Camp Paradise - Interativa escrita por Aninha


Capítulo 2
Prólogo I - Bem-vindo a selva, queridos


Notas iniciais do capítulo

*Desviando de todas as ameaças de morte, xingamentos e maldições*

Antes de mais nada: DEDICO ESSE CAPÍTULO E ESSA FANFIC A: Setembrina de Abreu por, mesmo sem saber, me motivar a voltar a escrever, me mostrando que minhas histórias marcam as pessoas. Muito obrigada por ter vindo falar comigo mesmo nós não sendo amigas na época ♥

OIE! Sim eu voltei *música de aleluia no fundo*. Eu sei, eu sei... Demorei pra caramba. Peço desculpas, mas final de ano vcs sabem como é - provas, trabalho, preguiça, pais enchendo a paciência...
Enfim, a música do capítulo é Welcome To The Jungle, dos Guns N Roses ♥

Para aqueles que n notaram, o nome da fic mudou assim como a capa ^.^

Espero que gostem :D



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Elizabeth Manson, Effy

‘’Uma para tristeza,

Duas para a alegria,

Três para menina,

Quatro para menino,

Cinco para prateado,

Seis para dourado,

Sete para um segredo

a nunca ser revelado.’’.

— A Garota no Trem, Paula Hawkins.

 

Minhas juntas doíam pelo fato de estarem muito tempo na mesma posição, mas eu não queria me mexer. Sentada ali, cercada pela natureza e pelo silêncio temia que qualquer movimento assustasse os animais, o que sabia ser impossível.

Era muito cedo para algum campista estar circulando por aí, até mesmo para mim. Mas entre ficar me remexendo na cama por mais duas horas ou me levantar, optei pela segunda opção ignorando o fato de eu estar de férias e que era apenas seis horas da manhã de uma sexta-feira. Saí silenciosamente do Chalé das Raposas com uma caneca cheia de café preto na mão e um caderno na outra, passei pelos portões da Vila e caminhei durante alguns minutos até o cais do Acampamento.

Suspirei ao erguer meus olhos e observar as árvores se balançando silenciosamente como se sussurrassem segredos uma as outras. Sorri de lado ao constatar que, como todos os anos, o topo das montanhas estava cheio de neve mesmo em pleno verão.

Bem-vinda à selva

Nós temos diversões e jogos

Nós temos tudo que você quer

Querida, sabemos os nomes

Nós somos as pessoas que podem encontrar

Tudo que você pode precisar

Se você tem o dinheiro, querida

Nós temos sua doença

Tomei um gole do meu café enquanto abria meu caderno. Passei a mão pelas páginas cheias de palavras, sentindo a textura das mesmas sobre meus dedos. Passei os olhos sobre algumas frases, alguns pensamentos meus, dando um sorriso triste enquanto procurava uma página em branco, pensando que muito em breve precisaria de outro caderno. Quando era menor eu achava aquele estilo de caderno uma coisa de garotas metidas e fúteis, mas conforme fui crescendo e os segredos foram se acumulando na minha cabeça percebi como podem ser úteis. A maioria dos segredos que carrego não são totalmente meus, mas me envolvem de forma direta. Minha Família possui mais segredos do que se diria saudável e conforme eu fui ficando mais velha eles foram sendo passados para mim. No começo não é tão ruim, mas conforme o tempo passa, conforme os segredos vão ficando mais sombrios, envolvendo pessoas que você conhece, lugares que você frequenta e sua necessidade de conversar com alguém sobre eles aumenta... As coisas vão ficando complicadas.

Apoiei o caderno de capa verde folha nos meus joelhos e olhei para a água imóvel e transparente do Lago, encarando as pedras escorregadias do fundo, pensando no que escrever. Lembrei de dois meses atrás, quando meu pai me chamou ao seu Gabinete, local estritamente proibido para mim. Lembrei-me da minha mãe andando de um lado para o outro, seus saltos batendo de forma irritante no piso escuro. Meu pai me mandando sentar de frente para ele e me encarando com uma estranha calma. De ele falar lentamente a história de nossa família, que basicamente diz duas coisas: 1. Nunca fique contra a família e 2. Sacrifícios são necessários. E por fim, lembrei-me de suas últimas palavras, que praticamente assinaram meu contrato com a morte.

