Acordei com suor escorrendo pela minha testa. Mais uma vez não consegui dormir...

            Peguei meu celular na escrivaninha e vi que ainda eram 05:00hrs. Me deitei novamente ciente que não conseguiria voltar a dormir. Só iria pra escola em três horas, não tinha ideia do que fazer até aquele horário.

            Permaneci deitado por alguns minutos, não sei exatamente quantos, até que decidi tomar um banho. Permaneci um bom tempo na banheira tentando relaxar um pouco mas me sentia muito agitado por dentro.

            O que significa aquele sonho? Por que sempre sonhava a mesma coisa? E quem é aquele garoto? Não conheço ninguém que se pareça com ele. Algumas perguntas sempre se repetiam em minha cabeça por continuarem sem resposta. Por mais que tentasse não conseguia ver sentido nas coisas que vinham acontecendo comigo ultimamente.

            Estava cansado de pensar naquilo. Sair pra respirar um pouco de ar puro talvez ajudasse. Me arrumei sem pressa, estava cedo, mas seria bom sair logo pois poderia dar um passeio e comer algo na padaria próxima a escola.

            Já com uniforme, cabelos penteados, limpo e perfumado, peguei minhas coisas e parti rumo ao metrô. São só dez minutos de viagem do meu bairro até o bairro onde fica a escola. Enquanto andava cumprimentava alguns conhecidos que moravam no mesmo prédio que eu ou que moravam na vizinhança. Podia estar cansado, mas não era por isso que deixaria de ser simpático.

            Os minutos passaram voando. Quando dei por mim já estava em rumo a padaria tomar meu café da manhã. Mesmo sendo muito cedo ainda vi alguns alunos da Aoba e de outras escolas próximas que também estavam fazendo sua primeira refeição do dia ou comprando algo para comer mais tarde.

            Fui a bancada fazer meu pedido e me sentei em um dos bancos enquanto esperava, após receber e pagar comecei a comer ali mesmo. Havia pedido pãezinhos de presunto e um café com leite médio. O dia ia ser longo e não podia ficar com sono. Assim que terminei de comer sai com o que restava do meu café, e segui em direção a escola enquanto terminava de beber aquele líquido morno.

            Quando entrei vi alguns alunos que já haviam chegado conversando. Dei “bom dia” aos que conhecia enquanto ia em direção a sala da minha turma. Sala 2-A.

            Ao chegar vi que estava vazia, nenhum dos meus colegas tinha chegado ainda. Sentei em uma cadeira mais ao fundo perto da janela e ali fiquei perdido em pensamentos. Bem, até ser atacado por traz em um abraço sufocante!

            - NARU! – escutei a voz de minha agressora que me apetava forte contra o corpo.

            - Sa-Sakura... Tá. Me. Sufocando... – tentei dizer me debatendo um pouco.

            - Ops, me desculpe! – ela respondeu me soltando – fazia muito tempo que eu não te via. Estava com saudades.

            - Também estava com saudades – respondi sorrindo. Sakura é minha melhor amiga desde que entrei na Aoba, foi uma conexão quase que instantânea quando nos conhecemos de verdade. A princípio ela não simpatizava muito comigo, mas depois nos tornamos inseparáveis.

            - Naru, sua cara tá péssima. – ela me olhou interrogativa. – O que andou fazendo nas férias?

            - Nada demais. É só que andei tendo insônia.

            - Tem certeza que é só isso? Você parece mais magro. Cansado.

            - Não se preocupe, eu estou bem. Sério! – tentei tranquiliza-la. Não adiantaria falar dos meus problemas.

            - Se você diz... – ela suspirou – Mas me conta, por onde andou? Não tive notícias suas por semanas.

            - Eu passei as férias em casa mesmo. Não estava afim de viajar.

            - Nossa, seu eu soubesse teria ido te ver.

            - Não se preocupe com isso!

            - Olha, quem é vivo sempre aparece. – ouvi aquela voz e vi meu amigo Gaara se aproximar.

            - Oi Gaara – o cumprimentei.

            - Faz tempo em Naruto?! – ele disse colocando o braço em volta do meu pescoço sentando ao meu lado na mesma cadeira.

            - Realmente – respondi sorrindo. Sempre era bom vê-lo.

            - Ei Gaara, – Sakura começou a falar chamando nossa atenção – sabia que o Naru passou as férias inteiras em casa?

            - Não acredito nisso. Se soubesse tinha te chamado pra viajar comigo e meus irmãos – vi meu amigo ruivo me olhar como quem não quisesse acreditar no que ouvia.

            - Tudo bem. Eu quis assim. – falei.

            Eu e meus amigos ficamos ali conversando, matando a saudade, eles contavam como haviam sido suas férias e eu apenas ficava escutando. Contente por velos felizes.

            Quando escutamos o sinal tocar, Sakura foi se sentar em uma das cadeiras da frente e Gaara sentou-se na cadeira ao meu lado. Adorava tê-los como amigos. Sakura era muito inteligente, uma das alunas mais aplicadas da turma, e também uma das mais lindas, com seus olhos verdes, cabelos em um tom claro de rosa e corpo cheio de curvas. Já Gaara era um aluno mais comportado, sempre quieto mas ainda sim simpático. Ele não é do tipo que sorri muito, mas seus olhos verdes sempre sorriem quando está com os amigos.

