Lights In The Camp escrita por CharlotteC


Capítulo 8
Sou a astronauta que foi expulsa da órbita


Notas iniciais do capítulo

Heeeeey! Como prometido não estou demorando muito de um cap pra outro hehe.
Gente, preciso que vocês comentem, preciso saber o que vocês acham sobre a história e tal.
Por favoooor!
Enfim, aproveitem a história.
Beijos de luz!!



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Por Nico Di Ângelo:

Eu realmente não sabia o que aquilo significava e eu não sabia se queria descobrir. Mas, como tudo o que o oráculo diz é real e estará ou está acontecendo em algum lugar, eu tinha que acreditar.

— Ok, mas há algo que eu não entendo. Por que alguém ia querer nos avisar disso? – Eu estava uma confusão por dentro. – Se não iríamos poder fazer nada.

— Maus agouros trazem má sorte para semideuses. Aí está explicado. – O oráculo parou por tanto tempo que nós achamos que a conversa havia acabado. Mas não havia. – Tenho uma profecia pra vocês.

— O quê? Outra profecia? Não estamos dando conta nem de uma... – Sussurrei baixo e Júlia me olhou com dúvida. Não tinham dito a ela ainda?

Delfos parou e ficou estático. Sua boca fechou e voltou a abrir e dessa vez, seus olhos que não eram olhos, voltaram a se acender ainda mais do que antes.

Dez semideuses serão escolhidos

Para a glória dos deuses retomar

O início da jornada começa na casa do amor

E nos céus irá terminar

 

Cumprindo missões singulares

De cada deus envolvido

No final de tudo

Terão seus timbres ouvidos

 

Nenhum morrerá por terra

Ou por mar

Mas se a falha acontecer

O Olimpo a ruína despedaçará

 

Todos se reunirão

Antes da caçada solitária da cria da sabedoria

E deverá se cumprir

Em apenas trinta dias

 

Com o objetivo de unir os dois mundos

Na batalha contra a terra

Os deuses lhes servirão missões

Para apenas a nova era

 

A liga dos guardiões

Será o nome que eles clamarão

E com a graça divina

O mundo salvarão

 

A ajuda que precisam

Irão achar em dois mortais

Mas não abusem

Uma vez caído não voltará atrás

  Os olhos de Delfos não se apagaram como eu achei que acontecia sempre que ele terminava uma profecia. Apenas continuaram acesos.

— Há um mapa com o Centauro branco. Digam a ele: O mapa das casas divinas. E ele entregará a vocês o mapa que precisarão para confirmar a profecia. Não tentem desvendar essa profecia agora, será inútil. Mas, lembrem-se dos fatos contidos nela, pois uma vez desencadeados, a profecia deverá se cumprir. Podem ir. – O oráculo mesmo assim não apagou seus olhos ou sua névoa verde. Apenas continuou nos olhando.

Viramos em direção à saída e ele recitou uma última frase:

— Vocês receberão outra profecia. Vocês dois.

— Quando? – Júlia perguntou e imaginei que Delfos estaria rindo por dentro.

— Quando for à hora, princesa. Você e o Rei Fantasma precisarão dessa profecia para realizarem a missão de vocês. – Delfos disse e sua névoa começou a voltar para seu corpo.

Quando viramos de costa, mais uma vez o Espírito de Delfos nos surpreendeu com mais uma charada:

— Olhe bem para aquela que você chama de fantasma, Júlia. Logo mais, ela voltará à vida. – E seus olhos finalmente se apagaram.

...

Por Júlia Martínez:

  Não dormir não era minha intenção. Tudo o que tinha acontecido comigo desde Tisífone ficava rebobinando na minha cabeça sem parar. Eu ia ficar louca. Que espécie de profecia era aquela? Nenhum verso fazia muito sentido para nenhum dos que a escutaram. E por que Quíron ficou estranho ao ouvir que precisaria nos dar o mapa? E aquele lance de que a garota fantasma iria voltar à vida logo mais? AH, NADA FAZ SENTIDO! Eu tinha que arrumar um jeito de ajeitar essa bagunça na minha cabeça, por que eu não estava saindo do lugar nas minhas análises. Talvez o espertalhão do Cara Pálida já tivesse desvendado alguma coisa. Eu iria falar com Nico, mesmo não conseguindo não ser debochada com ele. E por mais que eu tentasse pensar em outra coisa, a profecia ficava retornando à minha mente todas às vezes em que eu me distraía.

