Silêncio na Biblioteca! escrita por Lil Pound Cake


Capítulo 9
Deletando...




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(narração em 3ª pessoa)

— Vem, Nathaniel, pode entrar. – Dizia Melody abrindo a porta de sua casa.

Nathaniel estava se mantendo forte para permanecer no personagem e o plano dar certo. Para Melody, vê-lo lá com ela era como se seu maior sonho estivesse se realizando.

— Eu tenho fotos suas no computador.

— Você salvou na nuvem?

— Só as que têm você sozinho. As outras eu deixei no pen-drive, não as queria no meu computador para ficar vendo sempre e lembrando. – Falou com desdém.

O loiro se fez de desentendido. – Outras? Que outras? Você tem fotos minhas com outras pessoas também?

— Ai, Nath... É que... Eu tirei fotos suas com... Com a Anna.

— Você o quê? Como você tirou fotos minhas com ela? Ah, já sei... Foi numa dessas vezes que você me seguiu, não foi?

— Foi, Nathaniel. Lembra... Lembra o fotógrafo que ficava escondido atrás do prédio do seu apartamento?

— Era você? – Perguntou como se não soubesse.

—... Era. – Ela confessou.

— Melody, como pôde? Por que fez tudo isso? Fez o pessoal do prédio achar que era um paparazzi, e pior, alguns acharam até que se tratasse de um bandido.

— Eu sinto muito, Nath. Eu não queria...

— Queria sim, senão não teria feito tudo isso. E para quê? Só para tirar fotos minhas, Melody? Pelo amor de Deus, você não mede as consequências dos seus atos?

— Eu... – Ela começou a se desesperar de novo e agarrou em sua camisa. – Eu não consigo, Nathaniel. Não consigo pensar em nada mais quando penso em você!

— Melody, por favor... – Tirou as mãos dela de si. – Você não acha que está passando dos limites? Quando você disse pela primeira vez que gostava de mim...

— Você me dispensou!

— Sim, mas... Não foi bem assim. Eu apenas fui sincero com você e te disse que não poderia ficar com você sem sentir nada, lembra? Mas, eu disse que queria continuar sendo seu amigo e nós poderíamos conviver sem que nada mudasse.

— E hoje, Nathaniel? Hoje você acha que pode sentir algo por mim? – Ela perguntou enquanto se aproximava de seu rosto.

— Melody, vamos com calma. – Ele se afastou. – Primeiro me prove que eu posso confiar em você. Me mostre todas as fotos, eu mesmo quero apagar todas elas.

— Está bem. Vem, o computador fica no meu quarto.

Nathaniel engoliu seco. Ela podia tentar criar uma armadilha para ele, a essa altura e vendo as reações dela, ele não duvidava de mais nada.

— É... Seus pais não estão em casa?

— Não. Meu pai está no trabalho e minha mãe, na casa de uma tia doente. Eles só vêm perto da hora do jantar.

— A-Ah... Ok. Me mostre onde é.

Ela pegou em sua mão e o levou até seu quarto. Lá puxou a cadeira da mesa do computador para ele sentar. Ela não precisou indicar onde as fotos estavam, ele logo viu uma pasta na área de trabalho com o seu nome em letras maiúsculas.

— Pode ficar a vontade, Nathaniel. – Ela disse pegando em seus ombros. – Quer alguma coisa para beber?

Ele abriu a pasta e se deparou com mais de cem fotos dele. Pasmo com aquilo, pensou que seria melhor se ela o deixasse sozinho.

— É... Sim, Melody, por favor. Se puder... Um suco, talvez.

— Suco? Tudo bem, eu faço pra você. Do que quer?

— Ah, do que tiver...

— Pode escolher, Nath. Eu faço o que você quiser.

— É... Me surpreenda.

Ela sorriu abobalhada. – Ok. Vou fazer um suco especial que aprendi. Tenho certeza que você vai adorar. – Foi saindo. – Só vai demorar um pouquinho...

— Demore o tempo que quiser. Eu não vou sair daqui.

— Ótimo! Eu vou então. Fica à vontade, viu? – Saiu do quarto em direção à cozinha.

Nathaniel respirou mais aliviado quando se viu sozinho, mas a tensão ainda não havia acabado. Ele não estava conseguindo acreditar como Melody havia se tornado tão obcecada por ele dessa maneira. Havia fotos dele ali, em vários ângulos, em vários lugares.

