Garota desajustada escrita por Andy Sousa


Capítulo 1
Consequências.


Notas iniciais do capítulo

Oi pessoal, tudo bem? Essa é minha segunda fanfic aqui no Nyah, estou ansiosa pra começar a postar, pois fora os personagens da tia Steph e suas características, a história é de autoria minha e não se passa no universo da saga Crepúsculo e sim aqui no Brasil, em São Paulo.
Só posso dizer que estou postando de todo meu coração, eu realmente amo escrever e espero que vocês possam se divertir e acompanhar essa fanfic até o final.
Ah, é uma fanfic divertida, com um pouco de drama, mas voltada mais para o romance e a comédia. Vamos ver como vou me sair - oh céus!
Se alguém ler esse prólogo, por favor comente, eu irei postar de qualquer jeito, mas vou gostar muito de saber o que você está pensando.
Acho que é isso. Vamos à história.
Boa leitura!
Ps. Sei que primeiro postei apenas o prólogo, mas achei que iria ficar ruim começar o capítulo 2 sendo na realidade o capítulo 1, por isso atualizei e mantive o prólogo junto com o primeiro capítulo, espero que não se importem.



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PRÓLOGO

Eu ouvia o ecoar dos passos apressados atrás de mim mesmo com o barulho estridente da música que vinha do salão.

— Bella, espera. Foi mal...

Acelerei minha fuga, ansiosa por alcançar a saída, estava prestes a cruzar a porta quando ele me alcançou, puxando-me para trás pelo braço me colocou facilmente à sua frente, tentei me desvencilhar, mas foi em vão. Jacob nunca fora muito forte, mas era obstinado e eu sabia que ele não iria me soltar.

— Será que pode me deixar falar com você?

— Não! – Fui categórica em minha recusa.

— Pare de se debater, eu não vou te soltar.

Senti que o embate poderia acabar danificando meu vestido e resolvi me conter, sabia que minha mãe não ficaria nada satisfeita se tivesse de pagar pelos danos além do aluguel da roupa.

— Eu não quero falar com você Jacob. Entende isso?

Em resposta ele fechou os olhos e suspirou. Raras vezes o vira assim, em geral costumava ser sempre impulsivo, da maneira como havia sido há pouco enquanto estávamos no meio do baile de formatura. Pensar nisso tornou a me exasperar, eu não acreditava que ele tivesse simplesmente arruinado minha noite e ainda se atrevesse a tentar se desculpar.

Abriu os olhos e me fitou.

— Me desculpe.

Bufei.

— Claro. O que mais você poderia dizer? Destruiu minha formatura Jacob, tem noção disso? Sabe o quanto esperei por essa noite, o quanto foi difícil conseguir estar aqui. Você conhece meus pais... E Edward? O que vou dizer a ele? Isso se ainda quiser falar comigo. Porque você fez aquilo? Eu estava dançando com ele, eu sempre quis dançar com ele, sempre quis.

— Bella você não entende. Nem conhece esse cara direito, ele não se importa com você.

— Sério? Essa é sua maravilhosa explicação. Eu não o conheço. Quer saber? Existe uma pessoa que eu pensei conhecer por quase toda minha vida, mas acho que me enganei.

Ele riu, sem levar minhas palavras a sério e senti que meus olhos podiam saltar das órbitas.

— Nunca mais quero te ver.

Comecei a me afastar, mas ele novamente me firmou.

— Qual é, pare com isso. Não está falando sério. Foi só uma brincadeira, sabe que não foi por maldade.

O encarei sem resquício algum de humor no rosto e isto mitigou sua determinação. Quando tornou a falar não havia deboche em sua voz.

— Me desculpe, eu exagerei. De verdade. Não vai acontecer de novo.

Sorri desanimadamente.

— Você tem razão, não vai.

Mais uma vez procurei me afastar, porém quando ele tentou me conter fiz questão de me desvencilhar de seu toque, por consequência ouvi o ruído baixo de um ponto se soltando da costura de meu vestido.

— Obrigada pela noite perfeita, amigo.

Meu tom de ironia foi pesado, mais até do que eu gostaria, sabia que o tinha magoado, mas ele havia me magoado primeiro. Jacob sempre agia sem pensar, era dono de uma despreocupação sem tamanho e de alguma maneira isto dava certo para ele. Porém comigo era diferente, eu planejava cada passo de minha vida, era como me sentia segura.