Ok, estava na hora de eu ter uma conversinha comigo mesma.

— A fúria vingadora de assassinatos queria me matar.

 Nada normal para um semideus.

— Vi fantasmas que nenhum outro semideus vê.

 Nada normal para um semideus.

— Sonhei com a morte de alguém.

Nada normal para sonhos de semideus.

— O Oráculo me chamou de princesa e eu sabia que não era um bom sinal.

Nada normal para NINGUÉM.

— Eu já tinha ouvido uma profecia e sido escalada para uma possível missão futura quando eu nem sabia quem era meu pai.

Nada normal para o processo seletivo de filhos divinos... E para um semideus.

— Provavelmente o fantasma que só eu vejo vai voltar à vida.

Nada normal pra ordem natural das coisas... Mas, pra mim já deu pra notar que era normal sim.

Provavelmente eu era o centro de alguma coisa muito ruim? Provavelmente.

Eu estava com medo? Pra cacete.

O que eu ia fazer? Treinar e descobrir no que eu era boa, pois quando Cronos retornasse e Tisífone voltasse pra me buscar, eu ia chutar suas bundas.

E quando a criança fantasma voltasse à vida? Eu não faço a menor ideia.

   Em uma semana meu mundo havia virado de ponta cabeça e eu era a astronauta que tinha sido expulsa da órbita. E provavelmente eu ia continuar perdida no universo.

— Está pronta? – Will fez um toc-toc com o punho na madeira no meu beliche e eu saltei do mesmo.

— Não me assusta, Will. – Reclamei com o loiro.

Ele riu.

— Você se assusta tão fácil assim, valentona?

— Eu estava com a cabeça longe. 

— Temos que ver se você é filha de Apolo ou simpatizante do deus do sol. – Ao dizer “deus do sol” Will fez uma reverência e depois revirou os olhos, como se não fosse grande coisa. - Ou que é só uma simples semideusa.

Ele disse agora como se não ser filho de Apolo fosse o fim do mundo.

Ri dele.

— Vamos lá, vou te passar no Just Dance. – Fiz uma dancinha engraçada e Will arqueou as sobrancelhas, gargalhando.

Eu já simpatizava seriamente com ele ou era impressão minha?

— Impossível. – Ele fez uma chave de braço em mim, de leve.

  Desde o incidente no lago onde eu quase coloquei minhas tripas pra fora de tanto pensar naquele sonho horrendo, eu e Will tínhamos passado algum tempo juntos. Nada romântico, ainda bem. Pois, Will me fazia lembrar Theo, mesmo que eles fossem totalmente diferentes.

Will era charmoso e tinha uma certa lábia, Theo era tímido. Will parecia sempre certo de tudo o que estava fazendo, Theo era inseguro. Mas, os dois eram divertidos e loucos. E eu amava isso.

 Fomos até um canto aleatório no jardim. A grama estava verdinha e o sol quente. Mas, estava um quente gostoso. Havia cavaletes, quadros, lápis, tintas e pincéis espalhados na grama e aquilo parecia normal pra eles. “Imagina, cavaletes e pincéis na grama no meio do acampamento. Puft, acontece sempre.”

— Vamos lá, quero que você me pinte. – Will me entregou algumas coisas de pintura e eu arrumei em um cavalete próximo. – Vamos ver se você é o próximo Van Gogh.

— Acha o quê? Que vou pintar noite estrelada? Eu serei um desastre. – Ri de mim mesma e Will torceu a cara pra mim. – Acho que vou fazer um cover horroroso de Guernica.

— Como sabe tanto sobre pinturas? – Will me analisou como se eu fosse uma aberração engraçada.

