Coração de gelo escrita por Titania


Capítulo 1
Prólogo


Notas iniciais do capítulo

Primeira história original, universo totalmente original. Espero que gostem.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/710508/chapter/1

A garotinha encarou seu reflexo nas águas cristalinas do lago e se perguntou pelo que parecia a milésima vez, o que havia de diferente com ela. Os cabelos negros e a pele amendoada ainda eram os mesmos do clã Rumenova, apenas os olhos verdes eram únicos, eram apenas dela mas não poderiam ser o suficiente para causar todos os olhares e comentários de reprovação. 

"Não se associe com essa garota."  Diziam os adultos. 

"Ouvi dizer que ela possui uma marca." Outros sussurravam á espreita. 

"É bela para uma criança que carrega uma maldição." 

"Não vá até o lago enquanto as outras crianças estiverem lá." Sua mãe ordenava. 

"Mas está escuro quando elas saem de lá." A garota murmurou sentindo-se pequena. 

A mãe sorriu como se ela tivesse contado uma doce piada. "Meu Sol... Isso não faz diferença quando você é a mais forte e a mais inteligente delas, um dia você será Alfa da aldeia." 

Ela não entendia como isso poderia acontecer uma vez que era a única em todo o clã que os dons licantropes não haviam se manifestado enquanto o atual Alfa da aldeia era um sábio e destemido lobo, mas naquele momento encarando os familiares olhos castanhos da mãe, ela soube que poderia ser o que quisesse. 

A criança trouxe seus pensamentos de volta e mergulhou no lago como se pudesse purificar a alma. Inicialmente a ideia de ir ao lago sozinha quando já estava escuro a pertubava, lhe causava arrepios mas agora era como um amigo, tornara-se o único que a ouvia ainda que silenciosamente. 

"Por que não fala comigo?"  Perguntou-lhe da primeira vez.  "Você também vai me ignorar, não vai?" 

Com o passar do tempo entendeu que ele não respondia apenas porque não era capaz mas ela ainda podia sentir que suas águas lhe envolviam em um abraço toda vez que ela mergulhava. Era sempre a garota marcada, a filha da serpente, a herdeira da maldição mas quando estava ali era apenas uma criança como todas as outras. 

A menina se assustou quando permitiu-se abrir os olhos e voltar a realidade, a noite havia caído, o silêncio além dos ruídos de animais e canto dos pássaros era ensurdecedor, a aldeia nunca havia estado tão silenciosa. 

Algo estava errado

Um agudo grito infantil fez a pele dela se arrepiar enquanto seu estômago se contorcia, não era algo comum de se ouvir na aldeia, ela recuou um passo encarando o caminho de volta para casa, "Você será Alfa da aldeia um dia", A voz da mãe invadiu sua mente. Ser Alfa exigia sabedoria e coragem para viver pelo clã e protege-lo mesmo que isso lhe custasse a vida. Ela seguiu á Oeste de onde o grito havia soado, era apenas uma garota de sete anos e um punhal em mãos mas a chama da coragem que ardia em suas veias era gritante. Ao se aproximar da plantação de ervas medicinais avistou o que parecia uma garota, talvez com a sua idade mas não era uma criança da aldeia, a pele pálida como a de um fantasma e os cabelos claros como o Sol lhe informavam isso. A menina estava encolhida contra uma árvore, do braço ferido escorria uma grande quantidade de sangue, á sua frente uma enorme onça pintada a encurralava como a predadora que era. Naquele momento ela não sentiu medo apenas o desejo de proteger aquela garota, seus pés se moverem quase que involuntariamente e ela se enfiou entre a criança e o animal, não sabia como aquilo seria, uma vez que diferente de todo o clã ela não possuia propriedades licantropes. Seu coração ameaçava rasgar a pele equanto ela fitava a onça nos olhos, os punhos cerrados a ponto das unhas cortarem a pele, não vou recuar, não vou recuar, ela repetia mentalmente. Algo estava acontecendo com seu corpo, podia sentir, um calor parecia irradiar dela e a testa queimava como se estivesse sendo marcada com ferro, o animal recuou como se tivesse sido ferido e desapareceu assustado. 

Abaixou-se e encarou a garota que parecia olha-la como se fosse um ser distante. 

"Você está bem?" Perguntou mas a outra não respondeu. 

Ela vai me ignorar, você também não, por favor. Implorava sileciosamente para si, passara toda a vida sendo ignorada e agora torcia para que esta garota fosse diferente. De repente esqueceu-se de tudo sobre ser a criança amaldiçoada do clã enquanto era bombardeada por uivos jamais ouvidos na aldeia, uivos de dor. Virou-se para retornar de onde viera mas pequenos dedos se fecharam ao redor do seu pulso. 

"Shhi..." A estranha sussurrou enquanto puxava-a na direção oposta. "Eles vão machuca-la." 

Algo estava errado... Estaria a aldeia sob ataque? 

Ainda que esse pensamento estivesse na sua cabeça ela não recuou, continuou seguindo aquela garota até uma pequena cabana que improvisaram com pedras e palha. Os uivos dolorosos ainda podiam ser ouvidos ao leste onde seu povo havia ficado para trás. 

Sou uma covarde, nunca me tornarei Alfa. 

"Não há nada que você possa fazer." A menina desconhecida disse como se pudesse ler seus pensamentos. "Eles vão caça-los até que o último de vocês esteja morto." 

Todos morreriam, seu clã, sua família... Quem poderia fazer algo assim? Quem era aquela garota? 

"Por que está me ajudando?" Questionou. 

Ela sorriu. "Você me protege e eu te protejo, é assim que funciona." 

Não fazia ideia do que isso queria dizer mas gostou da forma que soou. 

A última coisa de que se lembrava antes de ser engolida pelo sono era a forma como aquela garota havia entrelaçado os dedos nos seus e garantido que tudo ficaria bem. 

✖✖✖✖✖✖✖✖✖✖✖✖

"Achei duas aqui!" 

A menina saltou quando foi desperta pela voz em questão e recuou quando encarou o homem estranho por trás dela, ele esticou o braço para toca-la mas uma pequena mão pálida se colocou entre eles. 

A garota de antes, ela ainda estava ali. 

"Não toque nela." Rosnou a pequena. 

Uma voz feminina e arrogante riu sem humor no mesmo instante que seu rosto se mostrou através da fenda, era estranho mas a menina não conseguia ver seu rosto perfeitamente, era como se tivesse em desfoque por mais que ela se esforçasse. 

"Não vamos machuca-las." A mulher garantiu. "Viemos resgata-las." 

"Resgatar?" Questionou. "Minha família..." 

"A cúpula é a sua família agora."


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Coração de gelo" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.