Silêncio na Biblioteca! escrita por Lil Pound Cake


Capítulo 16
Sozinhos no silêncio




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...

Ao vê-lo ferido, Anna foi até o amado. – Nath! Nath... O que ela fez com você?

O loiro parecia em choque num primeiro momento, mas ao ver a namorada segurar em seu rosto, chorando e perguntando se ele estava bem, ele voltou a si.

— Eu... E-Estou bem. Não s-se preocupa.

— Como não vou me preocupar, ela te cortou no pulso, você pode... – Engoliu o choro e virou para Melody. – Satisfeita? Você cortou o pulso dele, ele pode morrer! – Gritou.

Nathaniel tentava estancar o sangue enquanto argumentava.

— Não... Não foi no pulso, eu acho... Foi perto, mas não atingiu a veia.

Mas, a namorada não lhe deu ouvidos. Estava tão tomada pela raiva, desespero e todas as emoções à flor da pele daquele momento que avançou em Melody desferindo-lhe um tapa na cara seguido de outro, do outro lado.

Melody, que também havia ficado em choque ao ver o que tinha feito com Nathaniel, nessa hora despertou. E olhando intensamente para a que havia lhe batido, falou friamente, como que despida de qualquer sentimento:

— Eu não queria ter feito isso... Eu não queria... Mas... Já que foi assim... Ele não vai ser meu... E também não vai ser seu.

Anna gritou pausadamente cada palavra: - Ele já é meu!

Ia dar-lhe outro tapa, mas Melody segurou em seu braço e foi com toda força para cima dela empurrando-a até jogá-la contra a estante que estava solta. A força do golpe foi tanta que a estante ia cair por cima dela se Nathaniel não tivesse se jogado entre o móvel e a namorada para salvá-la. Mesmo assim a estante tombou atingindo ambos. Anna desmaiou por causa do impacto, mas agora estava nos braços do amado que, ao ver que ela havia perdido os sentidos, se desesperou:

— A-Anna?... Anna! – Nathaniel gritou enquanto tentava levantar a estante que estava caindo sobre suas costas. Mesmo com um braço ferido ele não desistia e continuava tentando com todas as suas forças.

Porém, ao ver que não conseguiria sozinho, não segurou mais o choro e desabou em lágrimas junto à namorada caída no chão e em seu colo, se pondo a beijar seu rosto e dizer:

— Anna... Acorda, Anna, por favor... Por favor, meu amor... Não me deixa... Volta pra mim, meu amor, abre esses olhos, me responde...

Melody estava parada como uma estátua, sem esboçar qualquer reação ou emoção. De alguma forma, por mais perturbada que estivesse sua mente, naquele momento ela via como Nathaniel chorava por aquela garota e sabia que era inútil tudo que ela havia feito. Ele continuaria amando-a de qualquer maneira.

Nesse instante o professor Faraize entrou na biblioteca assustado.

— O que está acontecendo? Que barulheira é essa?

Assustou-se mais ao ver a cena: Nathaniel chorando com a namorada desmaiada nos braços e Melody olhando-os de uma maneira fria, como se não estivesse vendo nada a sua frente.

— M-Mas, o quê... Melody! – Segurou no braço dela. – O que houve aqui?

Ela mexeu a boca como se fosse falar, mas nenhum som saiu. Ela estava perturbada demais para conseguir balbuciar uma palavra que fosse. E, de repente, ela também desmaiou.

— Melody! – O professor a segurou e a deitou no chão. Logo viu que a roupa dela estava suja de sangue. A palma de uma das mãos dela estava cortada, pois ela estava apertando um dos cacos de vidro com força.

Ele olhou então para Nathaniel e viu que ele também estava ferido.

— N-Nathaniel... O que...

— Professor? Chama uma ambulância! Chama uma ambulância, rápido!

— S-Sim, e-eu vou... Vou chamar! – Ainda sem entender bem o que havia acontecido, e nem importava tanto naquele momento, Faraize pegou o celular e chamou a ambulância.

Não demorou muito e todos estavam a caminho do hospital.

...

