O amigo do padeiro escrita por Lilás


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Oi! Escrevi essa história para minha irmã tem um tempo. Para mim, foi um desafio porque eu tenho dificuldade para escrever histórias em primeira pessoa. Se quiserem comentar sobre os pontos em que devo melhorar, fico agradecida.



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Meu nome é Eron Helmett e eu vivo com meus pais, dois irmãos mais velhos e uma irmã caçula na área comercial do Distrito 12. Mas, apesar de eu ser muito interessante, eu não vim aqui para falar de mim, e sim, do meu melhor amigo no mundo, Peeta Mellark. Não, ele não é meu amigo só porque eu ganho várias amostras grátis de doces da padaria do pai dele. Dar esses doces para mim faz parte da obrigação dele de amigo. Eu acredito que amigos devem ajudar uns aos outros e, por isso, eu estou empenhado em ajudar Peeta em uma coisa.

Peeta é um cara bem legal, mas tem um grande problema. Ele gosta de uma garota, mas não tem coragem de falar isso com ela. Eu até incentivei ele com frases como “você é um homem ou um saco de farinha?” ou “até minha irmã é mais homem que você”, no entanto não adiantou. Ele continua morrendo de medo de falar com a menina. Tentei empurrá-lo para cima da garota, no entanto o palerma tropeçou nas próprias pernas e caiu em cima de Delly, nossa cúmplice e vizinha. Todo mundo ficou olhando para a nossa cara como se fôssemos um bando de malucos, principalmente porque a Delly fez um escândalo desnecessário.

Ele até tentou dar um presente para ela. Peeta havia feito uma caixa de doces com chocolate importado e que custavam uma pequena fortuna no nosso pobre distrito. Privilégios de ser o filho do padeiro. Contudo, antes mesmo de eu saber se o Peeta teria coragem de entregar para ela ou se era só conversa dele de novo, nós fomos roubados por um bando de moleques desordeiros da nossa sala. Eu tinha certeza que o Peeta era o sujeito mais azarado do mundo no quesito amor. Ele e a sua caçadora inatingível.

Isso mesmo que você ouviu. Caçadora. Apesar de caçar e, até mesmo, entrar na floresta serem proibidos no nosso distrito, há boatos de que Katniss Everdeen caça todos os dias na floresta. Ela sai todos os dias de manhã bem cedo para fazer um “passeio” perto da cerca do distrito e reaparece, horas depois, no mercado do 12 carregando um animal morto para vender. Ou os animais da floresta resolveram cometer suicídio na frente dela ou ela os estrangula com as próprias mãos. Vai saber.

É ela quem sustenta a mãe e a irmã caçula com a caça ilegal desde a morte do pai dela há mais de um ano. Eu até entendo o Peeta. Quem não ficaria impressionado com uma garota que caça a própria comida? Os outros meninos ficam babando e dizendo que ela é uma garota diferenciada e, ainda por cima, bonita. Porém, eu acho que o Peeta já gostava dela antes disso.

Eu tenho um plano para ajudar o Peeta. Eu sei, pode parecer um plano bem simples e, por isso, é tão genial. Como sempre, eu estava sentado ao lado do Peeta na sala de aula e ele estava muito concentrado fazendo mais um desenho do amor da sua vida. Discretamente, arranquei uma folha do meu caderno e escrevi com uma letra caprichada.

Você tem os olhos mais lindos que eu já vi. Aceita sair comigo um dia desses?

Peeta

— Delly? – debrucei sobre minha mesa e cutuquei a garota na minha frente – Pode passar isso para a Katniss? – e estendi a folha de papel dobrada.

— O que é isso? – ela olhou, desconfiada.

— É particular – cochicho para ela – Não enche e entrega logo.

Mesmo com dúvida, Delly passa o papel para o menino magrelo a sua frente. Katniss estava a duas cadeiras na frente e três cadeiras a minha esquerda.

— Para quê isso? – escutei o Jin perguntar para a Delly.

— O Eron pediu – Delly encolheu os ombros.

— Passa para Katniss – era o que eu queria dizer, mas apenas movi meus lábios quando Jin virou os olhos para mim. Ele se inclinou para o lado e jogou o papel dobrado em cima da mesa de uma das meninas.

Vai ser burro assim lá nos quintos dos infernos! O boboca jogou o papel na mesa da Gerda. Ela lançou um olhar desconfiado para o papel, abriu-o e leu enquanto eu gesticulava desesperadamente. Precisei disfarçar porque a professora olhou para mim com a cara fechada.

