Alice Longbottom definitivamente odiava a aula sobre História da Magia.

Pelo menos durante o quarto ano.

Ela encarava o quadro, sequer olhando para ver se estava escrevendo certo no pergaminho, uma pena repetidora ao seu lado garantindo que nada do que fosse passado se perdesse. Seria muito mais fácil gritar, extravasar e quebrar as coisas, enfrentar a ira de Minerva McGonagall por ter destruído o patrimônio escolar do que pensar que durante aquele ano, toda vez que ela entrasse em uma das suas aulas favoritas, ela teria que ouvir sobre o Eleito, o corajoso menino-que-sobreviveu e mesmo órfão se dispôs a lutar na Terceira Guerra Bruxa.

A grande questão é que Alice era uma Longbottom, e por mais que seu pai dissesse que ela não deveria se importar, simplesmente acontecia.

Ela tinha ódio dos irmãos Potter-Weasley, mesmo sabendo, racionalmente, que a culpa não era deles. Ela tinha mais ódio ainda de Harry Potter, e por mais que a lista de motivos justificáveis para isso fosse longa, a única coisa que a garota pensava era em como o mundo era injusto, porque Alice e Frank, não ela e seu irmãozinho, mas a Alice e o Frank originais, também foram mortos por Voldemort. Eles fizeram tudo o que James e Lílian tinham feito: se mantiveram escondidos por anos pelo bem de seu filho, lutaram pel'A Ordem, morreram para que o Lorde das Trevas se atrasasse e Neville pudesse ser levado para longe.

Seu pai também era órfão, e mesmo assim ele lutou na Batalha de Hogwarts. Talvez o Trio de Ouro pudesse ter perdido a guerra se Neville não tivesse tomado a espada de Godric Griffyndor e cortado a cabeça de Nagini fora, e Harry e Ron e Hermione morreriam sem saber o motivo.

Mas os livros só falavam de Harry Potter, Ronald Weasley e Hermione Granger e os outros. Sempre o Trio de Ouro e os outros que os ajudaram a ganhar a guerra, sem nomes, sem rosto; era tudo o que eram, outros.

Quando havia comentado sobre isso com seu pai, gesticulando furiosamente, ele apenas havia sorrido, enquanto terminava de cobrir uma mandrágora com terra.

"Eu não me importo, filha", Neville havia dito, com sua calma e paciência inabaláveis. "E você não deveria, também. Eu sei o que meus pais fizeram por mim e me orgulho muito deles me amarem, porque eles não fizeram o que fizeram para ganhar fama, e sim para me protegerem." Ele tirou as luvas de jardinagem e se aproximou do banco onde a filha estava, correndo seus dedos pelos cabelos louro claríssimos dela. "É isso que importa: eu sei as motivações e, mesmo que por muito tempo eu tenha desejado ter morrido com eles, por causa daquele sacrifício eu hoje posso estar aqui com você. Se naquela época eu soubesse o que sei agora, acredite, faria tudo exatamente igual."

E Alice havia tentado ouvir as palavras do pai, Merlin, ela havia tentado.

Mas sempre que falavam d'O Eleito, de sua coragem e dos outros, ela ainda sentia a bile amargar sua boca e seu coração se encher de algo ruim. 

Alice Longbottom tinha o coração puro, e por isso era tão fácil que o ódio tomasse conta dele, devagar e gradativo e então, de uma vez só.