I turn to you escrita por Eric Elgae


Capítulo 1
Capítulo 1 - I turn to you


Notas iniciais do capítulo

Postando uma one por que to a tempos sem fazer isso, por que meu casal favorito quase nunca pinta por aqui, por que to estupidamente romântico e quero beijos, sinos e campos floridos, por sou meio nonsense e por que sim...
Hahaha



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When I'm lost in the rain / Quando estou perdida na chuva
In your eyes I know I'll find / Nos seus olhos sei que irei encontrar
The light to light my way / A luz para iluminar meu caminho

Estava acontecendo mais uma vez.

Saori corria descalça por corredores de pedra, escuros e frios. Tão frios que arrepios subiam através da sua pele nua, terminando por arrepiar seus longos cabelos castanhos. Por mais que tentasse alcançar a saída, não conseguia. Sentia-se sufocada, as paredes pareciam estar se aproximando cada vez mais. Havia pouca luz que ela não sabia identificar de onde vinha. Risadas de deboche e escárnio ecoavam próximas, mas não havia ninguém por perto, apesar de sentir sobre si uma espécie de presença.

Tão sufocante quanto as paredes que pareciam prestes a se chocar a qualquer minuto, indiferentes a presença dela ali.

O coração parecia que ia saltar pela boca. O ar parecia pesado para respirar. Sua cabeça girava, suas mãos estavam suadas, seu corpo parecia trabalhar contra ela.

Não havia escapatória.

Frases soltas a alcançavam.

“Essa é a deusa que deveria proteger a terra?”

“Ela nunca seria capaz de nada!”

“Mas não passa de uma riquinha mimada!”

“Tão fraca, achou que chegaria aonde?”

“Parece que só sabe chorar!”

Ela continuava correndo, correndo e correndo sem sair dali. Sem chegar a lugar nenhum.

Iria morrer. Não podia se permitir esse luxo, mas sentia que era inevitável.

E as pessoas que tinha que defender?

E os seus protegidos? Seus devotados guerreiros, que por ela e pela terra fariam de tudo?

E ele?

—Saori...

—Seiya?

A voz do cavaleiro de Pégaso chegava a seus ouvidos. Tão firme, tão gentil...

—Saori?

—Seiya, onde você está?

As paredes encostaram-se a ela. Seus ombros começaram a ser comprimidos.

—Saori!

—SEIYA!

Um clarão.

O ar pareceu mais fresco do que ela julgava ser verdade. O teto escuro e acinzentado dividia espaço com olhos castanhos em um tom quase avermelhado.

—O... O que...

—Saori, você está bem? Teve outro pesadelo?

Levou alguns segundos até que ela se situasse. Aqueles olhos... Aqueles olhos sempre a resgatariam. Eram sempre a primeira coisa que contemplava quando se via livre de perigos mortais.

—Sim... Sim, eu acho. O que... O que está fazendo aqui, Seiya?


When I'm scared, losing ground / Quando estou assustada, perdendo o chão
When my world is going crazy / Quando meu mundo fica louco
You can turn it all around, yes / Você pode transformar tudo ao redor, sim

—Eu estava com a vigília de hoje. Shun parecia muito cansado, me ofereci para trocar com ele. E confesso que também andava... Bem...

Seiya desviou o olhar. Se ela pudesse enxergar claramente, veria que ele ficara corado.

—Queria ver pessoalmente como tem passado.

—Oh... Sim...

Seiya a segurava pelos ombros. O toque de suas mãos ali ardia mais do que brasa. Desvencilhando-se abruptamente ela se levantou do leito de pedra que agora tomava as noites e dirigiu-se a janela mais próxima. Seiya estranhou tal atitude.

—Você está bem?

Ela demorou a responder. Estava nervosa, mais agitada que o normal. Precisava respirar fundo, tentava se concentrar nisso.

—Saori?

—Não Seiya, não estou bem.

Ele se aproximou devagar. Ela podia ouvir o som metálico da armadura de bronze se chocando com o piso de pedra.

—O que acontece? Há algo que posso fazer para...

—Não. Você não pode me ajudar. A não ser que tome meu lugar e vire um deus, que tal? Reerga esse Santuário. Vistorie os cavaleiros. Verifique as atividades dos próximos deuses que querem acabar com a terra e tente impedi-los antes que despertem. Ajude quem mais precisa, seja como deus, seja como humano. Fique a frente de uma das maiores empresas do mundo. Tome o meu lugar por um dia aí sim você me ajudaria.

