As palavras que eu nunca te disse escrita por Sensei


Capítulo 1
As palavras que nunca te disse


Notas iniciais do capítulo

PARABÉNS CLARISSA ♥ Feliz aniversário sua linda! Mais uma história feita por sua causa, gente, meu primeiro yaoi, que orgulho!
Espero que você goste, foram cinco mil palavras por que sou exagerada kkkk
Muitos anos de vida e muito amor no coração, você merece!
Beijoooos
Câmbio e desligo



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O sobrenome dele era Potter.

Só por isso já era um bom motivo para ele que fosse protegido e cuidado, todos os admiravam, esperavam grandes coisas dele, assim como, anos antes, esperaram do seu pai.

O brinquedo que quisesse podia ter, o afeto que merecia não precisava pedir, todo carinho e atenção ganhava facilmente. Um arranhão que fosse, um aumento de temperatura leve, já era motivo o bastante para que ele fosse levado ao melhor médico que o dinheiro podia pagar.

Privilégios.

Dinheiro.

Fama.

Isso fez dele uma criança mimada.

Em Hogwarts não foi diferente. Logo no segundo ano queria ser apanhador, como o pai, mas não tinha talento o bastante, seus olhos não eram tão rápidos e era muito alto e forte para a função. Se tornou batedor.

Seus cabelos castanho e olhos verdes eram um colírio para as garotas (e alguns garotos, devo confessar) que tiravam algum segundo para nota-lo.

Riqueza.

Beleza.

Prestígio.

Isso fez dele o adolescente mais arrogante que o dinheiro pode criar.

Depois de Hogwarts os jornais viviam estampados com suas aventuras, seus amores, sua vida era um livro aberto para quem quisesse lê-lo. Se tornou um homem determinado e confiante. E era esse homem que havia chegado em St. Mungus com ferimentos graves de um acidente com um balaço descontrolado, havia sido atingido na cabeça, nas costelas, na perna e no peito.

Sua família, rica, famosa, de prestígio, queria o melhor e mais qualificado profissional que o dinheiro pudesse pagar.

Eu.

Mas havia um inconveniente genético... Minha família.

Por isso foi uma surpresa quando meu escritório foi invadido por uma multidão, grande parte ruiva, falando ao mesmo tempo.

—O que é isso? –Questionei sem entender toda aquela bagunça.

Minha assistente tentou passar por eles aos gritos.

—Desculpe doutor, eu tentei impedi-los. –Ela dizia, se afogando naquele mar laranja e castanho

—Silêncio! –Uma voz grossa calou todos.

Eu reconhecia aquela voz, quem não o fazia? O famoso Harry Potter, o inimigo de Você-sabe-quem, o menino que sobreviveu. Todos abriram espaço para que ele pudesse vir até mim, já mais velho, com seus cabelos ficando brancos, Harry Potter não parecia tão imponente... Ele só parecia cansado.

—Senhor Potter. –Cumprimentei cordialmente.

—Doutor Malfoy, por favor, salve o meu filho.

—--

Eu tinha treze anos quando nós conversamos pela primeira vez, não é algo que eu me orgulhe muito, afinal, depois do encontro eu saí de olho roxo. Eu estava numa parte escondida da biblioteca, na época minha mãe insistia para que eu usasse óculos de descanso para ler, por isso sempre que eu lia evitava fazer isso perto de outras pessoas. Eu odiava óculos.

Hoje em dia, só para deixar registrado, eu já superei isso.

—Ei! –A voz de Albus Potter soou irritada.

De onde eu estava levantei o rosto do meu livro, surpreso que ele estivesse falando comigo.

Ele vinha acompanhado de dois outros garotos que reconheci como Hugo Weasley e Fred Weasley. Naquele momento eu percebi que estava bem ferrado.

—Posso ajudar, Potter? –Perguntei quando ele se aproximou o bastante.

—Ouvi dizer que você acha minha irmã bonita. Tá afim dela, Malfoy?

De fato, alguns dias antes eu comentara com um colega de casa que Lily Luna Potter era uma garota muito bonita, mas não tinha ideia de como isso chegara ao conhecimento dele, e menos ainda de como ele tirou a conclusão de que eu estava gostando da sua irmã.

—Não. Mais alguma coisa? –Questionei.

Eu gostaria de dizer que ele ficou desconcertado o bastante para ir embora depois disso, mas não foi bem assim que aconteceu.

—Sabe, ela é a minha irmãzinha. E ainda que você não esteja afim dela, coisa que eu não acredito, eu preciso dar um exemplo para qualquer babaca que se sinta encorajado a se aproximar dela. –Ele explicou.

