Cosmos. escrita por Nienna Valois


Capítulo 18
Uma mensagem para a Ilha de Andrômeda.


Notas iniciais do capítulo

Os dias na ilha sofriam uma alteração do tempo, nem sempre condizia com o tempo do santuário, tal fenômeno ocorria pelo fato de ambas às localidades serem seladas pelos deuses. Thera era um exemplo disso por estar situado próximo ao templo marinho de Poseidon, o próprio deus reivindicou a posse da ilha. Por estar acima de um vulcão adormecido, o deus Hefesto reclamou outra parte, por estar acima de uma placa tectônica. Nesse conflito de posse, Zeus decidiu que a ilha pertencia a sua filha Athena, pelo fato de ser protetora da terra. Ambos os deuses ficaram furiosos com a sentença do deus soberano do Olimpo, tentaram discutir sem êxito. 



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18

 

“A amizade é o acordo perfeito de todas as coisas divinas e humanas com a benevolência e a afeição. Por isso, excetuada a sabedoria, não sei de coisa melhor dada aos homens pelos deuses imortais”

— CICERO: A filosofia fala Latim.

 

 

Ainda ao entardecer o velho Dédalo se encontrava em frente ao seu templo em contemplação, pensara em todas as palavras ditas a Aioros, e desejava em seu âmago seu sucesso e proteção, tinha um pressentimento, quase um sopro divino de um daimon em sua mente: sua vida estava correndo perigo. Ora, a doce Yaren estava em seu templo, e sabia que o que previra para ela seria falho. Jamais uma máscara das amazonas poderia conter a força de um espírito maligno, disse tais palavras otimistas à Aioros, pois intuíra que no coração daquele cavaleiro justo habitava um sentimento, difícil de ser curado, que era a culpa. Subiu as escadarias e voltou ao templo, com a mente nebulosa, havia um silêncio naquele recinto que lhe causou medo. Parecia que o templo estava vazio, e o velho Dédalo sabia que não estava. As colunas gregas que sustentavam o templo pareciam espectadoras do próximo ato, observadoras que guardavam os segredos do tempo. Caminhando até o salão onde estava à mesa que há pouco celebrara o encontro com o cavaleiro de Athena. Assustou-se. Estava completamente destruída. Observando todos os talheres destruídos, e no meio daqueles cacos se encontrava Poros adormecido. Ou pior, morto. Dédalo fez um silêncio de dor, colocou-o na mãos e agradeceu. Era o seu sábio e amigo pássaro que comunicava com o santuário; assim como a coruja que pousava nos ombros de Athena, a sua visão de longo alcance. O inimigo estava ali, Dédalo não era mais aquele jovem cavaleiro de prata, mas ainda era forte, passou pelos momentos mais trágicos ao lado da Athena de dantes, em árduas batalhas, não iria se amedrontar pela limitação do tempo em seu corpo. O cosmo é eterno, e sempre vital. Caminhou entre as colunas do templo e solicitou que o inimigo aparecesse. Fez-se um longo silêncio e uma voz enigmática surgiu furtiva em alguma coluna.

— Arquiteto do Santuário! Talvez eu possa poupar-lhe a vida se me disser tudo o que sabe sobre os cavaleiros de ouro desta Era. Lembro muito bem de você, é um dos últimos remanescentes da guerra santa, deveria estar morto! Ultrapassa o tempo com as feitiçarias dos deuses! Mas não! Quis cruzar o tempo apenas para transferir seus conhecimentos ao cavaleiro de sagitário. Aquele maldito! Vamos acabar logo com isso! Deixando o seu templo seguirei, e tomarei a cabeça de meu rival.

Dédalo apenas sorriu. Não respondeu.

— Não tenho nada a dizer. Você esteve lutando contra nas doze casas, deve conhecer bem o seu túmulo. Foi lá que o cavaleiro de sagitário derrotou-lhe e o jogou como um nada nos abismos do santuário – Dito isso, Dédalo caiu na gargalhada, seu riso foi tão alto, que fazia eco. Sua gargalhada aumentava mais e mais, era perturbador.

Do alto do templo, a Estrela inominável levita no ar e cai de pé em frente ao velho Cavaleiro, seus cabelos estavam completamente cinzas ocultando os olhos sombrios, a feição de Yaren estava quase se desvanecendo, “ele” estava apoderando do corpo dela até desaparecer por completo. Dédalo recuou, foi um ato muito veloz. A Estrela, com um semblante diabólico, observava e caminhava em círculos, com o olhar fixo no seu oponente, parecia estar preparando um ataque certeiro e letal.

