Capítulo Cinco

Titia Hanabi

Escrito por G. de Oliveira

Ao ouvir a irmã dizer aquelas três palavras, Hanabi ficou petrificada no lugar. Até então ela não sabia se era melhor ficar parada ou cair, mas escolheu ficar apenas parada. Diante do olhar preocupado da mais velha, ela abriu seu sorriso mais brilhante e a abraçou expondo toda a felicidade que a inundava. Hinata estava grávida e seria mãe pela primeira vez, seria uma mãe incrível, ela tinha certeza.

Aqueles olhos perolados brilhavam como nunca, até mais do que no dia do casamento dela com Naruto. Conhecendo a irmã, sabia que ela mal podia acreditar na vida que estava levando: casada com o amor de sua vida e grávida dele. Mesmo após um ano de casados, ela continuava sem acreditar que Naruto era realmente seu marido, a primeira pessoa que via quando acordava. Hanabi sabia sobre tudo isso, com toda certeza. Saber que sua irmã estava realizando todos os seus sonhos, era mais do que gratificante.

Hanabi, então, se tornou uma tia ansiosa. Andava pelos cantos falando para o pai o quanto treinaria com o sobrinho — ou sobrinha — e sobre como ensinaria tudo que a vida tem de bom a oferecer, o que, obviamente, deixou Hiashi irritado e a colocou de castigo — coisa que ela não obedeceu, porque no alto de seus dezessete ela não se via de castigo. Apenas ria das atitudes exageradas do pai sabendo que ele também estava ansioso, e feliz com um brilho nos olhos que ela não se lembrava de ter visto nos últimos anos.

Ela era uma ninja atarefada, sempre com alguma missão para cumprir. E por mais que quisesse pedir uma pausa ao Hokage, a possibilidade a fazia se sentir mal. Não queria dizer a vila desprotegida, portanto ela acabou alterando completamente sua rotina para que pudesse sempre visitar a irmã. Hanabi não gostava da ideia de se afastar de Hinata. Mesmo que tivessem problemas, elas continuariam correndo uma até a outra. Era um laço inquebrável.

Em sua nova rotina, ela acompanhou os enjoos da irmã e também conversavam muito sobre o bebê. Algumas vezes, também, saíam para comprar o enxoval, que para ela era a parte mais divertida. Compravam sempre cores mais neutras e se arriscavam vez ou outra num vermelho ou azul. No entanto, a primeira roupa de bebê que Hinata comprou foi de cor laranja, é claro, e Naruto quase se derreteu em lágrimas. Hanabi se encantava com o amor do cunhado, mesmo que nunca admitisse. Ele sempre se preocupava, se ela tossisse, ele já queria chamar Tsunade para interna-la ou se algum homem ficava no mesmo caminho que ela, Naruto já tinha um Rasengan enorme na mão — o que deixava Hinata irritada na maior parte do tempo e o fazia pedir perdão de joelhos. Mas acima de tudo, ele a amava e queria que todos soubessem que não havia ninguém melhor do que ela. Eles se completavam, e quando ela achou que não precisariam de mais nada, vem um bebê.

Todos na vila se comoveram com a gravidez de Hinata. Não havia uma pessoa ali que não estivesse feliz por ela e Naruto, o que era uma evolução considerando que, um dia, Naruto era o mais odiado em Konoha — talvez não tanto quanto os Uchiha, ela pensou. Todos sempre passavam e perguntavam sobre o bebê, como estava sendo, as dores e os enjoos. Hanabi gostava que todos pudessem estar em tal paz e agradecia ao cunhado por isso.

Quando, enfim, o pré-natal começou, Hanabi fez de tudo para conciliar suas missões com as consultas da irmã. Portanto, estava sempre presente. Naruto ficava enciumado mesmo se tratando de Hanabi. Eles sempre acabavam brigando pela atenção de Hinata, era inacreditável. E era ela, a própria Hinata, que deixava claro que havia o bastante dela para ambos e ainda sobraria. Bastava Sakura aparecer que eles se calavam e não brigavam se estivessem menos do que a cem metros do hospital. Nenhum dos dois seria estúpido suficiente para provocar a rosada.