Em seguida ele segurou a gola da minha roupa e me suspendeu da cadeira, derrubei o livro no susto.

Se eu apanhasse ali, eu sabia, nunca delataria Potter para nenhum professor. As casas de Hogwarts agora tinham suas próprias regras, principalmente a guerra entre Grifinória e Sonserina, e uma das regras era universal: Não envolva os professores quando a discussão for pessoal.

—Você não bateria num cara de óculos, não é Potter? –Perguntei assustado.

Delicadamente ele retirou meus óculos do rosto e entregou ao primo.

—Segura para mim Hugo? – O garoto pegou e ele voltou a me olhar. –Olha só, temos aqui um cara sem óculos! Que sorte a minha.

Eu nunca mais elogiei nenhuma Weasley depois disso.

—--

Entrei na sala do doutor Kent, era um senhor idoso, foi meu professor e mestre, quem me ensinou tudo o que sei, ele quem estava cuidando do caso de Potter e quem havia dado os primeiros socorros logo que havia chegado em St. Mungus.

—Bom dia Malfoy. –Ele sorriu como se já me esperasse.

Sorri de volta.

—Sinto muito por isso. –Falei sentando na cadeira a sua frente.

—Não é como se eu já não soubesse que você seria chamado.

Ele empurrou uma pasta que estava a sua frente em minha direção, dentro dela estava todo o arquivo sobre o caso de Potter que ele havia juntado. Com um suspiro eu abri a pasta e passei os olhos rapidamente pelas informações.

—Ninguém recusa um pedido d’O menino que sobreviveu, não é? –Comentei fechando a pasta novamente e levantando da cadeira.

—Seu pai recusaria. –Doutor Kent respondeu.

—E é por isso que hoje eles não se falam. –Rebati.

Fui em direção da porta deixando-o com o cenho franzido em confusão.

—Malfoy! –Ele chamou quando abri a porta, virei o rosto para ele. –Eu achei que seu pai e Harry Potter já tinham se entendido depois que aquilo aconteceu.

Eu sorri.

—Você não acha que anos de desprezo mútuo vão sumir por causa de uma coisa tão pequena, acha?

Saí de lá antes que ele fizesse mais perguntas.

—--

Aquilo ao que o Doutor Kent se referia foi um acontecimento marcante que houve dois anos depois do episódio do soco.

Eu já era um garoto de quinze anos, assim como o Potter, e desde de aquele dia tínhamos iniciado uma rixa mortal numa repetição estranha do relacionamento dos nossos pais, como se fossemos destinados pelo sangue a nos odiar. Claro, eu sempre acabava me dando mal, já que metade da grifínória parecia ter algum tipo de relacionamento sanguíneo com o Potter, enquanto que eu tinha pouquíssimos amigos, e menos ainda verdadeiros.

Ter um inimigo mortal com apenas quinze anos, olhando para trás, era a coisa mais idiota do mundo.

Mas era divertido.

Eu estava sempre tentando descobrir um modo de fazê-lo se dar mal e acabava sempre levando uma surra por isso. Foi Albus Potter quem me ensinou a apanhar, mas também me ensinou a bater de volta.

Um dia, quando eu planejava minha próxima armadilha, estava andando ao redor do vestiário da Grifinória onde Albus Potter devia estar tomando banho depois do jogo. Eu ouvi um grito, vinha da orla da floresta, caminhei silenciosamente tentando descobrir o que estava acontecendo.

Qual não foi a minha surpresa quando vi Dominique Weasley ser arrastada pelos cabelos para dentro da floresta por um garoto mais velho da Corvinal. Arregalei os olhos, aterrorizado, e voltei correndo para o vestiário.

—Potter! –Saí entrando aos gritos para pedir sua ajuda.

Mas a cena ali dentro era tão chocante quanto a do lado de fora. Albus Potter estava abraçado com um garoto, aos beijos.

Com um garoto...

Eu por acaso disse que ele era um garoto? E que eles estavam se beijando?

Os dois pularam de susto e eu parei em choque, o garoto cujo rosto eu nunca cheguei a ver correu para dentro de um dos banheiros, enquanto Potter veio em minha direção como um touro frente a um lençol vermelho.

—O que você viu?! –Ele gritou.

Mas eu não tinha tempo para falar sobre a opção sexual dele, Dominique Weasley estava sendo agredida, talvez até estuprada, do lado de fora.

—Potter, a sua prima...!

Ele não me deixou falar, me empurrou com força na parede do vestiário me segurando pelo colarinho.

—Eu perguntei o que você viu! –Ele gritou novamente.

—Você tem que me ouvir! –Eu pedi em desespero.

—Não importa. –Ele respondeu friamente.

