A Sombra da Lua escrita por Insanidade


Capítulo 22
Capitulo Extra: Promessa.


Notas iniciais do capítulo

Olá leitores! Então esse capitulo é uma parte extra da história que falei no capitulo anterior. Ele ficou bem grande porque eu não quis dividir ele em duas partes, mas foi o capitulo mais emocionante que eu escrevi, e eu espero que vocês gostem como eu gostei! Por favor comentem é muito importante!



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Getsugakure, pós guerra.

POV Mei Hokaku.

Meu estomago ainda revirava graças ao jutsu do Yuki. Estávamos no palácio do Rei, finalmente em casa, no país da Lua. Yuki contava, extremamente animado, sobre tudo o que aconteceu na guerra para o Rei e o Príncipe, que escutavam atentos todos os detalhes. Eu estava sentada no chão daquela enorme sala branca ainda lembrando sobre o meu sonho do pesadelo infinito.

A luz do sol clareou minha visão, abri os olhos devagar tentando acostumar com a claridade. Eu estava na floresta de Getsugakure em um dia ensolarado, encostada em uma arvore sentindo o chakra fluir de mim. Olhei ao redor e não tinha ninguém ali, mas de longe pude ouvir passos apreçados.

Me levantei do chão e logo a luz do sol iluminou os cabelos da minha irmãzinha.

—Mei! Para de treinar!

Sayumi puxava minha mão para que eu seguisse ela pela floresta.

Eu não fazia ideia de como tinha ido até lá, do que estava acontecendo e do que eu tinha feito antes, mas fiquei feliz por estar ali e por ela estar comigo, um sentimento de paz se alojava no meu coração, mas várias perguntas perturbavam a minha mente.

—Está bom baixinha, eu sei andar por mim mesma, não precisa puxar, onde estamos indo?

—Você vai ver!

Segui Sayumi até o outro lado da floresta, o lugar favorito dela, uma das inúmeras praias do país da Lua.

—Mei! Sayumi! Aqui!

Meu pai acenava para gente junto da tia Lin e do tio Kazuo. Nós trocamos um breve olhar que significava disputa, tiramos nossas sandálias e saímos correndo pela praia. A areia quente abaixo dos meus pés era reconfortante, e isso me fazia querer deixar as perguntas cada vez mais de lado.

—O que estão fazendo?

Perguntei chegando primeiro.

—Comemorando!

Tia Lin respondeu. Sayumi chegou e se sentou no chão de areia cruzando os braço, visivelmente chateada por ter perdido.

—Você ganha a próxima Sayumi.

Meu pai disse, confortando ela acariciando seus cabelos.

—Comemorando o que?

Perguntei, mesmo ignorando as maiores duvidas, do que tipo “o que eu fiz ontem”, “como eu havia ido até lá” e “por que eu não me lembrava de nada”, ainda tinha perguntas que não dava para evitar.

—O seu aniversário Mei!

Me virei para a pessoa que respondeu. Minha mãe vinha atrás de nós segurando alguns peixes na mão. Seu cabelo branco voava com o vento e o seu sorriso doce me fez sorrir.

Tive um reflexo de abraçar ela, mesmo sem saber o porquê exatamente, queria abraça-la forte e manter ela ali junto de mim, assim o fiz.

—Tudo bem filha! Pode me soltar agora!

Ela entregou os peixes para o meu pai, que começou a colocar eles em espetos de madeira.

—Está faltando a fogueira, não?

Perguntei.

—A fogueira é por minha conta.

Um garoto se aproximou trazendo várias toras de madeira nos braços. Ele depositou elas no chão e sorriu para mim. Eu podia jurar que não o conhecia, mas ele me pareceu familiar, aquele sorriso, o cabelo espetado preso, aquele olhos e a forma preguiçosa que ele se comportava. Eu não me lembrava do seu nome, mas algo dentro de mim o conhecia.

—Feliz aniversário problemática!

Eu não respondi.

—Obrigada pela ajuda Shikamaru!

Meu tio agradeceu, usando um jutsu de kaiton para acender a fogueira.

Shikamaru era o seu nome, mas eu ainda não conseguia entender quem ele era, por que estava ali e o que estava acontecendo, estava cada vez mais difícil de ignorar as perguntas.

—Vamos Mei, sente aqui comigo.

