Meu gatinho escrita por Beilschmidt


Capítulo 3
Terceiro


Notas iniciais do capítulo

Postando agora porque vou passar o dia mimando meu namorado que está ficando velho hoje ♥



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Emburrado, o loiro estava encostado em uma coluna da loja enquanto observava Bridgette zanzando de um lado para o outro com roupas e mais roupas para Adrien. Marinette havia se sentado em um dos pufes e observava a tudo atentamente.

Ainda havia o fato de as fãs de Félix estar aglomeradas na porta da loja, sorte que seu segurança estava dando conta da histeria delas. Odiava receber aquele tipo de atenção somente por posar para as revistas, apostava que nenhuma delas o aguentaria no seu temperamento normal. Bridgette e Marinette eram exceções, por isso eram com elas as únicas a compartilhar verdadeiramente a sua vida cansativa e chata de modelo, já que seu próprio pai preferia dar atenção quase que exclusivamente para seu trabalho, cuidando dos passos do filho com seguranças. Estava cansado daquilo? Estava! Mas ao menos tinha a liberdade de sair de casa sem aquela sombra do segurança somente para a casa das irmãs, e era justamente para lá que ia quase todos os dias. Mesmo reclamando horrores de tudo que elas faziam ou deixavam de fazer, ele as considerava como melhores amigas. As únicas que o conheciam quase que inteiramente. Assim como aquela casa era a sua segunda moradia.

Suspirou, a perna com que usava para se apoiar estava adormecendo. Rendeu-se e foi sentar ao lado de Marinette.

— O que acham de irmos comer? Estou faminta. — Bridgette vinha puxando a mão de Adrien, as roupas que escolheram estavam no caixa sendo somadas. Cutucou o braço de Félix — Sua vez, mocinho.

— Caramba! Eu acabei de me sentar.

Resmungou algo e levantou-se já pegando sua carteira. Amaldiçoava Bridgette por ela ter aquele tipo de poder sobre ele. O loiro sabia muito bem, que mesmo sem ordenar ele faria tudo que ela quisesse. Ela era o seu ponto fraco. Só não queria admitir para si mesmo o porquê disso.

Adrien olhava para Marinette, esta sorria com a cena da irmã. Seus olhos verdes brilharam, fazendo-o rir junto dela.

.x.

Largando a mochila no sofá, Marinette passava as mãos pelos cabelos, agora desfeitos das marias-chiquinhas. Havia acabado de chegar da aula e no caminho para casa pegou uma chuva daquelas. Estava irritada ao extremo, a professora havia reclamado de seu trabalho, algo que estava muito superficial. Está certo que quase não tivera tempo para prepara-lo melhor devido às condições daquele dia… Mas poxa! Ela havia explicado tudo certo, corretamente e até acrescentado algumas coisas que nem havia no livro.

Resmungou muito antes de chegar a casa, tomar um banho e ir até a cozinha; onde se deparou com Adrien sentado na cadeira observando Bridgette, que cozinhava na maior alegria possível. E Félix, encostado em um canto ao lado de Adrien, observava atentamente a outra mexendo nas panelas.

Estranhou. Félix sempre as visitava um dia sim, dia não. Lógico que nas segundas ele se trancava no próprio quarto e não queria nem saber se o mundo estava em chamas caindo num apocalipse zumbi em direção a um buraco negro radioativo; normalmente, para Marinette, as sextas-feiras eram, pela lógica, o dia de poder descansar e não as segundas, mas ela nunca perguntara sobre isso a ele.

Então só havia um motivo para ele estar ali em plena uma e meia da tarde.

— Felix? — riu-se — Ainda com ciúmes? Nossa achei que tivesse entendido que não é esse o caso e…

— Tá querendo brincar com o meu humor hoje, Dupain-Cheng? — virou-se para a garota com um olhar frio.

Ok!

Geralmente quando sua ira chegava a um limite que possa ser considerado mortal, ele pronunciava o sobrenome. Ela engoliu em seco.

— Para de falar assim com ela ou tu vais para fora daqui.

Podia materializar aquela frase em uma navalha. Ele resmungou e virou a cara.

Pobre Adrien… sabia que era por culpa dele que toda aquela situação havia se instaurado entre os três. Sentia-se culpado, tanto que só agora sabia o peso de seu egocentrismo. Ele era um gato de rua agora, ninguém gostava dele e naquele momento não estava sendo exceção. Sentia-se uma aberração que vagava entre pessoas de bom coração, pessoas generosas demais para que pudesse agradecer o que haviam feito por ele.

— Licença. — sussurrou para Marinette.

Levantou-se da cadeira em um pulo e foi até a sala. Sabia que ali estava sua capa negra, agora já lavada. Precisava sair daquela casa. Não era bem-vindo ali, pelo menos pelo modelo, sabia disso mesmo que as meninas o acolhessem. Mesmo que Félix sequer morasse ali, ele sabia que estava dando despesas para todos. Não era de seu feitio se aproveitar assim sem poder devolver da mesma forma.

