O Sol em meio à tempestade escrita por nsbenzo


Capítulo 75
Capítulo 74


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura, amores.



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— Eu já disse o quanto você está linda? – Peeta perguntou, assim que eu desci de seu carro.

— Já sim, mas você pode dizer de novo, que eu não vou me importar – respondi, sorrindo pra ele, enquanto eu o assistia fechar a porta que ele havia aberto pra mim. – A propósito, você também não está nada mal.

Peeta abriu um sorriso torto, ao parar de frente pra mim, e depois de olhar ao nosso redor, no estacionamento quase vazio do colégio, ele me segurou pela cintura, e me empurrou contra a lataria de seu carro.

— Nem pensar – murmurei, sentindo o coração bater acelerado no peito, por culpa de seu movimento inesperado. – Temos que entrar.

Seu sorriso apenas se ampliou, e como se ele não tivesse me ouvido, Peeta esmagou meus lábios com os dele, já pedindo espaço com a ponta da língua. Neguei com a cabeça, quase que imperceptivelmente, e acabei sorrindo, antes de dar o que ele queria, enquanto passava os braços ao redor de seu pescoço.

Desde aquela segunda-feira traumatizante, eu conseguia notar o quão o elo entre mim e Peeta, havia se fortalecido.

Eu sempre achei que fossemos um ótimo casal, apesar das minhas inseguranças, medos e infantilidades. Mas nas duas últimas semanas, a sintonia e a intensidade entre nós dois, pareciam mais sólidas. Era um sentimento de paz, que nem mesmo os pesadelos que eu tive nas primeiras noites, onde Johanna sempre aparecia em seus últimos momentos de vida, me deixavam perturbada por muito tempo.

Nós havíamos colocado um ponto final naquela situação.

Estivemos com os pais de Johanna, que estavam morando em uma pequena cidade, a algumas horas de Detroit, e lhe entregamos o dinheiro. Nos surpreendemos com o olhar horrorizado de sua mãe, e então descobrimos que o casal Mason, ainda não sabia sobre a morte da filha. A mãe de Johanna desabou nos braços do marido, enquanto Peeta tentava explicar o acontecido do dia anterior, com as mãos tremendo nas laterais de seu corpo. Eu, que estava completamente silenciosa ao lado dele, precisei interferir, quando Peeta não conseguiu mais falar, e apesar da minha garganta parecer estar bloqueada com uma grande bola de choro, que eu segurava, só pra tentar demonstrar a Peeta que estava tudo bem, contei o resto ao casal, até terminar com um “eu sinto muito”, quase sem som.

Peeta, quando pareceu mais calmo, sugeriu que eles comparecessem a Detroit, para fazerem um enterro apropriado a Johanna, mas o pai dela, resoluto, disse que não sairiam dali. Ele também disse que não colocaria a vida da esposa em risco, voltando para aquela maldita cidade, e com um simples obrigado, que pareceu sincero, o senhor Mason puxou a senhora Mason pra dentro, e com um olhar carregado de lágrimas, ele sorriu pra nós dois, antes de fechar a porta.

Eu compreendia, e, aparentemente, Peeta também. Johanna podia estar morta, mas não significava que seus pais estariam seguros, se voltassem para Detroit, afinal de contas, as dívidas de Johanna ainda estavam bem vivas, disso eu tinha certeza.

Naquela noite relativamente quente de terça-feira, nós saímos daquela cidade, em um silêncio mútuo, onde apenas o som do motor do carro, e do vento entrando pelas janelas, ocupavam o pequeno espaço. Com os pensamentos tão rápidos quanto a velocidade em que Peeta dirigia, demorei para me dar conta de que não estávamos indo pra casa, e eu só percebi, quando outro som foi acrescentado aos meus ouvidos.

Antes que chegássemos a Detroit, Peeta acabou fazendo um desvio, e o resultado foi nós dois sentados na areia morna da praia, assistindo as ondas quebrarem, com a escuridão da noite, refletindo na imensidão do mar como plano de fundo.

Aquele foi o momento onde as coisas pareceram mudar. Porque, apesar do nosso silêncio, enquanto eu estava sentada entre as pernas de Peeta, usando seu tronco como encosto, e sentindo suas mãos acariciarem a minha barriga, eu soube que não precisaríamos dizer nada. Nós ficaríamos bem.