Mas aquela noite as coisas tinham acontecido de um modo incomum. Eu havia desejado não vê-lo nunca mais, porém jamais imaginei que a vida fosse começar a me dar ouvidos justo naquele instante.

***

CAPÍTULO UM - Consequências

— Amiga você está falando sério? Mas assim de repente?

— Sei que parece repentino, Ang, mas o que eu poderia fazer? Preciso trabalhar, não posso esperar. Estava contando com essa oportunidade no jornal, mas Mike é um idiota.

­— Eu ainda não acredito que aquele imbecil assediou você. Tem que processá-lo Bella, isso dá cadeia!

Contive o riso. Minha amiga tinha esse costume de exagerar as situações, eu não iria tão longe, não quando podia acabar pondo minha carreira em risco.

— Está tudo bem, ele teve o que merecia.

­- Isso é verdade.

Sim, sofri assédio sexual na empresa em que trabalhava e durante um bom tempo. Esse era o problema de ter de responder a um chefe imoral e era assim mesmo que Mike Newton era conhecido em minha cidade. Era um lugar pequeno, portanto todos conheciam a todos, chegava a ser desconcertante. Mas Mike era membro de uma influente família e isso parecia aumentar ainda mais sua confiança em jamais ser pego.

O problema era que os Newton eram apesar de tudo, quem mais proporcionava oportunidades de trabalho em Guararema, empresários que investiam pesado no mercado local e eu consequentemente acabei me tornando mais um de seus subordinados.

Até agora.

— Mas Bella não acho que uma confusão entre você e Mike seja motivo para que mude de cidade. Não considera isso meio drástico?

­Suspirei.

Eu havia me feito esta mesma pergunta inúmeras vezes e ao final a resposta nunca era a que eu esperava, eu queria ficar, morei toda minha vida nesta cidade e apesar de alguns contratempos este era meu lar, mas também queria que meus pais tivessem orgulho de mim, havia lhes causado problemas por causa de meu comportamento no passado e sentia que eles não aguentavam mais decepções.

Não queria mais ser motivo de preocupação, eu já tinha vinte anos, não era mais uma criança, tinha que aprender a me cuidar.

Mesmo que sentisse um frio no estômago só de pensar no que estava prestes a fazer...

— Isabella?

— Estou aqui.

— ­Está tudo bem?

Fiquei quieta por um instante, escutando. O barulho abafado da televisão ligada na sala indicava que minha mãe não estava por perto, mesmo assim ao continuar falando diminui o tom de minha voz.

— Angela, você tem sido minha amiga, a única pessoa que me aturou mesmo com toda a rebeldia, então com você posso ser sincera. Eu não quero ir, mas não tenho escolha. Acho que pela primeira vez estou me importando com alguém além de mim. Me preocupo com Charlie e Renée, meu pai está ficando velho e logo não será mais um policial e ele sozinho sempre sustentou a minha mãe e eu. Talvez seja a hora de aliviar o peso das contas, uma boca a menos para alimentar com certeza fará diferença.

Não acho que seus pais a vejam como um empecilho, eles te amam.

Eu ri. Era minha reação automática para tudo o que poderia ser capaz de me fazer chorar, eu não chorava, pelo menos não na presença de alguém.

— Sei disso. Por isso mesmo tenho que ir. Com certeza já perdi o emprego e Mike deixou bem claro que faria questão de se vingar, isso em outras palavras significa que eu nunca mais vou conseguir trabalho por aqui. Então vou tentar a sorte em outro lugar, longe do poder opressor da família Newton – brinquei.

— Não entendo como gente feito ele consegue se safar de tudo sem esforço. É tão injusto!

— Também me faço a mesma pergunta, mas é simplesmente o poder do dinheiro, sempre comprando a tudo e a todos. Os homens têm medo dele e as garotas se jogam a seus pés porque não o conhecem. Bem, talvez agora elas o vejam de um jeito diferente, quero dizer, ele não fica muito bem careca, não é?

— Com certeza não. O cabelo era a melhor coisa daquele rosto — a acompanhei em uma gargalhada. – Você é louca, vou sentir saudades!

Houve silêncio do outro lado da linha e o som de uma fungada foi a única coisa que consegui distinguir. Eu sentiria falta de Angela, ela era única, duvidava que fosse encontrar mais uma pessoa capaz de me aturar, provavelmente eu já tinha estourado meu número de amigos.