Gerda lançou um sorriso bobo na nossa direção e guardou o papel dentro da bolsa. Eu escorreguei minha mão da testa até o final do meu queixo. Fiquei com as mãos cobrindo meus olhos por um bom tempo enquanto pensava em uma maneira para consertar aquela situação.

— Vai ficar aí? – Peeta sorri para mim. Era o intervalo das aulas e algumas pessoas já tinham saído da sala.

No pátio, ficamos conversando com um grupo de meninos e combinamos com eles de esperar o inverno para descermos escorregando o monte de neve na entrada da área comercial. Eu e o Peeta costumávamos usar a porta de algum armário velho do depósito de lixo como prancha.

— Oi, meninos – eu, Peeta e os três meninos que conversavam conosco no momento viramos nossas cabeças ao mesmo tempo quando Gerda e suas amigas passaram acenando para nós com sorrisinhos. Elas, geralmente, costumavam nos ignorar porque a Gerda e suas amigas eram consideradas bonitas demais para nós – Oi, Peeta – ouvi claramente a voz de Gerda se sobrepondo ao coro.

— Vocês entenderam alguma coisa? – Peeta perguntou, confuso, depois delas se afastarem.

— E quem entende as garotas? – encolho os ombros e mudo rapidamente de assunto.

No entanto, as coisas não pararam por aí. Ao final da aula, eu e Peeta estávamos conversando perto do portão enquanto esperávamos por nossos irmãos para irmos juntos para casa. Gerda apareceu sem a companhia das suas amigas e passou direto por mim como se eu nem estivesse ali ao lado e chamou o Peeta.

— Ah, oi, Gerda – Peeta sorriu, educadamente – Algum problema?

— É que eu não queria ir sozinha para casa hoje – ela começa com certo receio – Estive pensando se você não gostaria de ir comigo até minha casa.

— É que eu estou esperando meus irmãos – Peeta diz, simplesmente.

— Pode deixar que eu aviso eles, Peeta – passo meu braço em volta do pescoço dele e o encaro, dizendo entre os dentes, de forma intimidadora – Você não vai deixar uma donzela linda e indefesa como ela ir sozinha até em casa.

— E moramos perto um do outro – Gerda emenda.

— E eu acho que você sabe o caminho de casa. Não precisa mais dos seus irmãos – o empurro na direção dela – Nós já temos 13 anos. Não há nenhum problema nisso.

Peeta parecia um pouco confuso, mas acabou concordando em acompanhar a Gerda que saiu toda orgulhosa. Antes deles saírem, cutuquei o Peeta e apontei para os livros na mão dela. À distância, eu o vi ajudando-a a carregar o material.

Mirei no que vi e acertei o que não vi. Talvez, a ideia do bilhete não tenha sido totalmente má. Eu sei que o Peeta gosta da Katniss e tal, mas a Gerda também é muito bonita. Quem sabe, ele esqueça a Katniss e acabe namorando a Gerda. Meu amigo finalmente deu sorte e vai me agradecer ao final.

— Cadê o Peeta? – ouvi uma voz atrás de mim e virei-me para encarar os dois irmãos dele.

— Ele foi mais cedo – respondi – Disse que precisava resolver uma coisa.

— Olha ele lá – Pavel, o irmão mais velho do Peeta, apontou para frente – Quem é aquela menina que está com ele?

— É a Gerda. Da nossa sala – disse – Peeta foi levá-la até em casa.

— Era esse o assunto que ele precisava resolver? – Pali, o irmão do meio, sorriu maliciosamente para Pavel – Será que nosso irmãozinho está começando a se interessar por garotas?

Os dois trocaram um sorrisinho doentio. Uma mistura de orgulho e malícia estampados no rosto. Meio assustador. Eles ficaram o caminho de volta todo formulando teorias e treinando conselhos sobre mulheres para passar ao irmão caçula.

No dia seguinte, encontrei o Peeta com uma cara estranha na entrada da escola.

— Eu levei a Gerda até a casa dela – Peeta diz.

— E foi só isso? – insisto.

— Sim – ele balança a cabeça – Ela me deu um beijo na bochecha e disse que eu fui um perfeito cavalheiro – Peeta encolhe os ombros.

— E por que está com essa cara?

— Meus irmãos – ele suspirou – Eles ficaram perguntando se a Gerda era minha namorada e ficaram dando aulas de como conquistar uma garota.

— Eles falaram alguma coisa com os seus pais? – perguntei, preocupado.