Ela crispava as mãos, irritada com a sensação de fragilidade apesar de todo o poder que possuía. Estava dividindo seu tempo entre os afazeres como Atena e como Saori Kido, e parecia extremamente cansada nos últimos tempos. Os cavaleiros de bronze concordaram em vigiá-la, alternando turnos entre si. Ela realmente sentia-se melhor com a companhia deles por perto. Ainda não se familiarizara com a companhia dos dourados ressuscitados. Shion, Dohko, Saga e Aioros estavam fazendo um belo trabalho em conjunto, mas ainda assim a decisão final cabia a ela, mais por uma questão de título do que de utilidade, se fosse analisar a situação de forma crua.

E isso a extenuava. Não conseguia dormir muito bem ultimamente. Se alimentava mal, andava sempre aérea. Fingia muito bem para todos que estava bem.

Mas ele...

Seiya.

Ele sempre sabia o que se passava por trás da sua máscara de segurança e estabilidade. Bastava mirar seus olhos curiosos e grandes e ela sentia-se completamente nua, despida de qualquer proteção ou disfarce que utilizasse.

E isso a irritava ultimamente. Por que ela queria, aliás, precisava manter a aparência divina, austera, superior... Mas a um mero olhar dele, sentia-se uma mulher comum.

Coisa que jamais seria.

Um arrepio a tomou quando sentiu mais uma vez o toque gentil das mãos do cavaleiro em seus ombros. A voz dele soava como música a seus ouvidos. Ele falava baixo, expressando genuína preocupação e cuidado.

—Eu sei que é muito para lidar. Aliás, eu não sei... Só imagino. Mas eu estou aqui com você...

“Eu estou aqui com você...”

Sim, ele sempre estava.

“Eu estou aqui com você...”

Mesmo que ela dissesse que iria matá-lo.

“Eu estou aqui com você...”

Mesmo que ela o espezinhasse, o afastasse, o humilhasse...

“Eu estou aqui com você...”

Independente de qualquer coisa.

“Eu estou aqui com você...”

Ela respirou fundo, mirando o céu noturno coberto de nuvens. Uma brisa suave entrou pela janela, agitando seus cabelos e acariciando seu rosto, tão gentilmente quanto o afago de Seiya em seus ombros.

E a angústia parecia estar sendo varrida por uma onda de alívio. A presença dele, forte e gentil, tão próxima, tão verdadeira... O som da respiração dele, o toque que lhe proporcionava segurança e paz...

Paz.

Seiya lhe transmitia tudo isso. Era ele chegar, e de alguma forma, tudo ao redor se transformava.

And when I'm down you're there, pushing me to the top / E quando eu caio você está lá para me levantar
You're always there giving me all you've got / Você sempre está lá, me dando tudo o que tem

—Saori?

—Desculpe. Eu estou bem. Vou ficar bem, é apenas uma fase. Ando muito cansada.

Ele a olhava, preocupado. Queria imensamente mergulhar o rosto nos cabelos castanhos e sedosos e aspirar mais profundamente aquele cheiro suave que só ela tinha.

—Vou voltar a dormir. Se quiser descansar, pode ir. Vou ficar bem agora.

Ele pareceu tremer por um segundo antes de retirar as mãos de cima dela.

—Eu... Queria realmente fazer algo que pudesse aliviar esse fardo. Sabe que eu carregaria esse peso por você se preciso fosse.

Saori se virou, encarando o homem que a amava acima de qualquer pessoa nesse mundo. Ele era simplesmente a pessoa mais doce do universo.

—Eu sei. Não se preocupe, de verdade, vou ficar bem. Eu estou...

—Eu te amo.

Ela arregalou os olhos, mirando o rapaz que parecia travar uma batalha maior do que qualquer uma que já tivesse enfrentado.

—Eu sei que não deveria estar falando isso, dessa maneira, ainda mais nas nossas condições, mas já passou da hora. Tivemos muitas atitudes expressando isso, mas eu tinha que falar. Colocar em palavras. Queria que fosse algo mais bonito, mas não sou bom com isso. Eu só... Eu te amo Saori.

—Seiya...

Uma onda de calor se espalhou pelo corpo dela, saindo do peito por todas as direções possíveis.

Ele sempre tinha que ser tão intenso daquele jeito?