Não quis me alongar demais, estava começando a ficar deprimida e isto só serviria para mudar minha opinião e eu já tinha me decidido, não havia como voltar atrás. Angela, porém só se contentou em concordar com a partida depois que prometi encontrá-la para nossa última noite de garotas. Serviria como um teste e uma despedida para mim, eu deixaria de ser tão... Indócil. Não entendia porque havia tanto problema com relação a minha personalidade, eu não via como algo ruim, era uma maneira automática de me defender, de não permitir que as pessoas me vissem como um alvo fácil. Eu jamais deixava ninguém me magoar. Jamais.

Pensando bem, eu não precisava me transformar em outra pessoa, só tinha que agir um pouco melhor, principalmente com aqueles que gostavam de mim e no momento pensava invariavelmente em meus pais. Os demais tinham de mim aquilo que mereciam, eu até podia ser bem maleável quando era conveniente ou terrivelmente necessário. Mas tudo tinha um limite...

Tornei a rir me recordando da cara de Mike hoje de manhã. Eu não sentia que tinha exagerado, aos olhos dos outros agira feito uma inconsequente, mas nenhum deles queria ver o tipo de pessoa que Newton era. Ele me repugnava, tratava as mulheres como números e pensou que comigo poderia fazer o mesmo. Não faltaram tentativas de me driblar, mesmo quando eu desde o começo mostrei que só estava ali a trabalho. Tinha de concordar com minha amiga, fora abuso da parte dele tentar forçar a barra e eu havia finalmente atingido minha cota.

Mike tentou me forçar a ficar com ele desde meu primeiro dia na empresa. Era o jornal local, o único estabelecimento deste tipo na cidade e sempre mostrara excelência, em minha ingenuidade pensei que o resultado fosse consequência do esforço de uma equipe engajada e de fato muitos de meus colegas eram bons no que faziam e realmente levavam a sério. Mas Mike jamais fora meu colega, como disse eu o via apenas como meu chefe, mas ele sem dúvidas devia me imaginar como sua concubina.

— Imbecil.

Eu aproveitava a distração de minha mãe com os programas da tarde para arrumar minhas malas. Não havia contado a novidade a ela ainda e já podia imaginar como iria reagir. Contudo, era melhor que aceitasse minha realidade e fosse o quanto antes. Não era como se tivesse um plano, na realidade não tinha nenhum, mas ao menos já encontrara onde ficar. Minha avó Helen morava sozinha na capital desde a morte de meu avô e não pareceu repugnar a ideia de me ter como hóspede quando lhe contatei mais cedo. Era muita gentileza de sua parte me aceitar quando não fiz nada além de me afastar e sequer compareci ao enterro de meu avô. Esperava que ela entendesse que não havia feito por mal e que principalmente não tentasse me mudar assim como meus pais haviam tentado. Desse modo eu podia prever uma relação cortês entre nós e já seria suficiente.

— Caramba. Vinte anos e morando com minha avó. Parece radical!

A quem eu queria culpar? Quem mais era responsável por minha situação além de mim? Demorara tempo demais para cair na real, depois que terminara o colégio tinha trabalhado apenas informalmente por cerca de um ano, nunca tendo em vista um futuro promissor, me preocupando apenas com o presente. Para mim era importante somente ter o dinheiro para as baladas aos finais de semana, eu saía nas noites de sexta e retornava aos sábados pela tarde, emendava uma festa na outra, fora muito inconsequente. Sabia que não teria mudado se meu pai não tivesse sofrido aquele acidente no trabalho. Acidente... Não fora bem isso, eu considerara um atentado, ele tinha sido vítima da violência enquanto fazia a ronda noturna, os criminosos haviam atirado para matar, mas por um milagre Charlie ficou vivo. Desde então mamãe e eu finalmente conseguimos convencê-lo a trocar o horário de seu turno, ele era sempre teimoso – característica que eu acabara herdando, segundo Renée – e nunca queria nos ouvir.

