" Cair, tão fundo e assim desaparecer."

Kuro tinha noção do que se passava, e talvez ali fosse o fim da linha. Ele estava sob um céu cinza e gélido, seus pés estavam sobre um chão extremamente negro. Enquanto andava pelo nada, ia refletindo nas coisas que vagavam por sua mente ali. A sua incapacidade de compartilhar seus caos a seu Eve, em como Mahiru jamais o questionou por nada, sem saber o quanto o gato preto poderia fazê-lo ter mais e mais problemas.
Ele ainda se perguntava do porque Mahiru ter o achado naquela rua, será que o universo não tinha pena dele? Kuro sorriu ao lembrar do entusiasmos e alegria simples que o outro tinha. E logo em seguida veio o "soco" de recordar sua falha em explicar as coisas, em se explicar e dizer quem era ou o quê era, um monstro.
Enfim, parou sua caminhada a lugar nenhum, já sabia que não havia nada ali além dele, e que aquele vasto nada significava o quão desolado o seu mundo era e que o preto intenso sobre o chão era seu próprio caos, aflições e medos.
Ergueu os olhos para cima e encarou o cinza e sorriu. Ali seria seu tumulo sob uma cor tão sem graça, era assim que se via naquele momento.
Fechou os olhos.
" Espero que ele fique bem..."
Começou a lentamente afundar.
O intenso preto o puxava lentamente para si. E assim, Kuro ia lentamente se esquecendo das coisas.
" O quê era mesmo? O quê fiz? Já não me lembro do... quem era mesmo?"
Seu corpo entrava sem pressa, e em nenhum momento ele lutou, pois seu corpo e mente aceitavam aquilo como um presente de alguém.
O tempo passou infinitamente até que enfim todo seu ser fosse tragado pelo chão.
Kuro já começava a perder a consciência, já não se importava com mais nada, um enorme prazer envolvia seu corpo enquanto afundava para o esquecimento.
Até que, sentiu algo. Era bem distante esse incomodo. E o tempo ia passando, e começou a ser mais presente esse incomodo, era como se alguém estivesse a puxá-lo. Ele queria dizer algo para impedir aquilo que o incomodava, mas esqueceu de como era falar.
Começava a desaparecer seu estado de " estar confortável " para um enorme incomodo, alguém o puxava insistentemente.

Quando seus pulmões voltaram a sentir o oxigênio, sentiu uma enorme dor vindo do corpo que recebia aquele elemento e despertava contra vontade. O gato preto voltava aos poucos a consciência e com isso uma vozinha bem baixa, começava a pegar volume e força. Alguém gritava seu nome desesperadamente. Kuro teve vontade de voltar a ficar inconsciente, pois era não um, mas dois enormes incômodos, a dor em seu braço esquerdo e essa voz tão familiar, mas tão incomoda de alta .
Quando enfim seus olhos, tomaram coragem para encontrar quem era o tal ser, foram de encontro a seu braço esquerdo que doía e também de onde vinha o barulho. Kuro demorou muito a focar a visão naquilo. Sua calma estava a se esvair e a dar lugar ao aborrecimento, pois tal pessoa atrapalhou sua paz momentânea.
" Kuro saia logo daí!"
Enfim, após alguns minutos processando, o gato preto entendeu quem era o " incomodo" ,era Mahiru.
Kuro observou duas coisas, o menino com expressão feroz ao encontrar seus olhos e seu corpo que lutava para não sair do lodo preto.
Mahiru se esforçava muito para tirar Kuro daquilo, mas o lodo preto igualmente, se mostrava irredutível a ideia de largar o corpo de Kuro.
O gato preto olhou para seu Eve e tentou formular uma pergunta, mesmo com a sua cabeça muito pesada.
" O-o quê...você-ê faz..a-qui?"
Mahiru o encarou extremante vermelho.
" VOCÊ É UM PREGUIÇOSO, POR QUE NÃO TENTA PRIMEIRO SAIR DAÍ!"
Kuro deu um leve sorriso, era engraçado ver Mahiru tão vermelho daquele jeito. Um pensamento bem distante veio.
" Por que não ajuda-lo? E como faria isso? Meu corpo está uma tonelada mais pesado."
Sorriu e lentamente fechou os olhos.
O mundo de novo havia se tornado escuro, e a paz que antes distante, voltava a tomar seu corpo.
Uma voz bem distante falou com ele.
"Kuro, não durma ! Você não pode afundar nisso ! "
Algo molhado foi ao seu rosto. Isso o incomodou. Abriu lentamente os olhos para descobrir o que acontecia .
E descobriu, era Mahiru chorando.
Pensou.

" Por que mesmo ele está chorando?"
Seu peito doeu ao ver aquela imagem, Mahiru sempre tão alegre agora o puxava entre lágrimas. Seus olhos voltavam a pesar e algo ecoou.
" Ele vai sofrer se você se for, está disposto a faze-lo pagar por você?"
Com o susto Kuro puxou todo o ar que existia ali, seu corpo despertou com o choque do ar a entrar. Seus olhos enfim abriram, e viram um menino chorando e tentando puxar, agora com menos forças e seu corpo a sentir a pressão de ser puxado para baixo.
Ele encarou aqueles olhos com lágrimas.
" Eu te pergunto de novo, por que está aqui ?"
Mahiru se assustou com a voz de Kuro e parou de chorar.
" Eu vim te levar para casa !"
E sorriu.
Kuro sentiu naquelas palavras um calorzinho muito bom. Desejou de fato voltar para casa.
O chão já um tempinho havia parado de puxar o corpo de Kuro para si. Ele entendeu isso quando seu corpo ficou menos pesado. Já conseguia sentir um pouco da cintura para baixo.
" Mahiru, eu tenho meu pecado. Eu não sou aquilo que você pensar ser. Eu sou um monst--"
Mahiru pôs a mão na boca de Kuro.
" Você é meu companheiro, e seja o que for nós lidaremos ! Por isso viva!"
Mahiru puxou um chocado Kuro.
O corpo saiu com uma imensa facilidade, como se até o chão desse força para sair.
Kuro estava deitado de costa no chão. Seu corpo doía, seu pulmão doía e sua cabeça estava começando a ficar mais leve.
" Eu vou estar acabado quando sair daqui. Que dor !"
Mahiru estava a sua frente com a mão estendida para levanta-lo e com um enorme sorriso de triunfo.
Kuro encarou por um tempo aquela mão estendida, mas a segurou e se ergueu.

Agora frente a frente com Mahiru, ele encarou o chão.
" Ahn~ desculpe !"
"Sou eu que peço desculpas, por não ter conseguido te entender melhor antes. Mas agora peço para que deixe-me cuidar das coisas junto a você !"
Kuro se espantou e olhou para Mahiru.
" Você é uma dor na bunda ! "
E saiu andando com um discreto sorriso, logo atrás vinha um Mahiru rindo.