Então antes que eu pudesse falar novamente ele me chutou no estômago e eu perdi o ar. Ele levantou a mão para me dar um soco, mas eu não tinha tempo para brigar, usei as pernas para empurra-lo para longe e saltei para fora do vestiário o mais rápido que pude.

Albus Potter não me ouviria e mesmo que ouvisse, ele provavelmente não iria acreditar.

Por isso eu puxei a varinha da minha capa e corri para dentro da floresta, no mesmo lugar onde vira a Weasley pela última vez. Eu estava certo quando a não ter tempo, quando cheguei até aonde eles estavam a garota estava no chão, chorando baixinho, enquanto o garoto abria o zíper da calça.

—Por favor, não... –Ela pediu.

O garoto era mais velho que eu, por isso, para vencer aquela luta, eu teria que jogar sujo.

Estupefaça!—Gritei, atacando-o pelas costas.

Em teoria eu não deveria saber esse feitiço, mas a gente aprende uma coisa ou outra quando o pai é um ex-comensal.

O garoto voou batendo numa árvore e caiu inconsciente. Dominique levantou o rosto em minha direção, assustada.

—Por favor, não me machuque. –Ela pediu, chorando.

—Tudo bem, eu não vou fazer nada contra você, vamos logo antes que ele acorde.

Ela se levantou vindo em minha direção, sua blusa estava rasgada e seu rosto machucado, tirei minha capa e coloquei em seus ombros, nós fomos juntos para o castelo, o tempo inteiro ela chorou abraçada a mim.

Quando chegamos na enfermaria a diretora foi chamada e Dominique explicou tudo o que aconteceu, ela vinha recebendo essas cartas estranhas de vez em quando, um admirador secreto, mas ela era parte veela, então aquilo era normal e ela não deu atenção. Mas o garoto estava obcecado, quando ele pediu uma chance e ela disse não aquele fora o resultado.

A diretora Mcgonagall enviara um professor para pegar o garoto na floresta onde ele ainda devia estar inconsciente enquanto que toda a família Weasley e Potter fez morada do lado de fora da enfermaria. Eu quase fui lixado quando me encontraram sentado na maca ao lado da garota, mas eu me sentia responsável por ela, afinal, eu havia salvado a vida dela. Graças a Merlim antes que eu tivesse algum ferimento grave toda a situação foi explicada.

O meu pai e os pais de Dominique vieram para o colégio, assim como Harry Potter, Rony Weasley e Hermione Granger, os grandes heróis do mundo bruxo. O pai de Dominique, um homem com uma cicatriz enorme no rosto, se ajoelhou na minha frente e agradeceu pelo que eu fizera por sua filha, a mãe dela me deu um beijo na testa, chorando. Harry Potter e o meu pai deram as mãos naquele dia, Papai disse que estava orgulhoso de mim, disse que estava feliz pelo homem que eu estava me tornando.

Desde aquele dia Dominique se tornou uma amiga querida e todos os Potters e Weasleys começaram a ser mais legais comigo.

Menos ele.

Quando soube o que aconteceu, eu percebi, ele se sentiu culpado. Ele sabia que eu tentei avisar, mas ele não deu ouvidos e ele se sentiu culpado por isso pelo resto da vida.

Eu nunca contei a ninguém o que vi no vestiário.

—--

Albus Potter estava em coma.

Com vinte e sete anos era quase um pecado estar ali preso dentro de si mesmo, mas não tinha jeito, ele havia entrado em coma sozinho e teria que sair dele sozinho. Olhei para os seus cabelos castanhos, estavam maiores do que eu me lembrava e mais sem vida do que eu jamais vira, o som dos seus batimentos cardíacos era a única coisa que podia ser ouvida na sala onde se encontravam o Doutor Kent, Gina Potter, o próprio Albus e eu.

—Ele começou a gritar? –Questionei surpreso.

—Sim, aparentemente algo dentro dele estava queimando, mas nada era apontado nos exames. –O Doutor Kent explicou. –Ele está completamente saudável, mas seu corpo está queimando de dentro para fora.

—Acha que pode ser psicológico? –Olhei mais uma vez para os papéis, cada vez mais frustrado.

—É uma possibilidade, mas então teríamos que descobrir a causa de tamanho choque.

Acenei que sim com a cabeça, pensando. Aquela reação do Potter e aqueles sintomas me eram estranhamente familiares.

—Queimando de dentro para fora... Onde eu já ouvi isso antes? –Perguntei a mim mesmo.

Doutor Kent nos deixou logo depois, enquanto eu examinava os sinais vitais de Albus Potter e sua mãe alisava a mão dele com carinho.