E realmente ficamos, pois foi a partir dali, que eu passei a sentir a diferença em nosso relacionamento, e devo dizer que aqueles vinham sendo os melhores dias da minha vida.

— Precisamos entrar – murmurei, acariciando seus lábios com os meus, quase sem toca-los.

Peeta soltou um gemido insatisfeito, antes que eu mordesse seu lábio inferior, fazendo a pressão de seus dedos em minha cintura, aumentar instantaneamente. O canto direito da minha boca se ergueu, em um quase sorriso, puxando seu lábio lentamente, até solta-lo, para passar a ponta da língua suavemente.

Sem dar chances para Peeta prolongar aquele momento, que não deveria estar acontecendo no estacionamento do colégio onde trabalhávamos, desenlacei seu pescoço, e espalmando as duas mãos em seu peito, o empurrei pra longe, até poder sair do espaço entre ele e o carro.

— Céus, mulher – ele reclamou, caminhando atrás de mim. – Por que fez isso? Quer me enlouquecer?

Soltei uma risada baixa, alisando a saia do meu vestido.

— Eu não fiz nada demais, Peeta – respondi. – Só achei melhor entrarmos, antes que Effie tenha um colapso nervoso.

Ouvi um xingamento baixinho vindo do meu lado direito, e logo senti o toque firme da mão grande e quente de Peeta na minha. Sorri, entrelaçando nossos dedos, e saí, praticamente, o puxando em direção ao prédio da quadra de basquete.

— Por que viemos tão cedo? – ele soltou em um resmungo. – Se estivéssemos em casa, você poderia me morder daquele jeito, e eu poderia revidar, sem medo de apanhar por estarmos em um local público.

Ele me conhecia bem até demais.

Ainda sorrindo, virei o rosto para fitar meu namorado emburrado.

— Você está parecendo uma criança, que acabou de derrubar o pirulito no chão – comentei, fazendo Peeta me encarar, com uma sobrancelha elevada.

— Bom, praticamente foi isso... Acabei de perder o meu doce – retrucou, passando a mão livre nos cabelos, desfazendo todo o seu trabalho com o gel. – Merda – Peeta reclamou, me fazendo parar com ele, assim que seu olhar encontrou o vidro da porta. – Certo... Ainda estou gostoso – comentou, olhando seu reflexo, e bagunçando um pouco mais seus cabelos, pra logo depois mexer em sua gravata.

Eu estava rindo de Peeta, até aquele comentário narcisista me obrigar a conter a diversão, para lhe dar um tapinha no braço, antes de quase empurra-lo pra dentro do prédio, entrando com ele.

— Finalmente vocês chegaram – a coordenadora quase se jogou na nossa frente, antes que nós ao menos déssemos dois passos pra dentro. – Estamos atrasados, e ainda temos muito serviço a fazer. Vamos, vamos – Effie segurou o pulso de Peeta, e saiu puxando meu namorado, obrigando-o a soltar a minha mão, e o fazendo me olhar com uma cara de “me ajuda”. – Precisamos de alguém alto para prender aquelas faixas – a mulher explicou a ele, enquanto eu segurava o riso.

Fiquei um tempo seguindo o pai do meu filho com os olhos, observando cada movimento de Peeta, e acabava sorrindo com alguns deles, que davam a entender que ele não tinha ideia do que estava fazendo. Conforme os minutos foram passando, algumas alunas voluntárias começaram a se aproximar para ajuda-lo, cheias de sorrisos, e simpatia, o que me fez rolar os olhos.

Suspirei, pronta para parar de olhar a cena onde meu namorado parecia um astro famoso, tamanha era a proximidade das meninas, quando Cressida apareceu a minha frente, com um sorriso enorme no rosto.

— Lindo vestido, professora Everdeen – ela elogiou, me fazendo sorrir e analisar o dela.

— O seu também – retribui, sinceramente. – E então? Como vão as coisas?

A garota mexeu nos cabelos, e deu de ombros.

— Sem um par para o baile, por negar vários convites nos últimos meses – Cressida sorriu, deixando aparecer suas covinhas. – Claro que eu não me importo. Você sabe qual é a minha prioridade.

