Erysimum escrita por Yubaba


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Gente, eu tô escrevendo e tô muito feliz por isso! AI ♥



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— Você tem ideia do quão infantil está sendo, porca?

A loira crispou os lábios, enquanto passava a vigésima camada de rímel nos cílios, transformando-os em garras negras, curvas e longas.

Sentada sobre a cama de sua melhor amiga, Sakura sondou atentamente cada movimento rígido que Ino fez, o sorriso forçado que ela deu para pincelar blush no côncavo das bochechas trouxe uma gargalhada à garganta da kunoichi, que severamente prendeu com um morder de lábios.

— Sabe que isso é um espelho e eu posso vê-la, certo? — ela disse entredentes, sem tirar o sorriso do rosto. — E pela sexta vez: eu já estou de saída.

— Você está me ignorando há dias!

Ino passou a língua pelos lábios e alisou a blusa até o abdômen à mostra. A expressão altiva.

— Não estou, não. Só que eu tenho uma vida, sabia? — o tom de voz irônico. — Inojin, clã, Sai e amigas que precisam de mim. Diferente de você. — Essa última parte foi um sussurro que Sakura não deveria ter ouvido.

A rosada estava indecisa entre rir e bater aquela cabeça loira contra a parede. Expirou fundo, levantando-se calmamente de seu lugar e se encaminhou para a saída, afastando-se do corredor para as escadas, até chegar ao salão de entrada. Pensou que parar de insistir faria a loira levá-la a sério. Conhecia Yamanaka Ino, e por isso não se surpreendeu em ouvi-la descer as escadas com certa pressa.

— Não vou insistir, se é assim que quer que seja — disse antes de levar a mão à maçaneta. Não se virou para olhá-la, mas Ino estava mais próxima. — Mas sabe que está sendo injusta, já que não me deu a chance de explicar nada.

O arquejo quase ultrajado fez com que Sakura se virasse para trás. A máscara indiferente de Ino caíra por terra, as sobrancelhas benfeitas estavam erguidas ao máximo, os olhos azuis brilharam com aquela afronta. Essa testuda!

— Oh, vejam, o título de destruidora de amizades é meu! — ela atirou as mãos para cima. — Pobre Uchiha Sakura, a Ino é uma pessoa horrível que não a deixa explicar porque ela simplesmente não dá a mínima pra ninguém que não tenha um sobrenome Uchiha, mas, ora vejam só, consegue manter contato com sua nova melhor amiga sempre, a digníssima madrinha de Uchiha Sarada, mas claro, Ino, A Ino infantil e boba, não pode sentir que deve seguir com sua vida como se nada tivesse acontecido, pois é infantilidade.

A antiga Haruno fechou cerrou o maxilar, mágoa fechando seu semblante.

— Você está sendo ridícula, porca.

— Não quero mais que me chame assim!

— Você está sendo ridícula, Ino — disse Sakura entredentes. — Eu também tenho uma vida! E eu nunca a deixei de lado, apesar de tudo. Nos vemos no trabalho, não nos vemos? Eventualmente saíamos, mas você simplesmente finge que eu não existo agora, recusa minhas ligações, até mesmo no hospital você não fala comigo! Eu não posso acreditar que isso tudo é por causa de Karin!

— Por favor — bufou a loira, revirando os olhos claros. — Eu não estou nem aí para sua amiguinha. Oh, aliás, ela ainda baba toda vez que seu marido está por perto ou você gosta tanto dela a ponto de ignorar isso?

— Se esse fosse o ponto eu não seria sua amiga também, não é? — rebateu a médica, irritada. — Não fale dela dessa maneira, é cruel, você sabe.

— Ah, quer saber? Que seja. — Ino escancarou a porta. — Eu tenho coisas para fazer e não vou perder meu tempo ouvindo você defender esta pessoa.

A Uchiha pôs-se na frente da loira, bloqueando a passagem.