—Obrigada por tudo o que está fazendo por ele. –Ela sussurrou.

Sorri cordialmente.

—Não faço mais que a minha obrigação. –Respondi.

—Não... –Ela disse. –Eu agradeço por estar aqui mesmo depois de tudo o que aconteceu.

Levantei o rosto, surpreso.

Como ela sabia?

Limpei a garganta, minhas mãos suaram.

—Ele contou a senhora? –Perguntei baixinho.

Ela sorriu.

—Ele é o meu filho. Ele saiu de mim, eu sei cada gesto do seu corpo, cada expressão do seu rosto, cada tom de voz. –Seus olhos se encheram de lágrimas. –É claro que eu sei sobre você. E eu sinto muito que as coisas tenham acabado do jeito que acabaram.

Baixei o rosto e medi a temperatura de Albus com a minha mão, fiz um leve carinho em sua bochecha antes de virar para a saída.

—Simplesmente não era para ser. –Respondi antes de ir embora.

—--

“Mesmo depois de tudo o que aconteceu.”

Essa frase podia significar tanta coisa, por que tanta coisa aconteceu entre mim e Albus.

Quando finalmente minha vida escolar estava calma, não havia mais discussões, armadilhas, brincadeiras com os grifinórios, então foi quando eu me senti entediado. Depois de salvar a vida de Dominique eu simplesmente não tinha mais vontade de implicar com a família dela... A garota era tão legal!

Mas principalmente por que Albus, desde aquele dia, passou a fingir que eu não existia. Ao passar por mim pelos corredores fingia não me ver, ao ouvir falar sobre mim fingia não se importar e se eu tentasse falar com ele não tinha resposta. Era como se eu não existisse. Ao contrário de mim que passei a prestar muito mais atenção nele do que jamais prestara em alguém.

Talvez tenha sido por isso que Albus Potter tenha se tornado minha obsessão...

No último ano de Hogwarts minha obsessão por Albus Potter tinha passado por todos os limites.

Eu o olhava sempre que estávamos no mesmo ambiente, nos jogos de quadribol tinha que me controlar para não torcer pela grifinória somente por que era o seu time, sempre que passava por ele nos corredores eu sentia como se meu coração fosse sair pela boca, a simples menção do seu nome já me deixava de pernas bambas.

—Merlim, Scorpius, se controle. –Dominique murmurou sentada ao meu lado, sorrindo.

—O que? O que eu fiz? –Perguntei sem entender.

Ela soltou uma risada sem se conter.

—Nada, eu só acho que você devia se declarar logo para o meu primo. –Ela respondeu.

—Me declarar? – Continuava confuso.

—Sim, se declarar. Você quase não consegue esconder que está apaixonado... Sabia que ele gosta de garotos? Você devia tentar. –Ela disse e se levantou para ir embora.

Apaixonado? Eu?

Droga, a quem eu queria enganar? Eu estava completamente apaixonado por Albus Potter. Eu amava desde o fio de cabelo até o dedo do pé daquele garoto. Quando isso começou? Era um mistério. Mas, um dia, olhar para ele se tornou muito mais prazer do que apenas curiosidade.

—--

—Toc. Toc. –Uma voz conhecida falou na porta do meu quarto.

Eu estava colocando a camisa quando ela entrou, sorrindo.

—Mãe!

Corri até ela e lhe dei um abraço forte, ela pareceu surpresa.

—Ora, que demonstração de afeto repentina. O que houve querido? –Ela segurou meu rosto com suas mãos.

Neguei com a cabeça e forcei um sorriso.

—Não aconteceu nada, só estou trabalhando demais.

Ela não pareceu acreditar em mim, franziu o cenho e fez uma expressão que só posso descrever como “você acha que me engana?”.

Eu sorri.

—Você está assim por causa dele, não é?

—De quem está falando?

Ela me olhou levemente irritada.

—Não se faça de desentendido! –Ela rebateu. –Você sabe que estou falando de Albus Potter.

—A senhora já está sabendo? –Eu ri levemente.

Ela tirou um jornal do bolso e jogou na minha cama.

—Está em todos os jornais, seu pai está explodindo de orgulho.

Olhei as notícias de relance, havia uma foto minha andando por um corredor do St. Mungus, estava vestindo um jaleco e conversando com o doutor Kent. Do lado da minha foto havia uma de Albus Potter ao lado do pai. Uma manchete com letras gigantes praticamente gritava.

“Harry Potter pede ajuda a Scorpius Malfoy”

E em letras menores um subtítulo dramático.

“Por favor, salve meu filho, diz o menino que sobreviveu.”

Bufei irritado.

—Como eles descobriram isso? –Reclamei.

Minha mãe deu de ombros como se não se importasse.

