History Lessons escrita por Mares on Mars


Capítulo 1
I


Notas iniciais do capítulo

Capítulo único, pequeno e levinho. Espero que gostem!



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Era tarde. Passava das nove e meia da noite e eles ainda se encontravam na mesma situação de horas antes. Melinda estava sentada no tapete, cercada de papéis e livros de história, com as pernas cruzadas e uma expressão infantil mais do que emburrada. Na verdade, tudo nela parecia infantil. Os cabelos longos presos em um rabo de cavalo muito alto, a camiseta enorme, claramente masculina e um pouco encardida pelo tempo com a estampa do Rolling Stones, que batia-lhe nos joelhos e cobria-lhe por completo o shorts colorido que usava, os pés descalços e as caretas que ela fazia. Para qualquer um que olhasse de fora, diriam que no máximo ela tinha 13 anos. O correto, era que ela tinha 16 anos — quase 17, como ela insistia em lembrar a todos — e poderia a qualquer momento, chutar a bunda de qualquer um que a provocasse. Fora assim que ela entrara no radar da SHIELD. Sendo filha de uma agente da CIA, todas as agências sempre mantiveram um olhar rígido sobre a garota, e quando ela surrou seis garotos mais velhos, grandalhões do time de futebol americano porque eles “foram uns nojentos babacas”, como ela mesma dissera em sua defesa, a diretora da SHIELD, Peggy Carter, fora imediatamente em seu encontro, e fizera-lhe a proposta que mudara sua vida. Isso acontecera uma semana após o aniversário de 15 anos da menina, que gritou e bateu o pé até finalmente convencer sua mãe de que estaria bem na Academia de Operações da SHIELD. Lian e Willian May não aprovaram a ideia de primeira, e francamente, sua mãe ficara até decepcionada pois acreditava que a filha seguiria para a CIA, assim como ela fizera. Mas o que importa é que duas semanas depois, Melinda May transferira-se de seu colégio de bairro para a enorme Academia, e desde então, vinha se esforçando ao máximo para ser uma boa aluna e futuramente, uma boa agente. Era por esse objetivo que passara a tarde toda no chão no quarto de seu melhor amigo, Phil Coulson, dois anos mais velho que ela e dois anos à frente na Academia, lendo por incansáveis vezes uma quantidade absurda de matérias.

— Não, não, não … Melinda, tá errado, de novo — Phil a corrigiu pela enésima vez e ela bufou.

— Então me ensina direito — rebateu com a voz alterada, batendo com força seu lápis no chão. O objeto quicou em um ponto do tapete e rolou para baixo da cama beliche, onde desapareceu.

— Eu já te ensinei, um milhão de vezes — ele respondeu com impaciência, gesticulando com as mãos — Você me ouve, mas não me escuta…

— Ah por favor, não venha com essas frases a lá Sherlock Holmes — ela resmungou e começou a vasculhar seu estojo atrás de um novo lápis.

 

Contendo um suspiro forte e exasperado, Phil mudou sua posição na poltrona que ocupava, apoiando os pés com força no chão e passou a mão direita em seus cabelos cheios. Em um movimento ágil, olhou a hora em seu relógio de pulso. 09:47pm. Droga, eu marquei com a Beth às dez e meia, e eu ainda preciso de um banho. Ele pensou com irritação e arremessou-se para fora de sua poltrona.

— Onde você vai? — Melinda perguntou, erguendo o olhar com seu movimento repentino.

— Eu vou escolher uma roupa pro meu encontro, enquanto você continua lendo — respondeu de forma um pouco rude.

— Você tem um encontro? Com quem? — questionou curiosa e fechou o livro em seu colo, olhando-o com atenção.

— Não interessa — disse e ela insistiu:

— Por acaso é com aquela loira magrela da sua turma? Ela é bonita, mas parece bem burra — provocou e mordeu o lábio inferior, esperando uma resposta.

— Pelo o menos ela consegue decorar o que a sigla SHIELD significava originalmente — rebateu. Ouch!, ela pensou, sentindo atacada — E o nome dela é Beth.

— Beth… Que tipo de nome é Beth? — disse com maldade — Pelo o que eu saiba Beth é um diminutivo de Elizabeth, ou Bethany.

— May! — falou com um tom de advertência e ela riu.

— Quanto tempo você tem antes de ir encontrar com a Beth — ela deu uma ênfase especial ao nome da garota e quase fez uma careta.

— Eu disse que passava pra pegar ela as dez e meia — respondeu — Ainda tem tempo, então vamos lá, de novo: quando foi fundada e escolheram o nome, o que significava SHIELD? — ele perguntou pela décima nona vez e ela revirou os olhos, antes de parar um segundo para pensar e responder corretamente pela primeira vez no dia:

— Supreme Headquarters of International Espionage and Law-Enforcement Division.

— Acertou — declarou parecendo surpreso e ela sorriu, sentindo-se orgulhosa — Ótimo, e o que SHIELD quer dizer hoje em dia?

— Strategic Homeland Intervention Enforcement Logistics Division.

— E sobre qual agência nós fomos fundados?

— SSR. Strategic Scientific Reserve.

