Waves escrita por march dammes


Capítulo 13
Despedidas e Próximas Vezes


Notas iniciais do capítulo

EU SEI, EU SEI, EU DEMOREI DEMAIS. até eu já tava achando q tava morto e não sabia. olha, eu prometi a mim mesmo que ia sentar a bunda e escrever assim que as férias chegassem, mas todos os meus planos foram se empilhando até que waves estivesse beeeeem no fim da lista. mas agora eu consegui, e minha musa inspiradora tá aqui finalmente, e ainda me demandando update duplo, então vamos ver se meus dedos aguentam e acompanham esse ritmo :v
enfim...demorei, mas cheguei. e espero que fique.
se depender de mim (e essas férias), o próximo capítulo (e encontro!!!) não demora, então vamos ler?



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Pelo ritmo que a conversa se estendeu, já era noite quando decidiram voltar; o céu assumira um tom de violeta quase que cegante, a lua começando a despontar detrás da encosta e estrelas tímidas respingando seus primeiros brilhos contra o céu escuro.

Keith e Lance desceram a encosta aos tropeços, rindo e empurrando-se como duas crianças. Qualquer um que visse não diria que era o primeiro encontro dos dois, e sim que eram amigos de uma infância comprida e regada a memórias. Com os tênis empoeirados e sorrisos dopados, pegaram o último ônibus disponível de volta para a estação, discutindo sobre quem deveria sentar-se ao lado da janela.

No fim, Keith responsabilizou-se de apontar todos os outros lugares em que poderiam ir nas próximas vezes que Lance o visitasse. Também mencionou sua moto, e garantiu que o levaria de carona assim que conseguisse um capacete extra. Lance tomou a promessa como uma futura aventura.

Viajaram aqueles quinze minutos lado a lado, fazendo planos e discordando com as visões criativas um do outro. E ainda assim, apesar do assunto envolvente, Keith se viu com dificuldades em se concentrar na conversa, distraído demais pelo dedo mindinho de Lance entrelaçado timidamente com o seu, as mãos jogadas ao banco e coçando com a areia. Não que estivesse desconfortável, de qualquer forma – o contato era inocente, e morno. Trazia aceleração aos seus batimentos cardíacos, mais do que qualquer coisa.

Desembarcaram em frente à estação. O coreano ainda insistiu em leva-lo até a plataforma, argumentando que já seria noite alta quando ele chegasse em seu destino, e ele queria pelo menos se responsabilizar por seu bem-estar enquanto Lance estivesse em sua cidade.

(Isso arrancou um comentário sobre Keith ser seu guarda-costas ou príncipe encantado, e ambas as proposições levaram rubor ao seu rosto ao pensar melhor nelas.)

—Você vai me mandar uma mensagem assim que chegar, certo? -confirmou Keith enquanto esperavam o trem, ansioso, e (diga-se de passagem) um pouco desanimado pelo outro já estar indo embora.

A cada segundo que passavam juntos, ainda sentiam que podiam passar mais minutos, horas naquilo. Nunca parecia ser o bastante, aquele contato tão breve.

—Eu vou, prometo -Lance riu, e abriu a galeria em seu celular, passando negligentemente por diversas fotos tiradas no dia- E eu vou te passar nossas fotos, também. -soltou um som sufocado pelo nariz ao passar por uma imagem especialmente engraçada.

Keith permitiu-se sorrir de viés. Haviam tirado várias fotos juntos naquela tarde, para registrar o momento histórico – “E mostrar pro Hunk que eu não me perdi no caminho!”, argumentara Lance -, embora a maior parte delas fossem ângulos hilários das diversas caretas do cubano, frequentemente com um Keith fora de foco no fundo.

Apesar do horário, não demoraram muito a ouvir o apito do próximo vagão se aproximando pelos trilhos, e levantaram do banco de madeira em perfeita sincronia, já que vinham até agora preparando-se mentalmente para as despedidas.

—Então... -começou Keith, mexendo nos próprios dedos e sem conseguir sustentar o olhar do outro, subitamente nervoso.

—...Então. -Lance sorriu, parecendo bem mais confortável que ele- Eu volto. Eu te convidaria para ir me visitar em casa da próxima vez, na verdade, mas você já estaria com o pé no altar se fosse conhecer meus pais, eu acho.