Não sabia como retribuir tamanha gentileza. Sentia-se um parasita.

— Adrien?

A garota correu atrás do outro. Bridgette virou-se para saber o que estava havendo, e seu olhar logo pousou em Félix.

BIBI! ADRIEN FUGIU PELA JANELA! — gritou a jovem da sala. Ela percebeu que a mochila ainda estava ali, concluindo que saíra apenas com a roupa do corpo e provavelmente sua capa. Mais que depressa correu até a porta.

— Era só o que faltava. — o loiro deixou escapar.

Bridgette cansada daquela cena toda do loiro, e da intimidação ao outro desde que chegara ali, desligou o fogão e jogou a colher de madeira que segurava na pia, fazendo o maior barulho. Segurou o modelo pela gola da camisa com certa brutalidade e o trouxe para bem perto.

Perigosamente perto.

— Olha aqui, Félix Agreste! Eu nunca sequer lhe disse isso, mas eu te amo e muito. Mas não será por isso que vai me impedir de te dar umas tapas na cara se o Adrien não voltar mais. Eu sei muito bem o que eu e Marinette estamos fazendo aqui o acolhendo, então tu  não tens o direito de vir aqui perturbar e intimidar o coitado como se ele fosse assunto teu. — pegou mais fôlego — E assim que Adrien voltar, tu vais pedir desculpas para ele, porque tu já estás todo errado! O coitado já foi abandonado, ele não precisa de mais um trauma para levar nas costas, e ainda por cima vindo de ti.

Ela bateu com a palma da mão aberta no peito do outro, dirigindo-se rapidamente para a sala. O avental que usava fora jogado no caminho.

E AI DE TI SE ISSO SE REPETIR NOVAMENTE!

Ouviu uma porta bater com força.

O loiro ainda estava parado de boca aberta tentando assimilar tudo o que ouvira, suava gelado. Estava surdo ou o que?

Droga Félix! Ela o ama!

.x.

Adrien não havia saído correndo, sabia que se tomasse uma atitude impulsiva como aquela acabaria por leva-lo a algum beco desconhecido que provavelmente o faria se arrepender muito depois. Além das pessoas se o vissem correndo acabariam por associar sua pressa com uma possível fuga. Saiu apenas caminhando, procurando uma rua sossegada para seguir seu rumo, tranquilo e sem ser visto. Mesmo que sua cabeça estivesse em uma confusão emocional tremenda.

Já havia parado de chover e como via uma ou outra poça de água ele as ia chutando. Parou em um semáforo na esquina, ainda próximo da casa das garotas, quando ouviu o berro de Marinette. Ele tratou de correr a faixa, sequer esperou o sinal ficar vermelho.

Foi então que viu um carro em sua direção.

Ouvira Marinette berrar seu nome desesperada ao vê-lo, sabia que daquela distância nada poderia fazer.

Adrien calmamente pegou impulso nas pernas e pulou com facilidade o carro com sua agilidade felina, conseguindo chegar ao outro lado da rua e continuar sua caminhada, sem olhar para trás.

— Que? — uma morena se encontrava confusa pelo salto inesperado dele.

.x.

Sentado no sofá o loiro estava de braços cruzados. Félix estava nervoso, sabia que a hora que as meninas voltassem ele apanharia. Sabia que tinha agido errado e estava se preparando fisicamente para isso. Olhou para o relógio digital no pulso, tinham se passado trinta minutos inteiros e sua agonia só aumentava. Estavam demorando muito.

Foi quando ouvira um clic na porta.

— Quer me matar de susto? — era a voz de Mari, Félix sequer se virou para ver, mas sabia que tudo dera certo. Seu peso na consciência diminuiu — Vá para o quarto, vamos conversar.

A garota passou pelo sofá e deu uma olhada no Agreste. Saiu rapidamente com um gato preto no colo e trancou-se no quarto.

Félix.

Pôde sentir todos os seus pelos se arrepiarem com o tom de voz perigosamente baixo dela.

— Vai ficar para jantar?

— Estou sem fome.

Ela não disse mais nada.

Sabia que ela ficaria lhe dando um gelo até que ele levantasse a bunda dali e fosse pedir desculpas para Adrien, ela sempre agia assim. Mesmo que na sua cabeça ainda se mantinha como o único certo da história. Aquele clima estava o incomodando demais, Bridgette era capaz de mantê-lo assim para sempre se fosse preciso. Armou um bico, decidiu então dar o braço a torcer, iria pedir as malditas desculpas só para satisfazer a garota. Não conseguia suportar aqueles olhares ameaçadores dirigidos a si. Restava agora os dois saírem do quarto para poder falar com o loiro.

.x.