— Minha mãe gosta de pinturas. Mas, ela também não pinta. Martínez não pintam, está no nosso sangue. – Apontei para minhas veias para dar um ar mais dramático a cena.

— Você já tentou? – Will me olhou feio.

— Não. – Retruquei e Will fez uma careta e apontou para o pincel.

Quando passei o pincel na primeira cor, Will fez a pose de Cleópatra e sua cara estava tão engraçada que eu desabei de rir. Will estava tentando me distrair do meu presente estado deplorável da mente humana e estava dando super certo. Theo faria a mesma coisa. Que saudades daquele loiro.

— Pinta aí vai. – Will riu e voltou para a pose.

Vez ou outra eu ria, mas tentei pintá-lo. Juro que tentei, mas eu simplesmente não conseguia acertar o efeito luz e sombra. Tudo parecia dar errado e eu sempre puxava demais o pincel o que deixava a linha mais grossa do que deveria.

— Chega, desisto. – Joguei minhas mãos para o ar.

— Deixe-me ver. – Ele correu para o meu lado e olhou para o quadro. – Uau.

— Você gostou? – Eu estava espantada.

— Está uma porcaria. – Ele riu por ter me feito acreditar que tinha gostado.

Peguei o pincel e fiz um ponto vermelho na testa bronzeada de Solace e ele fez cara de bravo.

— Haha. – Fingi uma risada e ele continuou me fuzilando.

— Você não fez isso. – Will passou o dedo no pote de tinta verde e passou no meu cabelo.

— WILL SOLACE, MEU CABELO. EU VOU TE MATAR! – Eu não ligava muito pra tinta no meu cabelo, mas era um motivo pra tentar jogar ele no lago.

Eu realmente não queria correr atrás de Will pelo jardim com um pote de tinta em mãos. As pessoas iam olhar e eu detestava chamar atenção. Tipo, MESMO. Mas, não tive escolha. Ele me chamou pra briga. Passamos uns cinco minutos correndo um atrás do outro e eu já estava ofegante e morrendo de dor de desviado.

— Outch! – Sentei-me no chão e agarrei-me a esperança de não morrer de falta de ar. Ri com meu pensamento.

— Acho que alguém aqui é sedentária. – Will nem ao menos parecia cansado.

— Culpada. – Levantei a mão e coloquei-a na minha barriga que doía com o esforço. Eu tinha corrido realmente rápido atrás dele.

— Relaxa, com uns dias de treinamento você vai pegando o jeito. Semana que vem tem capture a bandeira. Íamos ter hoje, mas... – Will interrompeu sua fala.

— Por causa de Charles? – Meu coração doeu ao lembrar do garoto que nem conheci.

— Sim. – Will balançou a cabeça e seu cabelo loiro bagunçou um pouco. Ele pareceu recobrar o sorriso. – Pintar não é pra você. Que tal cantar?

Hm, eu gostava de cantar.

— Ok. Vamos lá.

Fomos até o chalé de Will e ele me deu permissão pra entrar. Aqui, algum integrante do chalé tinha que dar permissão pra alguém de fora entrar. Aquilo era demais pra minha cabeça ex-mortal.

— Onde está todo mundo? – Perguntei, adentrando o espaço colorido e sorridente. As cores e os desenhos na parede, o jeito de arrumar os móveis e as coisas deles. Uau, aquilo sim era talento artístico de verdade.

— Estão no campo de vôlei. Há essa hora meus irmãos vão jogar. – Will caminhou comigo até o espaço atrás do chalé.

Havia uma varanda no fundo do chalé. Era um espaço grande e havia muitos instrumentos espalhados pelo chão, mas cuidadosamente protegidos. Vi um violão, uma gaita, um teclado, outro violão, três flautas, mais um violão, outra gaita, um amplificador e mais outros instrumentos. Aquilo no canto era um VIOLINO?

— Uau. – Eu estava de boca aberta. Aquilo tudo era incrível. Tinham tantos instrumentos e objetos... – Vocês têm um amplificador?

— Emma tem uma guitarra, mas ela nunca deixa espalhada por aqui. Tínhamos muitos objetos de música clássica, agora temos também modernos. Mas, não tocamos na fogueira.

