Cosmos. escrita por Nienna Valois


Capítulo 12
O misterioso encontro com o arquiteto do Santuário.




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12

 

 

A intuição exclamava dentro de seu ser, Orin, dos olhos pequenos, continuava com um olhar fixo na aura daquele jovem rapaz que acompanhava o cavaleiro de Athena, à medida que cavalgava lentamente, observava uma enorme sombra dentro do corpo daquele jovem, eram energias contrárias, não conseguia estabelecer qual de ambas era a mais preponderante, mas nunca, em todos esses tempos havia se deparado com algo tão intrigante. Não havia algo similar a aquilo entre os cavaleiros. Mas no seu âmago levantou um questionamento: Como poderia um homem como Aioros não perceber tal mistério?

A amazona meneou o rosto enquanto alisava a crina de seu cavalo, voltando os olhos na direção à frente, refletiu que não poderia jamais enfrentar Aioros, era a batalha do sol contra lua, impossível seria vencê-lo, porém, se estava transitando por uma ilha proibida em nome do grão mestre, aquilo era um comportamento significativo: Nicurgo, sua sentinela, não se comportava adequadamente perante as leis. Mas por que lidar com tudo isso neste exato momento, próximo às litanias de Athena? Questionava a amazona incessantemente, sua mente argumentava para si em hipóteses, buscando respostas as suas inquietações.

Senhora! – interrompeu um dos soldados de seu séquito particular. Há uma mensagem do Senhor Iko, para que vá ate seu encontro.

Incontinenti lhe fora entregue um pergaminho com uma misteriosa mensagem, a amazona abriu o rolo, e seus olhos percorriam as letras gregas, e rapidamente fechou o rolo, mudando seu itinerário rumo ao encontro com um dos guardiões da ilha.

AIOROS REPUDIAVA A MENTIRA, e continuou o seu caminho calado, ao lado de Petros que se recusava a se manter em silêncio.

— Sabe Aioros, já sentia em meu pescoço a lâmina fria da Naguinata, prestes a perfurar a minha carne, eu não teria chances contra aquela mulher. Que mulher! A única com imensa coragem é Athena, mas Orin é terrivelmente forte, acredito que você também teria problemas, meu mestre disse que os habitantes desta ilha são muito fortes, ninguém poderia subestimá-los – disse Petros empolgado.

Aioros permanecia em silêncio.

— Eu sei o que está pensando, que a culpa é toda minha por incitar Aioria a estar aqui neste lugar buscando justiça, mas saiba que tudo isso partiu de sua vontade. Você tem uma ideia equivocada sobre seu irmão, Aioria é um dos homens mais corajosos que já conheci, sua busca é ser um grande guerreiro da justiça.

Aioros continua caminhando, contudo, quebra o silêncio:

— Você disse: “meu mestre”, pensara que fora apenas um dos habitantes comuns de Pyrgos, com um sonho de se tornar um cavaleiro..., mas afinal, quem é o seu mestre?

Petros piscou os olhos denotando o seu desconforto, tremeu um pouco os lábios, foi pego de surpresa com o tom incisivo de Aioros:

— É,...eu...fui criado por um senhor que já não vive mais entre nós, e ele tinha muito conhecimento sobre o Santuário, por isso, me fez despertar este grande sonho. É tudo.

Neste momento Aioros o fitou no canto dos olhos, e pausou os passos diante de uma bifurcação, refletindo sobre qual caminho deveria tomar. Mas, Petros intervém:

— Você não está pensando em seguir a direita?

— Eu seguirei a direita, e você para qualquer canto desta ilha que lhe seja fortuito – respondeu Aioros decidido.

— O quê? Como pode não confiar em mim! Achas que estou aqui por acaso? Já estou há alguns dias na ilha! E vim por Aioria, sinto-me culpado por sua escolha, não quero que nada aconteça a ele, afinal é meu amigo, ouvi rumores que este lado onde você tem a intenção de se enveredar é muito perigoso! Há muitas almas que vagam por lá e que se alimentam de humanos.

Ayashii...

Petros ficou encabulado, com a resposta em outra língua:

— O que está tentando dizer?

Aioros ficou pensativo, e continuou firme em sua convicção, caminhou pela estrada do seu lado direito, proferindo apenas uma palavra:

Duvidoso...

Petros ficou furioso, e Aioros continuou seguindo o caminho escolhido:

— Veja bem Aioros! Não sei o que significa esse seu "Ayashii", não sei se falas de mim ou da ponte dos enforcados, quer saber? Irei seguir o caminho estreito da sabedoria, estava tentando te ajudar, da mesma forma que você poupou a minha vida há poucos instantes, agora, se isso não significa nada pra você, então ADEUS!

Petros correu por outra estrada ressentido, sem olhar para trás, e Aioros, o observou pelo canto dos olhos, sem esboçar nenhuma reação.