Minha mãe me chamou, e eu me sentei ao seu lado na areia fofa. Tudo parecia perfeito, eles conversavam entre si sobre histórias passadas de quando eu era criança e riam juntos como tinha que ser.

Comemos o peixe e então Shikamaru me estendeu a mão, e eu a peguei. Ele me ajudou a levantar e fomos caminhar pela praia.

Minha mãe brincava com a Sayumi na beira do mar, tia Lin e tio Kazuo conversavam com o meu pai sobre como o clã estava bem, e o meu pai sorria, como eu nunca tinha visto antes.

—Você está feliz?

Shikamaru perguntou, e apesar de ainda não fazer ideia de quem ele era estava gostando da sua companhia. Pensei em perguntar quem ele era, da onde ele me conhecia, e jogar para cima dele todas as dúvidas que rodeavam a minha mente, mas a paz que o meu coração se encontrava eu não queria perder, não estava nem um pouco afim de estragar aquele momento.

—Muito...

Respondi e o seu sorriso me fez sorrir também.

Então uma onda gigantesca veio para cima de nós, eu senti a mão de Shikamaru apertar minha e tudo ficou escuro outra vez.

Não fazia ideia do motivo daquele garoto estar no meu sonho, mas confesso que foi o melhor momento que eu tinha a anos. Ver ela ali, viva e feliz, fez tudo valer a pena.

—Mei?

Yuki me chamou me tirando dos meus pensamentos.

—Sim?

—O Rei disse que o seu pai está te esperando na sede do seu clã.

—Certo. Obrigada por tudo novamente vossa alteza.

Disse me levantando.

—Eu que agradeço por sua coragem Mei, aqui está o seu kimono e pode ficar com a bandana, ela é sua por merecimento.

Fiz uma breve reverencia e sai apressada. Assim que eu estava no corredor pude escutar Yuki gritando de dentro da sala.

—TE VEJO EM BREVE MEI!

Deixei um sorriso escapar pelos meus lábios. Corri até a entrada do palácio e quando finalmente estava lá fora vesti o meu kimono e estava pronta para ir para casa.

Os machucados não me incomodavam, queria logo voltar para o subterrâneo e chato lugar que eu chamo de lar, com todas aquelas regras e aquelas pessoas que eu amava sem nem pensar duas vezes. Minha família.

Cortei caminho pela floresta assim como eu fiz quando fugi de lá para ir para a guerra. A distância era grande, mas a minha ansiedade fez o caminho parecer rápido.

A guerra tinha acabado, e apesar de sentir que não tinha feito muita coisa, eu estava feliz de ter estado lá e salvado pelo menos uma vida que fosse.

Logo podia ver Getsugakure, corri mais rápido. Os ninjas que foram enviados para a guerra não tinham voltado ainda, afinal são sete dias de viagem, então a vila continuava vazia e sem movimento.

Quando finalmente cheguei ao portão que dava acesso ao subterrâneo onde o meu clã vive, o meu coração faltava sair pela boca, não contive meu impulso e bati no portão o mais forte que eu pude.

O portão se abriu, e a cara que Ban fez ao me ver, foi indescritível.

—Oi Ban! Eu vol...

—MEI!

Ele me abraçou me levantando do chão, eu senti minhas costas estralarem e a dor dos meus machucados não pode ser ignorada.

—ME SOLTA!

—Ai me desculpa Mei-chan! Fiquei tão feliz em te ver!

—MEI!

Maiko veio correndo e me abraçou.

—Maiko! Que bom que você está melhor! Mas pode me soltar agora...

—Certo, desculpe Mei-chan!

—Está tudo bem, me deixa entrar, ok?

—Certo!

Ban e Maiko sorriram para mim e me deram passagem. Quando coloquei meus pés para dentro e a porta se fechou atrás de mim eu quis chorar.

Chorar por estar viva, por ter feito o que a minha mãe faria, por ter descoberto tanto sobre o meu clã e ainda assim amar ele, afinal esse lugar e essas pessoas são tudo o que eu tenho, tudo o que eu sou.

—Mei?

—Tia Lin...

—Mei!

Tia Lin me abraçou tão forte quanto Ban e Maiko, senti suas lagrimas escorrerem por minhas costas, ela parecia não acreditar que eu estava ali.

—Você está bem? Precisamos fazer curativos! Onde está doendo? O que aconteceu?!

—Calma! Eu vou contar tudo ok? Só me deixa chegar direito primeiro.

