Cinderela Teresa escrita por Lola Carvalho
Os dias se passaram, mas nada havia mudado.
Teresa e seus irmãos ainda trabalhavam como servos das duas meninas enjoadas, que de enjoadas que eram, não suportavam nem a simples tarefa de calçar seus grandes sapatos antes de saírem de suas camas, pela manhã.
Às segundas-feiras, o sr. Lisbon tinha aula de arco e flecha com o respeitado caçador Samuel Bosco, que se compadecia das quatro crianças e as ensinava escondido como atirar para se defender ou para ter uma boa caça.
A limpeza da biblioteca era feita todas as quartas-feiras, no mesmo dia que as meninas mimadas tinham aula de escrita e leitura com o perseverante professor Kimball Cho.
Lorelai e Erica não eram muito inteligentes, e por isso levavam quase cinco vezes mais de tempo que uma outra pessoa qualquer levaria para aprender uma lição.
Ao final das aulas, o professor Kimball, que se compadecia da pequena Teresa e seus irmãos, dava uma pequena aula e uma tarefa para ser entregue na próxima semana para os quatro, e tudo muito escondido para que a terrível madrastra e suas duas filhas não soubessem.
Às quintas-feiras, as meninas desastradas, tinham aula de etiqueta com a professora Grace VanPelt, que também se compadecia das quatro crianças maltrapilhas, e os ensinava de maneira clandestina como se portar de maneira elegante e educada.
Às sextas-feiras, as meninas desengonçadas tinham aula de montaria com o professor Wayne Rigsby, mas a verdade é que passavam mais tempo no chão do que em cima do cavalo.
O professor Rigsby, apesar de medroso com relação à sra. Dana Lisbon, compadecia-se das quatro crianças e as ensinava montaria e a verdade é que eles aprendiam mais rápido que qualquer outro aluno que ele já teve.
Aos sábados o sr. Lisbon ia à cidade e, algumas vezes perguntava às meninas fúteis o que elas desejavam.
— Vestidos - dizia uma
— Jóias - respondia a outra
— E vocês? - ele perguntava ao seus filhos - Que vão querer desta vez?
— Um livro do primeiro autor que encontrar -respondiam eles
E o pai se ia à cidade.
— Ora, que ousadia é esta? - disse sra. Dana, assim que o sr. Lisbon já havia desaparecido na estrada - Por causa disto terão de ir cuidar dos porcos sozinhos!
— Mas está é uma responsabilidade dos adultos! Não conseguimos cuidar deles sozinhos - intercedeu Teresa
— Pois então terão de aprender! E é bom que nenhum porco fuja, senão… - ameaçou
Os quatro meninos foram até o chiqueiro, e eram instruídos pelos adultos, que não podiam ajudá-los, sob o que deveriam fazer.
Enquanto limpavam os porcos, Thomas descuidou-se ao deixar a porta do chiqueiro aberta, e um dos pequenos animais de pele rosada, saiu correndo, metendo-se no meio de um denso matagal.
— Oh não! Ela irá me matar! - lamentou o menino
— Não se preocupe. Eu irei procurá-lo - respondeu Teresa
Não foi difícil encontrar o pequeno porquinho, já que ele se divertia em uma poça de lama, não muito longe dali.
Teresa sabia que os porcos assustavam-se fácil, por isso foi cuidadosa ao aproximar-se dele. Quando estava prestes a pegá-lo, uma flecha atravessa as folhas, acertando um arbusto não muito longe de onde estavam Teresa e o porco fujão.
O barulho causado por esta flecha, fez com que o porco se assustasse e corresse para longe dali.
— Me atrapalhou a pegar minha caça! - gritou uma voz ao longe - A flecha teria acertado se não tivesse assustado o porco!
— Foi você que assustou o pobre porco com sua falha pontaria - acusou Teresa, ainda sem ver o rosto do caçador.
— Como é? - disse o rapaz aproximando-se de Teresa - Acha que eu não sei atirar?
Ao entrar no campo de visão da menina, o rapaz pareceu notar o olhar assustado e nervosismo que ela escondia tão bem.
“Deve ter se dado conta de com quem está falando” pensou ele.
— Não acho que não saiba atirar. Sei disso. O arbusto que você acertou não estava sequer próximo ao porco - respondeu sem pestanejar, com o coração acelerado.
— Bem - disse o rapaz surpreso - A maioria das pessoas não falariam neste tom comigo.
— A maioria das pessoas não deve saber que você mira terrivelmente mal, para um caçador.
“Então ela não sabe quem eu sou” raciocinou o rapaz, “Interessante”.
— E a srta. por acaso sabe o que sobre arco, flechas e pontaria?
— Muito mais que você, posso lhe assegurar!
Ele, achando graça no comentário da garota, estendeu seu arco e uma de suas flechas para que ela os pegasse.
— Então prove. Acerte aquela fruta - ele apontou para uma fruta, presa em uma árvore longe de onde eles estavam.
— Está bem.
Ela mirou e atirou utilizando-se das técnicas que aprendera com o professor Samuel Bosco.
O rapaz mal podia acreditar quando a flecha atravessou a pequena maçã, que caiu ao chão depois de ser atingida.
Teresa, sorrindo para o rapaz, correu até a fruta e retirou a flecha que a atravessara, entregando-os ambos nas mãos do caçador.
— Como fez? - perguntou
— Use sua boca como apoio e não deixe os ombros muito para cima - ela respondeu - Agora ajude-me a encontrar o porco que você espantou. Preciso dele vivo.
Depois de resgatarem o porco, Teresa saiu às pressas, esperando que o rapaz não a seguisse.
— Meu nome é Patrick, à propósito - gritou ele para a menina, que apenas sorriu em resposta - Não vai me dizer seu nome?
— Talvez na próxima vez
E tão rápido quanto ela surgiu, desapareceu em meio às espessas folhagens.
Porém, antes que pudesse chegar ao seu destino, lembrou-se de um acontecimento de quando sua mãe ainda era viva.
“ — Quero contar-te uma história - disse a mãe de Teresa
— Que história?
— Se lembra de sua avó?
— Sim. Sinto falta dela.
— É. Eu também - ela tomou entre suas mãos um colar que usava, tirou-o e colocou-o entre as pequenas mãos de Teresa - Eu ganhei isto da minha mãe quando tinha a sua idade. Ela disse que me reconhecia como uma mulher, mesmo que eu ainda não tivesse a idade de uma, e que ela sabia que eu agiria corretamente em todas as situações.
Teresa sorriu.
— Depois daquele dia meu pai escolheu com quem eu me casaria. Foi um momento mágico para mim, pois eu estava tão apaixonada por seu pai! - ela suspirou, olhando para cima - Teresa, eu te reconheço como uma mulher já. Você é forte, é linda e muito esperta - a mãe acariciou o rosto da menina - Quando chegar a hora de você se tornar esposa e formar sua família, lembre-se sempre de aproveitar ao máximo todos os momentos.
Teresa abraçou sua mãe e, agradecendo pelo presente, o colocou em volta de seu pescoço.”
Aquela havia sido a única coisa que ela havia conseguido guardar consigo, quando seu pai casou-se pela segunda vez.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Notas finais do capítulo
No próximo Capítulo...
Passado alguns dias, na terça-feira, o mensageiro do Rei percorreu todas as residências da vizinhança anunciando o baile do Príncipe, que convidava todas as moças em idade para se casar, solteiras, para que ele elegesse uma que seria sua esposa e futura Rainha.
O que estão achando da história?
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