ARREFECIDOS SÃO AQUELES QUE PASSAM PELA CONDENAÇÃO DE SÍSIFO, foi assim que Aioria sentira quando estendeu a mão ao seu novo amigo, todos celebraram aquela perigosa travessia, em terras firmes, embora cansados, ficaram contentes e encontraram no horizonte diante de seus olhos, um pequeno templo grego, muito bem ornamentado, aos arredores, um lindo jardim floral, onde a essência preponderante suave era de magnólia. Todos aproximaram do templo, Aioria observava com minúcia o detalhe da arquitetura, comparava com o santuário, quem poderia ter construído aquilo? No mínimo era alguém com um profundo conhecimento sobre a arte Grega. Não era educado, adentrar em um recinto privado sem ser anunciado, mas todos juntos caminharam para dentro do templo deslumbrados, e para o assombro, no salão principal, havia uma mesa posta, cheia das mais variadas delícias, jarras com sucos frescos, bolos, pães, e frutas da estação, tudo perfeitamente organizado e harmônico. A vontade era de se deliciar com tudo aquilo, mas Aioria impediu, além de não ser educado, não era prudente. Questionou a todos se haviam lido os escritos clássicos de Homero, principalmente sobre as viagens de Ulysses, ao retornar para sua ilha natal.

Aioria comentou que havia lido tal clássico da literatura grega, e que seu irmão mais velho lia para ele histórias antes de dormir, foi ouvindo as famosas lendas sobre os heróis da Grécia, o que fez despertar em si, o ideal de se tornar um cavaleiro,  havia uma passagem aonde o herói Ulysses, chegara ao palácio de uma feiticeira chamada Circe, e por uma maldição toda a sua tripulação fora transformada em porcos. Os que ouviram a história ficaram horrorizados, depois da informação de Aioria, ninguém mais quis tocar à mesa. Entretanto, subitamente, um barulho de marteladas fazia eco no recinto, parecia que alguém trabalhava ali de forma árdua. Os rapazes se agruparam, estavam preparados se caso fosse um adversário, afinal Thera era tomada por lendas, o que era real ou fantasia vivia sempre em um limiar estreito. Repentinamente um homem velho se aproximou, tinha uma idade muito avançada, mas conservava um corpo forte, usava um avental, e as mãos eram envoltas por pesadas luvas, parecia apetrechos de um metalúrgico. Aproximou dos meninos com óculos de proteção, era calvo na fronte, mas na nuca conservava uma pequena mecha amarrada.

— Deve ser um samurai velho, você concorda Kurazo?

Kurazo fechou os olhos e não pronunciou, pensativo.

O velho levantou os óculos escuros, e a primeira pessoa que viu na sua frente foi Aioria, aquele rosto lhe parecia peculiar, seus olhos brilharam, e se encheu de esperança.

— Eu não me lembro de receber convidados em meu palacete, há...- e foi contando nos dedos um tempo aproximado- Desisto! Sou péssimo com o tempo, aliás nunca me importei com ele. Afinal quem são vocês?

Aioria tomou a frente.

— Estamos em travessia, queríamos um pouco de água apenas isso.

— Esses outros são de Thera, conheço pelo sotaque e as vestes, mas você rapaz...lembras-me um velho camarada, um grande amigo.

— Meu nome é Aioria, sou do Santuário de Athena.

— O que?! Entendo...- respondeu o velho surpreso.

— Podemos fazer um trato, me ajudem com alguns trabalhos, que posso dar o que quiserem para comer e beber, mas tudo que está posto nesta mesa NÃO é para vocês entenderam? Estou para receber uma visita muito especial, eu sinto isso, meu oráculo me disse.

— Deixe-me apresentar, me chamo Dédalo, sou um arquiteto de Athena – dito isso, fez um aceno para que Aioria se aproximasse.

— Venha comigo, preciso saber de algumas coisas, afinal estou aqui nesta ilha horrorosa, e ninguém me traz notícias do Santuário, preciso de uma reunião com o Grão Mestre, será que você pode me ajudar?

Aioria coçou a cabeça.

— Acho que não, eu nunca vi o mestre!

— Entendo...

— Mas...

Os olhos de Dédalo brilharam em esperança.

— Talvez, meu irmão possa ajuda-lo, ele é uma pessoa muito bondosa, e um cavaleiro muito forte.

— Quem é o seu irmão filho?

Meu irmão se chama Aioros, e é muito próximo ao Mestre.

Dédalo ajoelhou ao chão e chorou, Aioria ficou perplexo.

— Venha todos, acho que selamos o nosso trato!

E foi assim, por algumas horas, todos se alimentaram e fizeram uma pausa, afinal a próxima travessia seria decisiva, Citeron estava logo ali. Porém Dédalo advertiu que um grupo de veteranos atravessara o caminho, todos querem enfrentar o Leão de Citeron, a lenda é clara, vencê-lo significa apoderar de sua força.

Por um momento, Aioria sentou-se nos jardins de Magnólia, aquele cheiro suave subia pelas narinas em aprazia, além da beleza. Dédalo tocou-lhe os ombros, e iniciaram uma conversa, enquanto os outros faziam seu descanso. Kei e Kurazo trabalhavam com a limalha, era um trabalho duro, mas eram acostumados com esse ofício, em Thera, todos sabiam um pouco de tudo.