...

...

Horas depois...

—... E foi isso que aconteceu. – Nathaniel, já com um braço enfaixado, contava como tudo havia acontecido. Ouvindo-o estavam: sua mãe, os pais de Anna e os pais de Melody, além do professor Faraize e da diretora Shermansky.

Os pais de Melody estavam com o desgosto estampado nos rostos.

— Estamos bastante envergonhados com o que nossa filha fez. – O pai dela começou a dizer.

— Não achamos que ela chegaria a esse extremo. – A mãe continuou.

E o pai completou: - Amanhã mesmo nós a levaremos para começar um tratamento psiquiátrico. Infelizmente ela terá que desistir da escola por um ou dois anos, mas será melhor para ela.

A mãe de Nathaniel soltou um comentário: - Será melhor mesmo, assim quando ela voltar para a escola a turma do meu filho já terá acabado o ensino médio e não terá mais perigo de ela ter outro surto.

— Mãe! Por favor... – Nathaniel chamou-lhe a atenção. – Não seja tão insensível.

— Só estou sendo realista, Nathaniel. Veja você, levou pontos no braço por causa dessa menina. O que ela poderá fazer da próxima vez?

A mãe de Melody, mesmo não gostando do jeito de falar da mãe de Nathaniel, respondeu: - Não se preocupem. Pretendemos levar nossa filha para se tratar em outra cidade, por isso, provavelmente, ela irá para outra escola quando estiver melhor.

A mãe de Nathaniel não disse mais nada, mas a senhora Shermansky falou:

— É lamentável perder uma aluna como a Melody, mas é como disseram, será para o bem dela mesma e dos outros.

— Concordo com a senhora. – Faraize se pronunciou. – É mesmo uma pena tudo isso, mas será o melhor para todos. Esperaremos que ela se recupere rápido... – Virou para os outros pais. – Assim como a Anna também. Ela já acordou?

Os pais dela, que estavam calados até então, como que pensativos, responderam monossilabicamente: - Não.

Os pais de Melody se aproximaram deles e a mãe dela falou chorando: - Q-Queremos... Pedir perdão em nome da nossa filha...

A mãe de Anna não a deixou terminar. – Não precisa.

— Como não?...

— De verdade, não precisa. Eu também sou mãe e posso entender o que você está sentindo. Mas, minha filha está bem, graças a Deus não aconteceu nada de grave. Então não se preocupem em pedir desculpas, se preocupem em cuidar da saúde mental da sua filha que é o que importa.

— Sim... Faremos isso. Obrigada pela compreensão.

Dito isso os pais de Melody foram embora. A filha já havia recebido alta após fazer os curativos na mão e eles a levaram indefinidamente. A partir desse momento, não havia mais previsão de quando voltariam a ver Melody, mas, pelo menos, havia ficado a esperança de que ela não interferiria mais na vida do casal Nathaniel e Anna.

A diretora e o professor também foram embora, ficando apenas os pais de Anna e Nathaniel com sua mãe.

— Vamos embora, Nathaniel? – Ela perguntou e ele a olhou como se ela tivesse dito a maior bobagem do ano.

— Como é?

— Vamos embora? Não quer que eu te deixe em casa? Olha... Se quiser pode ir dormir lá em casa hoje, no seu antigo quarto, para eu cuidar de você...

— Você ia cuidar de mim? – A pergunta de Nathaniel causou estranhamento nos pais de Anna, afinal aquela era a mãe dele. Mas, como eles já conheciam um pouco a história daquela família problemática, não estranharam tanto assim.

— É claro, Nathaniel... Não quer ir?

Nathaniel suspirou pesadamente. – Mãe... Quando você vai enxergar mais de um palmo a sua frente, hein?

— Nathaniel! Não fale assim comigo!

— Não estou falando com raiva nem nada, mas... Você ouviu que minha namorada ainda está desacordada? Eu preciso ficar ao lado dela.

Ela falou mais baixo. – Os pais dela estão aí, você não precisa ficar...