—Você sabe como é a imprensa. Como está o seu paciente?

Suspirei.

—Mal. E vai ficar ainda pior se eu não descobrir logo por que diabos ele não acorda. –Respondi sincero.

—Você não tem ideia de como ajuda-lo?

—Não! –Falei. –Nenhuma. Ele está bom de todas as fraturas, sua cabeça não foi afetada pela pancada, não há danos neurológicos e nem sangramento interno...

—Mas ele continua dormindo. –Ela concluiu.

—Exato! -Gemi. –Já olhei aqueles papéis milhões de vezes, não parece haver nada de errado, no entanto, eu sinto que estou perdendo alguma coisa! Estou começando a ficar desesperado, mas tenho que manter a postura, no desespero cometemos erros e eu não posso errar... Não com ele.

Minha mãe me olhava preocupada.

—Querido, você tem certeza de que é a pessoa mais indicada para cuidar dele? Depois de tudo o que houve?

Neguei com a cabeça e me afastei.

—Mãe, não...

—Scorpius... Eu sou sua mãe, conheço você. Você e Albus...

—Nunca houve “eu e Albus”, mamãe! Não houve! –Respondi irritado.

—Negar não vai mudar o passado, meu amor. Mas enfrenta-lo pode mudar o seu futuro.

—Certo! –Joguei as mãos para cima. –Vamos pensar um momento sobre isso. Digamos que a senhora esteja certa e meu passado com Albus esteja nublando minhas decisões. Então eu terei que passar o caso dele para outro médico. Mas Harry Potter, o menino que sobreviveu, não quer outro médico. Quer a mim! E sabe por que?

—Por que você é o melhor. –Ela respondeu.

—Por que eu sou o melhor! –Repeti em seguida. –Se eu não conseguir salvar a vida Albus Potter, mamãe... Ninguém mais vai.

—--

Eu sabia que jamais teria coragem de dizer a Albus tudo o que sentia, mas de algum jeito ele acabou descobrindo por si mesmo, por que no último dia de aula, quando estava todo mundo comemorando a saída do colégio numa festa noturna clandestina, Albus Potter me encontrou sentado na arquibancada do campo de quadribol. Ele trazia uma garrafa de whisky de fogo nas mãos, não me pergunte como ele encontrou aquilo, nem mesmo eu sei.

—Scorpius. Malfoy. -Ele disse cada palavra como se fosse uma sentença, sua voz arrastada por causa da bebida.

Eu sorri da sua falta de coordenação quando ele tentou vir até mim.

—Albus. Potter. –Respondi do mesmo mesmo.

Ele riu.

Acho que até o vento batendo no seu rosto o faria rir hoje à noite.

Ele sentou ao meu lado, eu era um tantinho mais alto que ele já que tinha dado uma esticada no último ano, mas ele ainda era mais forte, eu podia sentir isso, nossos corpos estavam mais juntos do que jamais estiveram durante meus dezesseis anos de vida, respirei fundo tentando não pensar no quanto eu estava apaixonado por ele.

—Obrigado. –Ele disse. O tom de voz sério, quase triste.

Virei meu rosto estranhando aquilo.

—Pelo que? –Perguntei.

— Você salvou a vida dela. –Minha cabeça deu um estalo. -Se não fosse por você talvez Dominique não estivesse aqui. Você tentou me avisar, mas eu só pensei em mim mesmo. Desculpe.

Ele colocou a garrafa no chão e baixou o rosto... Era a cara da desolação.

—Tudo bem. Eu peguei você desprevenido.

—Sinto tanto por não ter ouvido você naquele dia, chega a doer... É por isso que não falo com você. Por isso que não olho pra você. Seu rosto me lembra o quanto eu sou um babaca egoísta.

Aquilo doeu em mim.

Engoli em seco.

—Tudo bem, você não precisa olhar para mim se não quiser. –Respondi baixinho.

Ele levantou o rosto e me deu um sorriso triste.

—Eu sei que você gosta de mim. –Ele confessou.

Arregalei os olhos.

Droga, Dominique!

—Er... Eu...

Ele soltou uma risada fraca.

—Nunca vai dar certo entre a gente Malfoy. Somos muito diferentes, ainda tem a minha família e o óbvio fato que somos dois homens. –Ele respondeu.

Ouviu esse som? Foi o meu coração partindo.

—Tudo bem. –Respondi meio sem forças.

—Não está tudo bem. Eu sou um merda por fazer isso com você, desculpe. Eu não devia ter dito que eu sabia. –Ele remexeu nos cabelos bagunçados.

