Urso escrita por Deusa Nariko


Capítulo 1
Capítulo Único: Urso


Notas iniciais do capítulo

Primeiramente, olá, olá e olá :)

Segundamente, eu sei que estou com todas as minhas Fanfics SasuSaku SUPER atrasadas e peço mil desculpas por isso, mas 512454 coisas aconteceram nas últimas semanas: a mai importante é que, devido à pós-graduação, precisei dar início à minha monografia e só por causa dela devo ter ganhado mais alguns fios de cabelo branco HAHAHAHA
Outra razão super importante do meu afastamento é que fiquei entediada e decidi me aventurar em outros animes.

Topei com Akatsuki no Yona por acidente e comecei a ver... Resultado: fiquei completamente obcecada com o anime e precisei ler o mangá também logo em seguida. Daí não teve volta mesmo, me apaixonei pelo universo, pelos personagens (cof cof Hak cof cof) e eu sabia que não sossegaria até escrever algo do meu OTP mais recente: HakYona.

Então, eis a primeira tentativa de escrever algo com Akatsuki no Yona. Se eu gostar, posso me estabelecer no Fandom permanentemente. É uma one-shot bem simples, só para extravasar meus surtos com o OTP mesmo.

Ahh e só para referência, a Yona chama o Hak de "urso" no capítulo 63 do mangá :D

Espero que gostem e boa leitura!



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Urso

Por Deusa Nariko

Às vezes, ela se perguntava como havia demorado tanto a notar. Conhecia-o desde sempre e mesmo em suas memórias mais remotas o rosto dele estava presente. Como seu pai, como Soo-won.

Tinha mais recordações de Hak do que tinha recordações de sua própria mãe, a Rainha.

Hak estava lá, nos recantos mais obscuros da sua mente, nas lembranças mais tumultuosas, ainda que à margem devido à diferença de classes, desde que foi adotado por Lorde Mundok e passou a frequentar o Castelo de Hiryū.

Três anos mais velho do que ela, era verdade que nem sempre os dois haviam se dado bem. As provocações dele eram parte do motivo; Hak nunca foi suave ou mesmo delicado como Soo-won. Tinha uma língua afiada, uma resposta irônica sempre pronta para desafiá-la, e não a tratava como algo frágil.

Ainda assim, mesmo diferentes, os três se tornaram melhores amigos e viveram dias agradáveis entre as muralhas do castelo.

Observar a ambos, Soo-won e Hak, era intrigante para Yona. Seu primo, na infância, havia tido uma aparência fragilizada, delicada até, fazendo-o, por vezes, ser confundindo com uma menina. Tal suavidade sempre se refletiu na sua personalidade gentil. Soo-won era amável tanto nos gestos quanto nas palavras. O oposto completo de Hak, que sempre parecia se divertir em erradicar a compostura da princesa.

Mas, juntos, os três funcionavam e eram inseparáveis.

Pelo menos até aquela noite trágica em que Yona descobriu, por um infortúnio, o lado sombrio de seu amado Soo-won e Hak se tornou tudo o que lhe restava.

Ele salvou a sua vida incontáveis vezes desde então, usou seu corpo como um escudo para que ela vivesse, pediu para que ela o enxergasse como uma ferramenta para que pudesse sobreviver.

Mas Yona jamais foi capaz de pensar isso dele. Não, Hak era um amigo querido e, depois do golpe de estado de Soo-won, ele se tornou tudo o que restava de sua família enquanto fugiam desesperadamente pelo Reino. Foi em parte por ele que cortou seu cabelo e jurou se tornar mais forte e que reuniu os Quatro Dragões Guerreiros. A princípio, tratava-se de Hak, apenas de Hak.

A missão dele era protegê-la e Yona sabia que ele levaria o seu dever até as últimas consequências. Ela ainda desejava libertá-lo desse fardo quando tudo houvesse terminado, mesmo que seu coração ainda doesse com a possibilidade de perdê-lo.

