Reencontro escrita por ludif


Capítulo 1
Reencontro


Notas iniciais do capítulo

Esse conto tem muito mais a ver com a série do que com o livro. Os caminhos dos personagens estão completamente voltados pra suas versões na tv.


Por algum motivo, não consegui marcar a Arya como personagem. A culpa não é minha u.u



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O Inverno chegara. Após tanto tempo parecendo uma promessa que jamais se cumpriria, ele chegou.  No Norte,havia um ditado muito antigo que diz que o lobo solitário não sobrevive ao inverno e Arya lembrou-se disso quando retornou a Westeros. A necessidade de voltar pra casa duelou com o impulso de vingança. Este venceu e a menina se dirigiu às Terras Fluviais pra entregar o banquete do Rei Rato aos Frey.

O Inverno chegara e Jon sabia o que ele trazia. Mesmo que ninguém acreditasse nele, ele havia visto com os próprios olhos que as histórias da Velha Ama eram tão reais quanto o frio que congelava suas mãos mesmo sob espessas luvas de pele de carneiro. Unido à irmã, ele agora se encaminhava pra retomar sua casa. Podia não carregar seu nome, mas carregava grosso e quente em suas veias o sangue Stark. O Inverno chegou e Jon não era mais um Corvo. Sua vigília havia terminado com sua morte, mas mesmo não mais vivendo sob os votos da Patrulha da Noite, ele ainda defenderia o Reino dos Vivos.  SEU Reino. O Reino do Rei no Norte.

Muitos nomes haviam sido sistematicamente adicionados à sua lista enquanto sua família perecia diante os inimigos. Apenas um restava: Melisandre. Curiosamente por lhe tirar não o sangue, mas a esperança, a inocência que ainda lhe restava nos tempos em que fugia pelo país com Gendry e Torta Quente tentando alcançar seu irmão na Muralha. Ironicamente, assim que colocou os pés de volta, descobriu que a Feiticeira Vermelha estava no Norte, lutando ao lado do Rei Stannis com um exército de selvagens. A história parecia meio inacreditável, mas seguiu seus instintos e subiu o rio em direção ao Norte e às memórias de uma Arya que não existia mais.

Jon jamais esperou ser coroado Rei. Não um bastardo que nem era permitido sentar na mesa com os lordes que agora se ajoelhavam diante dele com reverência e promessas de vassalagem.  Após a derrota dos Bolton, ele esperava convencer Casas o suficiente a segui-lo até a Muralha com seu Exército Selvagem e proteger sua terra dos Outros. Sabia que poderia seguir para o Sul ou atravessar o Mar Estreito pra Braavos ou talvez buscar a tal Mãe dos Dragões da qual recebeu notícias. Mas não o faria. Jon pertencia àquele lugar, com seu céu cinzento e suas árvores-coração. Jon era um Snow. Um bastardo do Norte.

Ela seguia aquele caminho decidida, sem medo. “O medo corta mais fundo que a espada” ainda era seu lema. O professor de dança se foi mas seus ensinamentos – assim como de todos os outros que atravessaram seu caminho e aqueles que a garota descobriu sozinha – eram sua maior força. Na Garganta se deparou com a bruxa. Não pensou, nem hesitou ao fazê-la conhecer seu Deus do Fogo com um simples golpe de Agulha no pescoço. O sangue que escorreu pelo seu pescoço era tão vermelho quanto o Rubi que o enfeitava. A única reação da mulher foi um arregalar de olhos, uma fração de segundos que fez Arya imaginar que ela a reconheceu, até mesmo esperava....

Os homens começavam a ser preparados para a longa viagem pela Estrada do Rei até a Muralha. Se fossem alguns anos atrás, Jon jamais deixaria Sansa sozinha no castelo. Mas era óbvio para ele desde que eles se reencontraram que a ruiva não mais era aquela menina boba que sonhava com príncipes e vestidos. A irmã crescera pela dor e agora se mostrava mais forte que do que a mãe dela jamais fora. Sua influência com o povo e sua inteligência prática destoava muito do rosto doce mas garantia a Jon que ela era uma mulher pronta para tudo.

Numa noite mais calma do que esperada e sob a luz da lua cheia, uivos de uma matilha muito próxima acordaram Arya. E ela soube. Nymeria a encontrara, estava perto e a seguiria. Anos de separação não diminui o elo entre as duas, que se completavam como duas velhas almas. A loba ganhara tamanho como que pra externalizar o crescimento interno da garota. Ao seu lado, Arya parecia ainda mais mirrada porém há muito isso deixou de incomodá-la. Pelo contrário, lhe agradava saber que os inimigos a olhavam e viam apenas uma menininha. Muitos já caíram sob sua lâmina por cometerem esse erro.

Jon ao retornar a Winterfell também retornou ao seu antigo quarto. Apesar das desavenças com a madrasta, o pai lhe garantiu aposentos na ala da família, igual a todos os seus irmãos. Nesse momento, onde o passado parecia inalterado naquele cômodo, como que em um palácio de memórias que lhe deixavam em forte desconforto sobre o destino de seus irmãos: Rob e Rickon mortos; Bran e Arya desaparecidos.Mesmo a Sansa de sua infância nunca retornou a ele, mas uma versão endurecida pelos maus-tratos que apenas homens conseguiam imputar às mulheres.  Ainda em devaneio, sua atenção foi despertada por Fantasma, que uivou alto o suficiente para despertar até mesmo os Stark que repousavam na cripta da família.