— Por que não? – Perguntei, olhando curiosa aquela pilha inexplorável de coisas que eu gostaria de dedilhar.

— Por que só tocamos músicas clássicas, para os deuses, pra acalmar e essas coisas. Não é como se fôssemos lá pra cantar Britney Spears. – Will deu de ombros.

— Ok, Britney é mais complicado porque o som dela não é muito instrumental. Mas, poderiam tocar Foo Fighters. – Indiquei, sorrindo. Era um bom som.

— Não fazemos isso. – Will pareceu pensar no assunto.

— Somos um acampamento de jovens, cantar músicas modernas seria legal também, não? – Disse rindo enquanto encarava o amplificador.

— É verdade, não sei como não pensei nisso antes.

— Will, estou brincando. A tradição é antiga, eu acabei de chegar. Não estou querendo mudar nada por aqui. – Tentei retirar o que eu disse. Não queria trazer problemas para Will ou estragar o divertimento dos campistas.

— Não, você tem razão. Vou falar com Quíron amanhã. – Will sorriu pra mim e sentou-se em um banco de madeira, me chamando mais para perto. Ele pegou um violão e dedilhou o mesmo, com gosto. – Diga uma música.

— Pode ser brasileira? – Perguntei com um sorriso gigante no rosto.

Que saudade das músicas brasileiras, meu Deus. Ou melhor, meus deuses.

— Pode, mas vou ter que procurar a cifra. – Will disse e voltou a olhar para o violão.

— Ela só quer paz, de Projota. – Falei e Will torceu o nariz já que ele não sabia falar português.

Pegou um pequeno quadro com mais ou menos trinta centímetros de comprimento e vinte de altura.

— Escreva o nome aí e a cifra vai aparecer juntamente com a letra. Coloca na sua língua pra música certa aparecer. – Ele disse e eu fiz o que ele mandou.

Parecia loucura. A pequena lousa estava em branco e assim que eu escrevi o nome da música e do rapper, o que eu tinha escrito apagou-se e a letra começou a surgir no quadro, juntamente com a cifra. Meu queixo estava caído. De novo.

— Isso é incrível. – Falei apontando para a lousa.

— Presente de Apolo. – Will deu um sorrisinho e começou a treinar os acordes.

E de repente, por um milésimo de segundo, eu quis saber quem era meu pai. Mas passou rapidamente.

— Pode começar a cantar junto comigo? – Will direcionou seus olhos azuis para mim.

— Vai cantar em português? – Perguntei, chocada.

— Não, vou tocar. Você canta. – Ele riu e começou a tocar os acordes e eu logo me lembrei da música e de como eu gostava dela.

Puxei o ar para começar a cantar junto com o som suave que saia do violão de Will.

Ela é um filme de ação com vários finais
Ela é política aplicada em conversas banais
Se ela tiver muito a fim, seja perspicaz
Ela nunca vai deixar claro, então entenda sinais

  Will me olhou com os olhos esbugalhados e um sorriso no rosto. Fiz cara de dúvida e ele apenas me disse para continuar.

É o paraíso, suas curvas são cartões postais
Não tem juízo, ou se já teve, hoje não tem mais
Ela é o barco mais bolado que aportou no seu cais
As outras falam, falam, ela chega e faz

  Fiz a pausa da música e puxei o ar novamente.

Ela não cansa, não cansa, não cansa jamais
Ela dança, dança, dança demais
Ela já acreditou no amor, mas não sabe mais
Ela é um disco do Nirvana de 20 anos atrás

Não quer cinco minutos no seu banco de trás
Só quer um jeans rasgado e uns quarenta reais
Ela é uma letra do Caetano com "flow" do Racionais
Hoje pode até chover, porque ela só quer paz

Hoje ela só quer paz
Hoje ela só quer paz
Hoje ela só quer paz
Hoje ela só quer

  Enquanto eu cantava, fechava os olhos e me mexia sentada na cadeira à medida que eu sentia a música. Às vezes eu fazia movimentos com as mãos ao som da música.