— Velho Dédalo, Cavaleiro de prata, o arquiteto do labirinto – apertou os lábios com cinismo- se orgulha muito disso não é mesmo? Eu não tenho esse orgulho de pertencer a um deus, eu sou deus de mim mesmo! Sou livre, entrei naquela guerra por acreditar no senhor Hades, mesmo assim não tive menor obediência a ele. Fui perseguir o melhor de todos os oponentes que lutei em minha vida, e este homem é Gestalt. E eu não fui vencido por este cavaleiro falível! – pronunciou “Gestalt” com os dentes cerrados – Hades, o meu senhor benevolente me deu mais uma chance para esta luta, este cavaleiro que chamam de Aioros não é Gestalt, e eu o já venci! Aqui nesta ilha eu compreendi porque o senhor Hades me ressuscitou neste corpo que tanto amaldiçoei; descobri que a gratidão enfraqueceu aquele cavaleiro.

Dédalo mais uma vez sorri relaxado.

— Você está derrotado Estrela inominável. Foi enganado mais uma vez por Hades!

— O que disse?!

É uma Estrela destruída pela derrota, há pouco na ponte dos enforcados você ia ter o mesmo destino de sua morte em vida passada, Aioros sim! Este cavaleiro que subestima poupou-lhe a vida, você é um oponente vencido. O que importa a ele é apenas destituir-lhe deste corpo que não lhe pertence, e devolver a vida à Yaren, que você destruiu por uma vingança sórdida que perdura desde tempos imemoriais, creio que você estava aproximando do fim.

A estrela tremeu de raiva, fechou os punhos, e esbravejou irado, clamando o fim dos cavaleiros de Athena, e o início de uma nova Era dos deuses, um discurso profético. Dédalo escutou aquilo com desdém. Porém, aquela Estrela amaldiçoada e errática pelos deuses não estava blefando os seus intentos, queimou o cosmo e desferiu um golpe contra o velho Dédalo, seus olhos vermelhos ardiam em fogo, desferiu golpes contínuos e incessantes contra o seu oponente, Dédalo foi ao chão em derrota.

— Essa luta já está perdida, eu não quero gastar a minha força contra um homem derrotado como você, e ainda sem a sua armadura! Não é piedade de minha parte, só não quero empregar minha força a uma luta inútil, posso derrotá-lo por completo com apenas um de meus dedos. – disse a estrela irônica puxando os cabelos do velho Dédalo erguendo a cabeça o torturando para que falasse- Vamos diga! Qual é o segredo da casa de Sagitário! Qual é o motivo de aquele homem ser escolhido para alinhar-se com o sol! Eu ouvi isso muito bem de seus lábios! Quais são os intentos de Athena nesta nova batalha! Vamos diga sei que sabe seu miserável, espectro do tempo! Escravo de deuses!

Ferido, Dédalo ainda tinha forças para sorrir, fez um silêncio e com muita força disse tais palavras duras:

— Eu, um escravo dos deuses? Não, apenas um soldado da justiça. E você apenas um cavaleiro mercenário indigno. Um espectro cheio de ressentimento, um fracasso como homem.  Vamos acabe logo com isto de uma vez!

Ao olhar no fundo dos olhos de Dédalo, algo estranho se comunicou com a Estrela rival, ele tentara confundir os seus pensamentos, para tentar resgatar a alma de Yaren, dar-lhe algum comando, ele era perigoso, poderia estar fazendo com que a pobre garota lutasse contra aquele espírito maligno para que pudesse poupar a vida de Aioros. O espírito da Estrela tinha um cosmo muito obscuro, Dédalo tinha sensação que toda aquela força era proveniente de um deus que intervinha em toda aquela armadilha. Como poderia ser o deus do submundo? Isso era praticamente impossível, ele fora derrotado e selado. Mas sentira péssimo, por forçar Yaren atentar contra si mesma. A Estrela arguta afastou-se.

— Velho cavaleiro, o que pensa que está fazendo. É inútil!