For a shield, from the storm / Para um escudo contra a tempestade
For a friend, for a love to keep me safe and warm / Para um amigo, para um amor que me defenda e aqueça
I turn to you / Eu voltarei para você
For the strength, to be strong / Pela força, para ser forte
For the will to carry on / Pela vontade de prosseguir
For everything you do / Por tudo o que você faz
For everything that's true / Por tudo o que é verdade
I turn to you / Eu voltarei para você

 

—Desculpe, eu... Sei que é impossível eu ser correspondido nesse aspecto, você é uma deusa e eu apenas um protetor. E mesmo que fosse diferente, você é uma mulher culta, poderosa, e eu um... Um cara normal. Perdão, vou te deixar descansar. Estarei na porta se precisar de alguma coisa.

Lentamente ele deu as costas a ela e foi se afastando, o som de seus passos se espalhando pelo recinto. Saori estava ainda processando a declaração agora verbalizada.

Não é que ela não soubesse disso. Claro que ela sabia.

O que a incomodava era o fato de não poder corresponder a tal sentimento.

Não como desejava.

A porta se fechou, e ela sentiu-se vazia. O sentimento de poucos segundos antes se esvaíra como uma bolha quando estoura, deixando apenas uma impressão.

Ela desejava corresponder aquele sentimento. Desejava poder, por um dia apenas, se entregar a ele e receber a entrega que ele ansiava por oferecer.

Ele sempre fizera tudo por ela. Era seu amigo, seu companheiro. Seu porto seguro, sua direção quando se perdia.

Todo o amor que ele desprendia aquecia e a mantinha sã.

E salva.

E no final ela sempre se voltava para ele. Por que o amor de Seiya por ela a atraia de maneira inexplicável.

Nada que tivesse lógica. Apenas podia ser sentido.

When I lose the will to win / Quando eu perco a vontade de vencer
I just reach for you and / É só alcançar você e
I can reach the sky again / Eu posso chegar ao céu outra vez

Seiya sentou-se a frente da porta após fechá-la. Sentia-se tão idiota, quantas vezes ensaiara em sua cabeça cenários melhores do que aquele para expressar seus sentimentos, e então...

Pronto.

Ia lá e falava tudo assim, do jeito mais seco e sem graça possível, logo depois dela acordar de um pesadelo e confessar seu nervosismo com a vida.

Tão sensível quanto um cavalo escoiceando.

—Eu sou um idiota mesmo.

Tudo que ela não precisava naquele momento era exatamente o que ele tinha feito. Isso é o que ele pensava.

E ela não respondera. Nada. Por que o que ele esperava que ela falasse?

Bem, ele esperava em seus devaneios que ela dissesse que o amava, se aproximasse e o envolvesse em um abraço apertado. Então eles se perderiam nos olhos um do outro e...

—E isso nunca vai acontecer.

Ela era uma deusa. E ele um simples soldado.

O máximo que ela faria seria ser gentil em não recusá-lo publicamente. E limitar-se-ia a se afastar de forma sutil.

Até o momento em que não mais convivessem. E ninguém poderia reclamar de nada, afinal...

Ele não era mais tão necessário quanto antes.

As coisas mudaram. O mundo mudou. Eles cresceram.

Ele teria que aceitar isso.

—Será que meu destino vai ser sempre sonha com você?

I can do anything / Posso fazer qualquer coisa
'Cause your love is so amazing / Porque o seu amor é incrível
'Cause your love inspires me / Porque seu amor me inspira

 

Após alguns dias, Saori viajou. Seiya permaneceu no Santuário, ajudando nas reformas do local e se dedicando a treinos insanamente exaustivos com Camus, Dohko, Shaka, Aioros e Saga. Cada dia um dos dourados criava novas situações que colocariam os inimigos já enfrentados no chinelo, popularmente falando.

A rotina não lhe permitia pensar em muita coisa. Mesmo assim, antes de dormir e quando acordava, seus pensamentos se voltavam para Saori. Desejava ardentemente saber como ela estava, se dormia bem, se estava se alimentando...

De nada adiantava se preocupar, ele sabia, mas era inevitável.

E foi assim que o tempo foi passando. Uma semana foi se juntando a outra, e quando deu por si, Saori estava fora a dois meses e Seiya treinando e trabalhando com os outros.

Sentia saudades. A falta de olhar por ela, de zelar pelo seu bem estar... Isso o consumia, e todos podiam notar o semblante triste e caído, totalmente incomum para o cavaleiro.