— Quem disse que eu não preciso? Eu preciso sim, preciso muito. Eu preciso vê-la acordar, eu preciso vê-la bem, eu, simplesmente, preciso dela como do ar que eu respiro.

— Nathaniel, não exagere. Vão pensar que você está ficando obcecado igual aquela garota, a tal de Melody que...

— Não, nem me venha com essa! É totalmente diferente. O que a Melody sentia por mim era uma obcessão doentia, o que eu sinto pela Anna... É amor, mãe. Você entende?... – Nathaniel se emocionou. – Entende o que é isso? Eu a amo e é a primeira vez que eu amo uma mulher na minha vida. Você não consegue enxergar isso?

A mãe dele baixou a cabeça como se, pela primeira vez, algo tocasse seu coração. Nathaniel continuou:

— E antes dela, mãe... Só há uma mulher que eu amo e sempre vou amar. Que para mim é a mais importante, apesar de tudo. E tudo que eu quero dela... É que ela me compreenda e me ame. Não quero um apartamento caro, uma mesada, um carro, nada material!... Eu só quero o amor e o carinho verdadeiros dela. ... E essa mulher é você, mãe.

Nathaniel já deixava as lágrimas escorrerem por seu rosto, mas se surpreendeu ao ver que uma lágrima também escorria no rosto de sua mãe. Ela respirou fundo e levantou a cabeça, deixando-o ver que ela se emocionou com suas palavras.

— Mãe... – Ele a abraçou e ela o abraçou de volta.

O abraço durou um minuto. Minuto em que eles não se disseram mais nada, mas praticamente disseram tudo no silêncio.

Depois ela deu-lhe um beijo no rosto e foi embora sem mais insistir para que ele também fosse. Sabia que seria inútil.

Nathaniel, então, enxugou as lágrimas e foi até os pais de Anna.

— Digam-me a verdade, por favor... Como ela está?

O pai dela respondeu: - O médico disse que ela está bem, está só dormindo.

— De verdade? Eu fiquei tão preocupado...

— Também ficamos.

— Eu imagino...

— Mas, não estaríamos tão tranquilos se nossa filha não estivesse sã e salva. Segundo o médico, ela não sofreu nenhum dano, só algumas escoriações. O impacto da queda ou uma batida na cabeça podem tê-la feito desmaiar, além do nervosismo por toda a situação.

— Eu entendo. Ela desmaiou nos meus braços quando pulei pra evitar que a estante caísse sobre nós. Eu pensei que ela tinha batido a cabeça e fiquei desesperado.

O pai dela falou: - Seu professor nos explicou enquanto você estava fazendo o curativo que essa estante é antiga e ia ser trocada, mas não acharam que tinha perigo de cair. O impacto nela foi que a fez se soltar.

— E para nosso azar a Melody resolveu empurrar a Anna logo pra cima dessa estante. ... Eu queria ter feito alguma coisa para que nada disso tivesse acontecido.

— Pelo que entendemos, você não podia fazer nada. – A mãe disse.

Nathaniel concordou com a cabeça e perguntou: - E agora, por que ela ainda está dormindo?

— O médico disse que ela acordou do desmaio muito agitada aí deu um remédio para ela se acalmar e ela dormiu. Assim que ela acordar receberá alta, estamos esperando.

— Eu posso vê-la? – Nathaniel pediu e eles deixaram que ele entrasse no quarto.

(fim da narração em 3ª pessoa)

...

...

(Ponto de vista do Nathaniel)

Quando entrei no quarto e vi a mulher que eu amo ali deitada, indefesa, as lágrimas embaçaram meus olhos sem eu querer. Enxuguei-as uma, duas vezes, mas elas insistiam em voltar.

Sentei-me ao lado dela e peguei em sua mão... E nada me veio à cabeça para dizer. Apenas fiquei contemplando sua beleza.

Ela parecia perdida no mundo dos sonhos e eu me perguntava se eu era o protagonista do que se passava em sua mente naquele instante, pois na minha mente só existia ela.

