— Erick, espera. – Ian vem correndo atrás de mim no corredor. Logo atrás dele, Martin e Charlie. – Que história é essa? Eu não me lembro de nada disso.

— Você tinha um ano, não ia se lembrar.

— Erick, podemos conversar? Com calma? – Charlie me pede. Olho para Ian decidindo se ele devia ou não saber disso mas é seu direito e não posso protege-lo para sempre. – Tudo bem.

Vamos para uma sala no terceiro andar que se parece com uma espécie de biblioteca, haviam estantes cheias de livros e uma mesa organizada com papeis, canetas e uma luminária. Havia também uma poltrona próxima aos livros.

— Erick. – Charlie começou. - Eu sabi que lhes conhecia quando os vi mas... nem eu tinha certeza se eram vocês e mesmo com apenas dois anos de idade você se lembrou de mim.

— Claro, nunca ia esquecer o rosto do homem que nos abandonou naquela casa. Depois de você partir eu que cuidei de Ian todos os dias.

— Mas eu os deixei com sua mãe...

— É, nossa mãe que sumiu.

— ... – Ele ficou sem fala. – Eu não sabia. – Ele diz tristemente e acredito que abalado até. Talvez dissesse a verdade mas depois de tudo não iria baixar a guarda e com razão.

— Ela o mandou embora. – Martin falava com calma. – Uma noite ela simplesmente o mandou para fora de casa sem vocês. Ele foi até minha casa pedir abrigo e continuou por muito tempo a ir até a casa de vocês. Eu vi tudo de perto. Deve ser dessa noite que você se lembra.

— O que aconteceu? – Cedo um pouco decidindo por ouvir seu lado da história. – Ela teve algum motivo para isso?

— Não, eu nunca fiz nada pra isso. Eu a amava muito e vocês também. Depois de ir inúmeras vezes até nossa casa aqui na cidade, ela simplesmente desapareceu com vocês dois. Perguntei aos vizinhos se sabiam de algo mas ela não disse nada a ninguém, sumiu no meio da noite. Eu procurei muito por pistas de onde ela pudesse te-los levado mas depois de mais de três anos eu já não tinha mais esperanças de encontra-los. Eu não sabia que ela estava doente. Nunca me contou nada.

— Eu não entendo. Por que ela faria isso sem motivos, alguma coisa está errada.

— Mas não quer dizer que ele esteja mentindo. – Ian intervém. Fico surpreso com sua resposta. – Ela devia amá-lo muito ou então por que estariam casados e teriam dois filhos? Você vive dizendo que somos livres para fazer nossas escolhas. E se ela tinha um bom motivo para partir? Aquele lugar, a terra, sempre foi bom pra nós. Desde que ela nos deixou todos cuidaram de nós e nos protegeram, apesar de tudo crescemos bem e felizes. Tivemos uma vida boa. Ou melhor, temos uma vida boa. Tem que admitir. Talvez ela só não tenha nos deixado com ele por que não tinha nem um lugar para ir, quanto mais condições de cuidar de duas crianças. Mas eu acredito no que ele diz.

— Você dá chances demais a pessoas que não conhece. – Eu desvio o rosto dele.

— Nem você! – Volto a encara-lo. – O julgou sem saber quase nada. Não sabemos o que é ou não verdade mas o que ela iria querer agora e o melhor é esquecer o passado e acertar o presente. – Charlie me estende a mão.

— Podemos recomeçar. Por favor? – Charlie se aproxima e me estende a mão. Penso um pouco em minha decisão e olho para Ian. Estico lhe a mão. Seja qual for a verdade, uma coisa é certa: é o melhor pra todos. E eu gostaria de descobrir que ele não é o homem que eu pensava que conhecia.