Os meses foram se passando, e Hanabi cheia de missões para cumprir, portanto não esteve lá quando fizeram o primeiro ultrassom. Ela ficou triste por não estar lá, mas quando chegou e viu a irmã, ela contou que teriam um menino. Foi neste dia que ela chorou pela primeira vez, a felicidade estampada em seus olhos perolados e naquelas bochechas rosadas como costumavam ser quando era criança. Estava tão feliz por eles — tanto que abraçou Naruto como não costumava fazer.

Hanabi só tinha um problema com nome e sobrenome: Konohamaru Sarutobi. O infeliz vivia por perto de Naruto como se ele fosse um deus e isso queria dizer que ela tinha de aguenta-lo sempre. Ela só não podia negar que ele era tão cuidadoso e carinhoso quanto Naruto. Hinata havia se tornado uma mãe para Konohamaru e ele ficava rondando-a como se isso fosse mantê-la a salvo. Ele era irritante, muito, muito irritante.

— Esse menino vai ser muito forte, tenho certeza. — ele disse animado.

— Claro, desde que ele puxe à mãe e não ao pai-baka e ao tio-baka. — disse num tom doce, porém irônico.

Naquela altura, Naruto apenas ria de Hanabi e resmungava qualquer concordância do que ela dizia, no entanto, Konohamaru não estava acostumado com o jeito dela, menos ainda com as provocações que ela soltava. Sendo o pavio-curto que havia aprendido a ser com Naruto, ele começava uma discussão com a Hyuuga e isso se estendia por todo o dia até eles serem expulsos por um loiro estressado. Essa era Hanabi, e Naruto temia que seu filho acabasse tomando muito daquela atitude para si.

Hanabi estava voltando do mercado quando encontrou com Hinata e Naruto voltando de mais uma consulta. Eles contaram que estava tudo bem com Boruto. Pela primeira vez ela ouviu o nome do sobrinho, deixando-a desestabilizada. De alguma forma, ela esperava por uma homenagem, só não imaginou que ter isso de verdade a emocionaria tanto.

— Neji-nii-san deve estar muito feliz com isso. — ela disse, sorrindo. — Quem sabe assim Boruto nasce um gênio e puxa o lado materno?

Continuou provocando mesmo que estivesse contente. Ela queria tanto que Neji estivesse com eles. Hanabi sentia saudade e queria que ele pudesse presenciar a felicidade na vida dela e de Hinata. E, também, que ele pudesse fazer parte da criação de Boruto. Isso a fazia pensar em como queria que a família estivesse completa, em carne e osso. Mas eram só quereres e Neji não seria esquecido de forma alguma, ela sabia, porque Boruto saberia pela boca dos pais todas as histórias do gênio dos Hyuuga.

Foi numa de suas folgas prolongadas que Hinata resolveu passar o dia com ela e o pai. Estavam conversando animadamente na sala de casa quando Hinata levantou-se para pegar água e, de repente, desmaiou. Hiashi se desesperou, Ko queria leva-lo ao quarto e Hanabi ficou estática no meio do cômodo, a mente processando todas as possibilidades.

— Temos que leva-la a Sakura. — ela disse, tentando soar o mais racional possível.

Eles correram para o hospital, chamaram pela rosada que se responsabilizou pelo atendimento. Não puderam fazer mais nada, além de chamar por Naruto urgente. Em menos de três minutos ele estava no corredor, gritando que queria ver a esposa o mais rápido possível. Ao lado dele, Konohamaru o segurava, impedindo que entrasse na ala de atendimento sem permissão.