Aquilo precisava acabar de uma vez por todas.

Ele aproveitou sua ausência para pôr seu próprio pen-drive com um programa que havia recebido do Armin e baixar no computador dela um programa que apagava todos os arquivos que ele quisesse e até procuraria outros arquivos repetidos ou copiados. Ele queria excluir tudo para que ela não tivesse possibilidade de recuperar aquelas fotos.

— Acho que está dando certo. Aquelas dicas de tecnologia que tive com o Armin funcionaram. – Pensava quando ouviu um grito vindo da cozinha.

Ele correu para lá e se assustou ao ver Melody com uma mão suja de sangue.

— Melody, o que aconteceu?

— Ai!... Eu me cortei quando estava cortando as frutas para o seu suco.

Ele pegou na mão dela para ver. – Nossa! Mas, foi um corte feio, Melody. Como fez isso?

— E-eu nem sei direito... A faca escorregou e... Ai! Tá doendo!

— Calma, eu sei fazer um curativo. Tem tudo que é necessário aqui?

— Tem.

Depois que ela mostrou onde ficava a caixa de primeiros socorros, ele fez um curativo com cuidado. Ela estava boba vendo-o cuidar dela.

— Pronto, Melody. Ainda vai doer, mas não vai mais sangrar. Mesmo assim seria melhor ver um médico ou, no mínimo, um enfermeiro.

— Não acho que seja pra tanto.

— Você que sabe. Mas, tome cuidado.

— Sabe... Adorei ver você preocupado comigo, cuidando de mim...

— Eu sabia o que fazer, nada mais justo.

— Mas, vindo de você... – Ela se aproximou dele. – É muito especial para mim.

Cada vez chegava mais perto dele tentando beijá-lo. Nathaniel ficou parado por uns segundos, mas quando ela estava prestes a encostar os lábios nos dele, ele desviou o rosto e se afastou.

— Err... Melody, eu vou voltar para o quarto, preciso ver o computador. – Voltou depressa, mas ela já estava convencida de que conseguiria o que queria.

Alguns minutos depois ela voltou com o suco quando ele já estava acabando de desinstalar o programa do computador. – Aqui, Nathaniel. O que estava fazendo?

— Nada de mais, Melody... Só o que vim fazer. Não quero que tire mais fotos minhas, entendeu?

— Sim, eu prometo que não tiro.

— Ótimo. – Começou a beber o suco. – Hum... É bom. De que é?

— É uma mistura de frutas tropicais... Uma receita especial. Eu tinha certeza que você ia gostar.

— Está gostoso. Agora, Melody, quero me dê o resto das fotos.

— Quais?

— Não finja que não sabe. As fotos que você tirou de mim e da Anna.

— Ah, sim... – Ela pegou um pen-drive. – Estão aqui.

— Você me promete que estão todas aqui?

— Já disse que sim, Nath.

Ele tinha que se certificar. Pôs o pen-drive no computador e finalmente viu as tais fotos que ela usou para a chantagem.

— O que vai fazer, Nathaniel?

— Formatar esse pen-drive. – Assim o fez muito rápido, tão rápido que ela não pôde impedi-lo.

— Não precisava ter feito isso.

— Precisava sim. – Tirou o pen-drive e devolveu a ela. – Agora, Melody, olhe nos meus olhos e me prometa que não vai mais me seguir, não vai tirar nenhuma foto minha, nem sozinho nem com qualquer outra pessoa.

— Eu prometo, Nath. Desculpa.

— Tudo bem. – Acabou de tomar o suco e se levantou. – Eu já vou.

— Mas, já?

— Já. Está ficando tarde, eu preciso ir pra casa, dar a comida da Branca e fazer outras coisas.

— O que você vai fazer essa noite?

— Melody! Pensei que não fosse mais se intrometer na minha vida.

— D-Desculpa, Nathaniel... Eu...

— Você não aprende, não é? – Pegou nos ombros dela e a olhou nos olhos. – Se quer continuar perto de mim, não tente controlar a minha vida.

— Sim, sim... Eu não vou mais me meter. Só... Só me deixa ficar perto de você?

Ele respirou fundo. – Nos veremos todos os dias na escola como sempre. Não posso te impedir de ficar por perto, mas posso te pedir para se afastar caso eu sinta que você está invadindo minha privacidade de novo, entendeu?

— Entendi.

— Ótimo. Eu tinha esperança de que entendesse. – Deu-lhe um beijo na bochecha. – Agora eu vou. Tchau!