—Está tudo bem mesmo, é sério. Acho que é melhor saber agora e desistir de tudo isso do que ficar sonhando com o que poderia acontecer. –Expliquei.

Nós ficamos calados por alguns minutos, ele olhou para mim durante todo o tempo enquanto eu olhava para frente sem conseguir encará-lo.

—Scorp... –Ele sussurrou.

Fechei os olhos sentindo um arrepio subir pela minha coluna.

—N-não...-Gaguejei. –Não faz isso. Não fala desse jeito.

Pude ver que ele sorriu pela visão periférica.

—A gente não vai mais se ver depois de hoje. –Ele disse.

—É, não vamos. –Respondi ainda sem conseguir encará-lo.

—Eu queria te dar um presente de despedida.

Albus pegou no meu queixo e levantou meu rosto até estar de frente para o seu, ele sorria com malícia, sua respiração cheirava a bebida. Num movimento rápido demais para alguém tão grande ele passou por cima de mim sentando no meu colo, suas pernas uma de cada lado da minha cintura.

Nossas virilhas se tocaram e eu pude sentir o tamanho da sua ereção.

Gemi jogando a cabeça para trás quando a minha própria ereção se formava.

—Um presente de despedida? –Perguntei só para ter certeza.

Ele baixou sua boca até a minha, nossos lábios se juntaram, famintos um pelo outro, ele tinha gosto de Whisky e se esfregava no meu colo.

—Um presente de despedida. –Ele confirmou quando separou o beijo.

Uma de suas mãos deslizou pelo meu braço e entrelaçou seus dedos nos meus, ele guiou a minha mão até a sua bunda e me fez apertar.

Eu sorri e ele me puxou para outro beijo.

Naquela noite Albus Potter se entregou para mim e foi a noite mais alucinante da minha vida.

Nós não nos vimos no dia seguinte e nem nas duas semanas depois daquilo, meu pai havia me dado um apartamento de presente numa vila bruxa perto de onde eu começaria estudar para ser medibruxo, um agrado por ter terminado o colégio, eu ficaria livre durante um ano, era o tempo que as aulas começavam.

Então qual não foi a minha surpresa quando a campainha do meu apartamento toca e Albus Potter se encontra do outro lado.

—Albus... –Eu estava completamente chocado, confesso.

—Eu sei que disse que não daria certo entre a gente... –Ele disse entrando no lugar sem ser convidado. –Mas acho que a gente podia tentar, não é?

Daquela vez eu o beijei primeiro.

—--

Já faziam três dias que ele entrou em coma.

Me sentei ao lado de sua cama virando e revirando os papéis de novo e de novo, o pai dele, Harry Potter, dormia na poltrona do outro lado enquanto a mulher dele fazia carinho no cabelo do filho e conversava baixinho com ele, apesar dele não ouvir.

Eu sentia que alguma coisa estava passando batido, o que era?!

Respirei fundo tirando meus óculos de leitura e apertando a área entre os olhos, cansado.

—Vá descansar um pouco Scorpius. –Harry Potter falou, somente naquele momento eu notei que ele havia acordado.

—Não, tudo bem, eu estou bem. –Respondi colocando os óculos novamente e reiniciando a leitura.

Uma enfermeira entrou no quarto pouco depois, ela trazia algumas poções que Albus tomava para conseguir se manter, ela abria cada vidrinho e despejava no soro dele. No início não me importei muito com aquilo, mas quando ela abriu o último vidrinho o cheiro tomou o quarto e eu pulei em desespero.

—O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO?! –Gritei tirando a poção de suas mãos antes que ela usasse.

Todos me olharam assustados.

—E-eu só estava... –Ela gaguejou com medo.

Cheirei a poção novamente e olhei o rótulo para ter certeza.

—A quanto tempo está dando essa poção para ele? –Questionei.

—O doutor Kent receitou há três dias. –Ela explicou.

Fechei os olhos e soltei uma gargalhada alta, nenhum deles parecia entender nada, estava tão óbvio que passou desapercebido. Uma poção para febre!

—Eu sabia que já tinha visto esses sintomas antes. –Falei rindo. –Merlim! É uma receita tão antiga que jamais pensei que Kent... Mas ele é um dinossauro, não era de se estranhar.

Eu ri mais um pouco.

—Scorpius? O que está acontecendo? –Harry Potter me perguntou, assustado.

—Albus é alérgico a essa poção. É por isso que ele está desse jeito. –Virei para a enfermeira e escrevi um nome no papel. –Suspenda a ingestão desse veneno e envie esse papel ao centro de drogas.

Ela saiu correndo para fazer o que eu pedi. Virei para os Potters.

—Se eu estiver certo e dermos uma poção diferente para ele, em dois dias Albus estará de volta. –Expliquei.

