Irrecuperáveis - One shot escrita por Sachie
Notas iniciais do capítulo
Ultimamente tenho ficado cada vez mais viciada em TG... EU PRECISO DE AJUDA!
"Eu tive um sonho.
Uma falha de uma deusa.
Ela me amou de verdade,
Só que ela não sabia como amar.
Que deusa estúpida."
— Sui Ishida
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Para Rose, e aos bons momentos que passamos juntas.
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Ela vem ao seu quarto, ás vezes.
Quando a desolação bate e ele já não consegue suportar sequer o peso do próprio corpo. Quando a fome monstruosa se agrava e ele luta contra seus impulsos para não perder o controle. Ela vem ao seu quarto.
Ela desliza sorrateira pelos corredores obscuros de um dos muitos esconderijos da Aogiri. Passos leves; Graciosa. Quase como se estivesse dançando ao som de uma melodia que soa apenas em sua mente. Eto sempre o encontra da mesma forma: Deitado e encolhido em posição fetal. E ela simplesmente não pode deixar de compará-lo a uma criança indefesa... Mas no fim das contas, talvez ele fosse mesmo. Debaixo de todo o sangue que o banhava as mãos, debaixo da pilha de cadáveres os quais ele arrancou a vida sem hesitar – E que assombravam-no todas as vezes em que fechava os olhos. E definitivamente debaixo daqueles altos e resistentes muros que ele construíra ao redor de si... Talvez no lugar onde aquela fraqueza outrora se perdera. Ela sabe. Sabe que ele é só uma criança carente por qualquer tipo de afeição. E ela também sabe que ele nunca obterá tal coisa, ele não se permitiria. Pois como pode alguém amá-lo se nem mesmo ele amava a si mesmo?
“Mas eu o amo.” Vinha-lhe a mente o pensamento. Mas será que amava mesmo? Ela sequer conhecia o significado da palavra “amor”? Talvez no fim, Eto não fosse diferente do miserável garoto de madeixas brancas deitado a cama.
E o que seria o amor? Em outras palavras, o que Kaneki considerava como amor? Será que o desenfreado impulso de destruí-lo e reconstruí-lo novamente - uma e outra vez - era amor aos olhos dele, assim como era aos dela?
Ora, mas por Deus, Eto amava! Amava quando caminhava até ele e tocava-lhe gentilmente o ombro, amava quando obtia o vislumbre daquelas feições pueris e daqueles cinzentos olhos moribundos, amava quando selava seus lábios junto aos dele em um ato terno. Sem palavras. Os dois sabiam que era por isso que ela estava ali: Para amá-lo, ainda que de uma maneira grotesca. Quando se tocavam e quando sentiam o calor um do outro; Entre gemidos e suspiros prazerosos, com beijos, mordidas, puxões, saliva e sangue. Ela amava... Ou pelo menos pensava que sim. E esperava que ele a amasse de volta.
Mas quando o ato carnal e violento acabava... A desolação ainda estava ali. Os olhos de moribundo ainda estavam ali. Como dois amantes de conluio para julgá-la. E ela então percebia que sua definição de amor e a de Kaneki eram completamente diferentes...
Ele vem ao seu quarto, ás vezes.
Quando as luzes se apagam e todos dormem. Quando o tédio e a solidão circundam-na e devoram sua sanidade. Ele vem ao seu quarto.
Ele é cuidadoso o suficiente para locomover-se pelos pontos cegos das muitas câmeras existentes em Cochlea. E ele se pergunta o que os outros pensariam se descobrissem o que ele faz nas muitas noites em que deixa seu quarto. Em especial, o que Arima pensaria ao ter conhecimento sobre os atos sórdidos de seu precioso Haise? Ele o mataria novamente? Mas Kaneki não era Haise, e não agiria como tal.
"Que criança levada". Eto pensava. Todas as vezes que a porta de sua cela era aberta e o ceifador negro adentrava o recinto, um risinho infantil escapava por seus lábios. Ela sabia o porquê de ele estar ali. E a visão dos olhos moribundos ainda estava presente, mesmo depois de todos esses anos.
E eles faziam novamente. Aquilo que ele jurava a si mesmo nunca mais fazer, aquilo que o assombrava tanto quanto os cadáveres. E ele sabia o quanto ela se divertida ao despir sua fraqueza e o quanto amava vê-lo tão vulnerável. Pois Eto era única para quem ele mostrava sua fragilidade - Não que fosse sua vontade, mas ela queria isso. E Eto sempre conseguia o que queria.
Ele estava no controle, quando a forçava a recuar passos o suficiente até se ver encurralada por ele e quando pressionava seus lábios contra os dela sem gentileza alguma. Olhos abertos, sem sentimentos e sem expressões. O brilho carmesim do único olho de ambos destacando-se na escuridão da cela. Ele estava no controle quando os dedos da esverdeada amassavam o tecido de suas negras roupas e quando o gosto do sangue dela invadia cada canto de sua boca. Suspiros e contagem regressiva de sete em sete a partir de mil - a única forma que ele conhecia para manter sua sanidade. Ele estava no controle... Ou pelo menos pensava que sim. Pois Eto nunca o deixaria ter controle sobre nada, porque ele pertencia somente a ela. Os olhos de morto e a desolação... Tudo isso era só dela.
E quando o clique metálico das fivelas do sobretudo negro de Kaneki ressoava, Eto sabia que eles eram iguais. Ela sabia o porquê de ele sempre retornar a ela. E percebia que sua definição de amor nunca seria igual a dele, pois nem mesmo ele sabia o que era amar. E isso era o que eles eram: Irrecuperáveis.
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