— Tchau!

Dessa vez ela o deixou ir tranquilo, mas para ela não havia acabado tão fácil assim.

Ela pegou o copo do suco que ele havia tomado e começou a falar sozinha:

— Quanto tempo será que demora a começar a fazer efeito? – Voltou à cozinha, pegou uma caixinha e leu: - Hum... De quatro a seis horas... Maravilha! Finalmente tive a oportunidade perfeita de dar isso a ele! Agora é esperar para mais tarde. – Ela ficou com o olhar distante e perdido, enquanto falava: - Ainda hoje eu vou te visitar no seu apartamento, Nathaniel. E você estará lá esperando por mim, para termos nossa primeira noite de amor. A primeira de muitas... Para o resto de nossas vidas.

(fim da narração em 3ª pessoa)

...

...

...

Horas depois, à noite...

— Filha, seu amigo está aqui! – Minha mãe me chamou.

— Alexy!

— Oi, Anna. Então, cheguei na hora certa, né?

— Chegou sim. – Virei para minha mãe. – Mãe, eu comentei que o Alexy vinha me buscar, não foi?

— Sim, só não disse o que vocês vão fazer? É algum trabalho da escola ou o dever de casa?

Eu não queria mentir mais, mas não podia dizer que na verdade aquela saída era para encontrar o Nathaniel e saber como havia terminado o plano. Alexy tratou de responder no meu lugar com sua simpatia de sempre: - As duas coisas, senhora. Todos os professores resolveram passar as tarefas no mesmo dia e eu ainda tenho um trabalho de ciências para entregar e preciso da ajuda da sua filha mais inteligente.

A mamãe riu. – Bom, a Anna é filha única então acho que tem que ser ela né?

— Ai, mãe! Tá querendo dizer que eu não sou inteligente? – Brinquei.

— Não foi isso que eu quis dizer!...

— Foi quase. – Alexy riu. – Mas, eu confio na sua inteligência, não se preocupe.

— Puxa!... Obrigada, Alexy.

— De nada! Disponha.

Mamãe comentou divertidamente para o Alexy: – Você é mesmo tudo que a Anna nos falou.

— Tudo? Ih... Foram elogios ou apenas verdades?

— Você é um garoto muito simpático e divertido.

— Obrigado, senhora. E acredite, se eu gostasse de garotas vocês me teriam como genro.

— Mesmo assim, a minha Anna já está apaixonada por certo representante de turma, não é?

— Mãe! – Sempre me surpreendo com ela.

Alexy também ficou surpreso. – Ah! Você já contou a eles?

— Já.

— Quem mais já sabia antes de nós, Anna? – Ela indagou.

— Eu só havia contado para os meus melhores amigos, mãe. O Alexy e a Rosalya.

— Vem cá, e vocês deram permissão para que eles namorem? – Alexy perguntou.

— Não podemos impedir que ela cresça e se apaixone, faz parte da vida. O pai dela e eu confiamos nela, além disso, achamos que o Nathaniel é um bom rapaz. O que mais nos importa é a felicidade dela.

— Obrigada, mãe. – Dei um abraço nela. – Agora nós vamos para não ficar muito tarde, tá?

— Vão. E não chegue depois das onze, mocinha.

Alexy logo retrucou: - Onze? Não vai dar tempo não. A senhora não sabe o tamanho do trabalho que a professora Delaney nos dá. Aquela mulher é uma tirana!

— Está bem, meia-noite e não se fala mais nisso.

— Ah... Ela não poderia ficar para dormir lá em casa? Ficamos estudando até tarde e depois descansamos. Pode acabar ficando muito tarde para ela voltar. Além disso, nós temos um quarto de hóspedes, seria perfeito.

— Não sei, acho melhor não... – Ela olhou para mim. – Você não havia nos falado da possibilidade de dormir fora.

— Eu sei, mãe, mas eu também não havia pensado nisso... – Olhei para o Alexy que foi logo dizendo:

— Como não? Você não sabe que tudo pode acontecer nesses trabalhos? – Ele piscou discretamente para mim para demonstrar que não estava falando do trabalho exatamente.

— Como assim? – Minha mãe o perguntou.

— Ah, senhora, a gente pode estar fazendo e de repente ver que está tudo errado e ter que refazer, ou o computador dá um piti e a gente perde o que já fez. Essas coisas acontecem. E é sério, eu preciso mesmo da ajuda da Anna, senão corro o risco de repetir essa matéria.