— Karin foi boa comigo. Ela entendeu o que eu sentia e foi uma boa pessoa naquela época... Você sabe o que é perder alguém querido. — A diferença no timbre de Sakura fez Ino estagnar onde estava. — Me desculpa, eu sei que é uma péssima comparação, já que Sasuke estava vivo, mas eu não sabia. E eu sentia tanto medo de algo acontecer, dele nunca voltar, e Karin me ajudou mesmo que isso a magoasse, ela tinha sentimentos por ele e mesmo assim conseguiu ser gentil comigo. E, depois de muito tempo, me ajudou de novo com o parto de Sarada, eu podia notar que isso a afligia, mesmo que ela já tivesse entendido que Sasuke e ela... nunca... Karin nunca se negou a me ajudar. Eu a admiro e... e estimo da amizade dela.  

— Testa... — Ino disse quando notou as lágrimas escapando dos olhos verdes. — Você não pode se culpar por uma escolha que foi unicamente do Sasuke-kun. Ele escolheu você... sempre. E, no fim, eu não conseguiria vê-lo com mais ninguém.

— Eu sei, mas não posso deixar de sentir que a culpa é minha, de alguma forma —murmurou, secando o canto dos olhos. Um sorriso se fez lentamente. — Mas Karin não se tornou minha amiga porque me senti culpada, ela é ótima, você saberia se desse uma chance.

— Tch. — A Yamanaka cruzou os braços, depreciando. — Há pensamentos demais acontecendo dentro dessa testa enorme.

— É pra isso que ela serve. — A rosada soltou um riso pelo nariz e suspirou profundamente. — Não me ignore mais, por favor... Eu preciso de você, Ino-porca. Sempre precisei.

Os lábios da kunoichi se ergueram contra a vontade, num sorriso, mas reprimiu-o. Fitou os olhos verdes, mais brilhantes pelas lágrimas controladas, e inspirou, um peso saindo lentamente de seus ombros.

— É claro que você precisa — disse com falsa indiferença, checando as unhas pintadas de magenta enquanto o clima mais leve trazia conforto para dentro de si.

— Ne, você não sabe como é difícil ser a melhor e mais popular médica do mundo shinobi sem que a segunda melhor esteja ao meu lado.

Sakura encolheu com o beliscão ardido em seu braço, mas não deixou de perceber o sorriso pequeno de Ino se alargando.

— Sua testuda desprezível. — E então abraçaram-se fortemente.

 A antiga Haruno sentiu o coração mais leve. Ino estava igualmente aliviada, apesar de ainda ter um pequeno amargor, quase uma sensação de perda, no fundo do âmago. Mas se Sakura foi até ali é porque a Yamanaka era importante em sua vida, certo? Como não, Ino havia sido a primeira referência de garota-modelo da Uchiha, assim como a loira secretamente invejara o desenvolvimento — árduo, porém muito bem-sucedido — de sua eterna rival e melhor amiga a cada ano que se passava. E não seria Karin que destruiria o companheirismo, a competitividade e forte admiração que ambas kunoichi tinham uma pela outra. Nem Karin, nem qualquer um que entrasse na vida de Sakura ou Ino.

— Veja por esse lado, você ainda é a beldade de Konoha.

— E, convenhamos, deste prazer você nunca poderá saborear — Ino disse, afastando-se e sorrindo maliciosamente.

— Vaca.

Sakura sorriu. A base desta amizade fora feita tão cedo, e mesmo que uma pequena rachadura tivera se formado com o antagonismo — antigo e fútil —, fora algo tão fugaz se comparado a todos os bons momentos. A rachadura, afinal, serviu como uma janela que permitia uma amena brisa transcorrer entre essa amizade, uma válvula de escape para a adversidade das vidas que escolheram.

Esse vínculo, no fim, era feito de rocha. Nunca poderia ser quebrado tão facilmente.

— Para onde você vai deste jeito, no fim das contas? — Sakura perguntou, olhando de cima a baixo o modelito curto e justo da amiga.