A Estrela parece ter lido o seu pensamento, como podia? Só um deus poderia ter este poder! Havia sido um erro cometido por Gestalt? O corpo deste cavaleiro foi destruído, mas o espírito estava ali livre e reencarnado, este homem era para ter sido selado. Como pode estar em nossa Era causando atrocidades, e tão próximo sentimentalmente de Aioros.

— Vejo que está atormentando pela minha presença nesta Era. Mas eu vou te explicar de uma vez por todas, para que leve essa memória para o além. Gestalt também foi derrotado, pois estava muito ferido pela batalha, e ele me lançou em um abismo próximo a sua casa através de um de seus golpes, eu não resisti à força do trovão de sagitário. Minha alma caminhou ao suplício no Tártaro, repleta de desejo de vingança. Neste caminho obscuro, um homem de vestes escuras e com o rosto oculto por um capuz ouviu o meu tormento, e me deu a oportunidade de voltar ao mundo dos homens para perseguir meu adversário através da minha constelação, nasci do pó das estrelas, habitei a lua. Este homem oculto e misterioso tirou-me de meu suplício, meu espírito errante habitava o interior da terra, o lar do deus das profundezas, eu vi milhares de espíritos como o meu cruzarem o Aqueronte, ávidos para o retorno à vida, mas mal sabiam que pereceriam no tártaro para toda eternidade! Esse é o destino dos cavaleiros! Disse tudo isso para aquele ser obscuro de alta compleição que surgiu diante de mim, ele não me dava respostas, apenas encaminhou-me ao rio Lete, um rio que atravessava o submundo, muito além do Aqueronte, e mergulhou-me ao esquecimento, minha memória se esvaziou. Quando retornei à vida com o corpo desta garota, pude viver como um hospedeiro silencioso, até o dia que aquele homem misterioso apareceu de novo para mim e me fez despertar, contudo veladamente meus desejos ocultos me levaram até o encontro de meu rival. A maldição é estar neste corpo e experimentar sentimentos tão contraditórios...

Dédalo começou a rir, e a Estrela afastou-se indignada, tinha memórias perturbadoras, seu olhar era de aflição:

— Provavelmente é sua última encarnação, não mais assombrará o santuário e nenhum humano.

O que quer dizer com isso?! O que sabe sobre a vida e a morte?! Tais temas só decidem os deuses!- rosnou a estrela enfurecida.

— Não ficaria surpreso que este homem oculto e sombrio que te mergulhou no rio Lete, fosse a doce Athena...

— Nunca! Tenho desprezo pela piedade de Athena e seus Cavaleiros!- esbravejou – percebo que não terei respostas! Chega de toda essa conversa inútil. Mas eu vou te dizer o que irei fazer depois de acabar com você e Aioros, não tenho segredo com os mortos – disse com um semblante cínico - partirei para ilha de Andrômeda e a irei destruir, assim como Thera logo será! Sei bem que há alguém que você muito estima reside neste lugar, e este alguém herdou todas as suas técnicas e se tornou muito forte... - gargalhou a Estrela inominável convicta.

— Como sabe de tudo isso?- disse Dédalo, seu semblante tornou-se abatido bruscamente.

Habitar o corpo de uma mulher me trouxe um poder que nunca tive a “sensibilidade”, não achei esse sentimento inútil me serviria para alguma coisa, na verdade me atrapalha! Mas neste momento me é oportuno usar este poder, pois vejo um ponto fraco em você. Quem diria! Um cavaleiro da sua estirpe exibindo a sua vulnerabilidade para o seu oponente. Logo essa ilha se tornará submersa, e o santuário não poderá fazer nada quanto a isso! É a primeira derrota de Athena neste século! – ergueu os braços visualizando a vitória.

