Andávamos contra o sol, cada um cobrindo o rosto de modo diferente. Eu com a mão, Jyushimatsu com o capuz, Todomatsu com um boné rosa e Karamatsu com os óculos escuros que recentemente começara a usar. Eu caminhava na frente, era a minha obrigação de irmão mais velho de guiá-los, afinal. Vestíamos o uniforme do colégio e estávamos a procura de nossos outros dois irmãos para voltarmos para casa.

Vi a manga de Jyushi levantar-se ao meu lado, apontando para a nossa frente. Não ouvi o que ele falou em seguida, pois ao levantar a cabeça para aquela direção, meu sangue ferveu. A raiva explodiu e comecei a correr, sem esperar ou chamar todos para virem junto, sabia que eles correriam ao meu alcance instintivamente. Parei atrás de um delinquente qualquer, agarrei-o pelo cabelo e empurrei sua cabeça contra o chão.

Levantei meu rosto mais uma vez para a minha frente, ouvi a respiração pesada de meus irmãos chegarem após mim. Encarei os outros delinquentes que agora haviam nos notado, então olhei para Ichimatsu e Choromatsu no chão. Eles estavam sangrando... Trinquei os dentes e tirei uma faca do bolso. E por puro impulso, gritei.

—Não ousem tocar mais uma porra de dedo nos meus irmãos, seus filhos da mãe!

Esfaqueei o primeiro em que avancei, jogando a faca dele para longe, e ouvi o barulho de batalha atrás de mim, todos estavam se ajudando. Procurei por Todomatsu, ele era o único de nós que não sabia lutar bem, isso me deixava preocupado. Mas relaxei ao ver Jyushi ao lado dele, quebrando a cabeça de quem quer que se aproximasse com um taco de beisebol, tão típico, heh.

Com Todo retirado da minha lista de preocupações, corri para o meu irmão caído mais próximo, brigando violentamente com quem se colocasse no meu caminho. Em quatro minutos, enfim consegui me ajoelhar ao lado de Ichimatsu e colocá-lo em meus ombros depois de verificar seus ferimentos. Não havia sido nada grave, só... alguns hematomas, e um galo na cabeça.

Karamatsu cuidaria de Choro, confiava nele para isso. Por enquanto, preciso tirar Ichimatsu daqui...

—Nii-san...

—Ah. Ichi, descanse, tudo bem? - Sorri, mesmo que ele não pudesse ver meu rosto.

Considerei o silêncio dele como um sim e parti dali. Virei-me dentro de segundos para verificar meus irmãos, parecia que estavam acabando, e Karamatsu aproximava-se com Choro nas costas, ele estava muito sério, como sempre que nos envolvíamos numa luta. Ao ver que Ichimatsu estava bem, sorriu e tirou um celular do bolso, entregando-o ao irmão semiconsciente, que pegou o objeto com a pouca força que o restara.

—Recuperei para você... - Karamatsu explicou, sem jeito.

Andamos em silêncio por um momento, antes de ouvirmos uma voz fraca.

—Obrigado...

Não tinha como eu saber se ele estava sorrindo ou não, mas conhecendo bem o meu irmão, ele só deveria estar fazendo isso por dentro e usara uma máscara indiferente para fingir não se importar tanto. Mas só vi Kara sorrir mais.

Jyushi e Todomatsu chegaram, rindo. O que quer que estivessem golpeando lá atrás, já não existia mais. Porém, não dei muita importância, tudo que pude fazer foi ficar preocupado com Choro. A cabeça dele estava sangrando demais...

—Ei, Karamatsu... O Choro está bem?

—Heh, não se preocupe, brother, a cabeça é o único lugar que não consegui estancar o sangramento, ele deve ficar melhor quando chegarmos no hospital.

Quando ele disse isso, é que percebi as mãos e as pernas de Choro, bem como a camisa de Kara. Ele havia rasgado tiras da própria roupa para amarrar nos ferimentos do nosso irmãozinho, como um esparadrapo. Aquilo, no entanto, não ajudava a aliviar a minha preocupação. O que me distraiu mesmo foi Ichimatsu segurar-se em mim com força e encolher-se.

—O-Oy... Hospital, não...

Sorri com esse medo fofo dele e acariciei seu cabelo.

—Relaxa, Ichi, você está bem, nós vamos te levar para casa, é só o Choro que vai para o hospital, ok?

—Oh... Certo. Para casa...

Não consegui conter a risada de alegria que me escapou. Eles estavam bem, todos ficariam bem agora.

—Sim, para casa!

Kara, Todo e Jyushi sorriram para mim também, então suas imagens evaporaram.

Acordei com a luz forte queimando meus olhos. Sentei-me e encolhi-me sobre mim mesmo, de costas para o sol até me acostumar com a luminosidade. Onde eu estava... Ah. Claro. Hehe, eu havia ficado com insônia de novo e saído para caminhar no gramado do pátio do meu prédio. Tinha me deitado para ver as estrelas e apaguei. Sobre o que eu sonhei mesmo?

Levantei batendo as mãos na roupa e olhei em volta, um pouco triste, mas não consegui identificar a causa para tal sentimento... Era um alívio não ter ninguém ali, ou teria que aguentar aqueles olhares ridículos de pena de novo. Não é como se eu estivesse ali por ser louco ou triste, eu estava apenas a fim de ver as estrelas, isso é tudo.

—Haha - Olhei para o céu, com um sorriso forçado - Desde quando eu virei o Ichi? Mentindo para mim mesmo...

Dei alguns passos em direção ao prédio, e parei. O que é esse sentimento? Só de falar o nome de um deles já me doeu tanto, heh, parece que não posso negar que estou com saudades.

É até patético, mas, não acho que eu consiga ir à lugar algum sem a minha família, foi doloroso desde o primeiro instante. Eu fingia que não me importaria se todos morressem, porque eles me tratavam como um idiota, só que isso nunca foi verdade, eu os amo.

Gargalhei diante o pensamento. Meus irmãos são tudo para mim, e isso é hilário, eu os amo e gosto de ser aquele que os protege, e isso é também engraçado. Uma verdadeira comédia. Karamatsu, Choromatsu, Todomatsu, Jyushimatsu, Ichimatsu.

Eu...

Ei, irmãozinhos.

Estou com saudades...

Voltem para mim...

... Tudo bem?

Será como se tudo voltasse ao normal, eu juro.

Hehe, a única coisa estranha que irão encontrar é o seu irmão mais velho chorando feito um bebê, neste jardim vazio.