Ela sorriu para mim e afagou o meu cabelo, da mesma forma que a minha mãe fazia.

—Muito obrigada por ter voltado para nós.

Retribui seu sorriso e quando ela saiu da minha frente para me dar passagem, lá estava tio Kazuo com Sayumi.

Ela segurava a mão dele só esperando o momento certo de correr até mim, eu fiquei olhando para ela por um tempo, quando é que ela cresceu tanto? Parecia que eu tinha ficado fora por anos, mas na verdade foi apenas dois dias. O cabelo dela caia perfeitamente ondulado até o seu ombro, seus olhos estavam cheios de curiosidade, e quando eu sorri para ela, ela veio correndo e pulou nos meus braços.

—Onii-san! Que bom que está de volta!

—É claro que eu estou de volta, achou mesmo que eu ia te abandonar baixinha?

—Não, você nunca faria isso!

—Nunca mesmo Sayumi.

Nos olhamos por um tempo, então tio Kazuo se aproximou e Sayumi foi para o lado da tia Lin.

Ele abriu os braços e gritou para que o subsolo inteiro ouvisse.

—ENTÃO A MINHA SOBRINHA FAVORITA TA VIVA?!

—Tio Kazuo!

Corri para abraçar ele.

—Você é doida sabia?

—Faz parte da genética.

Rimos juntos.

—Você está mais forte e mais rápida.

—Isso porque estou machucada, você ainda não viu nada

Ele riu, e eu finalmente estava em casa, o alivio tomou conta de mim.

—Estou orgulhoso de você, e doido para saber de tudo o que aconteceu, mas antes você precisa fazer uma coisa.

Respirei fundo.

—Eu sei.

Soltei tio Kazuo, e fui caminhando em direção a sala do meu pai.

No caminho algumas pessoas iam me cumprimentando, me abraçavam e diziam estar felizes por eu ter voltado, já outras me olhavam com raiva e decepção, eu entendia eles, estavam preocupados com uma exposição do nosso clã, isso é normal, eu também sentia isso, isso também me apavorava, ainda mais agora que eu sabia tanto sobre o nosso clã e tudo o que passamos e lutamos para poder viver. Era o meu trabalho e destino proteger eles e garantir nosso lugar nesse mundo cheio de ganancia e possíveis guerras.

Cheguei a sala do meu pai e os guardas na porta me deixaram entram sem aviso prévio, meu pai já deve saber que eu estou aqui.

A sala dele estava bem clara, ele estava sentado na sua mesa com um monte de papeis na sua frente. Eu não sabia o que dizer.

—Pai?

Ele fez um gesto para que eu sentasse na cadeira a frente dele. Sua expressão era séria.

—Está machucada?

—Um pouco, nada grave.

Respondi me sentando.

Ele não olhava diretamente para mim.

—A guerra acabou?

—Sim, a aliança shinobi venceu.

—Que bom, fico feliz por isso.

Ficamos um tempo em silencio, não sabia o que dizer para ele, isso estava sendo uma tortura.

—Pai... Olha, eu...

—Não, eu tenho algo para te dizer.

Ele colocou aquele monte de papeis para o lado, apoio as mãos na mesa e finalmente olhou para mim.

—O que você fez foi imprudente e terrível. Você colocou a sua vida em perigo, me desobedeceu e arriscou expor todo o nosso clã.

—Mas pai eu...

—Não me interrompa Mei.

Ele levantou o tom da voz, e suspirou.

—Você sabe sobre tudo o que nosso clã passou, tudo o que tivemos que enfrentar. Na segunda guerra ninja eu perdi minha mãe para ninjas gananciosos, e isso foi insuperável para o meu pai, o dor da perda é algo difícil de lidar e muitas vezes nos força a tomar decisões erradas. O que o seu avô fez deixou marcas irreparáveis em nós, a morte nos perseguiu de tal forma que até hoje dói. Mas eu não posso reclamar, você nasceu naquela noite, foi um milagre. Apesar disso continuamos, por que a morte também faz parte da vida.

Ele se levantou da cadeira e veio até mim.

—Eu tento de tudo para nos manter afastados da ganancia, o nosso poder infelizmente é um maldição para nós, não podemos simplesmente sair por aquelas portas e viver como qualquer outro shinobi, isso poderia nos matar, não somos tão fortes e resistentes para enfrentar todo esse mundo. Como eu queria levar todas as nossas crianças para brincar nas praias do país da Lua, e poder finalmente comer aqueles peixes deliciosos do festival da Lua com a sua irmã, sua tia e seu tio, e você Mei. Mas o que eu poderia fazer contra esse mundo?