Riu baixo, e Keith viu-se obrigado a rir também, ou seria tomado pela onda de embaraço que viera acompanhado daquela frase. Deus, na maior parte do tempo não tinha ideia do que o outro queria dizer com esse tipo de comentário.

Finalmente, reuniu coragem para encarar os olhos do moreno. Foi tomado por um choque breve – talvez nunca se cansasse de fitar aquelas íris azuis, tão escuras, e tão vibrantes, contrastando contra a pele beijada pelo sol. Deixou escapar um suspiro, e se tentasse dizer a si mesmo que não queria beijá-lo, estaria mentindo.

—Eu acho que...eu te vejo por aí?

Para decepção de Keith (mas nem tanto), Lance não se curvara em sua direção depois dessa frase, mas em vez disso, estendeu o punho fechado e sorriu sem mostrar os dentes em um gesto amigável.

—É...a gente se fala mais tarde. -confirmou mais uma vez, em retorno, enquanto erguia o próprio punho em uma batidinha contra o do mais alto.

Sorriram um para o outro durante os segundos que pareceram se estender, até o roncar ensurdecedor de metal sobre trilhos soasse perto demais.

Lance embarcou enquanto acenava energicamente, e ainda não perdeu a chance de fazer expressões ridículas contra o vidro, arrancando de Keith algumas risadas ressonantes antes que partisse.

E Kogane se viu sozinho, um sorriso no rosto e leveza no peito depois de um encontro bem terminado.

Pegou um táxi de volta para casa, e só depois de cruzar a porta da frente e jogar-se contra o sofá que percebeu a própria exaustão.

Havia caminhado mais naquele dia do que durante toda a sua vida.

Andrômeda cumpriu seu papel de comitê de boas vindas ao arrastar-se vagarosa em sua direção, miando despreocupada, como se perguntasse como o dia havia sido, mas não estivesse realmente interessada.

Keith devia estar realmente cansado, pois até permitiu-se acariciar a cabeça do felino, seguindo com “coçadinhas” até seu lombo, e soltando um riso entredentes quando a gata ronronou, satisfeita.

—Andrômeda, -capturou sua atenção, a voz baixa- o Lance é incrível pessoalmente.

Recebeu um miado em resposta. Virou-se no sofá e tirou o celular do bolso, sendo bombardeado imediatamente por mensagens de Pidge, Shiro, e até mesmo Matt. Cansado, copiou uma mensagem aos três que mais tarde contaria tudo, só faria questão de consertar-se um jantar primeiro.

Mentia, na verdade. Não estava com tanta fome. Mas também preferia adiar o quanto pudesse as fofocas – antes de tudo, queria manter as emoções do dia para si mesmo.

Shiro foi o único a responder imediatamente. Disse que entendia, mas pelo menos daquela vez, preferia que Keith o colocasse acima de seus hábitos alimentares.

Pediu que fizessem uma chamada em vídeo para se falarem melhor. Keith estranhou – era a primeira vez que Shiro pedia algo do tipo, e com tanta urgência.

Ligou-o pelo celular mesmo, preocupando-se no máximo em ligar a luz e tirar os tênis primeiro. Encarou o ícone de ligação por alguns segundos, e então a imagem do quase-irmão mais velho pulou na tela, sentado no chão, o celular provavelmente apoiado por alguma coisa.

—Ah, Keith! -sorriu ao vê-lo, parecendo satisfeito- Obrigado por me ligar. Como está Andrômeda?

—A gata? -ah. Por isso ele estava tão ansioso em me ver por vídeo— Ela tá...ela tá bem. Deixei ela sozinha em casa o dia todo, e nada pegou fogo, viu?

Virou um pouco a telinha, de forma que Shiro, do outro lado, conseguisse ver sua amada Andrômeda enrolada no tapete, miando de carência e saudades.

—Acho que ela sente sua falta -completou, voltando a câmera frontal para o próprio rosto.

—Sim, eu percebi -Shiro apoiou o queixo na mão, seu sorriso de satisfação rapidamente transformando-se em um de ironia- E como vai o seu gato, o tal de Lance?

Keith grunhiu, envergonhado pela atitude tão “estou-tentando-ser-irônico” de Shiro. Por que ele fazia aquilo com ele?