— Em qual ano a SSR foi fundada?

— Em 1940.

— Com o objetivo?

— De combater o nazistas, Caveira Vermelha, Hidra e blá blá blá.

— E em qual ano a SHIELD foi fundada, e quais foram os fundadores?

— 1946? — ela respondeu com hesitação — E foi fundada por Howard Stark, Peggy Carter e o Comando Selvagem.

— 1947, mas foi quase… — corrigiu e olhou-a com uma careta — Por acaso você enrolou a tarde toda pra entender isso só pra eu ficar mais tempo te ajudando? — ele perguntou com um tom de provocação, e de sua posição sentada no chão com as pernas cruzadas, ela esticou-se para frente e deu um tapa estalado na panturrilha nua do amigo, que ainda usava os shorts esportivos que usara durante o jogo de basquete do dia. Veteranos vs Calouros, estando ele no time dos Veteranos.

— Não seja tão cheio de si, Philip — rebateu após revirar os olhos e ele riu.

— Você sabe que parece uma criança quando faz isso, não sabe? — provocou e ela deu-lhe seu melhor olhar mortal, o que só o fez rir mais ainda — Definitivamente, parece uma criança.

— Cala a boca Phil, ou então eu retiro o meu acordo de te ajudar pras suas provas de Aerodinâmica e Mecânica Orbital — ela ameaçou e ele gemeu, lembrando-se da quantidade de matérias que tinha pra estudar.

— Eu nem sei porque eu me inscrevi pra essas aulas — resmungou e olhou de relance para a pilha de livros de Engenharia Aeroespacial que tinha em sua mesa de cabeceira.

— Porque você quer ter licença pra ser piloto — Melinda disse com um sorrisinho.

— É, mas nós dois sabemos que isso não vai acontecer, e que o gênio da física aqui é você, e não eu — comentou, parecendo um pouco derrotado, e em um salto, a garota estava de pé.

— Hey! Um sorriso por favor? — ela pediu, aproximando-se do amigo que estava de costas para ela, e colocou-se nas pontas dos pés para apoiar o queixo em seu ombro — Você pode não ser um gênio de física, mas é o melhor aluno das turmas de história e política, e é o único que já conseguiu me vencer no ginásio — disse com um sorriso e ele fez um som que parecia um misto de um riso com um suspiro — E o melhor, você vai se dar bem hoje com a loira gostosa da sua turma.

— Eu pensei que você achava que ela era magrela, e com cara de burra — lembrou-a e ela deu uma risada, voltando a tocar os pés por completo no chão, pois suas panturrilhas começaram a doer devido ao esforço na ponta dos pés, e Phil virou-se para encará-la.

— Eu só tava sendo maldosa, ela definitivamente tem cara de burra, mas não é magrela — disse com um sorrisinho — Você já olhou pra bunda dela? — perguntou, diminuindo o tom de voz e piscou para o amigo.

— É uma bunda muito legal — ele concordou e os dois riram por um segundo.

— Então eu tô saindo agora, vou voltar pro meu dormitório, onde eu vou estudar até não aguentar mais, e amanhã você volta a me fazer milhões de perguntas de história — informou, e logo começou a juntar as anotações que roubara do amigo e a enfiar seus livros pesadíssimos em sua mochila — Ah! E eu vou querer todos os detalhes do seu encontro com a magrela.

— De jeito nenhum!

— Por que não? — perguntou, com um tom de voz ofendido.

— Porque vai parecer que eu tô contando pornografia pra uma criança de 13 anos — respondeu com um tom de brincadeira mas a chinesa fechou a cara em uma careta.

— Eu não tenho 13 anos, eu tenho 17 anos…

— 16 — ele interrompeu para corrigi-la e ela bufou.

— Eu não vejo a hora de você se formar… Só assim pra eu ficar livre da sua encheção de saco — respondeu, fingindo estar irritada.

— Pode ficar tranquila criança, você não vai se ver livre de mim tão cedo — ele disse, repetindo o tom que ela usara — Escreve lá no seu diário: “Phil Coulson prometeu que nunca vai parar de me encher o saco”.

— Claro, pode deixar — rebateu e revirou os olhos, antes de dar as costas para o amigo. Em um movimento, destrancou a porta e antes de sair, virou-se para despedir-se — Bom encontro, idiota.

— É,é… Boa noite pra você, coisinha — respondeu com um sorrisinho.

— Ah! E como um pãozinho de alho. Toda garota adora beijar uma boca fedida — ela provocou, com ironia estourando em sua voz e sem evitar, os dois caíram no riso, e logo em seguida, não havia mais nem sinal de Melinda May naquele quarto, pois ela apressara-se pelo corredor e desaparecera nas escadas. Definitivamente 13 anos, ele pensou com um sorrisinho, lembrando-se da imagem da amiga fazendo caretas, e um segundo depois, voltou a remexer sua gaveta, procurando a roupa ideal para seu encontro com a magrela. Beth… Droga, o nome dela é Beth, e não Magrela. Maldita seja você Mel.


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Notas finais do capítulo

Sempre um prazer escrever pra vocês. Esperando saber o que vocês acharam! Bjs de luzzzz.