Os mais velhos, experientes e sensíveis a dor do rapaz, tentavam amenizar a situação, comentando sobre ela sempre que ele se aproximava, de forma a mantê-lo informado sem que ele precisasse perguntar nada. Houve algumas vezes que foram necessárias algumas reuniões via internet, e nessa situações, Seiya era de alguma forma chamado a sala nos momentos em que Saori aparecia no vídeo. Eles davam espaço para que o rapaz se manifestasse, mas ele se limitava a olhar de longe, a cada momento parecendo mais duro e distante.

Para ele, Saori estava ótima a cada vez que podia vê-la pelos monitores agora implantados no Santuário. E ele julgava que isso se dava por conta da distância entre eles. Achava que o fato de ter sido “afastado” dela a deixara mais relaxada, mais feliz, mais bem disposta.

Se julgara “afastado” de Saori, por que os outros cavaleiros de bronze iam semanalmente escoltá-la, com exceção dele... Nunca fora chamado, mas também nunca perguntara. Já estava cansado de expor sua indignação com certas situações e os outros o julgarem teimoso, impertinente e até maluco. Seus amigos fizeram isso na farsa contra Abel. Os dourados também em outras situações. Isso fez com que ele fosse aprendendo a se calar, e não expor nada além do básico, o suficiente para acharem que ele continuava o mesmo.

Mas tudo bem. Ainda que isso doesse profundamente, se ela estava melhor longe dele, que assim fosse. Iria aguentar a solidão, a preocupação, a tristeza em silêncio. Já aguentara coisa pior, aquilo podia ser suportado.

E afinal, era por ela.

Sua musa inspiradora.

And when I need a friend, you're always on my side / E quando eu preciso de um amigo, você sempre está ao meu lado
Giving me faith, taking me through the night / Dando-me fé, me guiando através da noite

Seiya parou de se preocupar com os dias. Apenas focou em seu trabalho e seus treinos. Que a dor fosse afastada. Que o silêncio encobrisse as feridas que sangravam pouco a pouco. Que a rejeição de seu amor gerasse alegria em sua amada.

Um dia, estranhou quando recebeu uma mensagem de um soldado, avisando que ele deveria descansar nos próximos dias. Haveria uma semana de festividades e portanto os guerreiros estavam dispensados de quaisquer obrigações.

Aquilo era inesperado, mas de certa forma fazia sentido. Após tantos acontecimentos, uma folga era algo bem vindo e até desejado.

Após um café da manhã farto e sem pressa, o cavaleiro de Pégaso decidiu fazer uma caminhada pela praia. Adorava o mar, e era um cenário que sempre o relaxava. Com certeza faria o descanso valer a pena.

Após vestir-se com uma bermuda, camiseta e sandálias, Seiya procurou sair das doze casas sem ser notado. Ele e os outros guerreiros de bronze dividiam morada com os dourados agora, portanto eram vistos transitando por aquela área com frequência.

Mas queria solidão. Ficar sozinho, em contemplação da natureza, olhando para fora.

Por que olhar para dentro estava enjoativo.

Após se esgueirar sorrateiramente por um bosque lateral a saída do Santuário, ocultando o cosmo ao máximo Seiya foi caminhando devagar em direção a praia mais próxima.

A tarde estava quente e ensolarada. Apenas o som da natureza alcançava os ouvidos do cavaleiro, que se sentia muito melhor ali, caminhando tranquilo.

Após alguns minutos ele pode observar o oceano despontando em seu campo de visão. A imensidão azul parecia recebê-lo com um “boas vindas” quando ele mirou o oceano e a brisa marítima soprou, refrescando um pouco o suor que escorria de seu rosto.

Sorrindo, esquecendo-se por um segundo de tudo que vinha passando, ele tirou as roupas e correu para a água, nu, sentindo-se leve e relaxando. Após alguns mergulhos, ele se permitiu boiar, olhando para a imensidão azul acima.

Indo e vindo ele sentia-se vivo. Livre de qualquer problema, naquele momento ele só queria guardar essa sensação. Sensação de estar vivo e livre.

Sensação que sempre associava a ela.

“Saori...”

Não permitiu que os sentimentos guardados aflorassem. Limitou-se a pensar como seria se ela pudesse estar ali com ele. Se eles pudessem simplesmente boiar juntos ao sabor das ondas, sem títulos, responsabilidades, obrigações.

Apenas sendo dois jovens.

Apaixonados.

