Megera escrita por Carolina Evans


Capítulo 1
Capítulo Único.


Notas iniciais do capítulo

Perdoem qualquer erro, ainda não foi revisado.



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Não quero saber como está sua vida. Não realmente. Se está feliz, se finalmente terminou aquele cursinho ou adotou um cachorro. Estou pouco me fodendo pra se você alterou o icon do twitter, porque descobriu que aquele vocalista da banda alternativa é porco machista.

Por hora, o único detalhe seu ao qual me atenho, o qual miseravelmente parou minha vida, é o fato que não mudou seu número.

Que aproposito está salvo como “Megera”.

Caralho. Eu devo ter mesmo uma cabeça muito ferrada. Mas não consigo parar de encarar sua foto – na qual está com o meu cachorro, aquele que você roubou de mim quando foi embora -. Com sorte a pontada no peito que estou sentindo é só meu pulmão se deteriorando por conta dos maços de cigarro. Não, eu não parei. Mas no fundo você sempre soube que eu não pararia nem mesmo por você. Com sorte é apenas o prenuncio da minha morte prematura e não saudades.

Porque, inferno, você faz falta. Muita.

Eu provavelmente deveria ir até o bar mais próximo, beber até sua foto ficar embaçada. Megera. Isso tem dado certo pra mim nos últimos meses. Apesar de eu ainda não ter pago nenhuma das três multas. Por dirigir embriagado, por excesso de velocidade, por correr pelado no parque às duas da manhã. Essa última não tem nada haver com você, e sim com um jogo de verdade ou desafio numa festa. Mas eu gosto de te culpar por isso também.

E, parado num farol vermelho, congelando de frio, às duas da manhã e perigosamente sóbrio, era exatamente o que eu estava indo fazer. Ou pelo menos era esse o plano inicial.

Se eu virasse à direita estaria no centro noturno da cidade. Quadras e quadras abarrotadas de pubs para escolher do qual seria expulso hoje.

Se virasse à esquerda, em cinco minutos estaria na sua casa. Onde eu não tinha ideia do que aconteceria.

E eu achava que era isso que me assustava. Nunca saber o que você vai fazer. Mas não. O que me assustava era o fato de que tudo bem.

Me chame de idiota, insensível, arrogante e todas aquelas outras coisas das quais me chamou – aos gritos – naquela praça. Jogue fora todos os meus cds, risque a porra dos meus discos, diga que minha música é uma merda. Atire seu secador em mim, passe com a moto por cima do meu pé e diga que a culpa foi minha, e recorte cada manga de cada camiseta minha.

Tudo bem pra mim. Mas, pelo amor de Deus, me ame.

E foi por isso que, depois de meses, eu finalmente virei à esquerda. Tão rápido que o ar gelado praticamente cortava minhas bochechas. Repetindo como uma prece silenciosa, um mantra. Me ame.

Foi pra isso que quase cai da moto ao estacionar na sua calçada.

Foi pra isso que disquei seu número tremendo de nervosismo.

Foi pra ver você, completamente bêbada, chegar em casa com um cara completamente desconhecido e ambos muito felizes.


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