Assenti, compreendendo imediatamente.

— Meus conselhos te ajudaram de alguma forma? – perguntei.

— Apesar de ter demorado várias semanas para deixá-los fazerem efeito, sim. Eles ajudaram – respondeu, me fazendo sorrir. – Meus pais não aceitaram muito bem, quando eu contei. A ideia de me ver como engenheira, ainda estava viva na cabeça dos dois... Mas eu insisti bastante, e... Vou pra Ohio, fazer a minha tão sonhada faculdade de letras – seus olhos brilharam, e seu sorriso apareceu novamente. – Você sabe quem me inspirou, certo?

— Não foi o Charles Bukowski. Ele fez jornalismo – comentei, fazendo minha aluna negar com a cabeça, ainda sorrindo.

— Foi você, professora Everdeen – Cressida soltou, me fazendo entreabrir a boca, surpresa. – Sua garra e força de vontade pra permanecer aqui, mesmo quando achava não se encaixar, me fez ver que vale a pena insistir em nossos sonhos. Por isso eu pedi conselhos a você, há algumas semanas, e não para a orientadora.

Meus olhos estavam carregados de lágrimas, mas eu sorria, emocionada com sua fala.

— Obrigada – ela murmurou, e sem cerimonias, Cressida me abraçou, não me dando tempo nem para pensar no que dizer.

Era difícil me ver como um exemplo pra alguma coisa. Por isso, saber que uma das minhas alunas tinha me enxergado daquela maneira, me deixava tão feliz, que eu chegava a me sentir levemente tonta.

— Vocês acham justo, só eu estar trabalhando? – a voz de Peeta chamou a nossa atenção, assim que Cressida me soltou.

— Não, professor Mellark. Já estou indo – Cressida piscou pra ele, e depois sorriu e piscou pra mim, antes de se afastar de nós dois.

Passei as mãos no rosto, mesmo sabendo que Peeta me olhava atentamente, com curiosidade.

— Você não estava trabalhando. Você estava sendo assediado por adolescentes – retruquei, fazendo meu namorado sorrir.

— Isso te deixa com ciúmes? – perguntou, usando as duas mãos para segurar a minha cintura.

— Até parece – fiz pouco caso, mas ele riu.

— Ciumenta – Peeta provocou, me abraçando. – Eu não tenho culpa de ser maravilhoso.

— É verdade. Você não tem culpa de se arrumar tão bem, de passar tanto perfume, de arrumar tão bem os cabelos, de um jeito totalmente bagunçado, e de malhar. Claramente, são coisas que você já nasceu com isso, não é mesmo? – perguntei, com sarcasmo, mas só serviu pra ele rir de novo.

— Sim. Exatamente – Peeta piscou pra mim, e beijou meus lábios demoradamente.

— Abusado – reclamei, olhando ao redor.

Quando me dei conta de que estavam todos ocupados demais para nos dar atenção, eu mesma roubei outro beijo dele, que sorriu torto, assim que me afastei.

— Isso me faz lembrar de quando namorávamos em segredo – Peeta comentou, acariciando a base da minha coluna.

— Eu só não gosto de ninguém olhando, quando estou entrando em outro mundo, ao te beijar – declarei, com um tom teatral, fazendo-o erguer uma sobrancelha. Sorri, raspando, delicadamente, a ponta do nariz no dele. – Vamos trabalhar, querido.

Peeta rolou os olhos, e começou a me soltar do abraço devagar. Quando suas mãos já estavam apenas espalmadas em minha cintura, ele mordeu meu lábio inferior, puxando levemente, antes de dar um pequeno passo pra trás, me soltando de vez.

Estreitei os olhos.

— Vingança? – questionei, e com um sorriso torto, Peeta assentiu com a cabeça. – Idiota – resmunguei.

— Seu idiota – ele retrucou, beijando a ponta do meu nariz, ainda sorrindo. – O que você e Cressida estavam conversando?

Sorri novamente.

— Te conto em casa – prometi, e Peeta, talvez percebendo que não era nada preocupante, apenas concordou com a cabeça, sem tentar insistir. – Vamos lá, antes que Effie te arraste pra longe de mim de novo – falei, e foi a minha vez de segura-lo pelo pulso, para arrasta-lo pela quadra.