Dédalo ficou assombrado, se sentira perdido, o desejo de vingança daquele espírito maligno não tinha limites, quem era esse ser misterioso que o permitiu voltar a terra? Athena possui uma justiça diferente dos humanos, talvez aquele espírito precisasse de um expurgo. Mas era evidente que a sua cosmo energia crescia a cada momento, mas de onde provem tanta força? E num gesto brusco repleto de ira, a Estrela levantou o braço ardendo em cosmos, com a mão direita em chamas e os dedos juntos simulando uma espada cortante, desferiu um corte de luz que atingiu o velho Dédalo profundamente no peito, este se curvou em dor, deu um leve suspiro, com os semblantes serenos sorriu enquanto a vida abandonava o seu corpo paulatinamente; serviu por séculos a Deusa, agora era à hora de descansar, junto com todos os seus amigos, cavaleiros que lutaram em outrora, as memórias passaram em sua mente como um filme, sentira saudades de seu tempo. Mas mesmo assim desejou profundamente força aos novos cavaleiros que virão, para que protegessem a deusa Athena, e que todos se alinhassem juntos para extirpar todo o mal causado pela ambição e vingança de humanos e deuses. Pensou na tarefa árdua do mestre, que estava cada vez mais se definhando com o tempo, rogou sabedoria. Suas palavras dançaram no éter como um encanto cósmico, sua aura brilhou em uma luz forte dourada se projetou para fora do templo. Na sala do mestre no santuário, Shion pressentira que um cosmo amigo estava se extinguindo, e lamentou-se profundamente aquela perda, sabia bem a quem pertencia aquele cosmo que se despedia do santuário. Caiu no chão de joelhos em lamentos pela proteção da Deusa. E enviou o seu cosmo para Thera através do céu. Aioros que estava caminhando próximo ao Citeron também pausou os seus passos e sentiu o cosmo de despedida do velho Dédalo.

O silêncio da ilha era quebrado pelo canto das gaivotas em azáfama no céu de cores cambiantes, a despedida de um nobre cavaleiro, soava como um réquiem dos deuses.  Um cosmo dourado circundou Dédalo o protegendo, a luz era tão forte que quase cegara a Estrela. Este era o poder dos cavaleiros unidos, o poder da amizade, a união do divino e o humano, dos vivos e dos que naquele momento eram apenas lembranças que habitavam o coração. Dédalo se sentiu forte no seu último suspiro. O sangue quente nos dedos da Estrela queimava de forma insuportável que o fizera gemer de dor. Como poderia ocorrer aquele fenômeno? E se auto indagou, a verdade é que a força de um cavaleiro residia em todas as suas células, resquícios minúsculos de sua molécula era uma parte de seu todo, ali havia a centelha da explosão do universo, e Dédalo estava ali se despedindo da vida. Levantou-se intrépido, e disse a estrela inominável que os fortes morrem de pé. A estrela foi em sua direção tentando derrubá-lo, mas a luz cósmica aumentou e só de aproximar fora lançado para longe pela imensa força. Caíra entre as colunas jônicas em meio à penumbra funesta.

Poros que estava morto explodiu em uma luz dourada, sua pelagem toda foi revestida desta cor, seus olhos desapareceram, parecia uma fênix revivendo das cinzas, ardendo em chamas voou majestosamente até os ombros de Dédalo, delicadamente o tomou e o juntou ao seu rosto, assoprou palavras enigmáticas ao pássaro no dialeto grego. O pássaro estava revestido por um encantamento enigmático, o que deixou a estrela assombrada. Dédalo juntou o pássaro na palma das mãos e o lançou para o alto, proferindo uma palavra num tom quase que inaudível, o pássaro ruflou as asas que à medida que o fazia faíscas de feixes dourados eram emitidos, derramavam-se pelo céu como o rastro de um cometa numa velocidade incalculável, lançou-se para fora do templo, consequentemente da ilha. Mas o seu rastro modificou a cor dos céus, deixando a sua marca de passagem. A Estrela correu nessa direção mentalmente para interceptar a ave, sabia que estava enviando uma mensagem para alguém, provavelmente era Aioros. Dédalo finalmente tomba ao chão sorrindo, a Estrela corre para fora do templo com os olhos fixos no céu para observar o rastro do percurso do pássaro e percebera que este estava se lançando cada vez mais distante da ilha. Mentalmente tentou descobrir o que estava codificado naquela missão, mas não conseguia atingir o objeto, que era o pássaro, havia uma interceptação psíquica muito forte. Tentou mais uma vez, e foi atingido por uma onda de eletro choques cerebral. Ficou trêmulo paralisado, quase desequilibrou despencando das escadarias frontais do templo, aquilo só poderia ser à força de um deus, se não é Athena, provavelmente é o mestre representante de sua força na terra, conjecturou. Era um fenômeno deslumbrante de se ver, o céu azul celeste fundindo com o tom róseo, o sol quase alinhando no horizonte, e um feixe de luz dourado iluminando todo o céu dissipando as nuvens. Os olhos da Estrela brilharam, ou era os olhos de Yaren que ainda tinha a capacidade de se deslumbrar com o belo? Era este o sentimento contraditório que a Estrela inominável sentira, habitar um corpo feminino o fazia descobrir dimensões ocultas de sua psique. Poderia sim, haver algum fundamento no escárnio de Dédalo: a doce Athena, em sua sabedoria talvez soubesse como purificar os humanos, e isso só poderia ocorrer através do amor divino a estes.