— Adrien, eu sei que ele deve ter seus motivos para ficar de olho em ti esse tempo todo, mas, por favor, não se deixe intimidar com isso. É apenas o modo Félix de ser. — sorriu, fazia carinho entre as orelhas do bichano — E ele não morde, e se morder eu te deixo arranha-lo todo.

Ela levantou-se e o deixou no chão. Rapidamente um brilho percorreu o corpo do gato, trazendo a sua vista a forma humana de Adrien… nu.

QUE! — jogou-se na cama tentando enfiar a cara no travesseiro — Custa transformar-se dentro de um banheiro, por gentileza? Isso é constrangedor.

— Desculpe, eu esqueço esse detalhe.

Adrien não tinha vergonha de ser visto nu por uma garota, e nem por ninguém. Gatos não precisam de roupas, então tanto na sua forma animal quanto humana, ele geralmente estava nu; mas por conta de educação ele se mantinha sempre na sua capa, escondendo seu corpo.

Marinette suspirou, ainda tinha muita coisa para presenciar.

— Tem um robe em cima da minha cama que tu podes usar.

— Robe?

— Ai caramba… — ainda de costas e de olhos bem fechados, foi até a cama e pegou um robe de um tecido macio, era vermelho com bolinhas pretas — Aqui, vista.

Pelos ombros ela jogou a peça para o loiro. Adrien pegou e vestiu. Não sabia mais o que fazer, ficou parado esperando as próximas ordens de Marinette.

— Já?

— Sim.

— Vamos.

Puxou-o pela mão e saiu do quarto. Mal o fizeram e deram de cara com Félix, todo emburrado. Por cima de seu ombro, Mari pôde ver Bibi escorada na parede com cara de poucos amigos, seus braços cruzados e aqueles olhos penetrantes de quem queria fritar certo Agreste.

— Olha… eu queria pedir desculpas por me meter nos assuntos das meninas… mas coloquem-se no meu lugar, claro que iriam estranhar ter alguém desconhecido dormindo no mesmo teto que o seu. — ouviu o som de dedos sendo estalados atrás de si, engoliu boa parte do discurso que já havia pensando para aquele momento — Então, era só meu instinto defensivo, não ligue. De verdade, desculpe-me.

— Tudo bem, na verdade eu também estava me sentindo um pouco intruso aqui, não estou querendo me aproveitar delas e nem de ninguém. — disse olhando para o tapete.

— Posso sentir que tu não és má pessoa, Adrien. — pronunciou-se Bridgette — Tu não sabes o quanto é difícil achar alguém honesto e de coração puro neste mundo que esteja disposto a te ajudar. Não se culpe por estar nos dando trabalho, o ajudaremos de todo o coração, isso não tenha dúvida. Tu tens sorte por estarmos dispostos a lhe acolher, assim como temos sorte de te ter como um novo amigo. — ela sorriu tentando conforta-lo.

— Eu realmente não sei como agradecer pelo que estão fazendo por mim. — podia sentir lágrimas escorrendo pelas suas bochechas — Eu não quero mais ser essa aberração. — suas mãos tentaram esconder as orelhas negras, enrolou sua cauda na perna de Mari.

A garota o puxou pelo braço até o sofá, fazendo com que ele sentasse. Abraçou-o carinhosamente. Bridgette sorriu, sabia que o estoque de palavras de Félix já havia se esgotado, e ela sentiu que precisava deixar a irmã sozinha com o jovem. Puxou o modelo pelo braço até a cozinha, este não recuou o contato, apenas a seguiu, como se tivesse entendido.

— Adrien, tu não és uma aberração. — fazia um carinho nos cabelos loiros, as orelhas negras dele estavam abaixadas — Não se desvalorize assim, tu és uma pessoa gentil, carinhosa, alegre e… um gatinho. Quem não gosta de gatinhos afinal? — sorriu — Eu mesma os adoro.

— Mas as pessoas não gostam de mim. Elas me rejeitam e me abandonam.

— Problema delas, pois eu e Bibi te adoramos e nunca faremos nada disso contigo. Acho que até Félix, mesmo com aquele jeito esquisito e fechado dele. — levantou-se — Eu adoraria poder ter orelhas de gato como as tuas… são bem fofas, aliás.

As mãos macias dela enxugaram os rastros de lágrimas do rosto dele. Seu sorriso era tão bonito e contagiante, que logo Adrien também sorriu.

— Lembre-se, sendo ou não um gato, tu tens um coração humano. A aparência não faz de a pessoa ser bonita por dentro. Desconfie de tudo e de todos, pois este mundo é injusto.

Apertou as mãos dela contra as suas. Adrien estava admirado e agradecido por aquelas palavras tão gentis e acolhedoras.

— Venha, vamos comer que eu estou faminta desde cedo.

Ele a seguiu até a cozinha.


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Notas finais do capítulo

Próximo capítulo, domingo, pois segunda tenho prova na faculdade. 3