— Não – Peeta deu um meio sorriso – Eles disseram que era segredo nosso. Mas, eu não gosto, sabe – ele olhou para os lados – dessa insinuação de que eu tenho alguma coisa com a Gerda.

— E qual o problema? – enrugo a testa – Ela é bonita.

— Você sabe que eu gosto da Katniss – ele disse em um fiapo de voz.

Não tive tempo de reclamar da velha ladainha de sempre porque a professora chamou-nos para a aula. Eu fingi não ver os olhares da Gerda para o Peeta, porém confesso que isso está ficando cada vez mais constrangedor. Gerda fica desenhando corações cor-de-rosa no caderno e mandando beijos para o Peeta que, aparentemente, não sabe bem o que está acontecendo.

Ele inventou uma desculpa qualquer para sair mais cedo e evitar encontrar com a Gerda. Na saída, Gerda veio me perguntar onde estava o Peeta.

— Ele está com diarreia – foi a primeira coisa que eu pensei – Comeu alguma coisa estragada na padaria. Por isso, ele precisou sair mais cedo.

— Eu não precisava saber isso – Gerda fez uma cara de nojo – Está bem. Falo com ele amanhã – e saiu sem nem mesmo me agradecer.

Nem pus os pés para fora da escola e encontrei com os irmãos do Peeta.

— Eu vi a menina que estava com Peeta ontem – Pali se aproximou de mim – mas nada dele.

— Ele saiu mais cedo porque não estava se sentindo bem – digo, desconfortável – Olha, eu... eu acho que o Peeta não está muito interessado nessa garota...

— O quê?! – Pali agarrou a gola da minha camisa com violência e apontou um dedo acusador para mim – Escute aqui – ele disse com a voz firme e baixa – Irmão nosso gosta de garotas. Se o Peeta deixar uma menina bonita como essa escapar por causa de alguma... alguma gracinha, nós vamos bater nele e em você porque você é amigo dele. Entendeu?

— O que é isso, Pali? – Pavel ria enquanto afastava o irmão de mim – Está assustando o garoto. Não ligue – ele se vira para mim – O Pali está só brincando.

Confirmo lentamente com a cabeça, mas não digo nada.

Para o bem do Peeta, e o meu próprio, ele precisava ficar com a Gerda e esquecer de vez a Katniss. Esse, com certeza, era um amor fadado ao fracasso.

No dia seguinte, eu falei com Peeta de todas as qualidades da Gerda. Como ela era bonita e inteligente, sua caligrafia perfeita, como ela ajudava a mãe na cozinha, sua gentileza e educação, como ela conseguia cuspir um caroço de uva a dois metros de distância, como ela sabia a indústria principal de cada distrito, como os cabelos dela oscilavam do ruivo para o loiro dependendo da luz, como ela conseguia ficar sem respirar por cinco minutos embaixo d’água. Essa última afirmação não foi comprovada, mas quem iria desmentir?

— Por que está falando tudo isso? – Peeta perguntou, desconfiado, no intervalo.

— Por nada – respondo, inocentemente – Mas, eu acho, você deveria dar uma chance a ela.

— Eu gosto da Katniss – ele diz com impaciência.

— Eu sei – rebato – Mas ela nem sabe que você existe. E a Gerda sabe. Você consegue falar normalmente com ela, não é? Ela pode fazer você esquecer de vez a Katniss.

Peeta encostou-se ao lado do velho muro da escola, pensativo.

— Não é verdade que ela não sabe da minha existência – ele começou, lentamente – Nós tivemos um... um contato há um tempo atrás – e acrescenta como se fosse o comentário mais importante – Foi intenso.

— Como assim? – estou surpreso. Peeta não era tímido com as garotas. Porém, quando se tratava da Katniss, ele vivia como uma barata fugindo da luz – Você falou com Katniss?

— Não – ele diz, lenta e tristemente – Mas, ela olhou para mim. Olhou para mim de uma forma diferente, sabe? Como se eu fosse sua última esperança...

— Eu acho que você está aspirando demais a fumaça do forno da padaria – dou uma risadinha para descontrair – Qual é, cara? Você sabe dizer pelo olhar dela que ela gosta de você?

— É claro que não – ele devolve, aborrecido – Se eu soubesse, eu já teria...

— Teria o quê? – provoco – Não teria feito nada, suponho. É melhor ser feliz com o que se tem, Peeta. Tem uma menina bonita gostando de você e você está atrás de uma garota que nem sequer trocou duas palavras com você.

Ele meneou a cabeça e fingiu raspar a sujeira do muro com uma pedrinha.