Fechei os olhos com força. Meu avô sempre disse que a família vem em primeiro lugar, mas depois da conversa que tive com meus pais eu não tenho mais certeza. Não acreditei em nenhum dos seus pedidos de desculpas ou em suas frases encorajadoras. Eles não pensaram em mim quando assinaram todos aqueles acordos e tratados. Não pensaram nas pessoas inocentes que tudo isso envolve. Não pensaram em ninguém.

Um lobo uivou ao longe, anunciando que eram oito horas. Abri os olhos e pensei nos campistas que chegariam amanhã. Pensei nos Líderes e veteranos que já estavam no Acampamento, cada um vivendo na sua santa ignorância. Pensei no que faria se soubesse o que está por vir e fosse livre. Provavelmente aproveitaria bem mais do que eles. Perguntei-me se era pior saber ou não. Por fim decidi que divagar nos ‘’E se’’ não me traria nada. Eu sou o que sou e sei o que sei. E por mais que seja difícil eu tenho orgulho de ser quem sou do fundo do meu coração. Não vou dizer que é fácil e que nunca senti vontade de desistir, de acabar com tudo. Mas depois de tudo pelo que já passei e pelo o que ainda vou passar decidi que vale muito a pena viver.

Na selva

Bem vinda à selva

Assista ela te levar aos seus

Aos seus joelhos, joelhos

Eu quero ver você sangrar 

 O barulho de folhas sendo esmagadas algum tempo depois me alertou sobre a chegada de alguém. Fechei meu caderno sem ter escrito algo, tomei o último gole do café e me levantei pronta para enfrentar quem quer que esteja caminhando até a mim.

— Será que você nunca é pega de surpresa? — uma voz alegre e masculina vinda da floresta perguntou. Sorri ao reconhecê-la.

— Bem, não se pode dizer que você é o homem mais silencioso da face da Terra, não é mesmo Lucian?

Lucian Gonzalez, um veterano de dezoito anos do Chalé do Lobo e meu melhor amigo surgiu por entre as árvores, sorrindo. Lucian é bem mais alto que eu, o que constantemente o faz tirar sarro da minha cara. Tem um rosto com linhas brutas e um nariz um pouco grande. Seu cabelo é cacheado e castanho, assim como seus olhos. Sua pele é morena e seu corpo faz algumas garotas suspirarem. Vantagens de praticar esportes. 

— Engraçadinha. Vamos ver se você vai rir quando eu roubar sua bandeira.

— Vá sonhando, Cicatriz.

Lucian sorriu de lado e passou por mim, caminhando até a beira do cais onde se sentou com o all star a alguns centímetros da água. Fiquei parada no mesmo lugar até ele bater com uma mão no espaço ao seu lado. Resmungando, me sentei e olhei para a cordilheira de montanhas depois da floresta, balançando os pés como uma criancinha.

— Aliás, você está com meias diferentes — falei sem olhar para ele.

—Sério?— ele perguntou surpreso olhando para os pés.

Ri pelo nariz o que o fez rir também e logo estávamos rindo escandalosamente.

— Então, como foi seu ano? — perguntei enquanto massageava minhas bochechas.

— Bem, visitei meu pai em alguns fins de semana o que foi divertido. Entrei para o time de basquete do colégio, o que obviamente me trouxe muitas festas, amigos e ficantes. Na verdade, não aconteceu nada de especial. Ah, e como sempre Beth reclamou que você é muito má por não deixá-la entrar no Acampamento.

— A culpa não é minha se ela ainda não tem onze anos — falei.

— É, mas ela não liga para isso, apesar de que ela vai poder entrar no próximo verão. Enfim, como foram esses últimos meses em que você esqueceu de dar sinal de vida? — ele falou com um sorriso divertido.

Fiz uma careta.

— Nada demais.