 

~||~

 

— Com quem está falando? – a voz um pouco mais alta do que a música, chamou a minha atenção, me fazendo desviar os olhos do celular.

Peeta parecia curioso, enquanto fitava meu rosto cuidadosamente.

— Annie – respondi, voltando a olhar a tela, apenas para enviar uma última mensagem, antes de desligar definitivamente o aparelho, e esconde-lo no bolso da calça de Peeta. – Ela disse que entregou a parte do dinheiro de Manoela, e ela garantiu para a minha irmã que estava indo embora – expliquei, depois de me aproximar mais dele, para não precisar gritar.

Peeta afastou levemente a cabeça, e com as sobrancelhas arqueadas, ele voltou a estudar meu rosto.

— Você... Está bem com isso? – questionou, hesitante.

— Sim, querido – falei, desviando a minha atenção para os alunos ao nosso redor. – Eu não esperava nada diferente dela – esclareci, cruzando os braços. – E acho que é melhor assim.

E eu estava sendo sincera.

Manoela sair novamente de Detroit, depois de conseguir o que queria, não era nenhuma novidade. Nunca esperei que nos acertássemos em algum momento, ou que ela mudaria de ideia, sobre seja lá qual fosse seu problema comigo.

A propósito, eu já não queria mais saber qual era esse problema. Eu já havia superado, e estava feliz sem o peso que o abandono dela havia acarretado em mais da metade da minha vida.

Claro que existia uma pequena parte de mim, que refletia a garota insegura que eu era até alguns meses atrás, e essa parte sempre estaria questionando o motivo de Manoela ser como era. Porém, a nova Katniss, que era a que controlava todo o resto do meu corpo, já sabia que não estava vivendo em um conto de fadas, onde tudo giraria em torno do personagem principal, e tudo acabaria dando certo.

— Pequena – Peeta chamou, se colocando completamente a minha frente, tampando a minha visão.

Seus olhos azuis estavam preocupados, quando ele segurou a minha cintura, carinhosamente.

— Você está bem mesmo? – perguntou, quase sussurrando, com o rosto próximo ao meu, e sem que eu percebesse, eu já estava sorrindo.

Bom. Ao menos eu sabia que não precisaria que cada detalhe em minha vida desse certo, para eu ter meu final feliz. Meu coração acelerado, só de ver a preocupação estampada no rosto do homem que eu amava, dizia que eu teria sim, o melhor final de princesa.

— Estou, querido. Não precisa se preocupar – garanti, descruzando os braços para abraçar o pescoço dele. A feição de Peeta relaxou suavemente, enquanto eu acariciava sua nuca. – Não pretende me tirar pra dançar, senhor Mellark? – questionei, e foi a vez dele sorrir.

— Hum... – Peeta hesitou por longos segundos. – Na verdade eu quero fazer uma coisa melhor do que dançar – respondeu, me fazendo arquear uma sobrancelha, desconfiada. – Não é nada do que você está pensando – ele soltou apressado, aparentando um nervosismo, que me fez franzir a testa. – Bom... E-Eu... Espere aqui – Peeta gaguejou, antes de beijar a minha testa, e me soltar, logo sumindo pelo mar de alunos.

De cenho franzido, minha cabeça começou a buscar um bom motivo para o nervosismo repentino de Peeta, mas antes que eu chegasse a qualquer conclusão, uma voz masculina chamou por mim.

Procurei ao redor, até que meus olhos encontraram o dono da voz, que se aproximava de onde eu estava.

— Cato – soltei.

Ele abriu um sorriso.

— Com todo o respeito, mas a senhorita está linda – elogiou, ao parar a minha frente.

— O que te traz ao baile dos formandos? – questionei, fingindo não ter ouvido sua frase.

Ainda sorrindo, ele mexeu em sua gravata borboleta, parecendo tentar endireita-la.

