Cosmos. escrita por Nienna Valois


Capítulo 6
O colóquio de Saga e Kanon.




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6

 

 

Da chaminé era lançada uma nuvem de fumaça acinzentada que elevava-se rumo ao céu. Saga alimentava o fogo com a lenha que ele mesmo se ocupava em buscar, a noite o clima se tornava frio , embora sereno o céu estava limpo e a constelação de gêmeos cintilado sob a vastidão do céu noturno, dizia-se que se o brilho de uma constelação de um cavaleiro se apagasse, a sua vida extinguia-se junto.  Kanon adentra silenciosamente na casa, tirando a túnica começando a desabotoar pelo pescoço, enquanto isso o seu irmão o observava pelos ombros.

— Hoje pela manhã crianças vieram aqui em agradecimento, foi um pesar não lembrar o que fiz por elas. – disse Saga sem tirar os olhos das chamas do fogo.

Kanon ficou imóvel de costas ao irmão e respondeu de forma evasiva:

— Não sou herói de ninguém apenas fui justo em um desentendimento...

— O mestre ordenou que você tomasse cuidado, gêmeos não são bem vindos por aqui, há uma profecia que se cumprida estaríamos expulsos do santuário. – advertiu Saga.

— Mestre, mestre sempre o mestre! Eu já disse que não sigo ordens daquele homem que você tem retirado minha autoridade nas falas. E tem mais, que se dane a tal profecia! Athena nos trouxe ao santuário e ninguém pode contra a vontade de uma deusa!

Saga foi em direção de Kanon o fitando incisivamente:

— Este homem que você profere em tom mordaz é o nosso tutor que nos tem orientado pelo cosmos através de sua sabedoria e técnicas superiores, a força que este homem emana é maior que a do mestre do santuário, e estou convicto disso – disse Saga com veemência.

Kanon redarguiu com um sorriso maroto:

— Irmão você está enganado, eu apenas vejo um velho decrépito que não tem forças para governar este santuário.

— O que disse?!

Kanon deu as costas para Saga olhando para o fogo incandescente da lareira.

— É isto que ouviu, mesmo sendo amado por Athena e por você, ele não é páreo para a força do mestre,  Gaios é um velho decrépito e frustrado por não ser o mestre do santuário.

— De onde tirou essa asneira Kanon? o Senhor Gaios segue obedientemente as ordens do mestre, como ele poderia cogitar tal poder!- Saga estava perplexo.

— Escute, o homem que pode decifrar os segredos da escrita de Athena é o mestre, não tenho dúvidas disso, Gaios passa a maior parte de sua vida naquela infame lugar apenas para lamentar a sua falta de autoridade sobre os demais cavaleiros no santuário, ele vem com seus enigmas para despistar a sua amargura como cavaleiro, eu vejo isso na sua alma.

— Como sou tolo em lhe dar ouvidos!

— Então fique com seus devaneios irmão! Dissipe os encantos que ele imputou em sua mente, Gaios não passa de um reles cavaleiro.

Saga de súbito não se conteve, foi em direção de seu irmão e o esbofeteou furioso.

— Maldição, por que fez isso?!

— Cale-se e nunca mais ouse falar do meu mestre! Qualquer que seje sua frustração e se houver, sempre irei ter por ele o mais elevado respeito.

Ao dizer isso, Kanon hesitou e deu um passo para trás, Saga furioso era terrível, além disso seus olhos ficaram vermelhos ardendo em chamas, como o fogo da lareira.

— Saga você é um louco!— disse Kanon segurando o lado esquerdo do rosto com semblantes de dor pela pancada truculenta.

Saga silenciou-se, e afastou-se sombrio.

— É...acho que você não entendeu, este homem também é meu mestre, e há anos convivo com ele; poderia até matar por ele! Ou colocar o mestre do santuário de joelhos na frente dele, entende? - dita tais palavras, Saga o olhou com desprezo abismal - Sabe irmão, eu sei o que faz você se enfurecer por ele, aquele velho lembra muito o nosso general, ah aquele miserável que abandonou nossa família e o nosso povo a mercê da guerra. É assim a história que crescemos ouvindo dos Aedos não é mesmo? E talvez Gaios seje aquele covarde, ou não, eu sei o que passa pela sua mente, afinal somos irmãos.

Saga virou o rosto recusando a pronunciar.

— Irá fugir da verdade, você precisa escutar!- esbravejou Kanon.