— Ou seja, viagens pelo mundo, jantares chiques e festas com celebridades?

— Algo do gênero — falei, dando de ombros.

 Me senti mal por não estar contando a verdade a ele, mas logo tirei aquilo da minha cabeça acreditando que é melhor assim. Ficamos alguns minutos em silêncio, cada um perdido em sua própria mente. Lucian tem uma ótima mãe, irmãos engraçados e um pai divertido, além de um padrasto que faz a mãe feliz e uma meia irmã adorável. Ele tem uma ótima vida. Mas talvez diante da minha, regada a luxo e dinheiro a sua pareça sem graça. Eu trocaria um pai Primeiro Ministro ausente e uma mãe socialite que não aceita nada menos que a perfeição de bom grado se fosse para ter a vida de Lucian, nem que fosse por apenas um dia. Às vezes precisamos perder aquilo que temos para dar valor.

— No que está pensando?— ele perguntou me olhando.

— Em tudo e nada ao mesmo tempo — respondi o olhando também.

Lucian deu um sorriso e se levantou, estendendo a mão para que eu imitasse. Caminhamos lado a lado pelo caminho pelo qual ele tinha vindo.

— Achei que a Líder do Acampamento fizesse mais do que ficar horas e horas sentada olhando o nada usando uma camiseta com estampa de abacaxis — ele falou, entrando no carrinho do Acampamento.

— Claro que faço, Cicatriz. Eu durmo, como e te aguento o que por si só já é algo incrível — falei, sentando no banco do passageiro.  

— Hahaha, engraçadinha.  Também não é nada fácil te aturar Nah.

— Pelo menos eu coloco meias da mesma cor.

Lucian riu, ligando o carrinho e dirigindo em direção ao Refeitório. O vento fresco do verão fazia meus longos cabelos escuros balançarem como se tivessem vida, fazendo cócegas no meu nariz. O sol mostrava que era por volta das nove da manhã e a movimentação no Acampamento, por menor que fosse, confirmava isso. Os pássaros voavam e piavam animados com o início da temporada. O som de patas correndo era um aviso que os animais de grande porte acordaram depois de um cochilo e que seria prudente ficar longe da floresta. O som de vozes vindas do Refeitório informava que campistas famintos estavam prontos para comerem seus ovos mexidos. Remexi-me desconfortável no banco do passageiro, inconscientemente.

O Refeitório é um chalé de dois andares, com uma varanda circundando todo o andar térreo. Fica no lado leste do Acampamento, entre a Vila das Irmandades e o Lago.  Ao redor do Refeitório, um pomar e uma horta com várias mesas de piquenique proporcionam aos campistas um ótimo local para se alimentarem e conversarem sob as sombras das árvores. Uma escadaria leva a entrada de portas francesas e um ambiente com grandes janelas, sete mesas — cinco para os Chalés, uma para as Larvas e outra para os Líderes —, banheiros e nos fundos a cozinha. Uma escada em caracol leva ao segundo andar que é um local mais reservado e pouco utilizado.

Estacionamos o carrinho perto de algumas árvores e subimos as escadas conversando banalidades. Dentro do Refeitório alguns veteranos se serviam e caminhavam em direção à saída, para se sentarem em baixo das árvores. Na mesa dos Líderes, apenas Matthew Morningstar comia calmamente. Matt tem 1,90 de altura, mas, ao contrário de Lucian, ele não fica me irritando com isso. Olhos verdes, cabelos castanhos acima dos ombros, pele clara e um ar misterioso fazem com que o Líder dos Ursos seja alvo de muitas garotas, apesar de geralmente ficar na sua.

— Matt! — exclamei alegre, caminhando em sua direção. — Senti sua falta ontem à noite.

— Meu voo atrasou — ele respondeu simplesmente, enfiando mais uma colherada de cereal na boca.

— Como foi seu ano? — Lucian perguntou educadamente.

— Ah, o de sempre. Colégio–casa–colégio, com algumas festas e viagens no meio.

— Bem animador — Lucian falou, se virando em direção a mesa dos Lobos.