— Estudei com alguns deles, antes de repetir o segundo ano – explicou, e eu assenti em compreensão. – Eu já vou te deixar em paz. Na verdade, eu só vim aqui pra me desculpar – Cato foi direto ao ponto, me fazendo arquear as sobrancelhas. – Eu não estava mentindo, quando disse aquela vez, que estava apaixonado por você. Bom. Eu acho que não – ele franziu o cenho, enquanto eu corava, e olhava ao redor, tentando descobrir se alguém a nossa volta, o ouvia. – É que o seu jeito é muito... Único. E você é linda – voltei a olha-lo a tempo de vê-lo coçar a parte de trás da cabeça, parecendo sem jeito. – Mas isso não vem ao caso. Só quero dizer que não quis ser um babaca com você, apesar de eu já ser um, em tempo integral – ele sorriu levemente, escondendo as mãos nos bolsos da calça social.

— Não acho que você seja um babaca, Cato.

— Você seria uma das poucas – ele comentou, e eu acabei sorrindo minimamente, balançando a cabeça. – Mas agora eu estou namorando, e Clove está tentando me endireitar. Acho que ela ficará orgulhosa por eu estar me desculpando – Cato deu de ombros, sorrindo. – Sem contar que ainda tenho o terceiro ano inteiro pela frente. Não quero me encrencar com o treinador, justamente no ano em que vou concorrer uma bolsa – ele piscou pra mim, com um sorriso divertido.

— É bom que você se lembre disso – ouvi a voz de Peeta, mas só consegui vê-lo, quando Cato ficou de lado, para olha-lo. Meu namorado estendeu a mão em direção ao garoto, que não hesitou em aperta-la. – Espero ver seu esforço na quadra no próximo ano, Ludwig.

— Com certeza você verá, treinador – Cato sorriu, interrompendo o cumprimento. – Vou voltar pra pista de danças. Clove deve estar louca atrás de mim. Vejo vocês em Agosto.

— Até logo – falei, sorrindo.

— Até mais ver, Ludwig – Peeta disse, enquanto o garoto passava por ele. – E diga a Clove que lhe desejo boa sorte com você.

O corpo de Cato balançou, como se ele estivesse rindo, mas ele simplesmente sumiu em meio aos outros alunos, sem virar para responder Peeta.

— Gostei da sua atitude – elogiei meu namorado, que se aproximou de mim, com um sorriso torto nos lábios, e me abraçou pela cintura.

— Descobri que realmente é crime bater em alunos – sua voz saiu baixa, quando ele quase tocou meu ouvido com sua boca, me deixando arrepiada. – Então, acho melhor eu me dar bem com o Cato, não é?

Assenti lentamente, com um meio sorriso pra Peeta, assim que ele afastou a cabeça para me olhar. Fitei seus olhos brilhantes, e então me lembrei de sua pequena gagueira de poucos minutos atrás.

 – Onde você foi? – perguntei.

Peeta lambeu os lábios, como se eles estivessem secos, mas aquilo chamou a minha atenção, me fazendo encarar o brilho em sua boca rosada. Como se ele soubesse que havia me prendido com aquele gesto, Peeta voltou a umedecer os lábios, e, em seguida, abriu um sorriso preguiçoso, limitando-o apenas ao canto direito de sua boca.

— Que foi, pequena? – ele questionou, inocentemente.

Suspirei, apaixonada demais, pra se quer pensar na possibilidade de mentir.

— Isso me deu vontade de te beijar – confessei, ainda com o olhar pairando em seus lábios sorridentes. – Mas primeiro, eu preciso saber porque você parecia nervoso, antes de ir sei lá pra onde – argumentei, depois que eu me obriguei a encarar os olhos dele.

— Você já vai saber – respondeu. – E quando você souber, talvez... Eu disse “talvez” – Peeta respirou fundo, me apertando entre seus braços –, você me dê esse tal beijo.

Entortei a cabeça para a esquerda, com o cenho franzido, mas assim que pensei em insistir, uma melodia conhecida começou a tocar alto pelo ambiente.

— Achei que não fossemos dançar – comentei, mesmo com um sorriso enorme no rosto.

Peeta sorriu, me soltando lentamente do abraço.

— E não vamos – respondeu, alcançando a minha mão. – Vem comigo.

— Mas é a nossa música! – exclamei, seguindo seus passos apressados, que me arrastavam por entre a enorme quantidade de alunos.

— E é por isso que precisamos andar mais rápido, antes que ela acabe – Peeta praticamente gritou, aumentando seus passos, quase me desequilibrando.

