Waves escrita por march dammes


Capítulo 17
Intimidade e intimação


Notas iniciais do capítulo

surpresa! capítulo novo adiantado~ ♥ deixem reviews se estiverem acompanhando, por favor ;u; sinto que o site está meio morto e os acessos não tem sido frequentes,, funciono à base de feedback então colaborem por favor aaa. enfim ;w; segredos revelados nesse cap. bora ler?



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/710047/chapter/17

Ficaram sentados durante horas.

A conversa se estendeu tarde adentro e lá pelas tantas, Lance decidiu que não aguentava mais ficar parado.

Se ergueu em um pulo, consequentemente dando fim aos toques discretos e carinhosos que trocavam apenas com as mãos, roçando dedos e palmas e eventualmente trocando carinhos, que eram disfarçados com rubor e desconversa. Keith ficou um pouco decepcionado, mas, se apoiando na rocha, se levantou também, curioso para saber aonde iriam.

Lance aspirou fundo o ar salgado e olhou em volta, com ar de explorador. Keith deixou tombar a cabeça para o lado, esperando uma conclusão.

O pedrgulho em que se apoiavam subia em uma encosta coberta de areia e grama, se parecia com que a que haviam visitado da última vez, mas bem mais baixa. Se estendia mar adentro e impedia que as ondas naquela região quebrassem com muita força na praia. Era como uma “piscina” natural daquela área.

—Por que não subimos a pedra? -Lance apontou- Tá vendo? É plano, dá pra ficar lá em cima.

Encolhendo os ombros, o coreano acatou. Começaram a escalar, primeiro a passos largos, e depois as pedras ficavam um pouco mais íngremes e escorregadias e era preciso apoiar-se com as mãos. Intimamente, Keith admitiria para si mesmo que tinha medo de escorregar e cair. Mas, por fora, se confortava com a presença de Lance, que percebia seu esforço e oferecia a mão como suporte.

Ao alcançarem a parte plana, deram alguns passos mais próximos do mar, aproveitando a areia que não os permitia escorregar e cair diretamente entre as pedras.

Em ponto nenhum a conversa parou – parecia impossível ficarem sem assunto. Trocavam tanto do mesmo que Keith já nem se lembrava mais qual fora o primeiro tópico da discussão.

—...Então, astronomia, huh? -perguntou, disfarçando a respiração descompassada pelo esforço da subida. Agradeceu aos céus quando Lance o chamou com um gesto para que se sentassem juntos, um pouco antes do ponto onde as ondas quebravam.

—Pois é -tinha um sorriso no rosto, adorava falar sobre seus interesses. E Keith adorava ouvir- Estrelas, buracos-negros, quântica, relatividade...eu amo tudo sobre o espaço. Toda a ciência chata e até os números complexos.

Lance riu e Keith lhe devolveu um sorriso. Jamais se cansaria do tinido daquela risada.

—E a vastidão toda não...sabe...te assusta?

—Não mesmo! -abraçou os joelhos, apoiando a cabeça neles, o rosto virado para Keith- Pode ter certeza...a única coisa que eu odeio sobre o espaço é esse entre a minha boca e a sua.

Deu uma piscadela, com um sorriso charmoso brincando nos lábios.

Keith corou até a raíz dos cabelos. Sem ter ideia de como responder de uma forma que não fosse “Meu Deus me possua neste momento” ou uma que mandasse a linguagem para o diabo que o carregue e causasse um tragédia com Keith simplesmente puxando Lance pela gola da camisa, acertou um soco em seu ombro. Um golpe certeiro, e, devido ao embaraço, talvez até forte demais.

Lance se limitou a rir alto, perdendo um pouco do equilíbrio e saindo de sua posição de casulo, agarrando o local atingido com sabor de brincadeira na voz.

—Tudo bem, tudo bem! Nada de flertes, entendi.