Sentei-me na minha cadeira, que é no centro da mesa e no lado direito de Matt, e passei os olhos rapidamente pelo Refeitório praticamente vazio. Suspirei e encarei o garoto de 17 anos sentado ao meu lado até ele decidir parar de me ignorar.

— O que foi? — ele perguntou, pousando sua tigela na mesa e me encarando.

— Eu que pergunto — respondi, o encarando.

Mas antes que o garoto pudesse se justificar, Jason Blood, o Líder dos Lobos, exclamou meu nome e veio em nossa direção, acompanhado de Lucian. Matt sussurrou algo como "agora não" e mordeu um pedaço de seu pão de forma.

— Olá Jason — falei, sorrindo cordialmente.

— Não vai me dizer que ainda não superou o banho indesejado no Lago, Effy. Faz quase um ano — ele falou, sorrindo cafajeste e sentando em seu lugar a mesa.

— É difícil superar quando você me lembra cada vez que nos vemos.

Jason deu de ombros, ainda sorrindo. Ele, Lucian e Matt começaram a conversar animadamente sobre alguma série de terror. Olhei mais atentamente para Jason, pensando quando o garoto magricela de doze anos se transformou num homem de 2 metros de altura, musculoso, com barba para fazer e um sorriso cafajeste. Reparei que ele havia raspado seu cabelo loiro nas laterais e que seus olhos azuis pareciam ainda mais penetrantes do que da última vez que eu o vira. Balancei a cabeça de um lado para o outro, suspirando com raiva de mim mesma por observar tanto aquele garoto.

— Effy? — Matt falou, chamando minha atenção. — Você não tem que dar as boas-vindas ou algo assim?

— Ah, claro — falei, sorrindo amarelo e me levantando, caminhando decidida até a frente da mesa dos Líderes. Os campistas que estavam no Refeitório foram aos poucos se silenciando e me olhando. — Sejam todos bem-vindos ao Acampamento. É ótimo rever todos vocês. Não se esqueçam de que os outros campistas chegam amanhã e que vamos ter uma reunião antes do almoço.

— Sim, Líder — todos falaram, voltando aos seus afazeres.

Bem-vinda à selva

Nós a enfrentamos dia por dia

Se você a quer, você vai sangrar

Mas este é o preço que você paga

E você é uma garota muito sexy

Que é muito difícil agradar

Você pode provar as luzes brilhantes

Mas você não vai tê-las de graça

Na selva

Bem-vinda à selva

Sinta meu, meu, meu chicote

Eu quero ouvir você gritar

— Falando em outros campistas e em reuniões... — Jason começou a falar de pé atrás de mim. — Acho que seu namoradinho estava te procurando.

— Acha? — perguntei séria me virando rapidamente para encara-lo.

— É, tem mais ou menos uma hora.

— O que?! E você só me fala agora? — perguntei com raiva.

Jason dá de ombros. Reviro os olhos e bufo, dando as costas a eles e caminhando apressada até a saída, não sem antes Jason bater na minha bunda. Depois resolvo isso.

— Effy, espera! — Lucian grita correndo atrás de mim. — Você não vai comer?

— Não tenho tempo para isso — falo, descendo a escadaria rapidamente e caminhando para um carrinho.

Lucian faz uma careta, mas não fala mais nada. Aceno para ele enquanto rumo em direção a Vila das Irmandades, na esperança de que Dylan não esteja com muita raiva.

Bem-vinda à selva

Fica pior todo dia

Você vai aprender a viver como um animal

Na selva em que jogamos

Se você tem uma fome pelo o que vê

Você vai tê-lo, finalmente

Você pode ter o que quiser

Mas é melhor não tira-los de mim

Telma Miller, Tel

 

Suspirei cansada. Aquela viagem parecia não ter fim e não estava mais tão segura se o Acampamento de fato compensaria tudo isso, afinal de contas eu estava há quase doze horas dentro de um trem. Tudo bem que as cabines são extremamente confortáveis e que os campistas do sul do país tinham bem mais direito de reclamar do que eu, mas mesmo assim aquela não estava sendo uma experiência de todo agradável.