Harry Potter abraçou a esposa e respirou fundo, ousando ter um pouco de esperança.

—Como você sabia? –Gina Potter perguntou. –Como sabia que ele era alérgico aquilo, nem eu que sou mãe dele sabia.

Olhei para o rosto sereno de Albus.

—Ele me contou. –Respondi.

—--

Albus não tinha me contado nada. Nós dois descobrimos após passarmos pela experiência.

Naquele ano antes de começar a estudar para ser medibruxo eu e Albus começamos um relacionamento as escondidas. Nós dormíamos juntos no meu apartamento algumas noites, quando saímos juntos era para lugares distantes onde ninguém nos reconheceria, não queríamos ser Malfoy e Potter, queríamos ser Scorpius e Albus, dois garotos que se amavam.

Mas como tudo o que é bom dura pouco o nosso relacionamento só durou aquele ano.

Estávamos preocupados que nossa família estivesse perto de descobrir, um dia ele apareceu no apartamento, molhado de chuva, tremendo, tinha esquecido o guarda-chuva e achou que estava perto o bastante para não precisar fazer um, mas choveu mais do que ele esperava. Mais tarde ele acabou ficando com febre e dei a ele uma poção.

Quase morri do coração quando ele começou a reclamar de uma queimação que não parava, não demorou para que eu notasse que Albus era alérgico a poção e procurasse desesperado alguma coisa para cortar o efeito. No dia seguinte ele estava melhor, mas eu avisei a ele que tinha alergia e que nunca mais tomasse aquela poção. Quando se despediu de mim naquele dia ainda estava meio grogue por causa da doença, mas tinha que voltar para casa.

Três dias se passaram antes que eu pudesse ver Albus novamente.

Ele chegou no apartamento com uma expressão séria dizendo que queria terminar, estava cansado de mim e de fingir que estava apaixonado quando não estava. Era uma pessoa completamente diferente da que havia se despedido de mim e por isso eu não tive dúvidas que não queria mais vê-lo na minha frente.

Expulsei ele da minha casa e chorei feito um bebê a noite toda.

Uma semana depois minhas aulas começaram, mas somente mais tarde eu descobri o que realmente havia acontecido com Albus. Dominique me contou que os pais dele haviam descoberto que ele tinha um relacionamento com outro homem, apesar de não saberem ainda quem era, e o enfrentaram. Não aceitavam aquilo, não queriam aquela vida para seu filho mais novo. Seu pai, Harry Potter, me ameaçou, disse que quando descobrisse quem eu era arruinaria minha vida e nunca mais eu teria paz.

Albus fez um acordo, me deixaria em troca do pai nunca tentar descobrir quem eu era.

Harry Potter aceitou.

Mas eu não.

Eu não me importava com Harry Potter, ele é o menino que sobreviveu, e daí? Ele podia ser o próprio Voldemort, mas se Albus me amasse de verdade ele teria lutado por mim.

Teria ficado ao meu lado.

Mas ele não fez e por isso não merecia que eu lutasse por ele.

Pensando bem nós nunca chegamos a dizer isso, nunca chegamos a dizer “eu te amo”, e essa é uma das muitas coisas que ficaram engasgadas em minha garganta... E ainda estão.

—--

Dois dias depois, exatamente como eu havia previsto, Albus Potter acordou.

A enfermaria voltou a virar um mar de ruivos quando toda a família Weasley e Potter vieram fazer visitas.

Meu trabalho estava feito, por isso decidi entregar o caso novamente ao doutor Kent e seguir com a minha vida, mas pelo que parecia a família dele não concordava comigo.

—Você já foi visita-lo? –Dominique apareceu no meu escritório.

Suspirei e mexi o pescoço, o som de estalo fez ela mostrar uma careta.

—Estou cheio de trabalho Dominique. –Respondi. –Não tenho tempo para visitar Albus Potter.

—Mas você salvou a vida dele.

—Como a de vários outros pacientes desse hospital. Albus Potter não é o primeiro e se Merlim permitir não será o último paciente que irei salvar. –Falei. –Portanto, não merece tratamento especial.

—Dá um desconto Scorp, você sabe que ele vai adorar sua visita. Ele está perguntando por você a cada médico, enfermeira e até mesmo paciente que encontra pela frente, milhares de vezes ele fala o seu nome. Chega a ser irritante! –Ela riu.

Eu sabia, claro que sabia, Dominique não era a primeira pessoa que vinha até meu escritório avisar de Albus estava me chamando.

Para ser sincero, ela era a décima sexta pessoa.

—Não quero ir. –Falei com a voz fraca.

