanto o professor terminava de dar os últimos avisos da aula, vi Sasuke pegar suas coisas e se levantar rapidamente indo em direção a saída. Instantes antes dele chagar a porta, ouvi o alarme soar anunciando o fim das aulas.

Ao chegar em casa me sentia estranhamente inquieto. Sempre que fechava os olhos duas imagens vinham a minha mente. Uma delas era Sasuke, meu novo colega de classe. Queria cumprimenta-lo, ser simpático, desfazer qualquer primeira má impressão. A outra... Bem, essa era mais comum pra mim. O garoto de cabelos negros e manto de mesma cor, o garoto dos meus sonhos, o garoto igual a Sasuke.

Seria muita tolice imaginar que fossem a mesma pessoa? Meu cérebro insistia em dizer que sim. É loucura. Não é racional imaginar tal coisa. Mas era exatamente isso que me incomodava. Sasuke não me era estranho, ao contrário, era bastante familiar. Afinal, tenho visto seu rosto constantemente a semanas. Sempre em meus sonhos. Essa era uma certeza que quem ditava não era meu cérebro, e sim, que crescia dentro do meu peito.

Um sentimento de ansiedade tomou conta de mim. Tudo na minha vida sempre foi normal, mas acho que isso vai mudar em breve. Estava quase contando as horas para o dia seguinte. Eu queria vê-lo, o garoto saído dos meus sonhos.

Aquela noite, como nas anteriores, voltei a ter o sonho que já se tornou tão familiar.

Estava escuro, não havia luz, um túnel ao qual não havia fim. Corri o mais veloz que pude, mas minhas pernas estavam fracas. Avistei uma pequena saída envolta em galhos e plantas. Tentei tirar aquilo do caminho mas não conseguia, ficava apenas com as mãos cada vez mais machucadas.

Senti alguém atrás de mim, mas não tive medo. Com suas mãos ele abriu caminho pela saída bloqueada e deixou aquele local andando calmamente. Caminhei até o lado de fora e fitei o céu nublado acima de mim, sentindo as gotas da chuva que acabara de começar.

 Quando olhei pra frente vi a pessoa de manto ao longe caminhando em um ritmo suave. Comecei a seguir em sua direção, mas estava cansado e não conseguia alcança-lo. Queria agradecer a ajuda. Eu sabia quem estava ali, em baixo daquelas vestes, mas minha corrida não adiantava.

Senti minhas pernas travarem e caí de joelhos. Olhei pra frente e vi que aquele a quem eu seguia parado em uma clareira. Ergui a mão tentando chegar mais perto, e o vi se virar.

Ele abaixou o capuz de seu manto e vi seu rosto pálido e cabelos negros como o breu. Não conseguia ver seus olhos, mas sabia que eram tão escuros quanto suas vestes.

Eu estava de joelhos, minhas mãos machucadas estavam apoiadas no chão. Tentei levantar e correr em direção aquele garoto mais uma vez, mas assim que me pus em pé acabei por cair novamente.

Lagrimas teimosas começaram a cair sobre meu rosto. Estava frustrado por não conseguir. Eu precisava alcança-lo.

De repente vi apenas uma mão estendida a minha frente. Levantei a cabeça e lá estava ele.

Segurei sua mão e senti o calor que ela emanava. Sua pele pálida mais parecia mármore coberto de seda. Tão confortante. Passei os braços por sua cintura o abraçando, e fui retribuído. Com a cabeça sobre seu peito e vi penas negras sobre o chão. Ergui a cabeça tentando ver seu rosto, mas a franja ainda lhe cobria os olhos. Senti uma de suas mãos sobre meu rosto e o vi sorrir.

E de meus lábios, apenas um nome foi sussurrado ao vento em meio aquele abraço:

— Sasuke.


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Notas finais do capítulo

O cap. 05 ainda está sendo escrito. Desculpem qualquer atraso mas é que tenho meu próprio ritmo e rotina. Nos vemos no próximo!!!



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