Ele agachou na minha frente e segurou minha mão.

—Eu tenho tentado te preparar para tomar meu lugar, te passo todas as regras e normas para que você entenda o que o nosso clã sofre e tem que passar, mas eu sei que diferente de mim você pode fazer algo a respeito. O que o meu pai fez eu jamais aprovaria, mas você é forte Mei, você é resistente, pode lutar contra vários inimigos sem nenhum problema e desfrutar do kekkei genkai em sua totalidade perfeita. Você é assim. Só você minha filha. Como líder, eu espero que você use essa força para proteger nosso clã de um jeito que eu não posso porque não tenho esse seu poder. Espero que entenda e compreenda a ganancia do mundo, e que fique firme ao lado da sua família.

—Pai...

Eu já não conseguia segurar as lagrimas, eu não esperava aquilo, ele confiava em mim para proteger nosso clã, e eu tinha sido incompreensível esse tempo todo.

—Eu sinto muito minha filha por nunca ter te contado tudo, entendo seus motivos para fugir e me desobedecer já que eu falhei contigo, não te mostrei o real motivo de você ser assim e nem o real motivo para que todas essas regras existissem. Mas agora que você entende eu te peço que você lute para que o nosso clã fique seguro, e que me prometa que nunca mais se arriscará tanto assim e que não confiará em ninguém que não seja o nosso clã, sem você Mei o futuro do clã é incerto.

—Eu não posso prometer isso pai, já que tenho que dar tudo de mim para proteger minha família. Mas prometo que cuidarei do nosso clã e lutarei o quanto for necessário para que possamos continuar, mesmo com toda a dor. Estar naquela guerra me mostrou que o mundo é perigoso sim, mas que existe pessoas boas e vale a pena lutar para que a paz venha, mesmo que seja difícil isso. E é isso que eu vou fazer, lutar por nós e por esse mundo de paz.   

 Ele suspirou e se levantou.

—Pai eu sei que eu não deveria ter saído daquele jeito, eu sinto muito pelo que eu fiz, mas eu tive que fazer. Agora eu entendo que aqui é o meu lugar, que o senhor batalhou tanto por esse clã e que devemos proteger custe o que custar. Eu fico feliz por ter ajudado na guerra, sinto que cumpri com o meu papel, e quero cumprir com o meu papel aqui também, ajudar o nosso clã e assim ajudar o mundo, do jeito certo.

Ele sorriu para mim, um sorriso de verdade. Abaixou para ficar da minha altura e olhou diretamente nos meus olhos.

—Você é igual a sua mãe, e isso é a melhor coisa que eu podia querer. Esse clã cometeu grandes erros, mas meu maior acerto foi você Mei. Você foi corajosa, mais do que eu poderia ser, e é por isso que você será uma grande líder, que irá proteger o nosso clã e salvar o mundo, assim como tem que ser. Obrigado por ter voltado para casa minha Mei, mas eu entendo que o seu lugar vai muito além daqui, só espero que você seja forte, porque não vai ser fácil a partir de agora, e temos que proteger nosso clã acima de tudo e de todos.

Eu não sabia o que dizer, as lagrimas embaçaram a minha visão, mas mesmo assim eu levantei da cadeira e o abracei o mais forte que poderia.

—Eu vou proteger a gente, eu prometo pai.

—Sei que vai.

Passei o resto do dia deitada, depois de um longo banho, tia Lin cuidou dos meus machucados e me deu coisas para comer. Contei para ela e para o tio Kazuo tudo que aconteceu na guerra, inclusive sobre o meu sonho no pesadelo infinito, tio Kazuo não fez perguntas, já a tia Lin não parava de me interromper.

—Mas e esse garoto sonhou com você também?

—Eu não faço ideia Tia Lin.

—Mas ele parece ser uma boa pessoa, não é?

—Tia Lin eu nem conheço ele!

O dia foi longo, mas quando a noite chegou tudo estava bem.

—Nii-san, posso dormir aqui com você?

—Claro que pode Sayumi.

Fiquei mexendo no cabelo da Sayumi até adormecer.

Getsugakure, um dia após a guerra.

POV Mei Hokaku.