—Ele vai...bem. Nos encontramos hoje, eu te contei. E foi... -sentiu o rosto arder, e o sorriso chegou sem aviso e sem escapatória- ...bem incrível.

Enquanto contava algumas partes de seu dia para um Shiro de olhos brilhando com interesse, deixou-se distrair momentaneamente pela mão em que o outro apoiava o queixo. Aquela pele não era, exatamente...sua. Como explicar melhor?

Há alguns anos, Shiro sofrera um acidente. Keith não se lembrava, mas tinha algo a ver com seu treinamento na Garrison. Apenas um dos motivos pelo qual o coreano desprezava aquela instituição – o acidente custara de Shiro a mão direita e todos os seus movimentos. Naquela época com seus vinte anos, vira-se obrigado a amputar o antebraço inteiro, que foi então substituído por uma prótese biomecânica, e mesmo que financiada 100% pela própria Garrison, Keith não deixava de sentir algum remorso quando prestava atenção demais nos movimentos levemente atrasados de Shiro na mão direita.

Pelo menos, se convencia, o mais velho vivia muito bem daquela forma. Apesar de difícil, a adaptação vinha, e sua substituição biônica era uma das de mais alta-tecnologia, de qualquer forma.

Acordou de seu transe com a risada de Shiro, e, levemente embaraçado – será que tinha dito algo estranho enquanto estava em alfa? -, perguntou qual era a graça, talvez soando um pouco mais irritado do que realmente estava.

—Quando você fala dos olhos dele... -suas risadas se abafaram gradualmente, até que lhe sobrasse apenas um olhar cúmplice, e um pouco divertido demais- Você não conseguia parar de encarar eles, não é mesmo?

Keith corou, e foi o bastante para Shiro explodir em mais uma crise de risos.

—Eu sabia! Você está perdidamente apaixonado por ele, Keith, meu Deus. Quando pretende contar?

—C-cale a boca! -soou desesperado, e desviou o olhar da tela, parecendo mais patético com as orelhas vermelhas sendo filmadas- E-eu não...eu acabei de perceber isso, ok?

—Certo, certo... -Shiro gestuou como se dissesse “então esquece”, embora ainda dançasse em seu rosto um sorriso humorado, de forma que tudo aquilo se tornava muito divertido de se assistir- Eu vou respeitar seu tempo. Mas uma hora você vai ter que se confessar, você entende, não é?

Recebeu silêncio em resposta, e insistiu:

—Keith...

O outro grunhiu, mas não disse nada.

—Você precisa parar de guardar tudo para si mesmo como se fosse resolver alguma coisa. Você sabe muito bem disso.

Keith suspirou, mais cansado do que qualquer coisa.

Entendia, mas não era sempre que a ansiedade o permitia ser honesto consigo mesmo, que dirá com os outros – ou pior, com o garoto que gostava.

—Eu sei disso -afirmou- E eu vou contar, mas não fique me perguntando sobre isso.

Gastaram mais alguns minutos jogando conversa fora, até que uma voz feminina chamou Shiro na outra linha, para o qual ele respondeu com “Já vou, Allura”.

—Minha namorada está me chamando, então eu vou... -tossiu. O envergonhado agora era ele.

—Pode ir lá, Takashi. Não se deixa uma dama esperando -Keith sorriu, pretencioso, como se as mesas houvessem virado em seu proveito- Ou sim. Eu não sei nada sobre damas.

Ah, nada como reafirmar a própria homossexualidade.

—Certo, uh, então eu, já vou -parecia sem graça, e, de repente, apressado- Cuide bem da Andrômeda pra mim. Eu vou busca-la na semana que vem.

Keith apenas acenou, enquanto o outro terminava a ligação. Deixou que o celular caísse em seu rosto, grunhindo com a pancada, mas sem recuperá-lo da queda subsequente entre as almofadas do sofá. Soltando o braço até que a mão tocasse o chão – seu sofá era realmente baixo -, suspirou, encarando o teto como se ele contesse todas as respostas para o que deveria fazer a seguir.