Havia se passado tanto tempo desde que fugiram do castelo e Yona conheceu facetas dele que não conheceu em anos. Ela viu amabilidade nos gestos dele, ela viu dor, tristeza e ódio genuíno nos seus olhos sempre que Soo-won reaparecia em suas vidas. E ela viu a força e o poder dele mais vezes do que seria capaz de contar.

E é por essa e outras razões que, com o passar do tempo, Yona passou a pensar em Hak como um urso.

Ele é grande como um urso.

Yona não entendia como poderia ter deixado algo tão óbvio escapar a seus olhos, honestamente: Hak era malditamente atraente.

Ela se lembrava dos dias em que vivera no castelo e de como as damas da corte sussurravam o nome dele entre risinhos discretos e suspiros apaixonados. Claro, Hak havia crescido muito nos últimos anos, mas não apenas sua estatura e postura eram impressionantes como também o seu corpo era motivo de euforia entre as mulheres — das mais jovens e recatadas às mais experientes, ela percebeu.

Bem, não era como se as vestimentas dele ocultassem muito de sua musculatura impressionante, afinal. A túnica com uma gola profunda que ele usava sempre exibia para quem quer que o olhe os frutos de anos de treinamento que o tornaram tão temido por todo o reino.

Mas foi apenas numa tarde ensolarada, a alguns dias de viagem de Fūga, quando seu grupo parou para montar acampamento, que Yona verdadeiramente percebeu o quanto Hak havia crescido nos últimos anos.

O ar seco do território da Tribo do Vento, somado a um sol escaldante, havia espantado ao menos três dos Quatro Dragões para a margem de um rio que corria ali por perto para que pudessem se refrescar depois de meio dia de caminhada.

Yun havia se afastado antes com o pretexto de colher ervas para adicionar ao jantar deles naquela noite e Shin-Ah permanecia calado em um canto, sempre observando a tudo e a todos por trás de sua máscara, certificando-se de que nenhum estranho se acercaria deles.

Sem ter o que fazer — e odiando essa sensação —, Yona embrenhou-se na floresta atrás de Hak, que se afastara do bando alegando procurar por lenha para acender uma fogueira. Ao vinha junto, empoleirado sobre o seu ombro como de praxe.

A floresta ao sul do território da Tribo do Vento zunia com o som de insetos e brilhava sob o sol quente da tarde. Ela afagou a cabeça pequena do esquilo e seguiu o som das pancadas secas do machado que Hak certamente usava para cortar as toras de madeira.

Encontrou-o no intervalo de um golpe e outro, e a visão dele imediatamente roubou-lhe o fôlego e as palavras de saudação que tinha até então na ponta da língua. Observou-o se mover com elegância ao equilibrar outra tora no que restou do tronco de uma árvore antiga.

Não era a primeira vez que ela via Hak realizar trabalhos braçais, tampouco era a primeira vez que o via usar seus músculos e sua força, ora, esteve ao lado dele em incontáveis batalhas e sabia que apenas braços extremamente fortes manejariam uma arma tão pesada quanto uma Hsu Quandao com tamanha habilidade.

A razão para seu espanto, entretanto, justificava-se pela seminudez do seu amigo de infância. Incomodado pelo calor sufocante, decerto, em algum momento, Hak havia decidido que seria mais confortável retirar por completo a parte de cima de sua túnica, acomodando-a embolada ao redor da cintura estreita.

Apesar de não podê-lo ver por inteiro ou mesmo olhá-lo nos olhos, Yona percebeu que tinha uma visão privilegiada dos músculos duros como rocha trabalharem enquanto seus braços erguiam-se mais uma vez por sobre a sua cabeça para fazer o machado descer na tora num golpe seco e certeiro.