Ainda que ele sentisse, apesar de todos os sinais, que só ele estava apaixonado.

As fantasias que nutrira com ela começaram a tomar espaço na memória. A simplicidade delas beirava a inocência. Queria apenas observá-la, estar ao lado, segurar na mão dela, receber um olhar...

Um beijo, por mais cálido que fosse...

Se ele se lembrasse de todas as vezes que ela se ergueu por ele, não sofreria da forma que estava fazendo. Ela sempre estivera ali por ele, apesar de tudo.

Por que ela também o amava.

Por isso ele se levantava. Ela lhe dava fé, estava sempre presente, suas palavras, seu calor, sua chama de vida o aqueciam e o impulsionavam a continuar.

Sempre em frente.

Ela era sua luz no fim do túnel.

 

For a shield, from the storm / Para um escudo contra a tempestade
For a friend, for a love to keep me safe and warm / Para um amigo, para um amor que me defenda e aqueça
I turn to you / Eu voltarei para você
For the strength, to be strong / Pela força, para ser forte
For the will to carry on / Pela vontade de prosseguir
For everything you do / Por tudo o que você faz
I turn to you / Eu voltarei para você

 

Saori acabara de descer do avião. Voltava ao Santuário após o que pareceu uma vida inteira. Tudo estava mais calmo em todos os aspectos da sua vida, por isso ela estava bem mais relaxada.

Mas o que ficava trazendo inquietude a seu coração era Seiya. Ela precisava saber como ele estava. Claro que tinha uma noção. Os patriarcas sempre lhe informavam sobre ele, assim como Shun, Hyoga, Ikki e Shiryu.

E era unânime.

Seiya estava deixando de ser Seiya.

O rapaz alegre, carismático, incomodamente bobo as vezes andava taciturno, sorumbático, distante. Todos perceberam que de repente ele se tornara alguém sério, objetivo, sem rodeios para falar ou agir. Ia, fazia o que precisava ser feito e saia. A gentileza e preocupação com os outros continuava, mas assim que via que tudo estava bem, ele se fechava.

E para um sagitariano se fechar, ainda mais dos mais bobos alegres, que era a classe a qual Seiya pertencia, a situação deveria ser extremamente séria.

E Saori sabia qual era a situação.

Sutilmente ela perscrutou o local com o cosmo de forma que os outros não a sentissem. Afastado dali, encontrou a cosmo energia cálida do cavaleiro. Seu coração falhou uma batida.

—Atena?

Shion e Dohko se aproximavam dela para recebê-la. Ela sorriu genuinamente feliz ao vê-los.

—Como estão? Saibam que senti falta da companhia de vocês.

Os patriarcas sorriram felizes pela alegria da jovem ao se dirigir com eles.

—Estamos bem. Queremos saber se tudo que conversamos nos últimos tempos tem tido algum efeito em suas decisões.

Ela ficou séria.

—Em relação a Seiya, vocês dizem?

Sem graça, os mais velhos coraram.

—Não queremos ser intrometidos, mas...

—Não se preocupem. Tenho levado muito em conta as opiniões de vocês. E concordo com elas.

Os mais velhos sorriram. Aquela resposta afastava uma nuvem negra do Santuário.

—Por isso acho que antes de qualquer coisa, irei procurá-lo. Afinal, se eu voltei agora, é por ele de qualquer jeito...

For the arms to be my shelter through all the rain / Para os braços que são meu abrigo durante a chuva
For truth that will never change, for someone to lean on / Para a verdade que nunca vai mudar, para alguém em quem me apoiar

“Seiya.”

Seiya abriu os olhos assustado.

Ouvira a voz de Saori. Sentira o cosmo dela.

Mas isso era impossível.

A garota estava sabe-se lá onde, fazendo coisas que ele jamais seria capaz de entender.

“Seiya.”

—Isso que dá ficar pensando em coisas que não vão acontecer. Malditas fantasias.

Agora ele estava irritado. Começou a nadar de volta para a praia.

De repente avistou uma figura ali. De longe não podia identificar muita coisa.

Apenas uma longa cabeleira castanha ao que parecia.

—Ótimo. Agora estou alucinando.

Mas a medida que se aproximava da praia a figura ia ficando mais e mais nítida. E ali surgia, diante de seus olhos, a figura que seria capaz de lhe fazer arrancar o coração do peito com as próprias mãos se ela assim pedisse.

—Não... Não pode ser.