E aquele foi meu clique. Não como um momento transformador, longe disso, eu apenas percebi naquele instante que a vida não poupava ninguém e o susto me obrigou a ser um pouco mais responsável. Meu pai sempre discursava em casa sobre como eu tinha potencial e no quanto ele ficaria satisfeito de me ver aproveitando meu dom, mesmo que eu não considerasse tirar fotos com uma câmera velha um dom, fui atrás da vaga de estágio no Diário de Guararema. Na época havia começado um Curso Técnico em Processos Fotográficos, não consegui o cargo de fotógrafa, logicamente, pois eu sequer tinha um portfólio decente, mas Mike com toda sua simpatia me ofereceu outro posto, segundo ele em nome de nossos anos de amizade na escola.

Agora eu entendia o que afinal ele pretendera, nunca havíamos sido próximos, estudamos juntos, mas mal havíamos trocado mais que duas palavras, o fato era que ele não dava ponto sem nó, como diria minha mãe.

Afora a experiência ruim de ter sido cercada por meu próprio chefe, o tempo no jornal me ajudou a amadurecer e conhecer o dia-a-dia de uma redação, mesmo pequena. E eu sabia agora que gostara de verdade de ter trabalhado como auxiliar de fotografia e era sem dúvida uma área a qual me interessava atuar.

Já passava das seis horas da tarde quando ouvi o barulho do carro de Charlie entrando na garagem, tinha conseguido terminar de ajeitar minhas coisas, o restante eu empacotaria amanhã depois que comprasse a passagem de ônibus. Era quinta-feira e eu esperava conseguir chegar a São Paulo antes do final de semana.

Como de costume fui lavar minhas mãos para jantar, mas quando adentrei a sala encontrei meus pais de pé, parecia que haviam estado conversando e me fitaram quando surgi.

— Bella você foi demitida do emprego?

Contive uma respiração, esta era uma das notícias que eu procrastinara dar a eles, agora via que tinha sido em vão.

— O fofoqueiro do Jorge lhe contou não foi? A filha dele trabalha comigo no Diário...

— Não fale assim do amigo de seu pai, Bella.

— Você trabalhava com a filha dele, trabalhava! Como conseguiu ser demitida? Era um bom emprego, lhe pagavam bem, você praticamente conhecia todas as pessoas, além de tudo não era muito longe de casa, aqui em nossa própria cidade. Quais são as chances de se conseguir algo assim por aqui?

— Seu pai está certo, filha você parecia feliz, o que aconteceu?

Eu havia me tornado muito desobediente e merecia a maioria das broncas que meus pais me davam, contudo desta vez não me sentia culpada; justamente por conhecê-los, por saber que reagiriam dessa forma foi que prolonguei o quanto pude minha saída da empresa. Enquanto os olhava pensei em contar a verdade, em relatar o que viera passando por culpa de meu próprio chefe, mas ao fim achei melhor não. Eu ainda considerava um exagero e Charlie em sua condição de policial talvez não fosse ver os fatos pela mesma perspectiva que eu.

— Eu tive que sair.

Minha mãe retirou os óculos e apertou a ponte do nariz, estava claramente aborrecida. Charlie mantinha as mãos apoiadas dos lados da cintura e olhava o chão.

— Bem, não há mais o que fazer, amanhã irei conversar com o delegado e verei se consigo que aumente meu turno, eles estão precisando de patrulhamento noturno.

Renée ajeitou os óculos, mas evitou olhá-lo, agora seu rosto revelava profunda preocupação, apesar de saber o quanto detestava que ele trabalhasse a noite, não disse uma palavra sequer. Como eu suspeitara, eles não tinham mais como cuidar de mim, sabia que não era por mal, se tratava da realidade.

— Não tem necessidade de fazer isso pai, de jeito nenhum você irá voltar para essa rotina.

— Bella sei que você e sua mãe não aprovam, mas tem que entender que certas coisas são necessárias.

 Em nenhum momento deixaram transparecer que eu estivesse atrapalhando, sabia da verdade porque os conhecia e não era tola, mas eles não me recriminaram por nada além do trabalho. Eu era crescida e capaz de resolver meus próprios problemas e representava um número a mais quando faziam compras ou pagavam as contas de água e de luz.

Se ainda havia dúvida quanto a minha decisão, ela agora tinha se esvaído por completo. A ansiedade que sentia não era maior do que a vontade de não ser mais um peso morto para meus pais.

No calor do momento aproveitei para lhes contar sobre a mudança e sua reação completamente contrária à minha iniciativa me surpreendeu. Aliás, eu estava sendo modesta, não tivemos jantar em família aquela noite, pois a discussão que se seguiu durou aproximadamente duas horas, ao final eu estava exausta e sem fome e para piorar não consegui sua aprovação.