Acordei sentindo a cama vazia, Sayumi já tinha se levantado. Fiquei encarando o teto do meu dormitório por um tempo, tentando lembrar de algum sonho que tive aquela noite, mas tudo não passava de imagens sem contextos.

Ninjas correndo, meu pai lutando, Shikamaru e aquela garota do leque gigante, a lua de sangue.

Me levantei e fui até o banheiro, tirei os curativos sem intensão de fazer eles novamente. Tomei um banho gelado e sai à procura da alguma roupa fresca.

No meu aniversário passado Sayumi tinha me dado um vestido cinza que nunca usei, talvez hoje seja um bom dia para usá-lo. Sai do dormitório e me dirigi para o refeitório, a mesa de café já estava posta mas ninguém estava comendo, o que significa que acordei tarde.

Peguei algumas frutas e torradas, sem me esquecer do café com creme e muito açúcar, me sentei em uma mesa e comecei a comer.

Imagens da guerra não saiam da minha mente, eu nem podia acreditar que tinha estado lá e que agora eu estava de volta em casa e bem. Pensei no que eles poderiam estar fazendo agora, e como deveria ser difícil para aqueles que perderam seus familiares e amigos. Essa dor eu já conhecia e sabia que no mundo em que vivemos ela poderia se repetir, era meu dever não deixar que isso acontecesse.

Terminei de comer e resolvi ir até o centro de treinamento subterrâneo, onde Sayumi deve estar agora. Várias pessoas me cumprimentaram no caminho com olhares curiosos, provavelmente queriam saber da guerra, mas meu pai deve ter proibido elas de perguntarem, típico.

O centro de treinamentos, era uma sala com paredes de vidro e divisões, onde os ninjas com mais experiência ensinavam os mais novos a controlarem o kekkei genkai, além de terem força, resistência e velocidade. Quando a criança manifestava algum traço de chakra avançado começava o treinamento, isso aconteceu comigo aos três anos de idade, já com a Sayumi foi aos cinco, o que normalmente acontece.

Sayumi estava treinando captura de jutsu, ela colocava as mãos sobre o rosto de um dos ninjas e se concentrava para pegar o jutsu que ele tinha usava a pouco tempo, que era mais fácil de capturar do que jutsus usados a muito tempo. Logo ela soltou ele, fez os sinais de mão e um raiton perfeito. Pelo jeito além de futon e suiton que eram naturais do nosso kekkei genkai, Sayumi era boa com raiton. Meu primeiro jutsu foi de doton, mas agora já consigo kaiton, e as vezes raiton dependendo do nível do jutsu.

Ela estava evoluindo muito, e com certeza será uma excelente ninja.

Voltei a andar pelo subterrâneo sem muito o que fazer, como o costume da maioria dos dias ali.

—Mei?

Meu pai estava saindo do refeitório com alguns bolinhos na mão, ele tinha o costume de assaltar a cozinha, minha mãe brigava com ele direto sobre isso.

—Precisa de ajuda com isso?

Ele riu, ficando levemente corado.

—Quer dividir comigo?

Meu pai nunca comia as refeições certas, tipo café da manhã, almoço, lanche e jantar, e quando eu era pequena era sua parceira de crime.

—Claro!

Fomos para a sua sala e comemos todos os bolinhos sem pensar duas vezes. Desde que mamãe morreu, eu e o meu pai não conversávamos muito, mas as vezes dávamos sorte de ter uns momentos como aquele.

—Quer jogar?

Ele colocou o tabuleiro de shogi na minha frente. Minha mãe me ensinou a jogar quando eu era bem pequena, já tinha jogado outras vezes com o meu pai e ele era péssimo, perdia todas, mas fazia anos que não jogávamos.

—Tem certeza que quer perder?

—Dessa vez eu vou ganhar!

—Você sempre diz isso.

Jogamos o dia todo sem notar, eu ganhei todas e quando a luz do sol foi sumindo meu pai finalmente desistiu de tentar.

—Certo! É impossível ganhar de você, você é melhor que a sua mãe, fiz bem em te selecionar como estrategista oficial.

—Claro que sim.

—Mas logo esse cargo vai ficar vago, já sabe quem vai te substituir? Eu com certeza não vou, afinal perdi o dia todo.

Não pude evitar de rir.

—Vou treinar Sayumi para isso, ela é muito inteligente, só precisa ser um pouco mais ousada.

