—Onde você pensa que vai mocinha?
A voz calma e doce pergunta me fazendo parar, abaixo minha cabeça encarando a pequena menina que me olhava com um olhar autoritário, de braços cruzados e batendo um dos pés no chão, impaciente
—Não sou eu quem deveria perguntar isso?
Pergunto a baixinha que ri
—Você é muito fofa sabia?
Acrescento de forma gentil tocando na cabeça da criança com carinho
—Obrigada
Ela agradece com sua vozinha infantil
—Qual seu nome?
Pergunto me abaixando para ficar de sua altura, a esta hora eu já havia me esquecido completamente do compromisso que teria ao fim do dia e que estava por me tirar o sono desde o início da semana, fora esquecido também os pensamentos que me aflingiam durante todo o caminho até aqui, o celular no bolso do casaco, o relógio no pulso, a sapatilha que antes incomodava, a pequena bolsa que carregava mais do que poderia suportar...
—Mamãe diz que não posso conversar com estranhos
A menininha diz me arrancando uma risada
—Quem começou foi você
Digo depois de pensar e trocar "me abordou" por "começou", a pequena provavelmente ainda desconhecia aquela palavra
—É verdade
Ela concorda balançando a cabeça em sinal positivo e rindo alto, se pessoas passassem ali naquele momento com certeza sua risada lhes chamaria a atenção
—Qual seu nome?
Ela pergunta com um sorriso travesso
—Eu perguntei primeiro
Retruco de forma infantil, me esquecendo que já não era criança a muito tempo
—Mas eu quero saber o seu primeiro
Ela rebate cruzando os bracinhos um tanto nervosa, eu deveria ficar irritada? Porque a única coisa que me passara na cabeça durante aqueles segundos fora como aquela menininha era extremamente fofa. Balanço minha cabeça de um lado para o outro sorrindo da situação
—Olivia
Por fim respondo, satisfazendo a vontade da criança que agora tinha os olhinhos ainda mais brilhantes
—Agora posso saber o seu?
Questiono de forma leve e gentil enquanto tocava sua bochecha rosada, ela assentiu de maneira afobato
—Olivia
Respondeu com um sorriso grande e luminoso, eu não pude conter minha surpresa
—Quantos aninhos você tem?
Perguntei querendo tudo, menos terminar minha conversa com a garotinha
—Eu sou você
Ela disse desviando de assunto e me deixando confussa
—Como disse?
Indaguei na ideia de que ela me explicasse
—Eu sou você, você criança
Ela respondeu sorrindo mais uma vez e mexendo as mãozinhas, como se suas palavras não fossem o suficiente para me explicar aquilo que desejava dizer
—Sim, eu já fui uma criança assim como você, mas você  é muito mais linda
Digo sorrindo e tentando arrumar meu cabelo que o vento teimava em bagunçar
—Não não
Ela retruca levantando o pequeno dedo indicador e fazendo sinal negativo
—Eu sou
Ela diz apontando para si mesma
—Você
Continua a frase, desta vez apontando para mim
Sorrio tentando segurar sua mão mas ela é mais rápida e me impede de completar o ato. Ela estava por me deixar confusa mas isto não era algo que me surpreendia, a pequena parecia ser bem jovem, provavelmente ainda não dominava bem as palavras. Preferi não a pressionar, não havia necessidade de deixa-la irritada por algo tão bobo, apenas sorri assentindo, como se tivesse entendido, ela repetiu meus movimentos e riu alto
—Eu quero brincar com você
A pequena Olivia diz com uma voz manhosa
—Me desculpe mas eu preciso
Começo a dizer
—Por favooooor
Ela me corta implorando e juntando suas mãos, quase que ficando de joelhos
—Tudo bem
Concordo, onde que eu estava com a cabeça? Eu provavelmente já estava bem atrasada, teria um dia cheio e estressante e o que eu estava fazendo? Brincando com uma menina desconhecida. Eu não me arrependia nem um pingo disto
—Do que vamos brincar?
Pergunto ao mesmo tempo em que um barulho alto começa a soar fazendo com que ambas nos assustassemos, olhei para os lados alarmada procutando pela fonte do barulho até que me lembrei, ela estava no meu pulso, puxei a manga do casaço mais acima encontrando meu relógio e acabando com o som, este que estava ali para me avisar do primeiro compromisso do dia, permiti que um sorriso triste rasgasse meus lábios, era hora de ir
—Eu sinto muito pequena mas eu estou extremamente atrasada
Digo mas não obtenho nenhuma resposta, arrumo novamente meu casaço, levantando então minha cabeça e percebendo que Olivia não estava mais ali
—Olivia?
A chamo, sem nenhum retorno
—Olivia pode vir, não vamos poder brincar
Continuo a dizer mas nenhm sinal da menininha
—OLIVIA
Elevo minha voz e continuo sem resposta alguma, olho em volta preocupada mas então sorrio ao vento, ela aparecera do nada, é claro que não perderia a oportunidade de sair do mesmo jeito. A menina provavelmente moraria em algumadas casas da rua, ela estava bem, e quem sabe no dia seguinte eu não pudesse passar ali mais cedo para brincarmos...Penso enquanto aumentava a velocidade de meus passos na intenção de chegar o mais rápido possível ao meu destino. E na medida em que eu caminhava ia deixando a menininha para trás, eu não sabia, mas Olivia continuava ali, escondida atrás de uma árvore grande sorrindo enquanto assistia eu me distanciar
—Eu espero que você volte para brincar comigo, talvez a futuro venha também para nossa brincadeira, e então estaremos todas reunidas