Yona não soube precisar o que mais atraiu sua atenção: talvez a linha tensionada das costas que relaxaram logo após o golpe, os ombros largos e os braços fortes que abaixaram o machado. A pele bronzeada que brilhava sob uma camada fina de suor. O mesmo suor que umedecia os cabelos pretos na nuca e escorria pelo pescoço grosso.

Ela engoliu em seco e quis estapear a si mesma quando percebeu que estava olhando-o mais do que deveria. Hak, o implicante e provocador Hak, seu amigo de infância, que num instante havia se tornado um homem lindo e atraente aos seus olhos.

Mas haveria como não olhá-lo?, perguntou-se, dividida entre a vergonha e o desejo de continuar observando-o à surdina, ainda hipnotizada pela visão dele sob a luz filtrada do sol e encharcado de suor enquanto usava sua força e músculos. O que seria aquilo?, quis saber. Seu coração estava inquieto no peito e seu estômago se contorcia de ansiedade. As palmas das suas mãos de repente estavam úmidas.

Soo-won, o gentil e sempre tão amável Soo-won, nunca a fez experimentar essa sensação, esse impulso insano de querer estender a mão e tocar os músculos fortes das costas nuas de Hak. Cerrou ambas as mãos em punhos para não correr o risco de ceder, em todo o caso.

Seria isso... desejo? Atração? Um sentimento completamente natural e aceitável com base nas circunstâncias, não?

— Hime-san? — Ouvir a voz clara de Hak chamá-la quebrou o estranho encantamento que havia se apoderado dela.

— Hak? — chamou-o de volta, incerta; tinha certeza de que suas faces estavam coradas e, maldição, não podia olhá-lo nos olhos, não agora.

— Precisa de alguma coisa, Hime-san? — ele perguntou num tom mais brando ao se voltar inteiramente para ela.

Yona manteve os olhos pregados ao peito suado dele e franziu os lábios quando percebeu que isso só acentuaria o rubor nas suas bochechas, deixando-as um tom mais perto do vermelho-escarlate dos seus cabelos.

Entretanto, mesmo que houvesse apartado os lábios nenhum som proveio deles. Céus, os músculos do peito e abdome de Hak eram ainda mais atraentes e deram-lhe ainda mais vontade de se aconchegar a ele e talvez se apertar a ele também — só um pouquinho.

— N-não preciso de nada! — falou com exasperação ao dar meia-volta e afastar-se por onde veio.

Mas não voltou ao acampamento de imediato. Se aparecesse por lá com as bochechas pegando fogo e o coração martelando desse jeito atrairia a atenção de Shin-Ah, que nada deixava escapar.

Precisava e acalmar antes e tirar a visão de um Hak seminu e suado de sua mente. Muito embora duvidasse de que a imagem fosse sumir de sua cabeça tão cedo.

Porque Hak era malditamente atraente e, de repente, não pensar mais nele como um homem era quase impossível.

Ele abraça forte como um urso.

A primeira vez em que a abraçou, Yona ainda lembra, foi algumas noites depois que ela perdeu seu pai, seu castelo e aquele que acreditava ser o grande amor de sua vida. Todo o seu lindo mundo se estilhaçou bem debaixo dos seus pés.

Então, num momento de desespero exasperante, com seu coração prestes a afundar em escuridão, Hak a puxou para os seus braços e prometeu que eles iriam para qualquer lugar em que ela pudesse viver sã e salva. Eles iriam. Então, ele não a abandonaria.

Sem perceber, naquele dia, Hak remendou uma parte do seu mundo que Soo-won havia tão cruelmente despedaçado.

Depois disso, ele a abraçou mais vezes do que ela seria capaz de contar. Abraços carregados de dor e de alívio, e de alegrias divididas e tristezas compartilhadas por uma mesma pessoa que ambos perderam.

Não importava se estivessem a sós ou cercado de espectadores, Hak parecia gostar de abraçá-la e Yona havia aprendido a apreciar o aconchego e a segurança que só podia sentir nos braços dele.