Saga respondeu calmamente:

— Nunca mais irei escutar o seus delírios Kanon... — dito isso, foi caminhando em direção à porta, e Kanon se entrepôs no meio do caminho.

Escute! Quem deixará esse recinto sou eu, ao sair daqui irei até nosso mestre e irei questioná-lo sobre tudo isso, nem que custe a minha vida, ou que eu deva enfrentar você!

Saga abre a porta, e Kanon a empurra novamente com força, num gesto hostil.

— Saia da minha frente!

E furiosamente Saga abre a porta, Kanon vendo isso sorri maliciosamente, contudo no momento exato em que a porta se abriu, um rapaz muito jovem de cabelos claros e de tez muito pálida estava estático do lado de fora, e ficara atônito quando viu os dois cavaleiros idênticos, não sabia que o herói que tanto reverenciava tinha uma identidade dúbia. Abaixou a cabeça trêmulo, e se afastou sem dizer uma palavra.

Maldição! - murmurou Kanon.

*** 

 

Em algum lugar próximo ao Mar Egeu.

 

 KANON CAMINHAVA RUMO A CAVERNA ONDE seu mestre se resguardava, sabia que o local era sagrado, sua vida se resumia a aquilo, mas em sua mente sabia que havia algo além de sua compreensão. O dia estava ensolarado, o caminho era longo pela penísula, por onde passava vislumbrava ruínas jônicas do templo de Athena próximo a baía costeira, a medida que aproximava do mar o vento soprava forte, o mar estava calmo, num tom de azul límpido, o marulho das ondas batiam-se contra a areia uma atrás da outra, umas intensas outras nem tanto, e Kanon imaginava que abaixo dali reinava o deus do mar, que o seu palácio devia ser demasiado suntuoso, assim como o santuário de Athena. E se a deusa não estava reencarnada, provavelmente o templo do deus marinho devia estar sob um longo silêncio. E Kanon fantasiou, sua imaginação não tinha limites, e pensou como seria se fosse um deus, por que contentaria apenas com a terra? Se podia ter o céu, ou o mar também. Será que sua condição neste mundo era apenas em obedecer?

Absorto e solitário estava em direção a uma trilha que terminava em uma gruta próxima ao Cabo Sunion, aquele presídio debaixo do mar lhe dava calafrios. Para chegar na gruta, demorava quase que duas horas a pé, e naquele momento a única companhia do cavaleiro, era apenas o mar. Kanon ultrapassou um corredor escuro dentro de uma caverna, o cheiro úmido não era muito agradável, e foi acompanhando o feixe de luz que marcava o fim daquele caminho, ao chegar no ponto final, ele ficou deslumbrado com a luz solar derramando-se sobre uma lago cristalino de grande extensão, o lugar parecia ter uma forma oval, as paredes rochosas era irregulares, e as estalactites iam fazendo formas nas extremidades das rochas, havia uma parte que a luz não penetrava, era até um pouco sombrio de se ver.

Kanon não sabia para onde ir, não lembrava corretamente onde era a entrada da gruta que seu mestre havia recebido sinais de Athena. Entretanto, repentinamente uma borboleta branca corta sua visão, de um voo raso inicial, ela parte ao ápice da caverna ao céu aberto. De súbito uma voz em eco o aborda de forma enigmática. Ao olhar com mais precisão, em uma rocha um pouco distante em meio as sombras e uma ínfima vegetação verde musgosa na parede rochosa, estava um homem de cabelos longos cinzas, a luz fraca atingia o cavaleiro em refração, parecia que um brilho cósmico o envolvia, a borboleta branca sobrevoava em sua direção. Gaios era luz que atraia as pequenas formas de vida ali existente, ele era impressionante admitiu Kanon deslumbrado, e ao mesmo tempo diminuído com aquele poder.

Parecia que um vocal lírico feminino cantava em sua mente, aquilo não parecia algo real, aliás desde quando Kanon e Saga conheceram aquele homem nada parecia ser real. Gaios lentamente olha pelos ombros, seus olhos azuis profundos, eram tão belos mas ao mesmo tempo marcavam o cansaço do tempo, estar ali parecia um eterno estado de vigília em prol de Athena.

— Kanon venha até a mim. – disse Gaios numa voz autoritária.

O cavaleiro estava paralisado, Kanon pela primeira vez em toda a sua vida sentiu medo daquele homem.


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