— Você deveria esquecer essa loucura, está bem? – continuo – Você vai levar a Gerda de novo até a casa dela hoje e tentar dar uma chance a ela, ok?

— Eu não sei... – ele começou, no entanto eu o interrompi.

— Você vai me prometer que vai tentar, está bem? – digo, firme.

Ele acabou concordando como o bom garoto que era e acompanhou a Gerda até em casa. No outro dia, sua expressão parecia ser vazia e eu não consegui identificar seus sentimentos.

— Fala logo o que aconteceu – peço com impaciência.

— Nós nos beijamos – Peeta diz com um pouco de indiferença – Quando eu me despedi dela na porta de casa.

— E você não gostou? – pergunto.

— Gostar, eu gostei... – nem espero ele concluir.

— É isso aí – dou um murro no ar e sorrio de alívio – Então, vocês estão agora namorando?

— Não sei – Peeta entorta a boca e encolhe os ombros.

— Trate de saber – eu o repreendo – Ou eu mesmo vou lhe dar uma surra.

Nas semanas seguintes, Peeta levava a Gerda até a casa dela e trocavam um ou dois beijinhos na porta da casa. Os irmãos do Peeta pareciam satisfeitos com essa história e eu também.

Porém, para minha frustração, o namoro não durou muito. Menos de dois meses depois, indaguei ao Peeta porque ele não foi acompanhar a Gerda em casa.

— Bom – ele mediu as palavras – Na verdade, eu não entendi bem o que aconteceu...

— Fala logo, Peeta – grito, aborrecido.

— Sério. Eu não sei bem o que aconteceu – Peeta mostrou as palmas das mãos em sinal de rendição – Há uns dias atrás, eu levei ela até em casa, como fazia todos os dias, e ela me convidou para tomar uma limonada. Bom, eu estava com muita sede.

— E...? – levanto uma sobrancelha.

— Quando eu entrei, percebi que os pais dela não estavam em casa – Peeta encolheu os ombros – Ela disse que eles só chegariam mais tarde. Tomei a limonada e já estava indo embora quando ela pediu para eu ficar mais um pouco.

— E você foi embora? – perguntei, indignado.

— Não – ele balançou a cabeça – Eu fiquei conversando com ela no sofá mas, em determinado momento – Peeta inclinou a cabeça para o lado com se tivesse receio de continuar falando – Ela me beijou. E ficamos nos beijando até ela tirar a minha camisa.

— Como assim?! – percebi que dei um grito alto demais quando Peeta fez sinal com as mãos para que eu falasse mais baixo.

— Calma. Não aconteceu nada – ele me tranquiliza – Eu parei e disse que não era uma boa ideia. Não queria desrespeitar os pais dela, então fui embora.

Eu não consegui dizer nada. Apenas fiquei o encarando com os olhos arregalados.

— Mas, eu acho – Peeta continuou a falar – ela não quer mais falar comigo. Ela ficou bem chateada – suspirou – Eu não queria correr o risco. E se os pais dela chegassem?

— Provavelmente, eles iriam te matar – completei – Seu pai iria te matar. Sua mãe iria te matar...

— Já tem gente demais querendo me matar – ele deu um meio sorriso – Por outro lado, foi uma coisa boa. Eu não gostava dela de verdade.

— Eu sei. Eu sei – dei um suspiro de aborrecimento – Sempre a caçadora.

— Exatamente – Peeta suspirou, sonhadoramente, e olhou para o céu.

Realmente, ele era um caso perdido. Não adiantava empurrá-lo para outra garota. Peeta cismou na Katniss. Talvez, se eu o ajudasse a conquistá-la, essa obsessão não diminuísse?

E a ideia do bilhete não era de todo má. O problema foi o bilhete ter sido desviado de seu percurso original. Eu só precisava arranjar um intermediário melhor. No dia seguinte, rasguei outro pedaço de papel do meu caderno e escrevi da forma mais legível possível.

Gosto muito de você. Acho que estou apaixonado. Quer sair comigo para conversarmos?

Peeta

— Ei, Napel – sussurrei para o menino ao meu lado – Pode passar isso para Katniss?

Napel olhou primeiro para Katniss antes de pegar o papel da minha mão com um sorrisinho de cumplicidade. Contudo, antes mesmo dele esticar o braço, uma mão surgiu do nada e segurou o pulso de Napel com força.