Ele não apenas a abraçava como também parecia gostar de esfregar o rosto no cabelo dela, de correr os dedos por eles e cheirá-los. E da última vez, contrariando seus apelos desesperados por seu cabelo estar tão sujo, ele tornou a fazê-lo: puxou-a para o seu peito e a abraçou tão forte.

Yona gostava de sentir o calor do corpo dele em contato com o seu, os dedos que se embrenhavam entre as mechas do seu cabelo, agarrando-se a ela como se segurasse seu bem mais precioso. Gostava de sentir a respiração irregular uniformizar a cada expiração profunda e gostava de sentir o coração trovejando forte contra o peito.

Hak tinha um cheiro puro, unicamente dele. Era quente e selvagem, mas, ao mesmo tempo, fazia-a se sentir tão segura e especial. Quase venerada.

E mesmo que, às vezes, ele não parecesse ter consciência da força com que a apertava nos seus braços, Yona verdadeiramente adorava essa sensação e estava certa de que não trocaria isso por nada no mundo.

Ele aprecia mel como um urso.

Certa manhã, quando viajavam através do território da Tribo da Terra, Yona surpreendeu Hak lambendo vestígios de mel da palma da sua mão. A visão imediatamente a remeteu ao acontecimento em Awa, quando ela feriu suas mãos ao colher Senjuso e Hak, num gesto completamente inesperado, lambeu sua mão lambuzada de mel.

A lembrança ainda lhe trazia um arrepio à espinha e agitava seu estômago e coração, deixando as maçãs do seu rosto inesperadamente quentes. Os olhos dele, naquele dia, estavam tão quentes, tão cheios de um desejo selvagem que mal cabiam neles.

Foi o gesto mais íntimo que eles compartilharam e foi, também, aquele que mais a assustou. A princípio, achou que, na ocasião, deveria tê-lo repreendido como sempre fazia quando Hak passava dos limites com suas travessuras. Ao invés disso, entretanto, fugiu como uma covarde.

Porque entendeu que o que viu nos olhos dele naquele dia não era escárnio nem tampouco diversão, mas um sentimento ardente que, apenas por reconhecê-lo, assustou-a.

Yona soterrou esses pensamentos nas profundezas da sua mente por muito tempo e tentou não ressuscitá-los desde então, mas, às vezes, nos momentos em que a sua consciência mais jazia inquieta, ela ponderava trazê-los à tona — tais questionamentos; sempre descartava a hipótese com um sorriso bobo, contudo.

Não importava o que tivesse visto nos olhos ou na expressão dele naquele dia, não é?

Ver Hak limpando o néctar dourado de seus dedos com a língua agora, entretanto, fez estremecer as suas convicções. Ela continuou a observá-lo com um pouco de mortificação, um punho apertado contra o peito palpitante. Sem que quisesse, arquejou baixinho, apartando os lábios.

Ah, lembrava-se da sensação quente e úmida que aquela língua atrevida provocara na sua pele ao limpar o mel que a besuntava. A compenetração que vislumbrou no rosto dele era a mesma que se via agora, exceto pelo fogo ardente que, outrora, houvera incendiado os seus olhos luzentes.

Embasbacada com o rumo dos próprios pensamentos tolos, Yona tapou os lábios entreabertos com uma mão. E nesse momento, para a sua vergonha, Hak a notou ali, desconcentrando-se de sua própria mão ainda lambuzada.

Foi Yun a colocar-se entre ambos, entretanto, com uma expressão um tanto mais leve do que o habitual:

— Vou lhe agradecer mais uma vez, Raijū — disse, mostrando ao ex-general um pequeno pote muito bem lacrado. — Desde Awa que tenho sentido falta de um pouco de mel para alguns dos meus unguentos.

— Ah, disponha — ele desconversou, mal desviando os olhos do rosto da princesa.

— Mas tenho que confessar que vê-lo tentar roubar aquela colmeia me deu calafrios — ele se queixou com uma expressão um pouco mais sombria. — Espero que não faça isso sempre.