— Deus do céu, Peeta – resmunguei, quando já estávamos nos corredores do colégio onde várias pessoas, entre alunos e professores, circulavam.

Ouvi seu riso, mas ele não disse nada. Apenas continuou a me puxar com rapidez, até que Peeta parou de repente, em um ponto que parecia especifico pra ele, mas que ainda não fazia sentido pra mim.

Aquele corredor estava completamente vazio, e estaria silencioso também, senão fosse a música do Aerosmith tocando nas caixinhas espalhadas pelo prédio, onde costumavam usar para dar avisos aos alunos.

— O que estamos fazendo aqui? – perguntei, assim que Peeta virou pra ficar de frente pra mim.

Ele respirou fundo, olhou em meus olhos, e ainda segurando a minha mão, Peeta disse:

— Foi exatamente aqui, onde nos conhecemos.

Arqueei as sobrancelhas, e olhei ao redor, sentindo, por alguma razão, o coração acelerar.

— Quando te vi, ao virar aquela esquina – Peeta indicou um ponto atrás de mim, assim que voltei a olha-lo –, você estava saindo da sala do segundo ano, parecendo completamente arrasada. Então eu me aproximei, e a primeira coisa que eu reparei, quando você olhou pra mim, foi seus olhos. Simplesmente encantadores – ele abriu um sorriso torto, enquanto eu corava, e sorria em resposta. – Depois foi a sua blusa de coruja – rolei os olhos. – Não estou fazendo piada. Eu adorei aquilo. Parecia fazer parte de você. Parecia se encaixar com seu jeito delicado, e suas bochechas coradas. E eu só conseguia pensar, em como você era a coisa mais linda que eu já havia visto. Eu demorei algum tempo para aceitar que eu estava completamente apaixonado, mas quando aceitei, nada me pareceu mais certo do que eu e você. – Peeta apertou minha mão levemente, quando meus olhos se encheram de lágrimas. Mordi o lábio inferior, em uma tentativa de acalmar meu coração, mas ele só parecia aumentar as batidas, conforme as palavras saiam da boca de Peeta. – Eu sei que não sou perfeito, pequena. Sei que vai ter dias que vou te deixar tão irritada, que você não vai querer falar comigo. Mas eu também sei que os outros dias em que isso não acontecer, eu vou estar tentando ser o melhor pra você, para o nosso bebê – as lágrimas escaparam de meus olhos, quando a mão desocupada de Peeta tocou a minha barriga. – Para a nossa família – completou. – E é sabendo que, não importa se teremos altos e baixos ao longo do caminho, nós dois fomos feitos um para o outro – prendi a respiração, e tampei a boca, quando Peeta, ainda segurando a minha mão, abaixou, até estar apenas com o joelho direito no chão –, eu quero oficializar o que tenho certeza de que é pra sempre, te perguntando: – ele enfiou a mão no bolso, e logo puxou uma caixinha vermelha e aveludada pra fora, a qual Peeta abriu com facilidade, para estender em minha direção – você aceita casar comigo?

Céus. Eu estava soluçando, e não era pouco.

Claro que eu sabia que aquele momento acabaria chegando. Porém, eu não tinha parado pra pensar que Peeta, com seu jeito tão romântico e atencioso, jamais deixaria que aquele pedido fosse algo simples.

I Don't Wanna Miss a Thing já estava quase acabando, mas eu ainda encarava os olhos azuis ansiosos, que não saíram de mim, em nenhum instante, enquanto eu tentava controlar meu choro exagerado.

Eu poderia culpar os hormônios da gravidez, e, com certeza, eu faria isso, se preciso fosse.

Respirei fundo e entrecortado, antes de abrir um sorriso pra Peeta, ao mesmo tempo em que tentava secar o rosto com apenas uma mão.

— Você ainda tem dúvidas? – perguntei em voz baixa, fazendo um sorriso aparecer no rosto dele. – É tudo o que eu mais quero.

— Ainda bem – ele soltou, ainda sorrindo, e respirou devagar, antes de, com a mão levemente trêmula, alcançar o anel, que era dourado, e que ostentava uma pedra relativamente grande em cima –, porque eu não teria o que fazer com esse anel, se você dissesse não – completou, rindo baixo e de um jeito nervoso, que eu acabei achando lindo.