— Muito bem, querido... – a professora disse com doçura, arrancando o bilhete da mão de Napel. Eu parei de respirar porque quando a nossa professora chamava qualquer um de nós de “querido” era quase a mesma coisa que ser convocado para os Jogos Vorazes – Você – ela apontou para Napel após ler o papel – Você – a professora virou para mim sem alterar o tom na voz – E você – e indicou Peeta que estava alheio à toda a confusão – Diretoria. Agora.

Nós três saímos da sala arrastando os pés. Não conseguimos explicar nada porque a professora desatou a falar com o diretor sobre como éramos impossíveis, como essa não era a primeira vez e outras bobagens. Pelo que eu entendi da explicação dela, Peeta estava enviando cartinhas de amor para todas as meninas da sala e eu e o Napel éramos os seus cúmplices. Pela expressão no rosto do Peeta, ele entendeu perfeitamente quem estava enviando as tais cartas. No entanto, ele não me entregou. Amigos não deduram uns aos outros.

O pai do Peeta chegou um pouco depois e ouviu atentamente todas as queixas do diretor. Eu pensei que ele ficaria bravo, mas ele apenas coçou a cabeça e deu de ombros. Ele e os irmãos do Peeta nos acompanharam no caminho de volta para casa. Pavel e Pali deram piscadelas de aprovação para o Peeta quando o pai deles não estava vendo.

— Olha só, temos mais um galanteador na família – a mãe do Peeta sorriu com ironia quando chegamos à padaria dos Mellark.

A primeira impressão que eu tive da mãe do Peeta foi boa. Quando eu tinha cinco anos, eu a encontrei pela primeira vez e ela me ofereceu biscoitos, perguntou pela minha mãe e me chamou de “meu querido”. Com o passar do tempo, eu percebi que ela tinha seus momentos e poderia estar aqui conversando normalmente conosco para, no minuto seguinte, estar gritando com todo mundo sobre tudo. Ela deve ter algum transtorno maníaco-depressivo.

— Uma bobagem de crianças – o senhor Mellark encolheu os ombros.

— Isso tudo é culpa sua – a senhora Mellark ergueu o dedo em riste – Ele não está na escola para colecionar namoradas. Se continuar assim, é melhor tirá-lo da escola para ele vir trabalhar na padaria em tempo integral.

— Você sabe muito bem que isso não está em discussão – o senhor Mellark atravessou o balcão para a cozinha.

— Aí, heim, maninho? – Pali cutucou o ombro de Peeta antes de seguir o pai – Queridinho da mulherada. Seguindo os passos do seu irmão.

— Você com essa carinha de bobo, heim? – Pavel sorriu maliciosamente do outro lado do balcão enquanto assoprava o café fumegante em sua caneca.

— A escola não é lugar para namoricos – a senhora Mellark ralhou duramente com o filho caçula – Você deu sorte porque foi o seu pai, e não eu, quem foi ouvir as reclamações. Eu iria trazer você de lá pelas orelhas!

Peeta continuava quieto e olhando para os próprios sapatos. Senti vontade de dizer ter sido tudo um plano meu. Não consegui reunir a coragem para confessar.

— A escola não é lugar para namorar – a senhora Mellark continuou do outro lado do balcão.

— É mesmo – o senhor Mellark parecia ter sido despertado de um cochilo depois de a esposa ter lhe dado uma cotovelada na barriga – A escola não é um lugar bom para achar namoradas – e emendou, pensativo – Foi na escola que eu conheci sua mãe.

Pavel cuspiu o café e começou a tossir, engasgado. Pali cobriu a boca para abafar uma risada e o senhor Mellark percebeu, aos poucos, o que havia acabado de dizer.

— Esperem – ele rapidamente se corrigiu – Não foi isso o que eu quis dizer.

— Cozinha – a senhora Mellark parecia estar tentando suprimir a raiva, sem sucesso – Agora – Ela tirou o avental e o jogou na cara do marido – Há muito trabalho ainda para fazer, senhor Mellark – e pôs ênfase nas duas últimas palavras antes de sair pisando firme. O pai de Peeta seguiu a esposa, atordoado.

— É melhor você sair por um tempo. Até ela se acalmar – Pali ainda estava rindo – Vai buscar as encomendas do pai que faltam – e estendeu um papel para Peeta.

Eu resolvi seguir o Peeta para ajudá-lo com as encomendas. E também porque eu gostaria de agradecer por ele não ter me entregado.

— Eu sei que você está tentando me ajudar, Eron – Peeta disse quando já estávamos no caminho do mercado – Mas, faça-me um grande favor, não tente me ajudar.


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Notas finais do capítulo

Espero que gostem.
Até mais.



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