—Ou seja, você quer corromper a sua irmã.

—Exatamente.

Rimos juntos.

—Mas e para curto prazo?

—Está querendo se aposentar tão cedo assim?

—Nunca se sabe Mei.

Não queria pensar nessa possibilidade, perder meu pai, não era algo fácil de lidar.

—Tio Kazuo é a melhor opção.

—É uma ótima escolha Mei.

Então ele foi organizar alguns relatórios de missões passadas, e eu fiquei deitada no tapete da sua sala olhando para o teto.

Logo ele teve que acender a luz, o que mostrava que a noite tinha chegado. Me levantei dizendo que ia ver a Sayumi, mas no momento exato que eu sai da sua sala um estrondo veio lá de cima.

—O que foi isso?

Meu pai se levantou da sua mesa e vimos Ban descer correndo as escadas.

—ESTÃO ATACANDO A VILA!

Ele gritou, e meu coração saltou do peito. Quem poderia atacar a vila? Será que alguém tinha me visto na guerra e estava atrás de mim? Droga, isso não podia estar acontecendo.

—Mei, vai chamar a Lin, diga a ela para juntar as crianças nos dormitórios.

—Pai os ninjas da vila ainda não voltaram da guerra.

—Eu sei vou mandar seu o Kazuo.

Sai correndo procurando pela tia Lin. Vi meu pai chamar a força principal de ninjas especialistas do nosso clã, aqueles que já possuíam o controle total do kekkei genkai, tio Kazuo que liderava eles. Ouvi ele dando as ordem para irem a vila ver o que está acontecendo.

Toda criança que eu achava pelo caminho mandava ir para os dormitório, longo quando estava chegando próxima a eles vi tia Lin junto de Sayumi.

—Meu pai pediu para que você cuidasse das crianças, todas no dormitório.

—Certo.

Tia Lin foi colocando todas as crianças dentro dos dormitórios.

—Nii-san eu quero ajudar!

—Sayumi, apesar de você ser uma grande ninja é muito perigoso, mas vai ficar tudo bem ok?

Ela bufou, mas concordou.

—Eu vou ver o que está acontecendo.

—Tome cuidado Mei.

Tia Lin falou num tom de preocupação que me assustou.

—Amamos você Mei.

Abracei Sayumi, e voltei correndo para sala do meu pai. Se aquilo fosse culpa minha eu tinha que assumir essa luta e proteger eles, como um líder deve fazer.

—O que você está fazendo aqui Mei?!

—Vim ajudar, você sabe que eu sou a melhor no controle do kekkei genkai.

—Os especialistas já estão cuidando de tudo.

Eu deveria estar lá com eles, me tornei especialista com quatorze anos, mas eu sabia que o meu pai não deixaria eu subir e talvez seja melhor eu ficar aqui embaixo para pensar em alguma estratégia e proteger todo mundo caso eles invadam.

Os barulhos de luta lá em cima me deixavam cada segundo mais nervosa, foi então que ouvimos o sinal de Maiko, e eu senti meu corpo tremer. Aquele alarme tocando significava que estávamos sendo invadidos.

—Mei, vai proteger as crianças.

Não respondi meu pai apenas corri, mas antes que eu pudesse chegar até os dormitórios vários ninjas mascarados começaram a aparecer.

Kunais com marcações surgiam em todos os lugares, isso me lembrou o jutsu do Yuki.

—Eles são muitos.

Deixei me chakra fluir de mim, e logo entrei em combate. Nosso clã tinha em média cento e oitenta membros, e cada um deles tirando as crianças lutavam agora.

Nosso kekkei genkai quando usado com ajuda e suporte um do outro era imbatível, porém a quantidade de inimigos só aumentava o que nos prejudicava, a nossa única fraqueza é também o nosso maior poder.

—MEI CUIDADO!

Ban se colocou do meu lado e usou um kaiton para repelir o futon usado pelo ninja mascarado.

—Esse jutsu dele, é futon de Suna.

—Sim, eu e Maiko derrotamos alguns que usavam doton junto com futon, características de Suna também.

A luta ao nosso redor se intensificou, eram nove contra dois, isso por incrível que pareça me deixou empolgada.

—Ban me dá cobertura.

—Pode deixar.

Comecei a usar cintilação corporal para me mover mais rápido, era uma das especialidades do nosso clã, o movimento rápido era uma grande arma. Me defendia com taijutsu, e esquiva de kunais e shurikens.