Keith nem sequer ouviu. Desviou o olhar, as orelhas queimando, fazendo o possível para puxar a franja comprida para que cobrisse o rosto. Mastigava o lábio inferior e sentia gosto de sangue, certeza que o nervosismo lhe fizera arrancar a pele sensível.

Era mesmo um acidente de carro.

Por sorte, não teve de dar muitas explicações ou alongar o momento constrangedor, pois foi salvo pelo gongo: no bolso, o celular vibrou com uma nova mensagem. Pedindo licença, se afastou um pouco, ainda sentado, para desbloquear e checar a tela do aparelho.

Era uma mensagem de Pidge.

Nerd Authority [16:24]: beija ele, seu idiota

Nerd Authority [16:24]: pare de ser virgem e beija logo ele

S4D_B0Y_2001 [16:25]: Pidge?? Que porra é essa?

Nerd Authority [16:25]: olha o vocabulário, mocinho

S4D_B0Y_2001 [16:25]: Do que você está falando?

Nerd Authority [16:25]: não se faça de bobo. de quem eu poderia estar falando?

Nerd Authority [16:25]: do padeiro?

Nerd Authority [16:26]: para de enrolar e beija logo o lance

S4D_B0Y_2001 [16:26]: PIDGE!

Nerd Authority [16:26]: olha o caps

S4D_B0Y_2001 [16:26]: Como você sabe que eu estou com ele?

Nerd Authority [16:27]: cuidado com a burra

Nerd Authority [16:27]: eu tenho contatos, kife

Nerd Authority [16:28]: agora para de brincar com os sentimentos do garoto e beija logo ele. vocês pelo menos seguraram a mão um do outro?

S4D_B0Y_2001 [16:29]: Por que isso te diz respeito??

Nerd Authority [16:29]: por favor, não me diga que ainda nem segurou na mão dele

S4D_B0Y_2001 [16:29]: Eu já segurei na mão dele!!!!

Nerd Authority [16:30]: então meu trabalho por aqui está feito

Nerd Authority [16:30]: só deixa logo de ser travado e beija ele

S4D_B0Y_2001 [16:30]: ????

Nerd Authority está off-line.

Keith se sentiu deixado às traças. Estava com uma expressão tão transtornada que Lance se viu obrigado a pousar a mão em seu ombro, perguntando se estava tudo bem. A temperatura de sua palma o trouxe de volta à realidade com um “ah” e ele sacudiu a cabeça, guardando o celular no bolso.

—Tudo bem...foi só o Pidge sendo estranho.

Franziu as sobrancelhas, provavelmente produzido uma careta engraçada, pois tirou riso de Lance, que, infelizmente, recolheu a mão.

—Cara, qual é a dos nossos amigos e ser estranho?

—Eu não faço a menor ideia.

E lá se desenrolava outro assunto. Pelo menos para alguma coisa o surto de agente secreto de Pidge estava servindo: distraiu ambos os garotos da situação vergonhosa de mais cedo e iniciou uma nova conversa, que foi se tornando mais profunda e pessoal conforme o céu traçava seu itinerário em aro pelo céu azul. Um azul que começava a se tornar escuro, se afastando do tom exato das íris de Lance, íris estas que Keith fitava como se fossem um altar.

—Apesar das...particularidades do Pidge -Keith preferiu trocar a palavra que ia usar, “esquisitices”-, ele é meu único amigo. -encolheu os ombros diante das sobrancelhas erguidas de Lance- Quer dizer, o Shiro já é praticamente um irmão mais velho, de qualquer forma. E o Pidge é mais novo, eu sei, mas pelo menos ele me entende melhor do que qualquer um.

—Uau... -Lance se apoiou com as mãos atrás do corpo, o olhar perdido no horizonte, e Keith não conseguiu decifrar se ele estava olhando para o céu ou para o mar- Eu imagino como isso deve ser. O Hunk me conhece muito bem, não vou mentir, mas tem coisas que você só conta pra mãe ou um irmão, entende? -virou para encará-lo.