— Oh, bem, eu não havia planejado ir a algum lugar — fungou. — Mas ver que sair sem você te afetava fez com que eu quisesse fazê-lo.

— Kami, você é mesmo uma vaca, sabia? — A médica riu, irritação leve fazendo sua têmpora tremular. A loira simplesmente deu de ombros, como se sua atitude não fosse questionável e cruel. — Bom, eu sou uma idiota mesmo, mas gostaria de almoçar lá em casa? Sarada está com meus pais e Sasuke provavelmente só chegará amanhã à tarde, tirei o dia para mim.

— Eu cozinho — ofereceu-se de imediato, passando pela soleira e fechando a porta assim que Sakura saiu. — Já basta de comida insípida e sem textura, eu tenho pena de sua família por terem que comer o que você faz. — Ino levou os olhos à amiga, estranhando que esta não rebateu sua provocação com um comentário ácido. Analisando-a, percebeu apreensão relampejando no verde das íris, assim como os lábios presos pelos dentes. — O que há?

— Karin — a rosada disse. — Ela também estará lá.

Ino estacou, observando-a com os olhos em fenda, a rosada prendeu os lábios, aguardando sua explosão. Apertou as chaves dentro da palma e deixou de encarar Sakura, fitando o jardim de seu quintal, tentando conter a inconsciente aversão. Sua atenção pairou sobre pequenas flores amarelas, florindo delicadamente em seu arbusto, e não pôde deixar de sorrir.

— Bem, que seja — disse, voltando-se para Sakura e dando de ombros. —, eu é que não vou perder a oportunidade de ouvir e contar alguns detalhes sórdidos de nossas vidas sexuais porque tem uma intrusa na sua casa.

— Você é absurda e pervertida — Sakura gargalhou, os olhos verdes mais abertos em surpresa. Acreditou piamente que Ino faria algo semelhante a uma 5ª Guerra após a notícia. — Eu acho que tem coisas mais interessantes e menos indiscretas para se conversar.

— E tem coisa mais interessante que saber que Uchiha Sasuke, o estoico cubo de gelo, transa, verbo presente, com Uchiha Sakura? Porque, sério, ainda é uma coisa incrível se você pensar bem.

— Como se Sai fosse um garanhão que exala erotismo por onde passa, certo? Eu vou me manter calada.

— É melhor — disse a loira, sorrindo afetada.

— E faça-nos um favor: mantenha esse tópico fora das conversas de hoje — Sakura gemeu, cruzando os braços e começando a caminhar. — Eu não quero que você assuste Karin com essa mente suja.

— Tch, você é pior que eu nisto, como ela se assustaria?

Sakura crispou os lábios, corada.

— Não chegamos a este ponto, porca-estúpida.

Sakura e Karin eram amigas, mas não melhores amigas. Empurrando a rosada com o ombro, Ino sorriu, pensando em como aquilo lhe soara bem. Respondeu, ainda sorrindo:

— Então ficarei em silêncio, testuda.


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Notas finais do capítulo

Eu tava conversando com uma miga sobre o Gaiden e, conversa vai conversa vem, ela soltou: Como será que Ino se sentiu com essa amizadinha com a Karin, será que ela ficou tipo “its okay” sobre esse negócio de parteira (já que a Ino tb é médica e tal) madrinha(deduzimos isso porque Karin tem o cordão umbilical da Sarada, geralmente padrinhos, quando não os próprios pais, ficam com essas lembranças)?

Daí QUASE MORRI, porque, puta que pariu, ela deve ter surtado! A Ino é possessiva, do tipo “ninguém pode importunar, só eu”, ai que amor. Inclusive, shippo. Friend e relationship, que isso fique entre nós.

Erysimum é uma florzinha amarela/laranja muito fofa e significa amizade nascida em adversidade. A cara delas, né nom?

Me digam o que acharam, porfa
Volto quando vocês menos esperarem!