Também existia a angústia pelo que havíamos passado. Quando percorri com o olhar as paredes daquele quarto de hospital, lembrei que era o mesmo para onde haviam levado o Lysandre quando ele sofreu o acidente. E ele havia perdido a memória por causa disso. De repente recordei o que a Anna me disse depois de visitarmos o Lysandre. Ela me disse que tinha medo de que fosse eu no lugar dele, e que se eu não lembrasse mais dela seria terrível. Que coisa... Agora, por um instante, era eu quem sentia essa aflição.

— Você disse que seria terrível se algo me acontecesse e eu não lembrasse mais de você, meu amor... Mas, se isso acontecesse com você... Você faz ideia do quão terrível seria para mim? Minha vida perderia o sabor... Eu perderia o amor... O amor da minha vida... Você.

Disse-lhe essas palavras enquanto acalentava seu sono, acariciando sua face.

Nisso vieram a mim as recordações da nossa primeira vez. Como suas carícias me deixavam louco, como seus beijos me incendiavam por dentro, como suas mãos em minha pele eram como diz o poema: fogo que arde sem se ver...

E como eu queria sentir tudo isso de novo.

Fiquei ali parado olhando para ela... E era como se não existisse mais nada no mundo.

Em seu sono, tal qual a bela adormecida da peça que interpretamos na escola, ela só esperava um príncipe acordá-la. Era isso que eu queria imaginar, que bastava um beijo meu e ela acordaria e ficaria bem.

Assim eu fiz. Beijei seus lábios como não tive coragem antes na época da peça de teatro. Mas... Infelizmente a vida real é diferente dos contos de fadas. Ela até podia ser minha bela adormecida e eu seu príncipe talvez, mas eu não a acordaria com um simples beijo.

Tendo apenas o silêncio como resposta, levantei-me da cama para sair do quarto e esperar lá fora, quando me deu uma vontade súbita de me virar e olhar de novo para o rosto dela... E tamanho foi o pulo do meu coração ao ver seus olhos castanhos abertos, fixos em mim.

—... Nath.

Ela me chamou baixinho... E eu comecei a rir feito um bobo ou um maluco e corri para abraçá-la.

Ela acordou! Claro que acordou. O que eu estava pensando?... Simples beijo? Não. A princesa só acorda com um beijo de amor verdadeiro.

(Fim do POV Nathaniel)

...

...

...

...

Meses depois...

— Finalmente! – Joguei minha bolsa num canto do meu quarto ao entrar seguida pelo Nath. – É o fim das aulas! Acredita?

— Mal posso acreditar. Vamos terminar o ano, enfim! Agora é vida nova, novas responsabilidades...

— Pois é. E aí? Já decidiu o que quer fazer?

— Bom... – Ele me agarrou pela cintura me puxando contra seu corpo. – Eu sei o que quero fazer agora.

— Agora? – Eu sabia muito bem o que ele queria com aquele sorrisinho malicioso.

— Aham. Você não tá a fim de comemorar?

— Bom... – Peguei em seu rosto e puxei-o para um beijo. – Eu estou.

— Eu também estou... Muito a fim... – Me disse me dando um beijinho sensual no pescoço.

Eu não perdi tempo. Logo beijei sua boca e nossos beijos ficaram mais intensos, mais selvagens.

Fomos dando uns passos até minha cama, na qual ele me deitou suavemente enquanto pesava o corpo sobre o meu.

— Ei... – Ele parou de me beijar. – Tem certeza que ninguém vai chegar de repente?

— Tenho. Você sabe que meus pais estão vivendo uma segunda lua de mel. Só voltam daqui uns dias.

— Verdade. Foi bom eles terem te deixado sozinha né? Sinal de que confiam em você.

— É, mais ou menos. Minha tia vem dormir aqui todo dia. Acho que é para eles terem certeza de que eu não vou convidar outra pessoa para dormir aqui.

— Hum... Que pessoa é essa? – Ele me olhou brincando. – Espero que esteja falando da Rosalya ou de alguma outra amiga...

Eu dei uma gargalhada. – Quem você acha?

— Sei lá... De repente você convida um loiro, alto, inteligente, olhos cor de âmbar...