— Eu poderia dizer não, e ficar com o anel – fiz piada, com um sorriso bobo, ao assistir Peeta colocar o anel em meu dedo. – Ele é lindo, querido.

Peeta levantou, escondendo a caixinha no bolso, e logo olhou pra mim, com um grande sorriso no rosto.

— Não tanto quanto você – disse ele, fazendo meu sorriso aparecer de novo. – E sobre aquele beijo? – perguntou, me abraçando pela cintura.

— Que beijo? – perguntei de volta, em tom inocente, ao apoiar as mãos nos ombros dele. – Não lembro de nada, não.

Ele arqueou uma sobrancelha, abriu um sorriso torto, e olhou para os lados, antes de voltar a olhar pra mim, com o sorriso transformado em algo cheio de malícia.

Com um movimento rápido, Peeta me empurrou contra os armários, fazendo minhas costas se chocarem contra o metal sem muita força, mas que fez um barulho alto pelo corredor.

Minha respiração acelerou levemente, enquanto eu segurava o lábio inferior entre os dentes, para encarar o olhar penetrante do meu noivo.

Sim. Meu noivo.

— Nós devíamos estar supervisionando o baile – murmurei, deixando meus olhos passearem pela feição sacana de Peeta, que acariciava a lateral direita do meu corpo, com uma pressão maravilhosa, que parecia se infiltrar pelo tecido do vestido, atingindo cada ponto sensível da minha pele. – Alguém pode vir aqui, e nós viraríamos um casal de desempregados – soltei, quase sem força na voz, quando Peeta pressionou seu corpo contra o meu, fazendo até meus joelhos falharem.

— É só um beijo – ele sussurrou tão próximo da minha boca, que foi como se ele já estivesse me beijando. – Só um beijo, pequena.

Peeta não esperou mais nada para me beijar, e eu, sem nenhum fio de razão no meu cérebro, me rendi ao momento, sem me importar com mais nada que não fosse o encaixe perfeito dos meus lábios, com os lábios do homem que havia virado a minha vida de cabeça pra baixo, em tão pouco tempo.

— Sem pontas soltas? – Peeta perguntou baixinho, com a testa colada na minha. Franzi o cenho, confusa com a pergunta. Ele sorriu, e afastou o rosto, para olhar em meu olhos. – Podemos nos encaminhar para o nosso final feliz, mesmo que esse final, seja uma vida inteira juntos?

Sorri abertamente, sentindo, mais uma vez, as lágrimas aparecerem em meus olhos.

— Com certeza, querido – afirmei. – Com certeza – repeti, e eu mesma voltei a beija-lo.

Em apenas alguns meses, senti a dor da perda, a ansiedade por estar apaixonada, o medo de confiar, a tristeza da decepção, a alegria de compartilhar a minha vida com as pessoas que eu amava, e principalmente a felicidade por ser amada, e poder amar de volta, alguém tão maravilhoso, que estava presente desde que a minha vida realmente começou a tomar forma.

Na verdade, eu sabia que Peeta quem havia dado forma e sentido a ela, e era por isso que eu também sabia que, cada momento difícil, cada lágrima derramada, cada obstáculo ultrapassado, cada vez que me vi obrigada a lutar comigo mesma e vencer meus sentimentos inseguros, tinha valido mais do que a pena.

Talvez, eu nunca mais fosse saber o que era ter um dia tempestuoso em minha vida. Não, enquanto eu tivesse um sol tão intenso como Peeta, para iluminar qualquer céu acinzentado que aparecesse em meu horizonte. E eu, com certeza, não reclamaria. Pois não era qualquer um que tinha a sorte de ter o sol aparecendo em meio a tempestade, para dar esperanças de um tempo melhor.


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Notas finais do capítulo

E é isso, meus lindos.
Agradeço imensamente a todos que não me abandonaram, mesmo quando estive ausente por tanto tempo, sem conseguir postar. Foi por vocês que consegui chegar até o último capítulo.
Vocês são demais.
E não pensem que acabou. Ainda teremos um epílogo pra esse casal maravilhoso kkk ♥
Nos vemos lá *-*