Estava caminhando pelos corredores com Kat indo em direção ao meu quarto enquanto conversávamos. Ela perguntava, curiosa, sobre minha relação com eles.
— Mas por que são todos homens? Você não tinha nenhuma amiga? Ninguém?
— Eu tinha quando era pequena. Algumas amizades que fiz nas várias vezes que estive no centro do distrito. Só que na nossa casa eram apenas eles. Poucas garotas são encorajadas ou tem vontade de se tornarem guardas. Embora não ofereça perigo, gera uma distância grande da família.
— Seus pais deixaram então? Engraçado, foi algo que nunca perguntei. - Ela para de andar subitamente. - Eu posso perguntar? Ou falei demais?- Eu rio de seu desespero a acalmando e voltamos a andar.
— Está tudo bem, eu não comentei por que não me perguntou. É que eu não tive pais, fui criada por uma senhora em nosso distrito. Ela era a melhor amiga de minha mãe. A única coisa que tenho dela é esta foto. - A tiro da mochila que levava nas costas e a mostro.
— Ela era bem bonita.
— Eu sei. - Sorrio com essa contestação. - Meu pai ninguém sabia quem era.
— E como conheceu os meninos?
— Foi por ela também. Quando disse que queria me tornar guarda ela me mandou para a casa deles, em um ferro velho. A irmã dela cuidou de Ian e Erick desde que eles foram deixados em uma velha casa. Ian tinha apenas um ano e Erick estava abraçado a ele. Quando Erick fez seis anos quis começar a estudar e aprender o Chez e a senhora que cuidava deles os permitiu sair para treinar embora preocupada. Isso foi Ian quem me contou. É tudo o que sei. E por conhecê-los e saber que cuidariam de mim, ela me mandou a eles.
— Caramba. Assim minha história não tem graça.
— Qual sua história? Reclama da minha mas também nunca me contou a sua.
— Não perguntou. - Olho para ela que me mostrava a língua e ria. - Eu fui criada em uma casa de família e meu pai, um apaixonado por tecnologia, fez meu primeiro capacete. Eu gostei e comecei a aprender por mim mesma até que eles me mandaram pra cá para me aperfeiçoar. Fim.
— É uma história feliz.
— É. E nisso não reclamo.
Chegamos a meu quarto. Era apenas uma cama e uma escrivaninha ao lado além de uma pequena estante na parede oposta à cama. Um quarto simples mas aconchegante. Coloco minhas malas em cima da cama enquanto Kat me observa sentada na cadeira junto à escrivaninha.
— Ele são muito organizados e respeitosos. Não mexeram em nada desde que partiu. - Ela falava observando todo o quarto enquanto eu desfazia as malas.
— Alice? - Nós viramos para a porta e Jazon estava ali parado com seus 1,75 e cabelos e olhos atraentemente claros.
Jazon entrou na academia aos 12 anos. Tem a mesma idade de Kat e já me pediu em namoro mas essa parte da nossa amizade fica no passado. Nós tentamos mas nunca tirei Ian da cabeça. Por isso fingimos que isso nunca aconteceu agindo normalmente mas não se pode apagar o passado. - Você... voltou?
— Eu precisei. Olá Jazon.
— Oi. - Ele fica quieto por um momento sem sabe o que dizer. - Bom, nos vemos mais tarde. Bem vinda de volta. - Ele não me dá tempo de dizer nada antes de sumir.
— Ele ainda gosta de você.
— Eu sei. - Olho o anel em minha mão. - Mas vai ter que encontrar a pessoa certa para ele. E não sou eu.
— Eu sei.

— ALICE! Ganhamos quartos legais! - Thomás vem até nós seguido pelos outros. Kat ri de seu comentário mas se recompõe quando os outros chegam.
— O que acharam daqui?
— É incriável, sem dúvidas. - Ian fala em seu jeito calmo. Percebi que Erick atrás dos outros parecia meio distraído, olhando pela grade de ferro do terceiro andar, onde ficavam os quartos, para baixo no imenso vazio mas resolvi que não devia me meter.
Após jantarmos no refeitório dali, fomos descansar para os longos dias que viriam. Tive me despedir de Ian por que não poderíamos nos dar ao luxo de ficarmos juntos e deixar algo acontecer... de novo e fomos deitar. Sabíamos que teríamos problemas só não estávamos preparados para o que viria.