— Nossa! Que alta autoestima, hein?

— Fazer o quê? Você me deixa assim.

— Você se esqueceu de dizer bonitão, simpático, cheiroso... – Cheirei o pescoço dele e ele sorriu. – Com o sorriso mais lindo que eu já vi... Gostoso... – Apertei as nádegas dele por cima da calça e ele riu. – Que tem essa risada que me faz ficar cada dia mais apaixonada e... O homem que eu amo com todo meu coração. – Suspirei olhando para ele. Ele merecia esses elogios e muitos mais. – É esse quem eu quero convidar para ficar aqui comigo.

— É esse é? E você vai convidar?

— Pensei que já estivesse mais que convidado.

Ele sorriu lindamente e me deu um beijo de tirar o fôlego, para depois dizer:

— Considere o convite aceito.

Voltamos a nos beijar... E logo a razão estava dando lugar ao tesão.

Não era mais nossa primeira vez, mas era a primeira vez que fazíamos isso no meu quarto. Quando o Nath tirou a roupa era como ver meu mais secreto sonho erótico virando realidade. A fantasia e o desejo tomaram conta de mim e eu não me contive, distribui beijos por aquele corpo nu enquanto suas mãos faziam o favor de me despir também.

Em seguida estávamos nos amando. Protegidos e seguros sim, mas como se não houvesse amanhã. Era forte, era intenso, era quente... O calor da nossa paixão, a cama a ferver e nossos corpos a incendiar. Era sempre assim quando fazíamos amor. Sim, amor, porque sexo é outra coisa. Sexo é carnal, apenas, amor é quando além da carne está em sintonia a alma. E nossa alma, eu sei, estava em total sintonia. Assim como nossos corações em sincronia e creio que até nossa respiração e o sangue fluindo mais rápido em nossas veias.

Tudo que eu sentia, além de tudo que sentia, é que era lindo, muito lindo, estar ali com ele. Só nós dois e o sentimento. E na hora de chegarmos ao ápice disso tudo eu nem sei do que eu mais me lembrava... Fogos de artifício? Um vulcão em erupção? Não sei, só sei que era lindo... E quente! Muito quente!

...

Ao final, minutos passados e nossa respiração voltando à normalidade, acabei por me lembrar da surpresinha que havia comprado para ele... Ou para mim... Melhor, para nós.

— Ai... Não acredito!

— O que foi? – Ele me perguntou quando eu pareci desapontada. – Não gostou?

— Quê? Não é isso... Claro que gostei. Foi bom demais.

— Então?

— Ah, eu... Eu queria te fazer uma surpresa... Uma coisinha especial...

— Meu amor, você é o que há de mais especial pra mim.

— Oh, Nath... Que lindo!

— Mas, agora fiquei curioso. Que coisa?

— Eu queria te mostrar um baby-doll que comprei. A Rosa disse que você ia gostar.

— Ah, é? Foi a Rosa quem te vendeu?

— Não, eu comprei sozinha. Mas, mostrei a ela pra pedir a opinião. Se quiser eu ainda posso vestir pra você ver...

— Ah, veste. Eu quero ver.

— Espera um pouquinho lá fora então, enquanto eu visto.

— Mas... – Ele levantou os braços em dúvida. – Por que eu tenho que esperar lá fora? Não tem lógica nenhuma...

Virei para ele com aquela cara de “me obedece, por favor.” Acho que ele entendeu, pois vestiu a cueca e saiu do meu quarto dizendo: - Tá bom, tá bom, já sei... Mulheres gostam dessas surpresinhas né? Tudo bem, já tô indo.

Sério, eu sou muito sortuda. Quem não queria ter um namorado como o Nathaniel? Fui me vestir enquanto ele me esperava do lado de fora do quarto.

— Vem cá... – Ele indagou batendo na porta, mas ainda do lado de fora. – Como que a Rosalya sabe que eu ia gostar de te ver com um baby-doll novo?

— Ah, amor, a Rosa é minha melhor amiga, eu contei umas coisinhas a ela...

— Você andou contando sobre nossa vida íntima a Rosalya?