Não estava com a menor vontade de sair, mas como havia prometido a Angela tive que encontrar pique para me arrumar, ela apareceu em meu portão por volta das dez horas da noite e ao menos daquela vez não foi preciso lidar com meus pais, ambos haviam ido se deitar e não fizeram objeção a minha saída, o que era incomum.

— Acho que foi proposital.

— Como assim?

Graças aos nossos passeios frequentes havíamos nos tornado amigas de um taxista idoso chamado Roberto, ele se encarregava de nos trazer em segurança todas as vezes e os conselhos que prestava eram sempre gratuitos.

— Eles devem estar se culpando por sua escolha – continuou - e talvez pensem que a pressionam demais, de todo modo acho que deliberadamente deixaram você sair esperando que isso de alguma forma a convença a ficar. Eu meio que já fiz isso com meus filhos.

Franzi as sobrancelhas refletindo sobre suas palavras.

— Ao menos é uma boa explicação, mas não ajuda a me sentir melhor.

Angela que estivera calada durante o percurso finalmente se pronunciou.

— Eu não deveria dizer nada, já que gostaria que ficasse Bella, mas você tem o direito de fazer suas escolhas então talvez eu deva lembrar que já é maior de idade e seus pais por mais que não queiram, nada podem fazer a respeito de sua partida. Acho que você se acostumou a prestar contas a eles, o que considero ótimo, mas essa decisão é puramente sua, amiga. É maior de idade ou não é?

— Você é péssima em sustentar um argumento, acabou de me encorajar ainda mais a ir embora, mas isso só demonstra o quanto é minha amiga e talvez eu não tenha dito, mas também vou sentir muito a sua falta. Promete que vai me visitar na capital – pedi.

Ela sorriu abertamente.

— Eu irei assim que chegarem as férias de final de ano. De jeito nenhum vou perder a chance de ir para São Paulo, eles tem as melhores boates.

Gargalhamos juntas e notei que me sentia melhor, mesmo com o embate de agora a pouco eu não podia me deixar abalar, Charlie e Renée podiam não compreender, mas eu fazia aquilo por eles. Com sorte conseguiria um novo emprego e mesmo estando longe faria questão de lhes ajudar financeiramente.

Afinal podia ser meio desajustada, mas até eu sabia ser altruísta.

Esperava por Angela do lado de fora da boate, sentia o sol fraco da manhã aquecendo aos poucos minha pele suada e agradeci pela brisa convidativa que passeava ao redor. Passava das sete horas da manhã e procurei me lembrar da última vez em que dançara tanto, provavelmente fora antes de recomeçar a estudar e a trabalhar para os Newton, antes disso eu tinha uma rotina perfeitamente flexível.

Como podia ser que o tempo passasse tão rápido? Eu agora era técnica formada, porém desempregada. E tudo por causa de Mike, minha mãe tinha estado certa, eu era feliz com meu trabalho e agora todo o esforço se perdera. Foi realmente inesperado.

Talvez não devesse ter procurado dar uma lição em meu superior, mas o que faria afinal? Aguentaria mais de suas cantadas furadas e incômodas? Sorriria sem graça ao ouvi-lo elogiar somente a mim nas reuniões, sabendo que não era por merecimento e sim para me provocar? Aguentei esse tipo de situação o quanto pude, mas na quarta-feira depois do expediente quando ele aproveitou um momento a sós para tentar pôr suas mãos sujas em mim eu vi que teria de agir.

Não fiz nada ilegal, tampouco que lhe servisse para me acusar formalmente. O que fiz foi aceitar seu insistente convite para um drinque depois do expediente e sem esforço o convenci a irmos para sua casa ao invés do bar. Aquela altura eu era regida apenas pela raiva e não pesei as consequências de meus atos. Agora, entretanto era obrigada a lidar com a inconveniência de saber que pessoas como ele conseguiam ficar impunes e pessoas como eu eram obrigadas a simplesmente aceitar se quisessem evitar problemas.

Não é bem assim, você ainda pode acusá-lo, ainda pode fazer algo, ainda pode ficar. Tem testemunhas, provas e todo o resto para conseguir fazê-lo pagar por seu atrevimento!