O comentário trouxe um sorriso zombeteiro ao rosto forte dele pela primeira vez:

— Não faço, não se acostume.

— Bem, de qualquer modo, até hoje não descobri quem foi que mexeu na minha bolsa e usou o meu mel sem permissão.

Dito isso, tanto ele quanto a princesa estremeceram e desviaram os olhos do rosto um do outro. Yona tinha certeza de que estava corando e até mesmo Hak pareceu contrair uma expressão encabulada.

Yun notou que de repente havia uma tensão no ar, que se expandiu até quase se tornar palpável. Mas deu de ombros no fim e se afastou para cuidar de seus afazeres. Yona o seguiu sem tecer quaisquer comentários, cabisbaixa.

Quanto a Hak, ele lambeu uma última gota brilhante e dourada de mel em seu polegar. Então, suspirou.

Ele é fofo como um urso.

Honestamente, de todas as vezes em que foram obrigados a dormir juntos devido ao frio ou à necessidade de permanecerem sempre vigilantes, Yona nunca imaginou que Hak tivesse uma expressão tão fofa quando dormisse.

Ele havia passado a noite anterior em claro de vigia e, por isso, agora dormia de qualquer jeito num banco duro de madeira enquanto Yun e os outros procuravam no mercado de Ryusui por tudo o que precisavam para continuar a viagem.

Com o passar do tempo, Hak havia aprendido a confiar nos Quatro Dragões para protegê-la e apenas por isso, ela sabia, ele se permitia o luxo de tirar um cochilo agora, mesmo em uma posição tão desconfortável.

Yona se aproximou o bastante para fitá-lo: o rosto forte pendia ligeiramente para um lado e o cabelo preto e grosso cobria-lhe a testa. A boca entreaberta exalava continuamente. Mas não havia peso algum sobre a expressão tranquila do seu rosto e até mesmo as sobrancelhas escuras descansavam serenas sobre as pálpebras fechadas.

Não conseguiu se impedir de sentar-se ao lado dele e de olhá-lo de mais perto. Nunca havia visto uma expressão mais vulnerável ou mais relaxada no rosto dele do que agora; mesmo nos momentos de maior tranquilidade, Yona sabia que Hak se mantinha sempre vigilante, sempre desperto para o menor sinal de perigo.

Por isso, vê-lo tão sereno agora era quase uma dádiva para ela.

Hak é fofo, não conseguiu se impediu de pensar. E estendeu uma mão para enrolar uma mecha do cabelo dele em seu dedo, pretendendo tirá-la do caminho para olhá-lo mais atentamente. Arrependeu-se quando, na verdade, o toque, embora delicado, o despertou.

O azul intenso dos olhos dele espreitou por debaixo das pálpebras ainda pesadas de sono e flagrou-a. Mais que depressa, ela recuou a mão e jogou o corpo para longe dele, vendo que ele fizera o mesmo logo antes de coçar os olhos para espantar os resquícios de sono.

Depois disso, ele agiu como se nada houvesse acontecido e Yona não teve coragem de trazer o assunto à tona.

De qualquer forma, depois desse dia, ela, que sempre o repreendeu por não ser amável como Soo-won, nunca mais conseguiu duvidar de que, no fundo, Hak também tivesse um lado fofo e absurdamente adorável.

Ora, até mesmo ele era incapaz de manter uma fachada feroz o tempo todo, afinal.

Ele é feroz como um urso.

— Sinto muito por isso, Hime-san — Hak se desculpava pela centésima vez desde que haviam ido parar no alto daquela árvore.

Yona sorriu.

— Não é culpa sua que no meio de uma caçada sejamos surpreendidos por um urso faminto, seu bobo — sussurrou de volta.

— Mas eu deveria saber que com chegada da primavera os ursos estariam mais irritadiços por haverem terminado o período de hibernação.