—Você devia encarar isso. Não é como se a história de vocês fosse novidade, a família toda já sabe mesmo.

Levantei o rosto em choque.

—OQUE?! –Gritei.

—Ele nos contou há um tempo. Disse numa reunião de Natal, foi uma brincadeira familiar, nós andávamos brigando muito então a minha mãe pediu que cada um de nós segurasse o gatinho de Lily uma vez e quando o gatinho estivesse em nossas mãos nós diríamos tudo o que estava engasgado dentro de nós.

—Essa brincadeira não é nada boa. –Comentei.

—Não foi mesmo, mas foi muito libertadora. –Ela contou. –Quando o gatinho parou nas mãos de Albus ele contou tudo, contou que nunca gostou de mulheres, como se a gente já não soubesse. –Revirou os olhos. –Contou que se apaixonou por um cara e que ele era incrível, mas teve que deixa-lo por que ninguém aceitava que eles estivessem juntos e a última coisa do mundo que ele queria era prejudica-lo. Quando passou o gatinho para frente ele começou a chorar e saiu correndo. Tio Harry se sentiu horrível, principalmente por que Albus só voltou para casa depois de uma semana.

Quando Dominique terminou de contar quem queria chorar era eu.

—Ele quem escolheu isso Dominique. Não eu.

Ela suspirou.

—Você que sabe. Mas eu acho que vocês deviam se dar uma chance.

Ela foi embora me deixando sozinho com toda aquela história na cabeça.

Mais tarde, eu já estava irritado com tanto trabalho e sem poder tirar Albus Potter da minha cabeça, quando alguém bate na porta.

—Pode entrar! –Gritei tirando os óculos do rosto e colocando na mesa, cansado.

A porta se abriu e Harry Potter entrou.

—Olá Scorpius.

—Olá senhor Potter. –Tentei sorrir.

—Albus pediu que eu viesse para chamar...

Não deixei ele terminar, naquele momento uma coisa começou a fervilhar dentro de mim, uma raiva enorme! Joguei os papeis para o lado, empurrei a cadeira fazendo um barulho alto e saí porta afora batendo o pé, as pessoas se afastavam ao me verem passando. Quando abri a porta do quarto de Albus Potter essa bateu na parede fazendo um barulho alto, a família estava toda ali reunida e se afastou para que eu pudesse passar.

Parei em frente a maca, respirando com força.

—O que é?! –Quase gritei, mas consegui moderar a voz.

Albus estava sentado na cama, havia muitos doces ao seu redor e presentes, ele tinha a boca aberta em choque ao me ver ali em sua frente. Logo sua expressão de surpresa se tornou um sorriso largo.

—Oi, Scorp. –Ele disse simples.

Fechei os olhos respirando fundo.

Calma Scorpius, você não pode gritar com um paciente.

—Oi Albus. –Respondi o mais educadamente que pude.

—Fiquei sabendo que você salvou a minha vida... Meu herói. –Ele riu.

Mordi a língua e contei até dez.

—Eu sou um medibruxo e você meu paciente, não sei o que você esperava. Agora se era só isso que você queria eu vou voltar ao trabalho, afinal, sua vida não é a única que eu devo salvar. –Respondi virando as costas para sair.

—Acredite, não é só isso que eu quero falar. –Ele disse. Estanquei, fiquei de costas olhando para o chão. –Tem muitas coisas que quero falar... Tantas palavras que eu nunca te disse.

—Você não precisa dizer nada. –Respondi.

—Ah, eu preciso sim. Mas nesse exato momento só tem uma coisa que eu quero te dizer... Eu te amo Scorpius Malfoy.

Fechei os olhos, era quase como se aquelas palavras ecoassem dentro de mim.

—Você... Albus Potter... É o mais desgraçado, infeliz e mizerável bastardo que eu já tive o desprazer de conhecer. –Respondi. –Mas eu também te amo.

Eu não via seu rosto, mas eu podia jurar que sentia seu sorriso.

—Isso quer dizer que você vai voltar para que a gente converse direito? –Ele perguntou.

—Mais tarde, quando você estiver sozinho. –Respondi.

Então saí dali.

Quando fechei a porta pude ouvir a gritaria da família inteira comemorando e não pude deixar de sorrir.

Droga, eu não parei de sorrir o resto do dia.


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Notas finais do capítulo

Para quem deixa review:OBRIGADA! Amo vocês Suas lindas *-*
Para quem não deixa por que não tem perfil: Tudo bem, eu perdoo.
Para quem não deixa por preguiça: Gente, o dedo não vai cair, faz esse esforcinho vai, por favor?
BEIJOOOS LIINDAS *----------*
RECOMENDEM PLEASE!
Câmbio e desligo



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