Hanabi observava toda aquela cena estática, ainda em choque. Ela não sabia o que dizer nem como agir mediante a situação. Hinata estava mal, ela estava doente logo nos últimos meses, na reta final da gestação. Estaria perdendo a irmã? Hinata iria deixa-la sozinha? Naruto e Boruto também? As possibilidades estavam chegando a sua mente com força, ainda que ela tentasse fugir com todas as suas forças. Aos poucos, o torpor foi embora dando espaço ao medo, a uma dor que ela não se lembrava de ter sentido. Naquele momento, ela chorava e rezava para que tudo ficasse bem.

Em algum instante, ela sentiu braços a envolverem. Era Konohamaru. Completamente diferentes, mas com imagens tão parecidas na vida de Naruto e Hinata, eles sentiam juntos o peso da situação.

— Você deveria estar com Naruto. — ela murmurou.

— Eu posso cuidar de vocês dois. — ele disse baixo e dando um leve sorriso de conforto.

Provavelmente foi naquele dia que eles deixaram de brigar e se tornaram tios de verdade. Só então compreenderam por que estavam ali, juntos, esperando por Boruto. Eram uma família, afinal de contas, e precisavam cuidar dela. Hanabi se deixou ser abraçada e acalentada pela pessoa menos provável no mundo, agradecendo aos céus por ele ser tão racional e centrado.

Alguns dias depois Hinata foi liberada. Desde então, Naruto não fazia mais nada além de cuidar dela, e Hanabi fazia questão de estar com eles todos os dias. Ficavam sempre de olho nela e dividiam as tarefas de casa. Com Konohamaru e até Kakashi ajudando, tudo foi ficando mais fácil. Naruto era um marido exemplar, carinhoso e prestativo, sempre atento a Hinata. Hanabi se perguntava se um dia encontraria um homem como ele que a amaria como se fosse a luz no final de um túnel sombrio e aterrorizante. Será que ele ao menos existia?

Enquanto acompanhava a irmã no final da gestação, ela se empenhava para ajudar no Clã. Seu pai estava mais nervoso ainda com a chegada de Boruto, o que o deixava desconcentrado e ela se via na obrigação de fazer alguns trabalhos burocráticos que seriam função dele. De qualquer forma, ela entendia o que estava acontecendo. Hiashi estava com medo e ela não podia culpa-lo, porque todos estavam. Medo este que só passou quando Hinata, enfim, estava bem, assim como Boruto que estava em seus braços.

Hanabi havia pegado uma missão na semana do nascimento do sobrinho, e acabou demorando a voltar. Quando retornou à Konoha, foi diretamente a casa da irmã e do cunhado. Com medo de acabar assustando o bebê, ela bateu à porta algumas vezes. Não ficou nem um pouco surpresa de ser atendida por Konohamaru com uma vassoura na mão e um pano na cabeça.

— Hanabi. Você voltou. — ele disse, estranhamente, corado.

— Hai. Onde está meu sobrinho lindo como a tia?

Ela viu o rapaz revirar os olhos, mas sorrir para ela e indicar o quarto no andar superior. Hanabi subiu na ponta dos pés, tomando cuidado para não assustar ninguém. Bateu suavemente à porta do quarto e ouviu a voz grossa de Naruto dizendo para que entrasse. Quando colocou apenas parte do corpo para dentro do quarto, encontrou Hinata adormecida e Naruto com um Boruto acordado e atento nos braços. Era cômico ver um homem enorme como Naruto com um embrulho tão pequeno entre suas mãos.

— Olha só, Boruto, sua tia chegou.

Hanabi entrou no quarto completamente e aproximou-se do cunhado. Ela chorava, mas era uma felicidade tão explosiva, seu coração preenchido de um amor que ela não conhecia. Quando colocou Boruto nos braços e ele a olhou com curiosidade, ela teve certeza de que estava completa em sua vida. Ele era uma cópia perfeita de Naruto, no entanto as bochechas coradas não negavam a linhagem Hyuuga. Boruto era tão fofo, além de ser o Sol inteiro dentro daquele cômodo. Se existia felicidade plena, para Hanabi, ela se chamava Boruto Uzumaki.

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