Ela seguia a estrada e já era capaz de enxergar ao longe as torres do castelo dos Protetores do Norte. Seguindo o hábito desenvolvido em suas viagens, caminhava pelos caminhos transversais e trilhas menos movimentadas, evitando chamar atenção pra sua presença. Planejava se infiltrar como criada em Winterfell, vigiar e obter informações. Sabia que ninguém a reconheceria se deixasse Nymeria escondida na floresta. Precisava apenas confirmar que a irmã voltara e o irmão era mesmo Rei. Nunca prevera que mesmo tão longe dos muros da antiga casa, a magia dos lobos agiria.

O som era um misto de melancolia e êxtase, saudade e alegria. O elo entre animal e homem fez com que Jon sentisse tudo aquilo sem entender ao certo o porquê.  Seguiu o lobo branco quando o mesmo correu para fora do castelo em direção ao bosque sagrado e teve um surto de júbilo que não lhe pertencia quando Fantasma pulou em direção a outro lobo tão grande quanto ele. Imediatamente Jon reconheceu a loba e sorriu um sorriso triste. Tomado pela animação de seu companheiro lupino, o homem não podia de todo se felicitar. Nymeria voltara pra casa, mas Arya não estava com ela.

Arya não conseguira controlar Nymeria. Apesar das suas súplicas com palavras e pensamentos, a loba gigante correu em disparada ao ouvir o chamado do irmão albino. Ela a seguiu até o bosque e se escondeu atrás das folhas vermelhas árvore-coração quando sentiu, mais do que viu, a presença do irmão mais velho perto do lago. Observou o bastardo sorrir tomado pelo contentamento de seu lobo e sorriu também, simplesmente não podia controlar. A felicidade de ver que Jon estava vivo e bem lhe tomara de assalto, um sentimento quente e profundo que não sentia há tanto tempo que nem sabia que ainda era capaz de fazê-lo. Enquanto as lágrimas derramavam, ela se focou em gravar cada detalhe daquele rosto tão familiar e tão diferente, perscrutando o rosto do seu favorito com a concentração de uma criança que está aprendendo a ler.

 Inspirando o momento como um sinal de esperança e um sinal de boa sorte, o Rei no Norte deixou-se levar por aquele pequeno milagre. Quando encontrou a matilha ainda filhote, Jon sabia que suas vidas estavam entrelaçadas à dos herdeiros Stark e decidiu confiar que sua Arya ainda vivia, e nesse caso, jamais duvidara da capacidade da pequena de se virar nesse mundo... Conhecia o espírito guerreiro da menina, tão miúda e tão determinada. Diante aquela cena, quase podia sentir a presença dela novamente, o calor do abraço de despedida, o sorriso cúmplice, o olhar, tão parecido com o seu e o de seu pai, a única que lhe fazia lembrar que era sim um Stark, independente de quem fosse sua mãe. 

Escondida, a garota conseguia quase que ler os pensamentos do irmão. Sentir o elo que sempre compartilharam e que agora entendia que, de fato, nunca foi desfeito.  Descobrira que o que a movera a continuar não fora a vingança mas a esperança  - velada e encoberta – de um dia chegar a esse exato momento. Ela não pensara, não decidira, nem notara que havia saído de onde estava quando percebeu que os olhos que escrutinava tão atentamente foram tomados por um misto de surpresa e felicidade genuína.

Ele não ouvira o barulho de passos ou de qualquer movimento humano e por isso, apenas por alguns instantes duvidou de seus próprios olhos. A dúvida passou ao perceber que o que via divergia em muito da imagem da irmãzinha guardada em suas memórias. Não se deparava mais com uma menina; embora ainda mirrada, com os cabelos bagunçados e os olhos castanhos idênticos aos  que lembrava, era inegável que encarava uma mulher. Madura, independente, decidida, guerreira. Uma mulher que o olhava de volta intensamente, com olhar profundo e brilhante de lágrimas que representavam tantas emoções que seria impossível a Jon traduzir em palavras. Mas, como sempre fora entre eles, palavras não foram necessárias.

Ela percebeu a mudança na expressão do irmão e não sabia como reagir. Há muito tempo não agia daquela maneira; aprendera a planejar cada passo, antecipar cada reação nos últimos anos em que precisara sobreviver sozinha. Simplesmente não conseguia se expressar. As palavras só não estavam agarradas na garganta porque não saíam do cérebro. Sua mente era uma confusão de excesso e falta de pensamentos. Apenas encarava aqueles profundos olhos castanhos, e sabia, de alguma forma, que eles o compreendiam melhor do que ela mesma .

Naquele momento, ele deixou de ser Rei, Patrulheiro, bastardo, ou qualquer outro título que já lhe deram ou ele aceitou na vida. Naquele momento, ele era só um menino que via pela primeira vez a trouxinha de pano no colo do pai. Uma trouxinha que tinha imensos olhos – da mesma cor dos seus! – e cabelos escuros – como o pai e não vermelhos – como da mãe. Uma trouxinha que sorriu seu primeiro sorriso pra ele. Um menino que nunca se sentiu completo até aquela trouxinha nascer e encher sua vida de alegria e travessuras. Um menino que se antecipou e puxou aquela trouxinha – ela sempre seria sua trouxinha ,e a abraçou forte.Jon estava completo de novo.

 Por tanto tempo fugiu de si mesma, de sua verdadeira identidade, seu nome, sua família. Passou por tanta coisa, conheceu tantos lugares. Lutou, roubou e matou. Perdeu a inocência, a alegria e a esperança. Tornou-se fria e pragmática. Mas tudo desapareceu quando os braços quentes e fortes do irmão a cercaram de amor, carinho e segurança. Desde a morte do pai, vagava buscando algo que nem sabia o que era. Ela agora entendia. Arya, finalmente, estava em casa.


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Notas finais do capítulo

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