— Aioria, conheço o Santuário como a palma da minha mão, a minha família empenhou-se em construir todas aquelas doze casas, foi muito difícil restaurar o que o tempo e as batalhas insistem em destruir, estamos próximos ao nascimento da Senhora Athena, quero reparar o seu palácio e lhe dar toda a proteção. Além disso, sinto falta de meus amigos, alguns nem estão mais entre nós, eu era bonito assim como você.

Aioria ficou novamente perplexo.

— Arquiteto do Santuário?! Achei que fosse Japonês, pela forma que penteia o cabelo...

— O que? Minha calvície? Só pode ser ironia! Mas na sua idade eu tinha muitos cabelos- riu alto. Mas eu fui um lindo cavaleiro de prata, bonitão mesmo, e muito poderoso! – esclareceu o velho Dédalo.

Aioria sorria constantemente, e a conversa com o simpático Dédalo durou muito, em alguns momentos, Aioria pressentia que estava recebendo conselhos valiosos, de um homem muito sábio que vivera há muito anos no Santuário, ao mesmo tempo solitário e nostálgico, fiel a sua deusa Athena.

Por um instante Dédalo modificou as feições, enquanto um pássaro negro o observava em seus ombros.

— Muitas vezes penso que seria mais digno ir embora desse mundo no campo de batalha, assim como meus amigos se foram. O Santuário foi construindo sobre a amizade entre cavaleiros, ser espectador do tempo me parece uma maldição imputada por Cronos.

— Eu não sei muito sobre isso- pontuou Aioria. Contudo, acredito que não há dor maior, do que a da Deusa em ver seus cavaleiros sucumbirem aos planos malignos de seus irmãos. Aioros sempre me conta essas histórias, sobre as guerras de outrora, e imagino o quanto é penoso enveredar sobre esse caminho.

Dito isso, Aioria levantou-se e caminhou pelo jardim florido, que aos seus olhos o colorido e aroma do lugar era de imensa exuberância, em um momento fechou a palma das mãos, e quando abriu, uma pequena borboleta azul balançava as asas, Aioria abriu o palmo estendendo os braços, enquanto a borboleta balançava as asas num voo mágico rumo à luz do céu cândido.

— Eu escolhi ser um cavaleiro! — vibrou Aioria.

Dédalo, o arquiteto do Santuário o examinou com os olhos e concluiu: Realmente Aioria tinha feições que lembravam o seu amigo do passado, mas era mais piedoso, já o seu amigo era um homem rabugento, e pensou consigo mesmo, talvez essa nova Era do Santuário tem muito a nos ensinar.

AIOROS CAMINHAVA FIRME EM SEU PROPÓSITO, e pela primeira vez, o seu pensamento voltou-se para Petros. Talvez tenha sido demasiado rude, ambos tinham propósitos diferentes, porém um ideal comum. O seu jeito de demonstrar insatisfação lembrava o de uma pessoa que conheceu no passado, e suas feições eram vagas em sua memória. O duro treinamento, e o foco no ofício de cavaleiro o fez abandonar muitas de suas lembranças. Mas aquele cavaleiro tinha uma história, assim como todos os humanos que vestem as armaduras sagradas e fazem coisas magníficas com o seu poder, acima de tudo somos demasiados humanos. E ponderou, Petros dificilmente seria um cavaleiro do jeito que almejava, era imbuído apenas de sentimentos e impulsividade, havia algo errado naquela pessoa, e que mais cedo ou mais tarde descobriria o que era. Mas, e se ele tiver razão? E se Aioros estiver percorrendo um caminho perigoso?

Era impossível retroceder naquele momento, mas no seu âmago desejou que o jovem guerreiro tivesse cautela. Aquela ilha oferecia um perigo que não podia ser medido. E inesperadamente o tom da paisagem passa a mudar, a claridade do céu se esconde sob pesadas nuvens escuras, as árvores se tornem secas, como se um cenário de ilusão fosse criado por alguém. Uma névoa densa circunda toda a superfície, ocultando a vegetação rasteira, e de súbito a temperatura cai, os olhos de Aioros passam a examinar todos os cantos, sabia que um ataque poderia ser lançado de qualquer ângulo. O silêncio fora quebrado por um longo silvo, mas aquele lugar hostil não parecia abrigar uma fauna, aquilo estava sendo controlado por alguém que queria matá-lo, assim como Petros advertiu, seres que se alimentam de vida.

Em momento algum Aioros sentira medo, mas sim muita cautela, queria entender que tipo de adversário o esperava, e numa questão de segundos, uma escuridão total se recai sobre o local, não era possível enxergar nada. Ruídos medonhos se aproximavam aos poucos, circundando todo o raio onde o cavaleiro de Athena se encontrava. Aioros não se intimidou, movimentou os braços e queimou o seu cosmo dourado, e um grande ataque muito veloz e certeiro estava em sua direção.


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