O MESTRE ENCONTRAVA-SE PROSTRADO ao chão em súplica, curvado apoiava-se ao chão com a cabeça baixa, seu manto sagrado ondulava ao seu redor, através da máscara que ocultava o seu rosto era possível perceber seu desalento e pessimismo. A estátua de Athena colossal estava a sua frente, uma sombra a partir desta projetava-se diante dele, questionava a deusa as suas inquietações mais íntimas, contudo a resposta era apenas o silêncio, talvez a resposta realmente fosse esta, não havia mais o que ser feito, sentia-se exaurido. Apenas a espera da benevolência de Athena.

Há dois séculos sou espectador da vida e a morte, o trono do papado almejado por muitos se tornou o meu enfado. Meu amigo Dédalo, como pode ser tão cruel o tempo, aqui estou aprisionado em minhas memórias, ó Mnemosine que me agrilhoa aos pés do tempo! Testemunhar a sua passagem é como se o tivesse perdido em meio à batalha em que outrora lutamos juntos, pois vejo que ainda não chegara ao fim, à vida tudo retorna, tenho certeza que um dia reuniremos em alguma dimensão, e poderemos finalmente sorrir, como fazíamos nos velhos tempos, em nossa juventude.

Dita tais palavras em tom de despedida, o mestre levantou-se de forma majestosa, seus múrmuros cessaram, parecia que ele e a estátua de Athena haviam se tornado um. Ambos petrificados à vida.

Poros viajou o mais longe que pode, como um belíssimo raio de luz resplandecente, ao chegar ao seu destino na distante Ilha de Andrômeda, fez-se do crepúsculo uma imagem de fogo nos céus que deixara a todos que viviam ali assustados com tal fenômeno, afinal podia ser algum ataque inimigo. O mar estava calmo e avançava na praia, as rajadas de vento eram frias, típicas de um clima desértico de fim de tarde. A brisa acalmava os ânimos, os cavaleiros aspirantes que viviam nesta ilha eram imbuídos pelo desejo de se tornarem os mais leais soldados de Athena.

O mar de um azul profundo era de uma beleza indescritível; entretanto aquele fenômeno único causou angústia aos cavaleiros que estavam em treinamento e que protegiam àquela ilha mítica. Correram para encontrar seu mestre, que se encontrava em um treinamento solitário. Fazia sempre o seu treinamento afastado de todos, às vezes ele sempre dizia que na solidão podia contemplar o mistério dos deuses. Percorrendo a praia o encontraram sozinho sob as pedras na encosta da ilha, era o seu lugar de retiro, e de costume. Nesses momentos solitários no crepúsculo do dia, ninguém ousava o interromper. Era um homem muito sério, fiel ao santuário e aos princípios de Athena, era respeitado por todos que habitavam aquela ilha longínqua. Inclusive o mestre que dizia que ali naquele lugar residia um dos cavaleiros de prata mais fortes! Por essa razão, determinou que protegesse essa ilha e treinasse os futuros cavaleiros de Athena, fora recrutado para esta missão, que aceitou sem titubear.

Albiore de Cefeu estava de costas, observando o mar, as ondas chicoteavam as pedras, as gotículas de água se espargiam no ar, trazendo um imenso frescor. Os jovens meninos pareciam ainda assustados, e Albion logo os acalmou para que não preocupassem. Estava tudo bem, que retornassem ao treinamento com muita tenacidade, todos ali ficaram aliviados e se retiraram. Apenas um desobedeceu e continuou a observá-lo.

Senhor!— disse com uma voz elevada. Pois o som do mar era muito mais alto que a sua, devia ser o tom da voz do deus Poseidon- diga o que está acontecendo! Isto não está certo! É o fim do mundo? Alguma batalha entre Zeus e Poseidon?

Albion não respondeu, exibiu um leve sorriso, o rapaz era muito jovem, e obcecado pelas histórias de Homero. Quando não estava treinando, estava lendo.