Ban usou doton para eliminar alguns deles, e então eu pude segurar dois e capturar o chakra deles, logo eles estavam no chão, mas os inimigos não diminuíam.

—Mei eles são muitos!

Droga, não dava tempo de pensar em algo, tinha inimigos para todos os lados.

Usei kaiton para distrair eles e depois com a cintilação corporal consegui derrubar alguns usando futon e arremessando eles de encontro a uma parede.

Quando o caminho se abriu eu vi tia Lin e tio Kazuo lutando para proteger as crianças. Eles estavam em desvantagem e não tinham como usar o kekkei genkai a tempo, então um dos ninjas lançou um raiton em direção ao tio Kazuo, ele usou um jutsu de doton para proteger a tia Lin e as crianças, mas não conseguiu sair a tempo.

—KAZUO!

Meu coração se partiu, a perda estava alcançando nossas vidas outra vez, e eu não podia deixar de me sentir culpada.

—Ban...

—Vai logo!

Corri em direção da tia Lin, chegando a tempo de bloquear algumas kunais com um jutsu de doton, ela estava usando ninjutsu médico no tio Kazuo que estava inconsciente e respirava com dificuldade.

Não deu tempo de pensar em revidar, quando ouvimos gritos vindo atrás de nós. Os ninjas estavam usando kunais marcadas para entrar dentro dos dormitórios e pegar as crianças. Algumas delas tentavam se defender usando alguns jutsus, porém a maioria não sabia controlar o chakra ainda.

Meu sangue ferveu quando um dos ninjas desapareceu com uma criança, era o mesmo jutsu do Yuki não tinha dúvidas, então não poderia rastrear seu chakra tão facilmente, Droga!

—Estão pegando as crianças! Querem nosso kekkei genkai!

Tia Lin gritou e logo a frota do nosso clã aumentou para proteger nossas crianças.

Já não me importava com a minha proteção, então comecei a me mover mais rápido capturando o máximo de chakra que conseguia, muitos ninjas foram ao chão, mas a nossas perdas só aumentavam a cada segundo.

Mais crianças tinham sido pegas. Maiko e Ban usaram um jutsu de kaiton em conjunto que conseguiu acabar com alguns inimigos, porém tivemos que recuar o que deixou algumas crianças desprotegidas.

Então o meu pai apareceu, ele segurou na mão da tia Lin e transmitiram chakra um para o outro. Eu conhecia aquela formação, meu pai costuma fazer ela junto com a minha mãe. Os sinais de mão vieram tão rápido que foram quase imperceptíveis, então um dragão de chakra e água apareceu engolindo vários inimigos.

Sayumi aproveitou o momento para retirar as crianças do dormitório e passar elas para o refeitório, mas ela foi surpreendida por um ninja.

Eu corri ao seu encontro e usei o primeiro jutsu que veio na minha mente, um jutsu de futon que a minha mãe me ensinou, um furacão de vento e chakra se formou em direção ao ninja, Sayumi complementou o meu jutsu com um raiton que eu vi ela usar mais cedo, o ninja foi atingido, e as crianças conseguiram escapar.

Porém Sayumi ficou presa entre dois ninjas que apareceram de repente. Eu vi meu pai e tia Lin correndo em sua direção. Dei um soco no chão concentrando o chakra no meu punho, um dos ninjas caiu e Sayumi conseguiu correr para mim. O outro ninja apareceu ao meu lado, seu chakra era futon e doton, ou seja, um ninja de Suna, entramos em combate, mas antes que eu pudesse tocar nele ele desapareceu, reaparecendo logo depois atrás da Sayumi.

—SAYUMI!

Eu gritei mais foi tarde demais, ele acerto ela com um golpe na nuca, que fez com que ela desmaiasse, então eles sumiram.

Fiquei paralisada, não conseguia pensar em nada, fazer nada, meu corpo congelou por completo. As lagrimas se formaram nos meus olhos, embaçaram a minha visão, eu senti o chakra da tia Lin e do meu pai se aproximarem, mas eu não conseguia fazer nada.

Naquele momento eu desejei a morte, tudo aquilo era culpa minha, eu deveria proteger esse clã, deveria cuidar dele, deveria ajudar ele, evitar que tudo isso acontecesse, mas agora vários membros da minha família estavam mortos, e as nossas crianças desaparecidas, a Sayumi tinha sido levada, a minha Sayumi...