Quando se ergueu para sair do mar, ele perdeu a voz. Saori sorria, e caminhava em sua direção.

—Sa... Saori?

—Seiya. Vem cá.

Ele secou o rosto e foi caminhando até estar de frente para ela. Ainda achava que estava alucinando, por isso nem se preocupou em se vestir. Ela se aproximou, corada ao mirá-lo de cima abaixo.

—Seiya...

—Sa... Eu acho que estou mesmo tendo alucinações. O que...

Mas ele foi interrompido quando ela se jogou em cima dele, os braços envolvendo sua nuca. Quando o perfume dela alcançou seu nariz, o peso do corpo o fez cambalear alguns passos e o calor do corpo dela o fez perceber que ele estava arrepiado, ele ficou brevemente tonto.

But for a heart I can rely on through anything / Mas para um coração ao qual eu possa confiar qualquer coisa
For the one who, I can run to, I turn to you / Para quem eu possa correr, Eu voltarei para você

—Seiya. Olhe pra mim.

Ele não conseguia acreditar. Apenas sentia, como vinha fazendo a tarde toda. Suas mãos seguravam a cintura fina dela. Ela estava mais bonita ainda, se é que isso era possível. Seus olhos percorreram a mulher, observando o indefectível vestido branco que ela usava na Grécia manchado pela água que secara de seu corpo naquele abraço apertado. Engoliu em seco, caindo em si que tinha que se vestir imediatamente.

—Saori eu...

—Olha pra mim Seiya.

Ela o mirava com doçura. Uma das mãos passeou da nuca até o cabelo molhado na testa, o afastando dali. Gentilmente ela o secou com a mão.

E nada no mundo podia ser tão bom quanto aquele afago.

Sem conseguir se controlar, Seiya fechou os olhos e suspirou.

—Isso é bom...

Saori sorriu e gentilmente começou a puxar a cabeça dele para perto da dela, diminuindo a distância entre os dois..

For a shield, from the storm / Para um escudo contra a tempestade
For a friend, for a love to keep me safe and warm / Para um amigo, para um amor que me defenda e aqueça
I turn to you / Eu voltarei para você
For the strength, to be strong / Pela força, para ser forte
For the will to carry on / Pela vontade de prosseguir
For everything you do / Por tudo o que você faz
For everything that's true / Por tudo o que é verdade
For everything you do /
Por tudo o que você faz
For everything that's true / Por tudo o que é verdade

 

O som do mar.

O frescor do vento.

A areia nos pés.

O perfume dela.

O cheiro salgado de mar nele.

O aperto forte que ambos trocavam, como se quisessem fundir-se um ao outro.

O olho no olho.

Aquele momento em que as almas se conectam.

A respiração dela, ansiosa, batendo na pele dele.

A respiração dele, pesada e funda, se chocando contra a pele dela.

Quando as testas se tocaram ele quase se afastou, pensando que aquilo deveria ser alguma armadilha de algum inimigo. Mas Saori foi mais rápida.

Quando os lábios se tocaram pela primeira vez, atrapalhados, desencontrados, ansiosos, eles gemeram involuntariamente.

Era perfeito.

Alguns segundos foram perdidos enquanto ficavam parados, ainda assustados com o momento. Mas ela então se afastou e tomou os lábios dele de maneira mais acertada, gentil.

Como eram macios.

Se o paraíso tinha algum gosto, esse gosto era o de beijar a pessoa amada.

Quando as bocas se abriram, a língua de Seiya procurou a dela e o toque os fez gemer uma vez mais.

Lentamente eles se sentiam. Ele a apertava junto ao corpo, ela afagava os cabelos em sua nuca.

O tempo parou.

E nada mais importava.

Não importava se ela era divina e ele humano.

Nem se ela tinha tudo e ele não tinha nada.

Nem se eles tinham que separar os sentimentos da obrigação.

O que importava era que naquele momento, Saori era de Seiya e Seiya era de Saori.

Um era do outro.

Um era o outro. Eles só viviam por que estavam juntos, essa era a verdade.

E por uma tarde, eles se voltaram ao que sentiam em seu íntimo e foram apenas Saori e Seiya, um casal jovem e apaixonado que se perdia e se encontrava.

Um no outro.

I turn to you / Eu voltarei para você


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Notas finais do capítulo

Espero que gostem. Se puderem me falar o que acharam, nossa, me deixariam muito feliz. Muito obrigado pela companhia e pelo carinho, um beijaço e um abração e até os próximos



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