Confessar-se para Lance, huh...se perguntou quanto tempo demoraria até reunir coragem para fazer aquilo. Mas já decidira consigo mesmo que aproveitaria o momento, droga, por que estava pensando no futuro? Era muito melhor do que ficar remoendo o futuro, tudo o que podia e não podia acontecer, todas as mil maneiras de tudo dar errado...

Teve pouco tempo para se debater mentalmente sobre aquilo: sentiu o celular vibrar ao seu lado, e o nome de Lance brilhar na tela logo em seguida, e sentou-se tão rápido que pôde sentir a pressão baixar.

Mas era só uma mensagem, e seu desaponto foi presente, mas não muito – detestava ligações, de qualquer forma.

 

Captain Frijoles [20:50]: Ei eu tava pensando aqui

Captain Frijoles [20:50]: Na proxima vez q a gente sair

Captain Frijoles [20:50]: A gente podia ir na praia né?

S4D_B0Y_2001 [20:51]: O que você quer dizer?

Captain Frijoles [20:51]: Wow, visualizaçao instantanea

Captain Frijoles [20:51]: Mas tipo, a praia aí eh bonita dms, entende? Acho que a gente podia, n sei, caminhar um pouco da proxima vez?

S4D_B0Y_2001 [20:52]: Ah...pode ser, eu acho...

 

Viu-se encurralado – como ele, um gay com diploma e carteira assinada, explicaria a Lance, o garoto de quem estava gostando no momento (e não só gostando, estava perdidamente apaixonado por ele) que ele simplesmente detestava a praia? Não podia se permitir correr aquele risco e perder Lance para sempre por causa de uma implicância.

Ignorou as próximas mensagens do maior e abriu o chat com Pidge, que por algum milagre fictício, estava online no momento.

 

S4D_B0Y_2001 [20:52]: Pidge, socorro.

Nerd Authority [20:52]: o que foi, queimou o interior do seu micro-ondas de novo?

S4D_B0Y_2001 [20:53]: Obrigado por me lembrar de um dos meus fracassos passados, mas não, desta vez não.

S4D_B0Y_2001 [20:53]: A situação aqui é um pouco mais grave.

Nerd Authority [20:53]: ?

S4D_B0Y_2001 [20:54]: O Lance me convidou (!!!) pra ir na praia no nosso próximo encontro (!!!!), mas eu não sei como explicar pra ele que eu

S4D_B0Y_2001 [20:54]: ODEIO

S4D_B0Y_2001 [20:54]: A PRAIA.

Nerd Authority [20:55]: uh...keith. você não acha que leva essa sua implicância um pouco longe demais?

Keith sentiu-se um pouco ofendido por aquele comentário. Pidge geralmente estava certo com todas as suas observações sobre Keith sendo dramático e emotivo, mas desta vez, não achava que ele tinha razão por nenhum ângulo.

S4D_B0Y_2001 [20:56]: “Uh”, não? Meu motivo é bem maior do que uma “implicância”, entende.

Nerd Authority [20:56]: e qual é esse motivo??

 

Travou por um instante ou dois. Subitamente, foi tomado por uma onda de terror ao perceber que não havia contado sobre seus motivos para Pidge ainda.

Digitou um rápido “esquece”, ignorando a confusão do mais novo e bloqueando a tela antes que ele pudesse perceber sua crise nervosa. Trouxe os joelhos junto ao peito e enterrou o rosto entre eles, vendo-se obrigado a controlar a respiração quando todas as memórias vieram quebrando contra seu peito como ondas em um mar agitado, e trouxeram lágrimas ao canto dos olhos, que ardiam mais do que o sal da maresia quando estava mais forte.

Não podia contar agora. Não conseguia falar sobre isso agora.

Ouviu o miado de Andrômeda ao seu lado, no tapete, e virou o rosto quente e molhado por lágrimas sorrateiras na direção da gata, que o encarava um pouco mais confusa do que ele mesmo com todas aquelas lembranças.

Quieto à meia-luz da sala, o som que o acompanhava se limitando aos carros tardios que passavam pela rua, e os faróis que o iluminavam brevemente ao lado da janela, Keith se perguntou se algum dia, de alguma forma, se sentiria confortável o bastante com alguém que não fosse Shiro para contar sobre tudo o que passara durante sua infância.

A resposta mais provável era sempre “Não”.


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Notas finais do capítulo

...depois desse angst, mereço algum review? ;3;



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