Notícias boas pra se ler nos jornais
Amores reais, amizades leais
Ela entende de flores, ama os animais
Coisas simples pra ela são as coisas principais

Sem cantada, ela prefere os originais
Conheceu caras legais, mas nunca sensacionais
Ela não é as suas nega rapaz
Pagar bebida é fácil, difícil é apresentar pros pais

Olhei para o rosto de Will durante as pausas pra ver o que ele achava. Mas voltei a fechar os olhos pra cantar com tudo o que eu tinha no meu humor momentâneo. Senti a música do fundo do meu interior desconhecido.

Ela vai te enlouquecer pra ver do que é capaz
Vai fazer você sentir inveja de outros casais
E você vai ver que as outras eram todas iguais
Vai querer comprar um sítio lá em Minas Gerais

Essa mina é uma daquelas fenomenais
Vitamina, é proteína e sais minerais
Ela é a vida, após a vida
Despedida pros seus dias mais normais
Pra que mais?

  E por um momento, não havia nada mais. Não havia guerra se aproximando, não havia sonhos ruins, não havia fantasmas sorridentes, não havia nem sequer monstros que estariam pensando em me matar nesse minuto. Só havia eu, minha voz, a letra e o som do violão. Até Will havia sumido por um momento. O momento em que eu era eu mesma cantando.

Ela não cansa, não cansa, não cansa jamais
Ela dança, dança, dança demais
Ela já acreditou no amor, mas não sabe mais
Ela é um disco do Nirvana de 20 anos atrás

Não quer cinco minutos no seu banco de trás
Só quer um jeans rasgado e uns quarenta reais
Ela é uma letra do Caetano com "flow" do Racionais
Hoje pode até chover, porque ela só quer paz

Hoje ela só quer paz
Hoje ela só quer paz
Hoje ela só quer paz
Hoje ela só quer paz

  Terminei a música sem fôlego e dei um sorriso. Eu gostava muito de cantar. Muito. Abri os olhos e encarei a multidão dos filhos de Apolo ao redor de nós dois. Eu estava tão envolvida na música que não percebi aquela quantidade de pessoas chegando. Meu rosto esquentou e eu queria um buraco pra me enfiar.

— Isso foi demais. Sua voz... É demais. – Will riu e me deu um abraço.

— Eu... – Não consegui falar e os campistas só me encaravam. Vou surtar agora.

— Tem certeza de que não é nossa irmã? – Perguntou uma garota para mim.

Sorri com isso, não sabia o que fazer.

— Por que escolheu essa música? – Will disse e lembrei-me que ele não havia entendido nada já que a música é brasileira.

— Eu me vejo nessa música. – Sorri pra ele e meu rosto esquentou de vergonha.

— A gente pode tocar algo mais agitado com a minha guitarra, o que acha? – A tal Emma perguntou a mim e eu não sabia o que responder.

— Ah... – Travei.

— Sim. Pega lá Emma, vamos tocar algo como... Quem sabe Foo Fighters? – Will sorriu pra mim e foi ajudar sua irmã Emma com o amplificador.

E passamos a tarde ali, cantando e brincando. Eu queria ser filha de Apolo. Eu tinha que ser, queria cantar com aquele grupo e rir com eles e aprender a tocar algo. Eu queria isso.

...

Por Percy Jackson:

  Annabeth estava animada para me apresentar sua nova amiga. Ela tinha dito que Júlia Martínez era engraçada, sincera, barraqueira, louca e carismática. E que se parecia comigo. Não entendi o porquê. Estava lá eu, na areia da praia sentado e com a brisa bagunçando meu cabelo. Eu me sentia tão bem perto do mar, mas nesse momento, no mar era o último lugar onde eu gostaria de estar. Pensei em como ia falar a Annabeth sobre o sonho que tinha tido por meses. Contaria a ela e a Quíron essa noite.

— Percy. Essa é a Ju. – Virei-me para ver uma Anne sorridente com uma garota atrás.

Sua pele era morena e meio bronzeada, como a minha. A dela era um pouco mais escura.

Seus olhos bem verdes, como os meus.