Fechei os olhos com força pensando que estava assim apenas por estar com fome. O café da manhã ainda não tinha chegado a minha cabine, que fica quase no final do trem. Levantei e fiquei na ponta dos pés para alcançar minha mochila em cima do meu assento. Revirei tudo até encontrar meu celular e meu caderno de desenho. Abri a cortina da única janela, deixando a luz da manhã me atingir. Voltei a me sentar e olhei para o lado de fora, observando a floresta que nos rodeava e o céu levemente cinzento. Coloquei meus fones de ouvido e comecei a desenhar algo abstrato.

Na selva

Bem vinda à selva

Assista ela te levar aos seus

Aos seus joelhos, joelhos

Eu quero ver você sangrar

Enquanto desenhava, pensei em todas as minhas expectativas para aquele verão. Minha mãe, Suellen, me colocou no Acampamento com o intuito de que eu faça mais amigos, mas eu não sabia se poderia orgulhá-la. Imaginei que as pessoas não gostariam de fazer amizade com uma garota tímida que ama insetos... Ou gostariam?

Pensei em todos os programas que o Acampamento oferece: campeonato de esportes, dança, canto, vários estilos de luta, caminhadas, escaladas... Eu sentia como se estivesse indo para uma espécie de internato. Reparei nos campistas que passavam de vez em quando pela minha porta: todos pareciam animados, apesar do evidente cansaço por estarem sei lá quanto tempo em um trem.

Sorri lembrando todos os elogios que minha mãe tinha feito. "É um ótimo lugar Tel, com várias pessoas de sua idade", "Olha só todos os prêmios que ele já ganhou!" e "Pode ser uma oportunidade para você finalmente se encontrar". O Camp Paradise parece ser bem legal, mas eu não estava muito confiante disso. Todo aquele ar de mistério cercado por aqueles muros me intimidava de certa forma. Na internet, o site oficial possui inúmeros elogios e várias pessoas ricas e famosas inscreviam seus filhos para o verão, mas a falta de fotos e de algumas informações era no mínimo estranha.

Balancei a cabeça para afastar os pensamentos. Ficar pensando em todas as possibilidades não vai me ajudar em nada.

E quando você está no alto, você nunca

Nunca quer voltar pra baixo, tão baixo, tão baixo, tão baixo, yeah!

Minha barriga roncou. Decidi parar de esperar pela moça do carrinho de guloseimas e ir de uma vez até o vagão do refeitório, que é exatamente no meio do trem. Guardei meu caderno de volta na mochila junto com meus fones e saí, quase sendo atropelada por dois garotos de uns onze anos que passaram correndo. Caminhei silenciosamente e de forma rápida até o som de vozes animadas e o delicioso cheiro de café.

Entrei no refeitório e vi vários campistas sentados conversando e comendo, enquanto alguns funcionários levavam os pedidos até elas. Sentei-me sozinha numa mesinha para duas pessoas e peguei o cardápio pousado em cima da mesa. Ovos mexidos, torradas com tomates, pão com várias iguarias diferentes, café, achocolatado, suco, bolos, tortas... Uma moça jovem se aproximou de mim e anotou meu pedido. Olhei ao redor, observando todas aquelas pessoas interagindo de forma tão natural. Como elas conseguem?

— Com licença, posso me sentar com você? — uma garota com olhos cinza azulados e cabelo ondulado castanho claro perguntou de pé do lado do assento vazio a minha frente. — É que não tem muitos lugares sobrando e como você está sozinha...

— Ah, claro — falei mexendo no meu cabelo loiro.

— Muito obrigada — ela disse, se sentando. — Aliás, me chamo Dominique Lee Underwood e sou de Lake Tahoe, Califórnia.

— Telma Miller, Nova York.

Dominique sorriu e olhou para o lado de fora. Notei que sua pele brilhava levemente na luz do sol e que seus óculos redondos me lembravam do Harry Potter.  Ela começou a batucar na mesa e reparei que seus dedos são o que minha mãe chamaria de "dedos de pianista". Seu olhar de repente voltou em minha direção e corei por ter sido pega encarando-a. Dominique sorriu, não parecendo se importar e pegou o cardápio da mesa.

