Irrecuperáveis - One shot escrita por Sachie


Capítulo 1
Rotten


Notas iniciais do capítulo

Ultimamente tenho ficado cada vez mais viciada em TG... EU PRECISO DE AJUDA!



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"Eu tive um sonho.

Uma falha de uma deusa.

Ela me amou de verdade,

Só que ela não sabia como amar.

Que deusa estúpida."
Sui Ishida

.

Para Rose, e aos bons momentos que passamos juntas.

.

Ela vem ao seu quarto, ás vezes.

Quando a desolação bate e ele já não consegue suportar sequer o peso do próprio corpo. Quando a fome monstruosa se agrava e ele luta contra seus impulsos para não perder o controle. Ela vem ao seu quarto.

Ela desliza sorrateira pelos corredores obscuros de um dos muitos esconderijos da Aogiri. Passos leves; Graciosa. Quase como se estivesse dançando ao som de uma melodia que soa apenas em sua mente. Eto sempre o encontra da mesma forma: Deitado e encolhido em posição fetal. E ela simplesmente não pode deixar de compará-lo a uma criança indefesa... Mas no fim das contas, talvez ele fosse mesmo. Debaixo de todo o sangue que o banhava as mãos, debaixo da pilha de cadáveres os quais ele arrancou a vida sem hesitar – E que assombravam-no todas as vezes em que fechava os olhos. E definitivamente debaixo daqueles altos e resistentes muros que ele construíra ao redor de si... Talvez no lugar onde aquela fraqueza outrora se perdera. Ela sabe. Sabe que ele é só uma criança carente por qualquer tipo de afeição. E ela também sabe que ele nunca obterá tal coisa, ele não se permitiria. Pois como pode alguém amá-lo se nem mesmo ele amava a si mesmo?

“Mas eu o amo.” Vinha-lhe a mente o pensamento. Mas será que amava mesmo? Ela sequer conhecia o significado da palavra “amor”? Talvez no fim, Eto não fosse diferente do miserável garoto de madeixas brancas deitado a cama.

E o que seria o amor? Em outras palavras, o que Kaneki considerava como amor? Será que o desenfreado impulso de destruí-lo e reconstruí-lo novamente - uma e outra vez - era amor aos olhos dele, assim como era aos dela?

Ora, mas por Deus, Eto amava! Amava quando caminhava até ele e tocava-lhe gentilmente o ombro, amava quando obtia o vislumbre daquelas feições pueris e daqueles cinzentos olhos moribundos, amava quando selava seus lábios junto aos dele em um ato terno. Sem palavras. Os dois sabiam que era por isso que ela estava ali: Para amá-lo, ainda que de uma maneira grotesca. Quando se tocavam e quando sentiam o calor um do outro; Entre gemidos e suspiros prazerosos, com beijos, mordidas, puxões, saliva e sangue. Ela amava... Ou pelo menos pensava que sim. E esperava que ele a amasse de volta.

Mas quando o ato carnal e violento acabava... A desolação ainda estava ali. Os olhos de moribundo ainda estavam ali. Como dois amantes de conluio para julgá-la. E ela então percebia que sua definição de amor e a de Kaneki eram completamente diferentes...

Ele vem ao seu quarto, ás vezes.

Quando as luzes se apagam e todos dormem. Quando o tédio e a solidão circundam-na e devoram sua sanidade. Ele vem ao seu quarto.

Ele é cuidadoso o suficiente para locomover-se pelos pontos cegos das muitas câmeras existentes em Cochlea. E ele se pergunta o que os outros pensariam se descobrissem o que ele faz nas muitas noites em que deixa seu quarto. Em especial, o que Arima pensaria ao ter conhecimento sobre os atos sórdidos de seu precioso Haise? Ele o mataria novamente? Mas Kaneki não era Haise, e não agiria como tal.

"Que criança levada". Eto pensava. Todas as vezes que a porta de sua cela era aberta e o ceifador negro adentrava o recinto, um risinho infantil escapava por seus lábios. Ela sabia o porquê de ele estar ali. E a visão dos olhos moribundos ainda estava presente, mesmo depois de todos esses anos.

E eles faziam novamente. Aquilo que ele jurava a si mesmo nunca mais fazer, aquilo que o assombrava tanto quanto os cadáveres. E ele sabia o quanto ela se divertida ao despir sua fraqueza e o quanto amava vê-lo tão vulnerável. Pois Eto era única para quem ele mostrava sua fragilidade - Não que fosse sua vontade, mas ela queria isso. E Eto sempre conseguia o que queria.

Ele estava no controle, quando a forçava a recuar passos o suficiente até se ver encurralada por ele e quando pressionava seus lábios contra os dela sem gentileza alguma. Olhos abertos, sem sentimentos e sem expressões. O brilho carmesim do único olho de ambos destacando-se na escuridão da cela. Ele estava no controle quando os dedos da esverdeada amassavam o tecido de suas negras roupas e quando o gosto do sangue dela invadia cada canto de sua boca. Suspiros e contagem regressiva de sete em sete a partir de mil - a única forma que ele conhecia para manter sua sanidade. Ele estava no controle... Ou pelo menos pensava que sim. Pois Eto nunca o deixaria ter controle sobre nada, porque ele pertencia somente a ela. Os olhos de morto e a desolação... Tudo isso era só dela.

E quando o clique metálico das fivelas do sobretudo negro de Kaneki ressoava, Eto sabia que eles eram iguais. Ela sabia o porquê de ele sempre retornar a ela. E percebia que sua definição de amor nunca seria igual a dele, pois nem mesmo ele sabia o que era amar. E isso era o que eles eram: Irrecuperáveis.


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