Neste momento, uma forte luz em forma de pássaro dourado, voou das nuvens, até a direção de Albion e o atingiu. O jovem rapaz que presenciou tudo aquilo ficou apavorado e gritou de medo, achara que algo atingira o coração de seu mestre. Foi apenas um susto, Albion segurou o pássaro com as mãos, numa velocidade que não pode ser acompanhada pelos olhos. Aquele ser pequenino que estava na palma de suas mãos era cálido e afável, o conhecia muito bem, embora estivesse com uma aparência espiritual. Seus olhos azuis contrastavam com sua pele bronzeada, aquele semblante de seriedade que exibira a pouco, modificou-se para um brilho inesperado. Algo brotou na mente daquele respeitável cavaleiro, uma lembrança. O cavaleiro aspirante continuava a chamar pelo seu mestre, mas naquele momento, uma voz humana não podia ser ouvida, apenas a voz divina: o som do mar quebrando-se entre os rochedos, aos pés de Albion, Poros cumpria sua missão, agora a mensagem podia ser compreendida.

Não pode controlar a lembrança que ser formou em sua mente, o coração estava apertado, embora os semblantes denotasse serenidade. Nunca me esquecerei do dia, em que fora chamado em particular no templo de Athena, no seu intrínseco sabia que carregaria uma missão valiosa que custaria sua vida. Se tornar guardião da armadura sagrada, foi esse o destino que Athena o cofiou.

Albion fala...

Quando atravessei os pórticos do salão de Athena, o que ainda posso recordar de minha tenra idade e inexperiência, mas tinha tenacidade elevada, e levava isto de forma obsessiva, e este é um dos princípios máximos na Ilha de Andrômeda.

O mestre estava lá, sentando no trono de ouro do palácio, as cortinas de um vermelho rubro abriam-se ao centro, ocultando a sala de Athena. Senti-me honrado por estar ali pela primeira vez, ajoelhei diante do mestre em mesura. Ele disse muitas palavras enigmáticas, falou de meu espírito, e da minha profunda fidelidade a Athena. Era nítido e incontestável, quando me tornei um cavaleiro, a disciplina e a coragem exibiam em meu cosmo todas essas verdades. O mestre falou sobre a ilha de Andrômeda, e da armadura sagrada que se encontrava naquela região. A urna só despertaria diante do cavaleiro de bronze legítimo, e que a minha missão era proteger esta armadura, para que o destino cumprisse, até o dia tão aguardado, o dia em que o cavaleiro de bronze surgisse. E este cavaleiro seria treinado por mim. Aceitei imediatamente, renovando meus votos de fidelidade ao santuário. Mas o meu mestre, o senhor Dédalo, que fora meu tutor, não aceitou facilmente minha decisão. Achava penoso e severo eu sozinho governar a Ilha de Andrômeda. Ele tinha suas razões, temia a mim o mesmo destino do cavaleiro de prata Nicurgo, que se inclinou as trevas dos seus desejos mais íntimos. Ouvi tudo, sem dizer uma palavra e segui o meu caminho, o respeito não me fazia contestar suas palavras. Na minha alma repousa a gratidão por tudo que aprendi daquele velho. Cresci o vendo construir todo o tipo de coisas, fazia reparos no santuário contando histórias do passado e de sua juventude, e dominei muitas de suas antigas técnicas de luta, apoderei de todo aquele ensinamento, e jurei que ensinaria os meus pupilos, tudo em prol da justiça. Mas naquele momento em meio aos rochedos, fechei a mão e a imagem de Poros se tornou cinzas. Tudo se foi, a batalha começou, em breve Athena estará conosco. E nós estaremos com Athena. Para a batalha!Era esta, as palavras enviadas pelo meu mestre, o arquiteto do santuário.

As cinzas de Poros derramavam-se entre os dedos de Albion, em uma tonalidade dourada como se fosse pó de ouro, o vento a espalhava ao seu redor. O jovem aspirante cavaleiro que incessantemente lhe chamava com muita preocupação, chegou até ele e pousou as mãos na ombreira de seu mestre, naquele instante percebeu que ele estava seguro, sem nenhum ferimento, era uma mensagem do cosmos. A calma das águas dos mar modificou, as águas se tornaram escuras, as ondas aumentavam, o céu exibia o prenúncio de uma forte tempestade.


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Notas finais do capítulo

@Nienna Valois.



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