Respirei profundamente e soltei o ar devagar. Minha própria consciência me censurava, mas eu não seguiria seu conselho, ao final me encontrava de mãos atadas, o preço a pagar caso abrisse minha boca parecia alto demais. Ao final me sentia vingada e era o que importava e logo estaria bem longe de Guararema e de Mike e começaria uma nova vida. As diferenças seriam muitas, eu sabia, mas uma coisa em especial iria permanecer: jamais daria brecha para que um homem se aproximasse de mim, era assim que eu era, perfeitamente alheia ao sexo oposto. Talvez por isso aquele miserável tivesse se sentido tão tentado em me conquistar, queria provar algo para si mesmo, queria provar algo para os outros.

Não era surda, muito menos burra, sabia perfeitamente o que as pessoas falavam a meu respeito, todos me consideravam uma careta porque eu não vivia atrás de namoro como outras garotas faziam. Não era celibatária, como uma vez ouvira uma menina me definir, apenas não via sentido em ficar com alguém se não houvesse um forte sentimento por trás, então talvez eu fosse mesmo careta. Valorizava a afeição, o desejo mútuo e até agora jamais sentira algo capaz de me fazer querer me entregar.

Verdadeiramente estava perfeitamente contente com meu atual estado de solteirice e virgindade. Porque sim, eu ainda era virgem, algo não muito comum para uma garota de vinte anos que vivia em pleno século vinte e um. Não tivera uma boa base sobre como um relacionamento deve ser, não tivera sequer namoradinhos de infância. Meus pais se amavam, eu sabia, mas com muito custo permaneceram juntos por tantos anos e as brigas eram constantes, ali eu via o panorama de tudo o que não queria ter em um casamento e por este motivo permanecia sozinha.

Não era como se estivesse perdendo muita coisa, os homens que tentaram se aproximar de mim em geral não fugiam do padrão mulherengo, algo que eu detestava. Angela costumava dizer que eu era rabugenta e insistia em argumentar que minha resolução era absurda quando ela mesma era convicta de que eu estava errada. Ao contrário de mim estava sempre acompanhada, mesmo que seus namoros não durassem mais que alguns meses. Essa fiel procura pelo parceiro ideal também era o tipo de batalha que eu não estava disposta a travar.

Minha amiga finalmente apareceu à vista, sustentava um sorriso bobo nos lábios e segurava algo que parecia ser um pedaço de guardanapo rasgado. Fui capaz de reconhecer um número de telefone quando me aproximei e começamos a andar para longe do prédio.

— Você não tem jeito mesmo, não é? Será que faço bem em lhe deixar sozinha aqui com todos esses predadores em sua cola?

Ela riu.

— Você viu como ele era lindo? E beija bem...

Revirei os olhos propositalmente para que ela visse.

— Sei que você não aprova minha necessidade de me sentir amada.

— Por favor, Ang, isso não é necessidade de ser amada, é necessidade de outra coisa!

Sua gargalhada ecoou pelo estacionamento agora quase vazio.

— Quando você tiver sua própria experiência sexual vai começar a entender o que significa ficar sem um parceiro.

— Em primeiro lugar não vejo nada de tão ilógico em permanecer solteira e em segundo, muito obrigada, mas não estou a fim de virar um zumbi.

Ela continuava a rir e comecei a me perguntar se dessa vez não teria exagerado na dose de álcool, por sorte tínhamos tido o bom senso de optar pelo táxi. Me aproximei e passei o braço por seus ombros apenas por precaução, procurando impedir uma possível queda.

— O que você entende por zumbi afinal? Que eu saiba são criaturas horripilantes que comem carne humana e definitivamente tem o pior instinto para moda. É assim que me vê?

— Eu não te vejo como uma pessoa horripilante que come carne humana, mas como alguém que infelizmente é refém dos hormônios, coisa que também sou, mas no seu caso a abstinência já não é uma opção. Está vendo o que digo? Sexo deixa as pessoas dependentes.

— Eu devia mesmo brigar com você, mas em primeiro lugar está prestes a ir embora e em segundo me surpreende que tenha admitido que também tenha hormônios. Isso é algo inédito, nós devíamos comemorar. Minha amiga tem hormônios. Minha amiga tem HORMÔNIOS! Gente, ela tem hormônios, ela sabe o que é sentir atração, ela não é assexuada como eu pensava. Moço, você sabia que minha amiga tem hormônios?