— E ao Alexy também. Lembra que ele me pediu detalhes?

— Você... O que exatamente você contou a eles?

— Nada demais, Nath. Não se preocupe que eu não contei detalhes como o Alexy queria, apenas o essencial.

— O essencial? E o que é o essencial?

Comecei a recordar comigo mesma o dia em que estive conversando sobre meu namoro com o Alexy e a Rosalya...

... ... ...

— Eh! Reunião! – O Alexy comemorava comigo e com a Rosa quando entramos no quarto dele.

— Até que é arrumadinho o seu quarto, Alexy. – Rosa comentou.

— Hoje, querida. Porque quando o Armin entra aqui fica parecendo que passou um furacão. Mas, hoje ele saiu com nossos pais e por isso eu marquei a reunião dos Best Friends Forever! E você sabe o que queremos saber, não é, Rosa?

— Ah, é! Com certeza! – Os dois olharam para mim.

— Que foi? Por que estão me encarando? – Me fiz de desentendida.

— Nem pense que vai fugir, Anna. – A Rosa ordenou. – Você vai nos contar tudo hoje mesmo. Já se passaram vários dias depois de toda aquela loucura da Melody e já está na hora de você nos falar como está o seu relacionamento.

— É, vocês têm razão. – Eu sabia que eles não desistiriam nunca, então concordei. – Eu vou contar tudo. Podem perguntar.

— Sério? Simples assim? Não vou nem precisar propor verdade ou desafio? – O Alexy indagou.

— Não, Alexy, não precisa, é sério, podem perguntar.

— Ok. – Rosa começou e nós três nos sentamos. Cada um perguntava por vez. – Primeiro: como estão depois de tudo que houve? Digo, do que a Melody fez...

— Nós estamos bem. Acredito até que melhores que antes, porque ficamos mais unidos depois de tudo e com mais certeza do amor que sentimos um pelo outro.

— É verdade que ela tá numa rehab intensa? – O Alexy perguntou.

— Bom, nós ficamos sabendo que dentro de um ano ela deve voltar a estudar e ter uma vida social, mas ainda continuará o tratamento. Sim, ela foi para uma clínica durante um tempo, mas agora faz só o acompanhamento psicológico.

— Você guarda uma mágoa dela?

— Sabe que não. Eu fiquei com muita raiva quando aconteceu, quando ela me chantageou e depois quando me atacou lá na biblioteca, mas hoje em dia... Não, não tenho porque ter rancor. Ela precisava de ajuda, só isso. E tanto o Nath quanto eu esperamos, de verdade, que ela melhore.

— Tudo bem, vamos deixar o assunto Melody de lado, vamos esquecer. – O Alexy se pronunciou. – Agora vamos para nossa pauta principal, seu namoro.

— Pauta principal? Você é mesmo o Alexy ou a Peggy disfarçada? – Brinquei.

— Nem brincando eu sou a Peggy, eu sou muito mais simpático que ela! – Respondeu cínico. – Só que também sou muito mais curioso, você nem imagina. Vai, conta pra gente... Como o Nath é como namorado?

— Ah... Como assim?

A Rosa suspirou. – Não me diga que não sabe dizer! Fala como ele é... Assim, por exemplo, se ele me fizesse essa pergunta sobre o Leigh eu diria que ele parece ser um cara sempre sério, centrado, calado... Mas, quando estamos a sós ele é romântico, atencioso e sensual. É isso.

— Ah, tá... Bom, o Nath é... – Suspirei sem querer e eles soltaram um grande: - Oh! – Continuei: - Para, gente! O Nath é daquele jeito sério e sempre correto que vocês conhecem, mas quando estamos a sós... Digamos que ele solta as rédeas.

— Como assim? – Os dois indagaram ao mesmo tempo.

— Ele meio que vira um espírito livre, sabem... Ele é romântico, atencioso, um perfeito cavalheiro, mas ao mesmo tempo fica tão... Sexy! – Acabei mordendo os lábios pensando nisso.