            As aulas foram passando rápido, me mantive ocupado a manhã inteira. No almoço me sentei com alguns colegas de turma. Entre eles estavam Sakura e Gaara, além de alguns outros amigos meus, como Hinata, Neji, Shikamaru, Kiba e Ino.

            Durante o segundo período, fiz minhas atividades e tive minha aula favorita: economia doméstica. Algumas garotas sempre se surpreendiam com minhas habilidades na cozinha. Para comemorar o retorno as aulas a professora Naoko nos passou uma receita de mousse de chocolate, e foi ótimo poder fazer uma sobremesa. Pode até parecer estranho pra um garoto gostar de cozinhar, mas eu amo coisas gostosas, então sempre tento aprender a preparar novas delicias, que no final sempre serão para a minha própria satisfação e de quem comer comigo.

            Assim que as aulas acabaram me encontrei com Gaara na saída. Iriamos voltar juntos, pelo menos até o metrô.

            - Ei Naruto, o que tá acontecendo? – rápido e direto. Bem a cara dele fazer algo assim.

            - Como assim Gaara? – fingi não saber do que ele falava.

            - Você não tá bem. Da pra ver na sua cara. E nem vem dizer que é “por causa da insônia” por que sei que não é só isso.

            Não dava para esconder nada dele. Aqueles olhos pareciam capazes de enxergar tudo o que eu tentava esconder.

            - Eu... Eu tenho tido pesadelos. – falei enquanto andávamos tentando fazer parecer algo banal.

            - Como assim? Que tipo de pesadelo? – perguntou-me com uma clara curiosidade.

            - Não é nada demais. Só um sonho ruim que não me deixa em paz.

            - Me conta Naru! – ele quase nunca me chamava assim, só quando queria alguma coisa.

            - Olha Gaara, é só um sonho chato sem nada de especial. Não tem nada demais. Só me incomoda, entende?

            - Se não quer falar eu entendo. Mas se você precisar sabe onde me encontrar. Não gosto de te ver nesse estado.

            - Obrigado Gaara – sorri para meu grande amigo.

            Andamos um ao lado do outro em silêncio até chegarmos a entrada do metrô. O ruivo mora ali perto, por isso sempre me acompanhava.

            - Bem, já vou indo – falei olhando para meu acompanhante.

            - Tudo bem – ele me puxou pra um abraço, e me surpreendi ao sentir um beijo na bochecha. – Até amanhã Naru!

            Gaara correu e me deixou ali, parado em meio as pessoas que se dirigiam a estação. Sorri. Ele realmente é um ótimo amigo.

            Cheguei em casa exausto. O dia havia sido bem puxado. Me deitei no sofá e liguei a tv. Assisti alguns minutos do noticiário sem realmente prestar atenção no que estava passando. Apesar do cansaço, estava me sentindo bem.

            A sensação de estar com meus amigos me animava, era bom se sentir querido.

            Aproveitando-me esse momento de disposição, comecei a adiantar meus deveres e fazer minhas obrigações como dono de casa.

Ao ver aquele local em completa ordem e calmaria acabei me distraindo em pensamentos. Seria bom ter alguém com quem dividir esse lugar, se sentir sozinho é horrível. Mesmo já vivendo dessa maneira a um bom tempo é difícil se acostumar.

Deixei essas ideias de lado e decidi que iria jantar fora. Queria passar mais algum tempo com na companhia de alguém, ter com quem conversar um pouco. Peguei meu celular e disquei rapidamente o número de Sakura.

— Naru? – ouvi ela falar ao atender.

— Oi Sakura, boa noite. – respondi transmitindo alegria na voz.

— Boa noite. Que milagre é esse você me ligar? – ela questionou e percebi que ela ria de leve enquanto falava.

— Ah, queria saber se você não gostaria de sair para jantar comigo?

— Nossa, fico lisonjeada com o convite. Mas infelizmente não posso. Hoje vou ter um compromisso em família. – fiquei triste por saber que não teria companhia – Desculpa Naru.

— Tudo bem Sakura, não se preocupe – fiz o possível para que mante-se o tom alegre. Não era culpa dela.

— Quem sabe na próxima?! – sua voz soou chateada. Ela não devia se importar tanto.

— Certo! Depois marcamos então!

— Desculpa mesmo Naru. Amanhã a gente se fala?

— Claro. Até amanhã.

— Até.

É. Parece que meus planos foram por agua a baixo... Disquei rapidamente pra uma pizzaria e pedi uma pizza grande de calabresa e um refrigerante. Não iria mais sair, e também não estava com vontade de cozinhar. Meu estomago esteve bem o dia todo, acho que comer algo do tipo não iria fazer mal.

Minha noite passou rápido. Jantei sem realmente me sentir mal, assisti 2 filmes aleatórios e em um piscar de olhos, já era hora de ir pra cama. Já deitado me lembrei que não havia tomado o remédio pra dormir, mas deixei isso de lado.

Desejei mentalmente que conseguisse dormir em paz. Mas tinha quase certeza que isso não iria acontecer. Fechei os olhos e fui lentamente caindo em sono profundo.

E para o meu espanto, diferente das outras noites, dormi calmo e sem sonhos.

Acordei com o alarme do meu celular tocando, ao desativa-lo, não creditei que havia dormido a noite inteira.

Depois de permanecer alguns minutos deitado, levantei em um pulo e abri minha janela olhando a linda manhã que havia ali fora. Respirei fundo enchendo meus pulmões de ar e sorri.

Talvez o retorno as aulas, não fosse tão ruim afinal.