Ela tinha começado a fazer estardalhaço no meio da rua e parou um pobre senhor apenas para lhe fazer essa inconveniente pergunta. Eu sentia meu rosto quente e sabia que devia estar vermelha de vergonha.

Nota mental: lembrar-se de assassinar Angela assim que não houver testemunhas.

Tínhamos chegado ao ponto de táxi e me dei conta de que estávamos no centro da cidade, a rodoviária ficava um pouco mais a frente.

— Que horas são? – Indaguei.

— Quase oito, por quê?

Consegui que ela me acompanhasse até o terminal, como não havia tempo a perder achei melhor comprar minha passagem de uma vez, assim também seria mais fácil provar para meus pais que não estivera blefando.

Não havia filas e fui prontamente atendida por uma senhora simpática.

— Para onde vocês vão? – Perguntou prestativa.

Como podia estar de tão bom humor em plena sexta-feira de manhã?

— Sou somente eu. Quero uma passagem para São Paulo, por favor.

— Ah sim. Desculpe-me, é que é comum os jovens saírem dos bares e virem até aqui dispostos a viajar, mas eles em geral vão para municípios vizinhos.

— Mesmo?

— Sim. Deve ser algo como uma aventura para eles, não entendo direito. Mas você parece ser uma menina ajuizada.

— Bem, talvez eu também esteja à procura de uma aventura – brinquei.

— Aposto que está, mas tenho a impressão de que a sua irá durar.

Procurei algo para lhe dizer, mas foi em vão, aquela desconhecida tinha sido capaz de dizer algo sobre mim que conseguiu me intrigar e geralmente não dava ouvidos a esse tipo de coisa, considerava sandice. Afinal talvez fosse apenas uma frase de praxe, algo como o slogan da companhia de ônibus, apesar de eu jamais ter visto isso impresso em lugar algum.

Voltei para perto de Angela que me observava com olhos marejados.

— Sou uma idiota, eu sei. Devia ter aprendido a ser mais durona como você, mas sempre pensei que fosse ter todo o tempo do mundo para isso. Não me surpreende que tenha me enganado.

A puxei em um abraço apertado.

— Me desculpe por ser tão imprevisível, não quero pensar que magoei mais alguém com meus atos egoístas.

— Está tudo bem, eu te entendo, acredite. Essas lágrimas são de felicidade.

— Juro que vou procurar um cara lindo de morrer e que seja respeitável e vou mandar ele de presente para você. Acho que pode haver homens bonitos por lá, eu sei que você gosta dos tatuados.

— Tatuados e com piercing, por favor.

Dar adeus a um amigo nunca era algo fácil e só agora percebia o quanto odiava a sensação de vazio que começava a se instalar em meu peito, eu só me lembrava de ter sentido algo assim uma vez, logo depois que terminara o ensino médio. Angela não era a única amizade verdadeira que tivera, havia alguém que tinha sido ainda mais importante para mim.

Jacob.

Há quanto tempo sequer pensava em seu nome, meu melhor-amigo-irmão, como o chamava. Tantos anos de amizade simplesmente haviam ficado para trás quando ele se mudou com a família para outro estado. Costumávamos ser muito próximos e desde então jamais criara laços tão fortes com outro menino. Talvez por isso me sentisse tão à vontade longe de presenças masculinas, vivia o oposto do que fora minha vida inteira. Jacob estivera comigo em quase todos os momentos, praticamente havíamos crescido juntos.

Doía pensar nisso, não era à toa que procurava bloquear tais lembranças. Agora era eu quem estava para partir, mas Angela tinha todos os meus contatos, inclusive o endereço de onde moraria com minha avó. Se quisesse ela teria chance de ir me ver, mas eu sequer tive notícias de Jacob após sua partida e era óbvio que ele nunca se importou com isso.

Não tinha por que me ocupar com o passado, ele não voltaria. Acompanhei minha amiga de volta ao ponto de táxi, o bilhete de ônibus em minha bolsa representava tudo o que deixaria em minha cidade natal e ao mesmo tempo me mantinha eufórica a espera do que a vida reservava para mim.


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Notas finais do capítulo

Tô enfrentando o desafio de ter Bella e Jacob como o casal principal. Eu amo o Edward, mas para essa história em especial achei que o Jacob combinava mais, justamente porque sempre gostei do lado humano dele em Crepúsculo.
Se alguém leu, por favor comente, diga o que está achando. OBRIGADA! :)
Beijos!



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