— Hum... Sexy? – Alexy comentou. – Que inveja! Queria ter um namorado também.

— Ah, ah, você vai achar alguém, Alexy.

— Quem eu quero não me quer. Fazer o quê? Mas, não vai faltar pretendente quando eu sair à luta, afinal, falem a verdade... Eu sou uma gracinha, não sou?

— Claro que é! – Nós duas falamos ao mesmo tempo.

— Ok, ok, continuando... – Rosa interrompeu. – Você disse que o Nath fica sexy quando vocês estão a sós. O quão sexy ele fica?

— Ah... Muito sexy.

— Muito, tipo?...

— Tipo... Ah, é melhor vocês verem pra saber o que eu tô falando. – Peguei minha arma secreta. Apesar de todos os problemas, as chantagens da Melody tinham me dado uma boa ideia. Peguei meu celular e mostrei uma foto secreta do Nath para eles. Os dois ficaram boquiabertos quando viram e o Alexy foi logo pegando meu celular da minha mão no maior escândalo.

— Gente do céu! Ele tá pelado!

— Não dá pra ver nada, Alexy, a toalha estava cobrindo.

— É. Só na frente! Gente!... – Ele continuava olhando para o celular meio hipnotizado. Também, não é pra menos. Eu havia tirado uma foto do Nath saindo do banho, no momento em que ele colocava a toalha. Foi de um dia em que voltei ao apartamento dele e, claro, foi muito bom.

— Você não disse que queria uma foto do Nath pelado? Tá aí. – Falei.

E o Alexy foi logo pedindo: - Você tem que me passar isso. Liga o Bluetooth.

— Não, senhor. – Peguei o celular de volta. – Ele é todinho meu. Fique apenas com a imagem em sua mente.

— Ah! Injusta! Dá e depois tira. – Ele cruzou os braços e fez bico se fazendo de chateado.

Depois de algumas risadas, a Rosalya me perguntou:

— Amiga, isso quer dizer que vocês dois já...

— Já. É... Na verdade, quando tirei essa foto já era a terceira vez que a gente...

— Não! Terceira? – Ela riu. – Safadinhos vocês dois, hein? Comigo e o Leigh não foi tão rápido.

— Não?

— É... Pra falar a verdade, foi. Mas, depois, a segunda vez demorou bastante, porque ele é muito romântico mesmo e disse que era melhor esperarmos para ver se éramos almas gêmeas.

— Ah, que fofo! – O Alexy exclamou. – O Nath também é assim, Anna?

— Um fofo? Claro que é!

— Não! Tô perguntando se da primeira vez para a segunda demorou muito ou vocês foram rapidinhos?

— Ah! Não... Demorou um pouco por causa do que a Melody fez né? Mas, depois que o Nath tirou os pontos do braço, nós ficamos no apartamento dele, super felizes e aí... Rolou.

— Hum!... – Os dois fizeram ao mesmo tempo e a Rosa aconselhou:

— Vem cá, mas vocês estão sendo conscientes né? Sempre usando camisinha...

— Sim, com certeza. Nunca esquecemos.

— Melhor assim. E outra coisa... Vocês só transaram no apê dele ou em algum outro lugar já?

— Não, ainda não tivemos a oportunidade de ficarmos a sós em outro lugar.

— E onde você gostaria que rolasse?

— Ah... Acho que no meu quarto, seria um sonho...

... ... ...

E era justamente o que estava rolando. A realização de um sonho. O Nath comigo, no meu quarto... Ops! Preciso deixar ele entrar primeiro.

— Pronto, Nath. – Abri a porta e deixei-o me ver com meu novo baby-doll vermelho.

Ele ficou olhando para mim com uma expressão indecifrável. Eu não sabia se ele tinha gostado ou não.

— É... O que achou? – Perguntei.

Ele não tirava os olhos do meu corpo, até que eu falei e ele olhou em meus olhos. Sorriu, mordeu os lábios e disse:

— Eu... Não sei se vou conseguir expressar o que estou sentindo em palavras...

— Então?