Keith não entendia. Escapando do peso do olhar de Lance e mirando o chão, murmurou, esperando que fosse abafado pelos uivos da ventania:

—Na verdade, não...eu...nunca pude realmente contar com a minha mãe...ou com meu pai, de qualquer forma...

Mas Lance tinha ouvido. Franzindo a testa numa expressão preocupada, percebeu o que estava vindo. Metaforicamente, podia ver uma frestinha se abrir pela porta pesada de aço que Keith usava para esconder seus verdadeiros sentimentos do mundo. E talvez por isso não quisesse se mostrar tão necessitado de compreensão? Um complexo de abandono?

Lance percebeu a vulnerabilidade emocional à qual o outro estava se permitindo. Lhe reassegurou com um toque leve e um aperto no ombro, chamando sua atenção e então lhe dirigindo um sorriso leve. Não disse nada. Mas sinalizou que Keith poderia continuar falando.

Ele o fez.

Não antes de respirar fundo, no entanto, como se estivesse prestes a retirar um imenso peso dos ombros e, talvez pela primeira vez, compartilhar esse fardo com outro indivíduo.

—Eu... -começou- Eu só conheci o Shiro no Ensino Fundamental. Eu era bem pequeno, mas ele já estava no Ensino Médio...ele foi a única pessoa que me defendeu, no passado. Nessa época, eu já era órfão... -ele fez uma pausa. O coração de Lance se apertou. Ele deslizou a mão pelo braço do outro até chegar em sua mão e deu-lhe um pequeno aperto reconfortante, o incentivando a continuar- ...eu perdi meus pais um pouco depois de aprender a ler, e... -engoliu em seco- ...passei por umas merdas aí. Eu era uma criança difícil, muito violenta, vivia brigando na escola e recebendo suspensões...minhas notas também desabaram, é claro.

Ele bufou, afastando uma mecha da franja para longe do rosto. Lance achou atraente, mas não se permitiria interromper a confissão do mais velho.

—O Shiro me compreendia, ele era bem próximo da família do meu pai antes do... -pausa- ...do que aconteceu. Mas eu era pequeno, então não o conhecia muito bem. De qualquer forma, ele me acolheu, melhor do que os meus tios, que por sinal eram uns babacas, apesar de eu morar com eles.

—Tios babacas. Sim -Lance concordou com a cabeça- Com isso eu consigo me identificar. Continue.

—Então... -ele suspirou- A gente estudou na mesma escola até ele se formar. Ele foi pra Garrison -Lance arregalou um pouco os olhos, mas não interrompeu- E eu fiquei.

De repente, Keith riu com rancor. Seu riso não era divertido, mas amargo, desgostoso. Lance sentiu uma pontada acertá-lo no peito.

—Você já se perguntou o porquê de eu não estar em uma faculdade?

Lance encolheu os ombros. Se tivesse de advinhar, ele apenas diria que Keith tinha se formado e decidira trabalhar ao invés de continuar estudando. Ele entenderia.

Mas a resposta foi mais do que isso.

—Porque eu não fui aceito naquela estúpida escola elitista. -a voz de Keith estava cheia de amargor- Eu fiz a prova, e não passei. Meus tios fizeram eu me sentir o adolescente remelento mais burro de todo o país, e o Shiro não disse nada, mas eu podia ver pela forma que ele me tratava que ele estava completamente decepcionado -o choro começava a se embolar na garganta, mas ele havia transformado a rejeição em ódio muitos anos atrás- Eu tinha dezesseis anos, já era repetente e me senti um idiota. Sobrevivi de bicos por um ano e tentei fazer a prova de novo, e o que aconteceu? Fui rejeitado de novo.

Keith falava como se zombasse de si mesmo, por mais que tentasse direcionar toda aquela raiva à Garrison. Lance apertou sua mão, comprimindo os lábios, sem saber o que dizer. Não ousaria comentar que aquela era sua escola – seria como se estivesse esfregando na cara de Keith que todos à sua volta tinham capacidade para serem aceitos em uma escola técnica renomada, menos ele.