—MEI!

A voz do meu pai me despertou do meu transe, um raiton vinha em minha direção, eu pensei em bloquear ou me deixar ser atingida, porém foi tudo muito rápido.

Meu pai entrou na minha frente, o sangue dele esguichou sobre mim, e ele caiu aos meus pés.

Eu senti as lagrimas caírem, não tive força para me manter de pé, meu pai soluçava a minha frente, o sangue escorrendo, eu quis gritar, mas não tive voz. Tia Lin acertou o ninja com uma kunai e continuou lutando contra outros a nosso redor.

—Mei...

Segurei o rosto do meu pai com as duas mãos, meu coração estava partido, eu estava perdendo tudo, tudo o que eu amava estava indo pelas minhas mãos, tudo em mim doía, não sentia meu coração bater, somente a dor que percorria o meu corpo como laminas.

—Me desculpa... É tudo culpa minha... Se eu tivesse ouvido você... Eu sinto muito pai...

—Para... Isso não é culpa sua minha filha, você é a mulher mais corajosa que eu conheço, e eu sei que a sua força salvará o nosso clã, a nossa família... Por favor Mei, não se culpe, você fez o que tinha que fazer, nada disso foi consequência do que você fez, mas sim do que nós somos e do que a ganância por poder representa... Você deve lutar contra isso Mei, deve lutar para que o mundo seja um lugar seguro para nós... Durante tantos anos eu lutei para nos proteger do mundo, e agora é a sua vez de lutar para que não precisamos nos proteger, para que o mundo seja seguro e esteja em paz... Eu sei que você é capaz, você é a única Hokaku capaz de salvar esse mundo e ajudar esse clã a sair do subterrâneo... Seja a líder que você já é... Traga a sua irmã de volta junto com todas as crianças... Não pare de lutar, seja forte... Salve esse mundo da ganancia e faça o nosso clã viver feliz lá em cima... Eu acredito em você... Sua mãe acredita em você... Estamos com você minha Lua...

Os olhos do meu pai foram se fechando, eu apertei a sua mão junto da minha.

—Eu te prometo.

As lagrimas se secaram e eu levantei do chão.

Respirei fundo e então não controlei mais nada. O chakra fluiu de mim, a aura vermelha se formou, eu senti o poder como nunca tinha sentido antes, a raiva controlava os meus passos e absolutamente nada controlava o meu chakra.

Foi tudo muito rápido, logo uma explosão de kaiton se formou ao meu redor, muitos ninjas caíram no chão. Eu segurei um deles com uma das minhas mãos, vi sua vida indo embora conforme me apossava do seu chakra, então outro ninja se aproximou de mim, não pensei em nada, apenas disparei um raiton em sua direção, sem necessidade de selos de mãos e mesmo sugando o chakra de outro ninja.

Logo peguei outro, eles tentavam se defender com jutsus e kunais, porém eu estava rápida demais. Na minha visão tudo era um simples borrão, a raiva estava me controlando completamente.

—MEI! PARA!

Eu ouvi tia Lin gritar, mas agora era tarde demais.

Mais ninjas se juntaram ao meu redor, então com um rápido movimento das mãos uma onda de raiton atingiu todos eles.

Passei por corpos sem vida caídos no chão, então eu vi a lua pelo teto de vidro, ela estava cheia e branca, sua luz era o suficiente para iluminar toda aquela noite. Meu pai costumava chamar minha mãe de Lua, era um apelido carinhoso pela forma como eles se apaixonaram. Me lembro dele me contar que era uma noite de lua cheia como hoje, meu pai estava voltando de uma missão e resolveu passar pela praia, então ele viu minha mãe admirando a lua, ele já tinha visto ela no clã outras vezes, mas ele não sabia o seu nome, ele perguntou mas ela não disse, ai ele começou a chamar ela de Lua. Quando ela morreu foi a última coisa que ele disse para ela, e agora foi a última coisa que ele disse para mim...

Eu senti meu corpo vibrar, o chakra foi sessando. Olhei ao redor e não tinha mais inimigos em pé. Muitos membros do meu clã me olhavam assustados, algumas crianças choravam junto de algumas mães que perderam seus filhos. Eu senti meu corpo pesar e as mãos da tia Lin me seguraram.

—Está tudo bem Mei...

Tudo ficou escuro.

 


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