Ambos estavam espremidos sobre um galho numa árvore enquanto esperavam pacientemente que o imenso urso desistisse deles e partisse em busca de uma presa mais suscetível a sucumbir.

— Pare de se responsabilizar por tudo — ela o repreendeu num tom mais alto e mostrou-lhe uma carranca.

Hak a fitou com seriedade através das longas pestanas e das mechas do seu cabelo negro.

— Se ao menos a Hime-san não tivesse esquecido o seu arco lá embaixo — acrescentou, por fim, num tom irônico que fez seu sangue ferver.

— Oh, como eu poderia me lembrar do meu arco com os seus gritos ecoando na minha cabeça e me ordenando a subir nessa árvore?!

Ele riu, ao contrário do que ela esperava. Um riso seco, porém verdadeiro.

— Como é que você veio parar aqui, afinal? — Não sabia se ele falava consigo mesmo ou com ela ao pressionar uma mão contra a testa e exalar longamente.

— Eu queria te ajudar a pegar o nosso jantar — brincou e ele mordeu a isca; um sorriso torto despontou num dos cantos dos seus lábios.

— Ah, obrigado por me ajudar a lembrar, Hime-san.

Mas essa situação não é de toda ruim, pensou. O sol se punha ao oeste do território da Tribo do Fogo e logo acima das copas frondosas das árvores, pincelando as nesgas de céu que transpareciam pelas ramagens num vermelho vivo e pulsante.

O vento frio cortava veloz através dessas mesmas ramagens; Yona estremeceu.

— Está com frio, Hime-san?

— Estou bem — garantiu a ele com um sorriso e esfregou um braço discretamente por baixo da capa.

Sem dizer nada, ele a puxou para mais perto no intuito de aquecê-la com o calor do seu próprio corpo e passou ele mesmo a esfregar os braços dormentes dela por cima do manto. Embora não houvesse contato de pele com pele, o mero toque a deixou formigando tanto de ansiedade quanto de vergonha.

— Se ao menos eu tivesse a minha arma comigo, tsc — resmungou consigo mesmo e Yona se deixou aconchegar ao corpo forte dele.

— Enfrentaria um urso faminto e feroz, é? — ela comentou com diversão, mas no fundo sabia quem sairia vencedor.

— É claro — ele concordou e o urso, vários metros abaixo deles, grunhiu em frustração. — Maldito urso — praguejou entre dentes, ecoando a frustração do animal.

Sem conseguir se conter, Yona riu. Era inevitável, depois de tudo o que viveram, não pensar em Hak como um urso grande e adorável. A bravura, a ferocidade, o instinto protetor e a força estavam sempre presentes nele, nunca vacilavam.

— O que é engraçado? — ele quis saber e Yona deixou sua cabeça pender sobre o peito dele, não olhá-lo nos olhos era a chave de sua audácia dessa vez.

— Eu gosto de ursos — disse-lhe, confundindo-o por um momento.

— É mesmo? — Hak ecoou e dessa vez havia um toque de paixão na sua voz.

Assentiu, mal erguendo os olhos da floresta que escurecia à sua volta, lembrando-se da noite em que se referiu a ele como um. A primeira noite em que partilharam uma tenda. Muito havia mudado desde então, inclusive os próprios sentimentos dela: estava indubitavelmente apaixonada por ele.

Hak, você é um urso.

Fim


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Notas finais do capítulo

Apareçam, apareçam, apareçam, por favor! Eu NECESSITO de pessoas pra falar sobre Akatsuki no Yona, especialmente pra tagarelar sobre a perfeição do Hak ;-;

Vocês também leram o mangá?! Quem acham que vai se declarar primeiro?! Hak ou Yona?

Venham, venham, venham! *-*

Qualquer erro de digitação, perdoem-me, digitei 3.500 palavras hoje e faz semanas que eu não fazia isso.
Até uma próxima vez! :*