Eu, então, argumentei: - Não podemos fazer assim: se acabarmos todas as tarefas até antes da meia-noite eu venho para casa, se não, eu fico para dormir lá. Pode ser?

A mãe suspirou. – Ok... Mas, façam tudo para acabar o mais cedo possível, está bem? Eu ainda vou tentar convencer seu pai...

— Não precisa. Eu já ouvi. – Papai entrou na sala de repente.

— Querido! Quando você chegou?

— Acabei de entrar. Ouvi o que falavam.

— Então, papai... Você deixa?... – Fiquei torcendo por dentro para uma resposta positiva. E ela veio.

— Faça como disse, se acabarem tudo até meia-noite você volta para casa, se não, pode ficar. Não quero que volte se ficar muito tarde.

— Sério, pai?!

— Sério, filha. Você não é mais uma criança, acho que posso deixar que você durma fora de casa. Só nos ligue para avisar se for ficar e a que horas está indo dormir, está bem?

— Oh, pai!... Obrigado! – Abracei-o.

— Só me prometa uma coisa: que ao contrário do que fez naquele dia que você fugiu para aquele jantar, você vai, de agora em diante, sempre pensar duas vezes antes de tomar qualquer decisão.

— Eu prometo, pai.

— E outra coisa... Antes de tomar o rumo que faz seu coração bater mais forte, veja se sua mente está de acordo com seu coração. É assim que se pensa duas vezes.

Eu sabia sobre o que ele estava falando e prometi que pensaria até mais que duas vezes e seria responsável sempre para merecer toda a confiança e amor dos dois. Eu não iria decepcioná-los de novo.

Depois, saí com o Alexy rumo à escola.

...

Ao chegarmos em frente à escola, mandei uma mensagem para o Nath. Ele já havia chegado e imediatamente foi abrir o portão.

— Oi! Entrem.

Entramos e fomos para a biblioteca. As luzes do restante da escola estavam apagadas para não levantar suspeitas, mas o Nath ficava com uma cópia das chaves por ser o presidente do grêmio e porque antes ficava muitas vezes estudando até tarde lá dentro.

— E aí, Nath? Como se saiu na operação Resgate? – Alexy perguntou.

— Operação Resgate?

— É, ora! O resgate das fotos né? E aí, conseguiu?

Nathaniel sorriu para nós e revelou. – Consegui! E melhor, apaguei todas as fotos minhas que ela tinha.

— E... Como você fez para conseguir isso? – Perguntei com receio da resposta.

— Bom, eu tive que ser gentil com ela, para que ela acreditasse que estava tudo bem entre a gente e eu estava com muita raiva de você.

— Ela acreditou?

— Acreditou. Me deixou no quarto dela vendo...

— N-No quarto dela?

Nath sorriu vendo que eu estava incomodada com a situação. – Ei... Não faça essa carinha. – Pegou em minha mão. – Não tem por que sentir ciúme, você sabe que eu te amo.

— Eu sei. Eu também te amo. – Respondi mais tranquila e com a certeza do sentimento dele.

O Alexy nos interrompeu. – Oh!... Como são fofinhos! Eu vou deixá-los a sós daqui a pouco, tá? Mas antes termina de contar, Nath.

— Você vai o quê? – Perguntei.

— Deixá-los a sós, ora essa! O que você pensou, que eu ia ficar segurando vela? Não mesmo! – Ele pegou nos nossos ombros. – Vocês vão poder comemorar o sucesso do plano.

Nath e eu nos olhamos e não conseguimos evitar ficarmos ruborizados. Alexy parecia se divertir com a gente.

— Então, Nath, conta como foi! – Alexy pediu.

— Bom... Como eu disse eu estava sendo gentil com a Melody, fazendo ela acreditar que eu a estava aceitando. Não posso me dizer que me senti bem fazendo isso, mas depois do que ela fez, ela até que estava merecendo.

— Estava mesmo. – Completei.

— Então, ela me contou onde estavam as fotos e me levou a casa dela. Eu usei o programa que o Armin me indicou e consegui apagar tudo. Ainda pesquisei se havia cópias escondidas no computador e no aplicativo da nuvem que ela tinha instalado, e apaguei tudo. Não sobrou nem vestígio.

— Que bom! E as fotos de vocês dois?