Seus cabelos negros e ondulados com cachos grandes nas pontas.

Estatura baixa, sorriso travesso e olhos pequenos.

— Oh, deuses. – Pus minhas duas mãos na boca.

— Ok, eu sou feia, mas não sabia que tanto assim. – Júlia brincou e Anne riu dela, mostrando-lhe a língua. Provavelmente por que Júlia era linda.

— Não. Não. Não. Não. Você. – Apontei pra ela.

Era a garota do meu sonho. Era ela. Maior e mais madura, mas era ela.

Júlia e Annabeth se olharam, confusas.

— Eu ia te contar hoje à noite, Anne. Não deu tempo antes por causa de Charles. Eu. Ela... – Não consegui terminar a frase. Aquilo era estranho demais.

— Eu o quê...? – A garota me olhou confusa.

Annabeth se postou a minha frente:

— Faça algum sentido, Cabeça de Alga.

  Contei a elas todo o meu sonho. Desde Júlia com três anos, correndo na floresta, até ela encontrando-se com um casal que eu conhecia muito bem, só não sabia de onde.

— Como é? – Anne me olhou fixamente e Júlia desabou sentada na areia.

— Era só o que me faltava. – Júlia riu desgostosa.

  Anne tinha me dito que a garota estava no centro de uma maré de coisas estranhas até para semideuses. Mas, era ela no meu sonho. Meus deuses.

— Não é possível. – Eu disse e sentei-me ao lado delas.

— Quem são essas duas pessoas? – Júlia me olhou com seus olhos cintilantes e até elétricos.

— Não sei, sinto que os conheço, mas não sei de onde. – Olhei fixamente para Júlia. – Sinto que conheço você de algum lugar, Júlia. – Fui totalmente sincero e Júlia me olhou confusa.

— Eu não me sinto da mesma forma. – Ela passou as mãos pelos cabelos e Anne olhou pra mim.

— Talvez seja a sensação de ter visto ela no sonho. Por isso que você acha que conhece ela. – Anne chutou a resposta, mas não era.

— Não é. – Eu sabia que se olhasse no fundo dos olhos cinzentos de Annabeth, ela acreditaria em mim. As duas me encararam. – Eu conheço Júlia de algum lugar.

— Isso é impossível. Nunca te vi antes e eu moro no Brasil. – Júlia parou por um momento e eu não sabia por que até ela continuar. – Morava.

Fizemos um pouco de silêncio e deixei as duas assimilarem aquela bomba psicológica.

— Sinto muito. – Júlia tirou a franja ondulada do rosto e me olhou. – Pelo seu amigo, sinto muito.

— Obrigado. – Sorri pra ela.

— E sinto muito por você também. – Ela deu um empurrãozinho em Annabeth que a olhou confusa. – Mesmo com tudo isso, ainda teve que cuidar da novata metida a ter sexto sentido.

Anne riu dela.

— Ei, foi legal. – Anne empurrou ela de volta.

— Não, foi não. Devia estar com Percy ou cuidando de si mesma pra assimilar a perda de Charles, mas tinha que ficar atrás de mim só por que alguém lá em cima me odeia o suficiente pra me botar no olho do tornado de uma dimensão paralela meio estranha. – Júlia tinha muita energia e muita lábia. Nossa.

— Ela está acostumada, eu fui você um dia. – Sorri e Anne me olhou com cara feia.

— Sua vida devia ser um livro. – Annabeth disse, olhando pra Júlia.

Eu agora estava de frente para as duas.

— Seria um livro péssimo. Eu não leria. – Júlia riu desgostosa e não foi possível não rir junto a ela.

Passamos a tarde conversando e sim, Júlia era parecida comigo. Por dentro, por fora. E até no mundo surreal de sonhos, ela parecia me acompanhar.

Quem era aquela garota? E por que ela e o casal pareciam ser tão importantes pra mim se eu nem os conhecia?


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Notas finais do capítulo

Quem é esse casal aí? Será que a Júlia está mesmo numa enrascada colossal?
Nos vemos no próximo capítulo.
Beijos de luz!!



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