— O que posso dizer? Você está tão maravilhosa... Tão sedutora, tão linda, que eu... – A respiração dele parecia fora do normal. Ele estava ficando ofegante sem que eu nem tocasse nele.

Olhei de relance para sua cueca e vi o volume imenso que já havia ali e entendi o que ele estava sentindo. Cheguei bem junto a ele, para ele sentir o tecido do baby-doll roçando em sua pele e sussurrei:

— Só me diz o que você quer. Só isso.

Ele pôs as mãos em minha cintura e sussurrou de volta:

— Você está maravilhosa, de verdade... Mas, eu só quero uma coisa agora... Tira logo esse baby-doll.

É. Ele gostou mesmo do que viu. E me demonstrou isso, várias e várias vezes durante todo o dia.

...

...

...

Dias depois...

Era o último dia de aula, e na verdade já nem tinha mais aulas, Nathaniel e eu estávamos organizando a famosa aula da saudade. Nós dois ficamos até a noite na escola. De manhã e à tarde outros colegas nossos ajudaram na organização, mas à noite ficamos só ele e eu, já que ele havia sugerido meu nome para representante no lugar da Melody, prometendo que seríamos éticos e profissionais quanto às decisões do grêmio, independente de sermos um casal. E estávamos sendo bem profissionais... Até hoje.

Quando terminamos os preparativos para a festa do dia seguinte, estávamos exaustos. Só havia sobrado a gente e como já não havia mais nada para fazer, decidimos ir descansar na biblioteca.

É lógico que um casal quando sozinhos, nunca descansam. Nós escolhemos um lugarzinho confortável e nos sentamos juntinhos. Beijo vai, beijo vem, carícia vai, carícia vem... Logo nem sentíamos mais o cansaço, só o calor da nossa paixão.

E foi aí que vimos que não dava para controlar. Descobrimos mais algo em comum: o quanto nós dois gostávamos daquele silêncio na biblioteca.

E enquanto o silêncio era quebrado pelo barulho dos nossos corpos, nossos sussurros e gemidos, eu recordei brevemente a minha conversa com o Alexy e a Rosa...

... ... ...

— E onde você gostaria que rolasse?

— Ah... Acho que no meu quarto, seria um sonho...

— Ah, em outro quarto, amiga? Você não pensa em outro lugar diferente?

— Que outro lugar?

— Tipo... Eu não deveria contar, mas... O Leigh e eu já transamos dentro da loja.

Alexy e eu ficamos boquiabertos e ele comentou:

— Tô chocado! Quantas vezes eu já entrei naquela loja sem nem suspeitar disso? Agora nunca mais será igual! Quando eu entrar lá toda vez vou ficar imaginando onde vocês fizeram aquilo. Foi no provador, não foi? Já sei! Atrás do balcão...

— Para, Alexy! – Ela o empurrou, rindo. – Foi só uma vez, mas... Nossa! Que loucura boa!

— Fiquei com mais invejinha ainda. O lugar mais inusitado em que cheguei mais perto de ficar com um carinha foi na minha antiga escola. Mas, a gente nem tinha nada, só ficamos trancados no armário do zelador por acidente. E aquele armário era muito apertado mesmo.

Rosa e eu caímos na gargalhada. Depois eu respondi a pergunta dela.

— Olha... Tem um lugar sim que eu me imagino com o Nath, mas... É impossível de se realizar.

— Ora, por quê?

— Porque a escola teria que estar vazia. Principalmente, a biblioteca...

... ... ...

É. Estava acontecendo. Aprendi a nunca dizer que é impossível.

Poderiam chamar de fetiche estranho, tanto faz. Mas, era indescritível o quanto estava sendo bom realizá-lo.

Sei que o Nath também gostou. Senti isso no arrepio do meu corpo junto ao dele. No final das contas, queríamos as mesmas coisas... Tínhamos os mesmos desejos, mesmos sonhos, mesmos prazeres. E enfim, nós dois amávamos ficar sozinhos naquele silêncio gostoso da biblioteca.


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Notas finais do capítulo

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FIM
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Obrigada a todo mundo que acompanhou. Até a próxima.
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