— Também apaguei, Alexy, afinal eram o principal né? Estavam num pen-drive, ela não havia deixado no computador porque, segundo ela, não queria ficar se lembrando de ter visto nós dois no meu apartamento. – Ele olhou para mim.

— Hum... Ela não queria lembrar e vocês dois não conseguem esquecer, não é? – Alexy indagou com um sorriso super malicioso.

— Não é bem assim... – Nath estava falando quando levou uma mão à testa como se ficasse zonzo.

— Nath! – Segurei na outra mão dele. – Tudo bem?

Ele respirou forte. -... S-Sim... Está tudo bem... Eu acho.

— O que aconteceu? O que você sentiu?

— Nada, já passou.

— Não foi nada, Nath! Foi alguma coisa! Você está doente e não quer me dizer? – Eu já estava preocupada.

— Não, meu amor, não é nada disso. Eu... Eu não sei bem o que foi... Eu senti uma tontura quando estava vindo para cá, agora de novo...

— Você tomou algum remédio?... – Alexy perguntou ao colocar uma cadeira para ele sentar. Eu não soltava a mão dele por nada.

— Não, não tomei nada. É estranho porque eu nunca havia sentido isso. Quer dizer... Só uma vez...

— Quando?

— Bem, eu... Eu tenho vergonha de dizer...

Eu precisava saber. – Nath, você sabe que pode me contar tudo. – Peguei no rosto dele para que ele olhasse nos meus olhos e confiasse em mim.

— Eu sei. – Ele suspirou e confessou: - É... Foi o seguinte... Quando eu fiz dezesseis anos, eu queria muito sair para comemorar, mas como sempre meu pai não deixou. Ele disse que sair por aí com os amigos era coisa de vagabundo, e por outro lado, fazer uma festa em casa estava fora de cogitação. Segundo ele eu já estava muito velho para isso, e ele não queria bagunça dentro de casa. Claro que eu também não estava com a mínima vontade de comemorar nada com minha família. Mas, também não queria passar o meu aniversário trancado no meu quarto recebendo ordens. Então, eu... Fugi.

— Você fugiu de casa?

— Fugi. Não levei nada porque não era para ser uma fuga definitiva. Eu só queria um dia para mim, para fazer o que quisesse. Então saí escondido. Levei no bolso apenas o dinheiro da mesada e nada mais. Sabe... Quando eu me vi no meio da rua, sozinho, livre para fazer o que quisesse... Uma sensação que eu não sabia explicar tomou conta de mim. Eu fui à praia, eu me joguei no mar, eu... Fiquei bêbado...

— Você ficou bêbado? – Alexy perguntou tão surpreso quanto eu.

— Foi. Eu não me orgulho do que fiz, mas eu roubei uma das garrafas de vinho do meu pai. Eu só havia bebido uma taça de vinho em raras ocasiões, em alguns jantares e festas, mas era meu aniversário, eu queria sentir o sabor daquele vinho, o sabor da liberdade. Naquele dia voltei só de madrugada. Acabei dormindo na praia e voltei de ressaca. A roupa estava um bagaço, igual minha cara. Claro que no dia seguinte levei a maior surra, mas... Pelo menos eu havia passado um dia feliz.

— É, acho que todos têm seus dias loucos, hein, Nath! – Alexy comentou.

— Pois é. E é disso que estou falando, essa sensação de estar bêbado, é como me senti agora a pouco.

— Que estranho! E você tem certeza que não tomou nada? Há medicamentos que fazem isso...

— Não tomei remédio nenhum.

— Ah, vai que você tem labirintite. Dizem que é assim, se fica tonto e se perde o equilíbrio, é parecido com estar alcoolizado.

— Talvez, eu não faço ideia.

— Bom, eu tenho certeza que você vai melhorar, até porque, já que o plano deu certo, eu vou embora e vou deixar vocês dois a sós.

— Você já vai? – Perguntei ao Alexy. Até então eu não havia falado nada, pois estava observando o Nathaniel. Para mim aquela tontura era muito estranha.

— Já vou sim. Eu disse que não ia segurar vela. Agora, tchauzinho, pombinhos! Aproveitem o silêncio... Mas, comportem-se, viu? – Piscou e saiu rindo.

Acompanhamos o Alexy para o Nath poder trancar a porta da escola e voltamos para dentro.

Agora éramos Nathaniel, eu e o silêncio naquela biblioteca vazia.

...


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Notas finais do capítulo

Continua...



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