—E sabe por que eu não fui aceito?

Lance negou com a cabeça. Keith era inteligente e habilidoso. Não fazia sentido ter sido recusado duas vezes.

—Porque os imbecis lá na Garrison não aceitam alunos com uma ficha criminal.

Lance teve vontade de pular nele, enlaçar seu pescoço com os braços e dizer que sentia muito, sentia muito por Keith ter passado por tantas injustiças e pelo mundo ter tirado dele todas as coisas boas que ele merecia. Ele era um garoto bom demais e sensível demais para passar por tudo aquilo, mesmo que fosse negar este fato se Lance o apontasse.

Mas ele não fez isso. Apenas se virou um pouco mais para olhá-lo nos olhos, entrelaçando seus dedos para lhe passar um pouco mais de segurança.

—Isso...não é nada fácil, cara.

—Não, não é -ele bufou, olhando para baixo- Minha vida é um saco.

Lance estalou a língua, com um “tsc”. Procurou rapidamente as palavras que poderia escolher para fazer o outro se sentir melhor.

—Ei, mas agora você não está mais sozinho -ergueu seu queixo com a mão livre, seu coração se partindo em vários pedaços ao perceber as lágrimas brilhantes que se alojavam nos cantos dos olhos de Keith. O coreano negou o contato, envergonhado, e afastou a mão do outro, embora apertasse os dedos em volta dos seus com a direita.

—Você não está sozinho -Lance repetiu- Você tem o Shiro, o Pidge...e eu. Certo?

Foi o bastante para chamar sua atenção. Keith ergueu a cabeça.

—Quer dizer... -aqueles olhos profundamente negros, quase púrpura, lhe causavam certo embaraço agora que estavam friamente crivados sobre si- Eu estou sempre aqui quando você precisar, né? Pra desabafar, reclamar, ou só...ou só falar bobagem. E, ei, a gente ainda tem muito filme ruim pra assistir junto antes que você decida que a sua vida é um saco.

Keith deixou escapar um sorrisinho de viés. Desviou o olhar e Lance percebeu que tentava esconder a forma que se alegrara com as palavras do moreno. Lance achava adorável quando ele pensava que estava sendo discreto de qualquer forma.

Permaneceram em silêncio, de mãos dadas, e o latino se ajeitou na posição anterior e observou o mar. Podiam mudar de assunto, mas preferiram preservar a quietude daquele fim de tarde, em que as famílias já haviam se retirado e não era mais possível ouvir os latidos do pastor alemão que os cumprimentara mais cedo.

E, mesmo assim, Lance viu a necessidade de quebrar o gelo.

—Olha -disse de repente, Keith virando o rosto para o encarar- Isso pode parecer loucura, mas... -riu baixo- Eu acho que eu vi uma sereia.

Keith ficou calado por uns cinco segundos. E então riu.

—Uma sereia? Sério? Meu Deus, será que já está alucinando de insolação?

Keith pousou a mão sobre sua testa, como que medindo sua febre. Lance riu escandalosamente e afastou sua mão de perto.

—Ah, por favor! Você é o louco dos criptídeos! Por que eu não posso ser o louco das figuras míticas marinhas?

—Você acredita no Kraken, também? -Keith sorriu, provocante- No Leviatã?

—Escuta aqui, o Leviatã tá na Bíblia e você sabe disso.

Apontava o dedo em riste na direção do nariz do outro, o que lhe arrancou outra risada divertida.

Não haviam momentos desconfortáveis entre eles. Sua química era perfeita, assunto nunca lhes faltava, o humor era de ferro e o apoio mútuo era discreto, mas estava ali. Ambos desfrutavam do mesmo conforto um com o outro, dos mesmos sentimentos e do mesmo afeto, mesmo que não percebessem ainda.

Lance era a estabilidade de Keith.

E Keith era a dele.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

até mês que vem kdcjnksjn



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Waves" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.