— O que você pediu Telma? — perguntou, enquanto lia.

— Pode me chamar de Tel. Um suco de morango e bolo de chocolate.

— Hum... É, acho que chocolate seria bom. Talvez um achocolatado e umas torradas?

Percebi que ela estava falando sozinha e sorri, pensando se quando eu fazia isso era tão meigo. Provavelmente eu parecia mais uma lunática do que fofa. Um homem se aproximou da nossa mesa e depositou meu pedido na minha frente. Dominique aproveitou e fez o dela. Quando ele se retirou ela deu um grande sorriso para mim e falou:

— Isso tudo não é o máximo?

— É, acho que sim — falei, tomando meu suco.

— Ah, vamos lá, Tel! Estamos indo para outro país passar as férias de verão, sem nossas famílias e com inúmeras aventuras no nosso caminho!

Ri balançando a cabeça.

— Você está bem animada para alguém que passou... Quantas horas no trem?

— Quase dois dias. Mas não estou focando muito nisso. Estou empolgada com o Acampamento! Estive pesquisando na internet, mas acho que você deve ter percebido que não se encontra nada de útil. Falei com alguns calouros e veteranos e nossa! Eles falaram tantas coisas incríveis!

— Tipo o que? — perguntei, sorrindo e me contagiando com a animação dela.

— Os Chalés parecem demais. A Vila das Irmandades... As Irmandades! Espero ser escolhida logo... Todos eles dizem que as coisas ficam bem mais divertidas depois disso.

— Irmandades? — perguntei, levemente zonza com tanta informação.

— Ah, você não sabia? — ela falou, surpresa. — Bom, eles não me explicaram tudo porque disseram que esse é o trabalho da Líder, então não sei muita coisa na verdade, mas pelo jeito tem cinco Irmandades e...

Você sabe onde você está?

Você está na selva, baby

Você vai morrer

Na selva

Bem-vinda à selva

Assista ela te levar aos seus

Aos seus joelhos, joelhos

Na selva

Bem-vinda à selva

Sinta meu, meu, meu chicote

Na selva

Bem-vinda à selva

Assista ela te levar aos seus

Aos seus joelhos, joelhos

Na selva

Bem-vinda à selva

Assista ela te levar aos seus

Vai te deixar pra baixo

Conversamos durante todo o café da manhã sobre o Acampamento e nossas vidas. Percebi que sempre que perguntava sobre sua família ou algo relacionado, Dominique dava respostas curtas ou mudava de assunto. Falei para ela que nasci no Brasil, o que a deixou encantada e mais animada ainda. Enquanto caminhávamos em direção a minha cabine fui bombardeada por perguntas. Acho que no final das contas eu tinha feito uma amiga. As coisas podiam não ser assim tão ruins...

Legal


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Notas finais do capítulo

Qualquer erro me avisem, por favor

Elizabeth Manson: https://lh3.googleusercontent.com/-UCzbi86rui4/Uitd7VXeXkI/AAAAAAAAARA/krlFDo3aVis/w1000-h1500/tumblr_m49hlzLDgx1qcyra0o1_1280.jpg

Mesas Refeitório ao ar livre: https://40.media.tumblr.com/a5cd92e64ce74656fa9a7d34dafe9b9d/tumblr_nl4e7iUS0B1u8ji4go2_540.jpg

Refeitório: https://40.media.tumblr.com/f175fd3cb06ce99a91e5774ebe344567/tumblr_nnoz46AmRx1u8ji4go2_500.jpg

Telma Miller: http://www.etvfictionseries.com/MovieStarPhotos/Ellen%20Muth,%20The%20Truth%20About%20Jane%20(2000).jpg


Refeitório Trem: http://portodenoticias.com.br/wp-content/uploads/2016/06/Belmond-trem-Peru-site.jpg

É isso! Espero que tenham gostado ^.^
Comentem ;)
Até.
XOXO,
Tia Mad.